quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Os 'apitos de cachorro'*

 

O termo “apito de cachorro” (dog whistle) é usado no debate político americano para se referir a mensagens que parecem inocentes ao público geral, mas têm outro significado para um público específico. 

A definição aparece, entre outros livros, no Safire’s Political Dictionary (2008), do jornalista William Safire. O termo “apito de cachorro” é usado porque os cachorros são capazes de ouvir sons inaudíveis para os humanos. 

O ‘dog whistle’ é uma das táticas favoritas da extrema direita na internet. Ele se encaixa perfeitamente na cultura dos trolls, como são chamados aqueles que publicam mensagens com o objetivo de irritar pessoas e provocar reações. 

A pessoa que solta um ‘dog whistle’ sempre pode dizer que, na verdade, estava apenas fazendo algo inocente. Portanto, todos os que reagem são histéricos. 

(...) 

(Do Blog O Antagonista) 

* Entre os estudos de comunicação existe uma expressão em inglês chamada “dog whistle”. Em tradução livre, “apito de cachorro”. Isso porque existem apitos que adestradores usam para treinar cães que, para nós, não produzem som, mas ao qual os cachorros reagem. 

Os cães têm a audição muito mais apurada que a nossa, por isso conseguem ouvir o tal apito. O conceito é simples: o som EXISTE, mas os humanos não são capazes de ouvi-lo (ao menos não com clareza). 

Nos estudos de comunicação, chamamos de “dog whistle” o ato de emitir um sinal que será compreendido apenas por quem sabe do que se trata. Assim, caso o gesto demonstre algo terrível, pessoas que denunciem tal ato discreto serão tidas como loucas, pois ninguém viu. 

Brasil 

Em 2020, o Secretário Especial da Cultura do Brasil, Roberto Alvim utilizou-se em um discurso de elementos presentes no cenário típico de discurso do ministro da propaganda nazista Joseph Goebels. As principais semelhanças percebidas por jornalistas foram: a foto de Jair Bolsonaro ao centro da imagem, que remete à foto de Hitler nos discursos de Goebels; O cenário simples com apenas dois itens representativos em destaque sendo eles uma Cruz de Caravaca e uma bandeira do Brasil, assim expondo apenas itens de ideias nacionalistas como a religiosidade e a pátria; A fala do secretário remete ao discurso de Goebels onde apontava “o novo rumo da arte nazista”; A música de fundo do vídeo trata-se da Ópera de Lohengrin composta por Richard Wagner ídolo nazista de Hitler. 

Também em 2020, o presidente Jair Bolsonaro ergueu um copo de leite e brindou com presentes na mesa durante uma transmissão ao vivo. O ato foi considerado por pesquisadores como uma referencia a movimentos de supremacia branca que constantemente utilizam-se do leite como forma de representar a pureza branca, juntamente com afirmações como “tomar branco para tornar-se branco” assim sendo um apito de cachorro para este grupo. Mesmo tentando justificar o ato como se fosse uma homenagem à Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) o gesto repercutiu e foi entendido, tendo em vista que dias depois o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos gravou um vídeo repetindo o gesto porém desta vez afirmando que “entendedores, entenderão” deixando explicita a mensagem ocultada pelo presidente. 

Em 2021, um assessor do presidente Jair Bolsonaro chamado de Filipe Martins, utilizou-se do símbolo de “ok” durante uma reunião ao fundo do presidente enquanto o mesmo falava. O gesto foi interpretado como um ato racista por conta que o símbolo também é conhecido como um símbolo supremacista branco, o assessor tentou desvencilhar-se das acusações afirmando que estava arrumando seu microfone no paletó. 

(Wikipédia) 

Concluindo 

Dog whistle são códigos usados para provocar adversários políticos ao mesmo tempo em que atrai o suporte de pessoas do mesmo grupo. São usados amplamente por grupos de alt right (direita alternativa − fascistas modernos e bolsonaristas). 

Mais uma informação importante; é muito comum usarem contas falsas com fotos e nomes de pessoas verdadeiras que querem atingir, para que essas pessoas recebam o ódio e as consequências. 

P.S. Um político, em campanha, grita para uma repórter que lhe fez uma pergunta da qual ele não gostou “Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro!” Dias depois, um outro político repete para mesma jornalista a mesma frase, ele atendeu ao apito de cachorro.

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