quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Sonetos brasileiros

 

O empenado 

Manuel Tapajoz Gomes 

(4° Ano) 

Ares de bacharel... pose de gente,

aspecto grave a reclamar respeito,

sempre pisando firme, satisfeito,

sobranceiro, em geral, e sorridente...

 

Certo “quê”, certo chic, certo jeito...

onde quer que ele esteja ou se apresente,

qualquer pessoa, junto dele, sente

cheiro de leis, de pontos, de Direito...

 

Cheio de garbo, de altivez, de viço,

muito mais cheio de importância e d´ares,

que muito deputado, ou que um capitalista;

 

É o empenado assim. Leitor, por isso,

se à frente de um tal tipo te encontrares,

podes ficar sabendo: é quartanista... 

Francamente 

Bastos Tigre 

Não procures em mim fidelidade;

Nem coisa tal é coisa que se peça

A quem como eu sincero, te confessa

Amar no amor a eterna variedade.

 

Podia prometer-te... À vã promessa

Prefiro a nobre e sólida verdade:

Com o meu temperamento e a minha idade

Não é o amor grandeza que se meça.

 

Não se ama por tamina ou por compasso

Em dose certa, às gotas ou às colheres...

Ama-se enquanto houver na vida espaço.

 

... Amar-te a ti somente? É o que me queres?

Pois minha flor, desculpa-me não faço

Tamanha afronta... ao resto das mulheres. 

Noite de insônia 

Emilio de Menezes 

Este leito que é meu, que é teu, o nosso leito

Onde este grande amor floriu sincero e justo

E nós unidos ambos, peito contra peito,

Ambos cheios de anelo e ambos cheios de susto.


Este leito que ali está revolto, assim desfeito 

Onde humilde beijei teus pés, as mãos, o busto

Na ausência de teu corpo a que ele esta afeito

Mudou-se para mim num leito de Procusto!...

 

Louco e só! Desvairado! A noite vai em termo,

Estendo lá fora as sombras augurais,

Envolve a natureza e penetra o meu ermo.

 

E mal julgas talvez quando acaso te vais

Quanto me punge e corta o coração enfermo

Este horrível temor de que não voltes mais!... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário