Millôr por Fraga
Þ Deus existe. Mas é evidente que depois dos voos interplanetários, mudou-se para mais longe.
Þ Não tenho mudado muito de atitude nos últimos anos, mas mudei duas vezes de apartamento e, no fundo, talvez isso seja até mais radical.
Þ Como o passar dos anos, as pessoas mudam muito. E algumas nem deixam o endereço.
Þ Como o tempo passa! Ainda ontem esses meninos que hoje nos assaltam apenas nos pediam as horas.
Þ Muita gente acha que o melhor é deixar como está pra ver como é que fica. Mas basta observar algum tempo qualquer pessoa sentada pra se perceber que a mudança é fundamental ao ser humano – nem que seja pra descansar um lado da bunda.
Þ Já não sou mais aquele – e ainda não sou outro.
Þ Em minha vida, vi pessoa de “esquerda” aos poucos assumirem posições conservadoras, logo de direita, e acabaram como tremendos reacionários. Nunca vi o contrário, nem como exceção.
Þ Mutação importante na espécie corruptius burocraticus: o corrupto atual jamais usa colarinho branco.
Þ Paro, neste bairro que conheço de infância, hoje distantes (bairro e infância), e olho a demolição de mais uma casa, bela, por ser casa. Anunciam que vão erguer aí um belo edifício-garagem, como se edifício-garagem pudesse ser belo – a função traz a forma. Mas nada a fazer, tudo muda. Tudo muda, tudo cansa, tudo passa. Só dinheiro, desde que o mundo é mundo, não muda, não cansa, não sai de moda.
Do livro “A Bíblia do Caos”, de Millôr Fernandes, L&PM Editores.
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