segunda-feira, 27 de maio de 2024

Kafka e a menina da boneca

 

Capa do livro 

Aos 40 anos, Franz Kafka (1883-1924), que nunca se casou e não teve filhos, passeava por um parque de Berlim quando conheceu uma menina que chorava porque havia perdido sua boneca favorita. 

Ela e Kafka procuraram pela boneca sem sucesso. 

Kafka disse a ela para encontrá-lo lá no dia seguinte e eles voltariam para procurá-la. 

No dia seguinte, quando ainda não haviam encontrado a boneca, Kafka entregou à menina uma carta "escrita" pela boneca dizendo “por favor, não chore. Fiz uma viagem para conhecer o mundo. Vou escrever para você sobre minhas aventuras”. 

Assim começou uma história que continuou até o fim da vida de Kafka. 

Durante os encontros, Kafka lia as cartas da boneca cuidadosamente escritas com aventuras e conversas que a menina achava adoráveis. 

Por fim, Kafka trouxe de volta a boneca (comprou uma) que havia retornado a Berlim. 

“Não se parece em nada com a minha boneca”, disse a menina. 

Kafka entregou-lhe outra carta na qual a boneca escrevia: “minhas viagens me mudaram”. A menina abraçou a nova boneca e a trouxe consigo para seu lar feliz. 

Um ano depois, Kafka morreu. 

Muitos anos depois, a menina, agora adulta, encontrou uma carta dentro da boneca. 

Na minúscula carta assinada por Kafka estava escrito: 

“Tudo o que você ama provavelmente será perdido, mas no final o amor retornará de outra forma diferente.” 

******* 

PS: Um ano antes de sua morte, Franz Kafka viveu uma experiência singular. Passeando pelo parque de Steglitz, em Berlim, encontrou uma menina chorando porque havia perdido sua boneca. Para acalmar a garotinha, inventou uma história: a boneca não estava perdida, mas viajara, e ele, um “carteiro de bonecas”, tinha uma carta em seu poder que lhe entregaria no dia seguinte. Naquela noite, ele escreveu a primeira de muitas cartas que, durante três semanas, entregou pontualmente à menina, narrando as peripécias da boneca vividas em todos os cantos do mundo. Inspirado por essa história pouco conhecida de Kafka, contada por Dora Dymant, companheira do escritor na época, Jordi Sierra i Fabra recria as cartas nunca encontradas e que constituem um dos mistérios mais belos da narrativa do século XX.

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