O médico italiano Giovanni Battista
Libero Badaró chegou ao Brasil em 1820 e radicou-se em São Paulo , onde instalou
seu consultório. Homem de temperamento expansivo, não teve dificuldades para
fazer logo boas amizades na nova terra, especialmente com políticos,
jornalistas e intelectuais. Influenciado pelas ideias liberais, que reclamavam
uma constituição para o Brasil, Badaró engajou-se na luta, fundando o jornal O Observador Constitucional.
Com a deposição do rei Carlos X, em
outubro de 1830, que marcou o fim do absolutismo na França, os liberais
brasileiros, entusiasmados, intensificaram a campanha pela constituição. Os
ânimos foram ficando exaltados. Estudantes e populares passaram a fazer
ruidosas manifestações contando com o apoio do jornal de Líbero Badaró.
Na noite de 20 de novembro de 1830,
quando saía da casa de um amigo, ele foi atacado por dois homens encapuzados e
ferido mortalmente a golpes de faca*. Amigos e companheiros de luta quiseram chamar
um médico, mas Badaró não permitiu:
“Sou médico. Sei que os
ferimentos são muito sérios. Sinto que estou entrando em agonia. Aproveitem
melhor o seu tempo descobrindo quem fez isso, para que outros não venham a ser
assassinados. Aqui morre um liberal; mas não morre a liberdade.”
(Do livro “Novas
Crônicas Pitorescas da História do Brasil,
de Eloy Terra)
*Na verdade, ele foi morto a tiros de pistola.
O jornalista Libero Badaró
no seu leito de morte,
aquarela
de Hércules Florence
*****
Giovanni Battista Líbero Badaró
nasceu Laigueglia, Itália, em 1798 e morreu em São Paulo , em 21 de
novembro de 1830, foi jornalista, político e médico italiano radicado no Brasil.
Assassinato de Libero Badaró aumenta pressão
para saída de Dom Pedro I
No dia 21 de novembro de 1830, um
assassinato traiçoeiro desestabilizou ainda mais o frágil governo do imperador
Dom Pedro I. Em São Paulo ,
morria, vítima de um atentado, Giovanni Battista Libero Badaró, jornalista,
político e médico italiano radicado no Brasil. Nascido na Itália, na cidade de
Laigueglia, em 1798, ele se mudou para os trópicos em 1826. Em solo brasileiro,
tornou-se um liberal e viveu na cidade de São Paulo, onde atuava como médico e
dava aulas gratuitas de matemática. Fundou o jornal O Observador Constitucional, em 1829, o que não era bem visto pelos
absolutistas. Em São Paulo ,
alguns estudantes do Curso Jurídico fizeram uma campanha contra o governo
monárquico. Os manifestantes tornaram-se criminosos para o ouvidor Cândido
Ladislau Japiaçu e foram processados. O Observador Constitucional fez campanha
em favor dos acusados e atacou Japiaçu. Desafeto de Japiaçu, Libero Badaró
sofreu um atentado no dia 20 de novembro, às 22h, quando voltava para a sua
casa na rua São José (hoje rua Líbero Badaró). Suas últimas palavras antes de
morrer foram “Morre um Liberal, mas não morre a Liberdade”.
No dia seguinte, ele faleceu e sua
frase virou símbolo da liberdade de imprensa. Sua morte ganhou grande
repercussão, com milhares de pessoas no seu enterro e mais de 800 tochas
acesas. O principal responsável pelo assassinato foi um alemão, chamado Stock,
que se escondeu na casa de Japiaçu. O alemão foi preso, mas Japiaçu, apesar de
processado, acabou absolvido. Segundo historiadores, a ordem para matar Badaró
pode ter partido de Dom Pedro I. O fato complicou ainda mais a situação
política do imperador, criticado por sua postura autoritária. No ano seguinte,
no dia 7 de abril de 1831, Dom Pedro I abdicou do trono e mudou-se para
Portugal, deixando a coroa para o seu filho, Dom Pedro II, de apenas 14 anos.
(Do Blog History)
O crime
Líbero Badaró se aproximava de sua
casa entre 10 e meia e 11 horas da noite de 20 de novembro de 1830, quando viu
dois homens sentados nas proximidades. Na rua escura, iluminada apenas pela lua
cheia, perguntaram-lhe se era o dr. João Baptista Badaró. Diante da resposta
afirmativa, disseram que vinham de parte do ouvidor. Badaró mal teve tempo de dizer
que não era amigo de Japi-Assú quando sentiu no ventre o impacto do tiro de
pistola. A bala causou ferimentos internos incuráveis que lhe provocaram uma
agonia dolorosa por quase 24 horas, tempo suficiente para que, na presença de
testemunhas respeitadas na cidade, fosse interrogado pelo juiz José da Silva
Merciana, cujos “autos da devassa” detalhadamente elaborados permitiram à
polícia capturar alguns suspeitos.
Ao juiz, Badaró declarou que não
conhecia os atacantes, mas pelo sotaque sabia que eram alemães e, indagado se
tinha suspeita de quem eram os responsáveis, não hesitou em apontar como
mandante o desembargador-ouvidor Japi-Assú. Era mais do que uma suspeita, pois
até o escrivão da Ouvidoria, Amaro José Vieira, em seu depoimento posterior ao
crime, disse tê-lo advertido diversas vezes que escutara de seu chefe
afirmações de que pretendia matá-lo. O que o jornalista não sabia era que seu
assassinato foi cuidadosamente planejado e sua execução – segundo pesquisa de
Argimiro da Silveira, publicada na Revista do Instituto Histórico e Geográfico
de São Paulo em 1890 –, começou numa chácara da Freguesia do Braz, quando ao
tenente Carlos José da Costa, vindo do Rio para matá-lo, foi indicado o alemão
Henrique Stock para acompanhá-lo, identificar e executar a vítima. Badaró
faleceu em consequência de hemorragia interna, às 10 horas de 21 de novembro de 1830.
*Japi-Assú – grafia de jornais da época do crime.
Carlos Alves Müller,
especial para a
Gazeta do Povo - 19/11/2010