terça-feira, 17 de novembro de 2015

Dúvidas de Português



Guardanapo?

Por que se guarda o napo?

“A minha dúvida é sobre a palavra guardanapo.

O que é napo?

Por que se guarda o napo?”

(Marcos Faria Cordeiro)

A consulta de Marcos é boa por mais de uma razão. Em primeiro lugar, sobretudo quando expressa em termos tão singelos, é divertida, mas não fica nisso. Existem aspectos realmente enigmáticos em torno da palavra guardanapo, registrada pela primeira vez em português (com a grafia “gardanapo”) no distante ano de 1536.

Tudo indica – até por falta de alternativas razoáveis – que fomos buscar a palavra no termo francês garde-nappe. Este nunca quis dizer guardanapo: a palavra francesa para essa pequeno pedaço de pano ou papel é, desde o século 14, serviette. No entanto, tal assimetria semântica não seria em si um problema. Garde-nappe é, literalmente, um protetor de toalha de mesa (nappe), uma placa, especialmente de vime, que se põe sob o prato para poupar o tecido do calor ou da sujeira. Algo parecido em forma e função com o que, em conjunto, chamamos de jogo americano, embora este costume ser usado no lugar da toalha e não sobre ela.

De toda forma, garde-nappe e guardanapo compartilham pelo menos o campo semântico da mesa de jantar, e basta imaginar o uso de pedaços de pano sob os pratos para que soe plausível a alteração de sentido da palavra em sua migração de uma língua a outra. O verdadeiro problema com a tese que situa garde-nappe na origem de guardanapo é que a palavra composta francesa só teria sido registrada, segundo o Houaiss, no século 18, cerca de duzentos anos depois da nossa. E agora?

E agora, mistério. A tese de uma formação ocorrida no próprio português esbarra no fato de que não temos, em nossa língua, nada que se pareça com “napo”. O francês foi buscar seu nappe (toalha) no latim mappa (guardanapo, justamente) – que entre nós, depois de uma tabelinha com o italiano, já chegou com o sentido adquirido na Idade Média de representação gráfica de um terreno (rabiscado no guardanapo!) e veio a dar no vocábulo… mapa, pois é.

Por que dizemos ‘obrigado’ quando agradecemos?

“Por que a língua portuguesa obriga a gente a usar a palavra ‘obrigado’ na hora de agradecer alguma coisa? Não é esquisito,quando paramos para pensar nisso? Acho até grosseiro,pois dá a entender que a pessoa só fica grata porque é forçada. Onde está a obrigação? E outra dúvida:uma mulher pode dizer ‘obrigado’ ou deve sempre dizer ‘obrigada’?”

(Viviane Assis)

O sentido de obrigado como fórmula de agradecimento é literal. O que faz com que Viviane o estranhe – no que tem a companhia de muita gente – é o fato de que a palavra, inicialmente um adjetivo,vem ganhando nesse caso uma autonomia de interjeição. Perde-se na memória coletiva a construção que a levou a ser empregada em tal papel.

O particípio do verbo obrigar (do latim obligare, “ligar por todos os lados, ligar moralmente”) expressa o reconhecimento de uma dívida entre quem recebe um favor ou gentileza e quem o faz – ambos,dessa forma, ligados, atados, presos por um laço moral.

A frase completa seria “fico-lhe obrigado”, ou seja, “passo, a partir deste momento, a ser seu devedor”. Na linguagem jurídica, obrigado é também um substantivo que significa “sujeito passivo de uma obrigação”,isto é, de uma dívida ou outro compromisso contratual.

Sobre a segunda dúvida de Viviane, farei aqui um resumo do que respondi em 2010 a um leitor impressionado com o número de mulheres que dizem “obrigado”. Do ponto de vista da tradição, trata-se simplesmente de um erro, um sinal de desleixo com o idioma. Se obrigado é um adjetivo, exige que se apliquem a ele as flexões cabíveis de número e gênero: obrigada, obrigados, obrigadas.

Ocorre que o papel de adjetivo, como eu disse acima, vem se perdendo na palavra quando a empregamos com o sentido de “grato”. Hoje o termo costuma ser usado como interjeição, o que torna natural que seja compreendido como invariável. Aquilo que de certo ponto de vista é um erro indiscutível também pode ser encarado como uma mutação linguística em curso.

(Publicado na Veja-Sérgio Rodrigues)

Sobre Palavras --ossa língua escrita e falada numa abordagem irreverente

Mais dúvidas

Por isso ou porisso

A forma de escrita correta desta locução é por isso. A palavra porisso está errada. Nunca deverá ser escrita uma só palavra, mas sim duas palavras separadas. A locução por isso significa por esse motivo e indica, principalmente, uma consequência daquilo que foi dito ou feito. É sinônima de: por esse motivo, assim sendo, à vista disso, em vista disso, em consequência, dessa forma, dessa maneira, desse modo, dessarte, entre outras.

A palavra por é uma preposição e a palavra isso é um pronome demonstrativo. Por isso pode ser uma locução coordenativa conclusiva, exprimindo uma conclusão, uma consequência ou uma locução adverbial com significado de consequentemente. Juntamente com a palavra que pode também ser uma locução subordinativa causal, exprimindo uma causa: por isso que.

Exemplos:

Tenho que tomar conta de minha irmã mais nova, por isso não poderei ir à praia hoje.

Vou trabalhar na Espanha, por isso vou aprender espanhol.

Sei que a situação é difícil, por isso peço compreensão.

Fique sabendo mais!

A locução por isso é ainda utilizada comumente com a substituição do pronome demonstrativo isso por outros pronomes demonstrativos equivalentes, como os pronomes demonstrativos isto e aquilo.

Exemplos:

Foi por isto? (mostrando algo perto do falante "eu")
Foi por iso? (mostrando algo perto de com quem se fala "tu")
Foi por aquilo? (mostrando algo longe do falante e de com quem se fala)

Palavra Relacionada: isso.

Do Blog Dúvidas de Português

Entre mim e ele

Frequentemente, pessoas têm dúvida com relação ao emprego dos pronomes pessoais em construções em que aparece a preposição entre.

É preciso, de início, lembrarmo-nos de que, em princípio, os pronomes pessoais retos só podem ser sujeitos de oração e não, complementos. Assim, em frases como “Isso fica entre mim e ele”, não caberia eu no lugar de “mim”, pois esse pronome figuraria no predicativo “entre eu e ele”. Em outras palavras, um pronome reto (eu) estaria exercendo a função de complemento.

Nesta altura, você pode justamente questionar: “Ué, mas ele também não é pronome pessoal reto? 

Como pode figurar como complemento e eu não pode?”. É verdade, mas isso depende do uso que os falantes cultos fazem e eles querem assim.

Dessa forma, os pronomes pessoais eu e tu quando aparecem regidos pela preposição "entre" devem figurar na forma oblíqua – como em "Não há dificuldade entre mim e ti" – e não, na reta, como em "Não há dificuldade entre . Os demais pronomes são empregados na forma reta, apesar de figurarem como complementos: "Isto fica entre mim e ele" e "Está tudo bem entre nós e eles". Por questão de eufonia, é preferível o mim ser utilizado em primeiro lugar.

O mesmo vale quando temos pronomes de tratamento: "Esse assunto fica entre mim e o senhor", “Diga que aquilo se passou entre mim e você” e “Isso fica entre nós e Vossa Excelência”.

Professor Paulo Hernadez

Para eu ou para mim?

Para eu ou para mim? O uso do pronome “eu” ocorre quando o mesmo é o sujeito da oração, já o pronome “mim” é usado como complemento, ou seja, é o objeto da oração.

Usamos o pronome do caso reto (eu, tu, ele (a), nós, vós, eles (as)) quando nos referimos ao sujeito da oração. Já os pronomes oblíquos tônicos (mim, ti, ele (a), nós, vós, eles (as)) fazem papel de objeto e surgem após uma preposição: para mim, de mim, por mim, e assim por diante.

Veja um exemplo:

a) Ela trouxe o presente para eu desembrulhar.

b) Ela trouxe o presente para mim.

Observe que na primeira oração temos duas orações: Ela trouxe o presente/para/ eu desembrulhar. “Eu” aqui é sujeito do verbo “desembrulhar”.

Já na segunda oração, “mim” é complemento e, portanto, objeto indireto (uma vez que vem depois da preposição).

Na dúvida sempre faça uma pergunta ao verbo: se a resposta tiver um sujeito, então é pronome do caso reto, caso contrário, será objeto. Observe:

a) Ela trouxe o presente: quem trouxe? Ela.

b) Para eu desembrulhar: quem desembrulhar? Eu.

A lógica é simples: geralmente, quando há dois verbos, também haverá dois sujeitos.

Outros exemplos:

a) Se for para eu ficar, então ficarei! (ficar → sujeito eu; ficarei → sujeito eu)
b) Ele disse para eu ficar. (disse → sujeito ele; ficar → sujeito eu)
c) Ele não disse nada para mim. (disse → sujeito ele; objeto indireto → para mim)
d) Para mim, ele está fazendo de conta que não sabe de nada. (fazendo → sujeito ele; sabe → sujeito ele; para mim → objeto indireto)

Atenção: Verifique se há preposição + pronome + verbo porque, nesse caso, o pronome em questão será do caso reto. Se houver preposição + pronome, sem o verbo, então, já sabe, caso oblíquo!

(Do Blog Mundo Educação)

Entre eu e você ou entre mim e você?

É comum surgirem equívocos no uso dos pronomes pessoais, principalmente os do caso oblíquo. Contudo, uma dica importante fará com que não haja mais dúvidas a respeito desse assunto:

De acordo com a norma culta, após as preposições emprega-se a forma oblíqua dos pronomes pessoais. Veja:

1. Isso fica entre eu e ela. (Errado)

1. Isso fica entre mim e ela. (Certo)

ou

2. Isso fica entre mim e ti. (Certo)

Os pronomes do caso oblíquo exercem função de complemento, enquanto os pronomes pessoais do caso reto, de sujeito. Observe:

1. Ela olhou para mim com olhos amorosos (olhou para quem? Complemento: mim.).

2. Por favor, traga minha roupa para eu passar (quem irá praticar a ação de passar? Sujeito: eu.).

Vejamos a pergunta que dá título ao texto: Entre eu e você ou entre mim e você? Depois da explicação acima, constatamos que existe uma preposição: entre. Então, o correto é “Entre mim e você”, pois, após a preposição, usa-se pronome pessoal do caso oblíquo.

Da mesma forma será com as demais preposições: para mim e você, para mim e ti, sobre mim e ele, entre mim e ela, contra mim, por mim, etc. Veja:

a) Ele trouxe bolo para mim e para ti.

b) Ninguém está contra mim.

c) Você pode fazer isso por mim?

d) Sobre mim e você há uma nuvem de muitas bênçãos.

Agora, observe:

Preciso dos ingredientes para mim fazer o bolo. (Errado)

Existe a preposição “para”, no entanto, o pronome “mim” está exercendo o papel de sujeito da segunda oração: para mim fazer o bolo. Logo, o emprego do pronome oblíquo está equivocado.

O certo seria:

Preciso dos ingredientes para eu fazer o bolo. (Certo)


Por Sabrina Vilarinho - Graduada em Letras



Nenhum comentário:

Postar um comentário