segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

História da bossa nova

 Sóstenes Pernambuco Pires Barros 

O que é “Bossa”? Por que “Bossa Nova”? 

Onde, quando e como tudo começou? 

A palavra ‛bossa’ era um termo da gíria carioca que, no fim dos anos cinquenta, significava ‛jeito’, ‛maneira’, ‛modo’. Quando alguém fazia algo de modo diferente, original, de maneira fácil e simples, dizia-se que esse alguém tinha ‛bossa’. Se o Ricardo desenhava bem, dizia-se que tinha ‛bossa de arquiteto’. Se o Paulo escrevia, redigia bem, tinha ‛bossa de jornalista’. E a expressão ‛Bossa Nova’ surgiu em oposição a tudo o que um grupo de jovens achava superado, velho, arcaico, antigo. Sim, mas o quê era julgado superado e velho, na música popular brasileira? ‛Tudo’, dizia a mocidade bronzeada de Copacabana. 

A tristeza e melancolia das letras, a repetição dos ritmos abolerados e dos sambas-canção; era tudo a mesma coisa, não obstante os grandes cantores da época: Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Carlos Galhardo. Lindas valsas e serestas? Sim, e daí? Daí é que algo tinha de ser feito. 

Diferentes harmonias, poesias mais simples, novos ritmos. ‒ Ritmo é batida, como do relógio, do pulso, do coração. E Bossa Nova é batida diferente do violão, poesia diferente das letras, cantores diferentes dos mestres. A Bossa Nova não seria melhor nem pior. Seria completamente diferente de tudo, mais intimista, mais refinada, mais alegre, otimista. Diferente. Não começou especificamente num lugar, numa rua, num evento, num Festival. A rigor, ela não é nem um gênero musical. É o tratamento que se dá a uma música, em termos de ‛batida’ e de ritmo. 

O primeiro grande marco inicial da Bossa Nova aconteceu em primeiro de março de 1958,quando João Gilberto cantou, com a batida de violão diferente, ‛Chega de Saudade’, posteriormente gravada por Eliseth Cardoso, no disco “Canção do amor demais”. Em 1956, ninguém falava em Bossa Nova, mas o apartamento onde morava Nara Leão, no Edifício Palácio Champs Elysée, em frente ao Posto 4, já era ponto de reunião dos rapazes bronzeados de Copacabana: Carlos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli e outros. Não se compunham músicas ali. Ouviam-se. E trocavam ideias. 

Só no ano seguinte, em 1957, João Gilberto chegou ao Rio e, certa noite, foi à casa de Roberto Menescal, na Galeria do mesmo nome, em Copacabana. E aconteceu o grande encontro: O ritmo encontrou a música e a poesia.


 (Foto de Nellie Solitrenick – Veja)

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