sexta-feira, 10 de maio de 2024

Cavalo Caramelo

é o símbolo de um Rio Grande ferido,

mas aguerrido e resiliente.

Juliana Bublitz

O Brasil acompanhou, em rede nacional, o resgate de um equino que sobreviveu horas a fio no topo de uma casa, em Canoas, rodeado de água, sem comida, sem amparo e sem escapatória. 

É mais do que um cavalo. Caramelo, como foi batizado nas redes sociais, ou Valente, nome que recebeu de seus salvadores, é hoje o símbolo de um Rio Grande sobrevivente. Um Estado que, apesar de tudo, enfrenta com bravura e resiliência a maior catástrofe climática de sua história, com mais de uma centena de mortos, 136 desaparecidos, 428 municípios atingidos e milhares de desabrigados. 

Exausto e faminto, o animal de cor marrom chamou a atenção do Brasil ao ser filmado na última quarta-feira por uma equipe da RBS TV. Ele estava sobre as telhas de zinco de uma residência submersa no bairro Mathias Velho, onde centenas de gaúchos perderam tudo o que tinham ‒ muitos, inclusive, a própria vida. 

Caramelo aguentou firme por dias a fio, dias rodeado de água, sem comida, sem amparo e sem escapatória. E não se entregou.  

A imagem exibida em rede nacional, narrada pelo repórter gaúcho Vitor Rosa, comoveu o país e mobilizou imprensa, autoridades, gente famosa e anônima.  

Nas redes sociais, Felipe Neto, influenciador digital com quase 20 milhões de seguidores, chegou a oferecer dinheiro para bancar o envio de um helicóptero de grande porte ao local, que pudesse içar o bicho em segurança. Não deu certo. 

Na manhã desta quinta-feira (9 de maio), depois de uma noite sem notícias, soube-se que o animal seguia vivo e de pé, no mesmo lugar. A agonia prosseguia. 

Como tirá-lo de lá?  

Pouco antes das 12h, ao vivo, na TV Globo, chegou a resposta tão esperada: o Exército e o Corpo de Bombeiros de São Paulo estavam a caminho, a bordo de botes, com o apoio do Exército e com um veterinário embarcado.  

Uma laje próxima da casa foi transformada em base de apoio, enquanto os socorristas se aproximavam de Caramelo em três barcos. Sete pessoas subiram no telhado e trataram de acalmar o bicho, fraco e assustado. Ele recebeu soro e anestesia. Sedado, aos poucos, como se humano fosse, Caramelo foi deitado em uma das embarcações. 

Da laje, a equipe de apoio bateu palmas. Em Brasília, até o presidente da República celebrou o desfecho, durante entrevista coletiva para anunciar medidas de apoio ao Estado. Impossível não se emocionar. Caramelo, afinal, estava salvo e seria levado, em seguida, ao Hospital Veterinário da Ulbra, onde receberia todos os cuidados necessários. 

No caminho, um dos salvadores resumiu à repórter Lisielle Zanchettin, na Rádio Gaúcha, o sentimento da equipe ‒ quiçá, dos habitantes deste Estado tão único, num país continental. Coincidentemente ou não, o cavalo, na história do Continente de São Pedro, é associado à figura do gaúcho, o “centauro dos pampas”.  

‒ Conseguimos mostrar ao mundo que, aqui, ninguém fica para trás ‒ disse o socorrista. Ninguém!


(Do jornal Zero Hora, 10 de maio de 2024)

Charge de Gilmar Fraga



2 comentários:

  1. NÃO TÁ MORTO QUEM PELEIA!

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    1. Este cavalo peleou 48 horas, em silêncio, no mesmo lugar, para sobreviver. Ele é o símbolo da garra e da resistência do povo gaúcho!

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