Gente humilde
“Gente Humilde”, é considerada um choro, foi composta somente com melodia por “Garoto”, Aníbal Augusto Sardinha (1915-1955). Mais tarde, em 1969, recebeu letra composta por Vinícius de Moraes e Chico Buarque.
“Gente Humilde” teria surgido durante uma visita de Garoto a um subúrbio carioca. De repente, ao observar aquelas pessoas e suas casas modestas, ele resolveu homenageá-las numa canção. Tempos depois, a gravaria num acetato para o professor mineiro Valter Souto, registro que asseguraria a sobrevivência da composição, mantida inédita em disco comercial.
Finalmente, quase quinze anos após a morte de Garoto, Baden Powell mostrou-a a Vinícius de Moraes que, apaixonando-se pelo tema, deu-lhe uma letra em parceria com Chico Buarque. Aliás, uma letra primorosa que, segundo o próprio Chico, é quase toda de Vinicius: “São casas simples, com cadeiras na calçada / e na fachada escrito em cima que é um lar / pela varanda, flores tristes e baldias / como a alegria que não tem onde encostar...”
Fonte: Museu da Música
(...)
Convidados por Elis Regina a participar do programa O Fino da Bossa, Vinícius e Baden passaram a fazer constantes viagens a São Paulo de trem, que eles chamavam carinhosamente de “avião dos covardes”. Na volta, quando o trem passava pelos subúrbios cariocas, o tema de Garoto lhe vinha à cabeça. Continua Vinicius:
Eu sentia aquele tema tão ligado àquele mundo empoeirado, àquela gente sem vez, àqueles velhinhos de pijama nas varandas. Eu sentia que naquele tema Garoto queria falar daquela gente do subúrbio, e eu só sei que um dia, há três anos, fui à Roma receber minha afilhadinha, a filha de meu compadre e querido amigo Chico Buarque e nessa ocasião, um dia, em casa de Chico, o tema veio, as palavras saíram, eu chamei meu compadre, a gente juntou as cabeças e a canção saiu.
A participação de Chico Buarque na letra é pequena. Segundo Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello (A Canção no Tempo-vol 2, pg 154. Editora 34), a letra é quase toda de Vinicius. Esta questão é esmiuçada por Wagner Homem no livro História das Canções (Leya-SP-2009). De acordo com ele, no encontro com Chico Buarque em Roma:
(Do blog Violão Brasileiro)
Gente Humilde
(Garoto, Vinícius de Moraes e Chico Buarque)
Tem certos dias em que eu
penso em minha gente
E sinto assim todo o meu
peito se apertar
Porque parece que acontece de
repente
Como um desejo de eu viver
sem me notar
Igual a como quando eu passo
no subúrbio
Eu muito bem vindo de trem de
algum lugar
E aí me dá como uma inveja
dessa gente
Que vai em frente sem nem ter
com quem contar
São casas simples com
cadeiras na calçada
E na fachada escrito em cima
que é um lar
Pela varanda, flores tristes
e baldias
Como a alegria que não tem
onde encostar
E aí me dá uma tristeza no
meu peito
Feito um despeito de eu não
ter como lutar
E eu que não creio peço a
Deus por minha gente
Que é gente humilde, que vontade de chorar.
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