terça-feira, 6 de setembro de 2022

Carta a uma doadora desconhecida

 

A carta para a destinatária desconhecida é de autoria de Marindia Cecchetti Lahm, foto acima, 31 anos, que recebeu um transplante de pulmão há quase um ano, em 27 de setembro de 2021, Dia Nacional da Doação de Órgãos − a mais feliz das coincidências possíveis. 

“Querida doadora, naquele instante em que você partiu, ao abrir a porta do céu, você deixou que a luz irradiasse na minha direção. Eu não sei sua idade ou sobre sua história, mas sei que pessoa generosa você se tornou. A cada dia que fiquei na UTI, e mesmo agora em casa, me pego pensando em você. Será que um dia você imaginou que me salvaria? 

Eu estava com um bilhete somente de ida pra essa viagem maluca da vida. E no instante que recebi a ligação do hospital, eu nasci mais uma vez. E quando tive a sensação de respirar com os novos pulmões, eu renasci. Mais uma vez. Quantas vezes podemos renascer, afinal? Eu chorei de dor, e hoje choro de emoção. 

Posso caminhar sem oxigênio, deitar de dia e cair na gargalhada sem tossir ou me engasgar, posso ir ao mercado caminhando. Finalmente, posso dançar a música da vida. Doadora, seus pulmões estão sendo cuidados com muito amor e carinho, e a cada vitória, a cada manhã, eu vou te agradecer, por pensar em me salvar, mesmo sem me conhecer. 

Eu vou sempre imaginar como você era, no seu sorriso e na bondade que espalhou e continua espalhando. Te esquecer? Impossível. A cada inspiração, fico impressionada com quanto ar posso recolher, e isso era inimaginável. 

Nem nas minhas melhores fases me senti tão bem como hoje. Estou viva. Obrigada! Minha família e eu agradecemos a sua família pelo ‘sim’ que salvou a minha vida. Vou honrar e cuidar desses pulmões especiais até o fim dos meus dias. Obrigada e obrigada! 

(Do jornal Zero Hora, 6 de setembro de 2022)

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