Excerto*
Ouvi o dito popular há muitos anos atrás, mas nunca tinha me interessado na averiguação da sua origem. Agora descobri, lendo as reminiscências do Dr. Sérgio da Costa Franco. Nas “Memórias de Um Escritor de Província”, aquele notável historiador, ao comentar a grande enchente de outono de 1941, em Porto Alegre, fala do desamparo das vítimas da calamidade, gerando nelas tamanho assombro que fez nascer na cidade a expressão o abobado da enchente.
As pessoas ficavam dias e dias fora de casa, com a perda de quase todos os pertences. Dos lugares mais altos, livres da inundação, olhavam sem esperança as águas subirem cada vez mais, num estado de estupefação que se confundia com a debilidade mental. Explica o escritor que, por muito tempo, qualquer palermice que alguém cometesse era explicada com crueldade: “Coitado, ele é abobado da enchente!”.
* Parte de texto Afif Jorge Simões Neto
Abobados da enchente
Foi em 1941 que surgiu a expressão “abobado da enchente”, criada pela cheia do Rio Guaíba que avançou sobre o centro de Porto Alegre deixando 70 mil pessoas flageladas, nos meses de abril e maio.
Dizem que um surto de leptospirose fez a população da Capital entrar em pânico e a boataria se encarregou de divulgar os sintomas da doença – febre alta, calafrios, urina turva e nos casos mais graves uma hemorragia em alguns órgãos do corpo que acabavam em óbito.
Quem vacilava ou se mostrava ter um comportamento anormal era denominado de “abobado da enchente”.
Abobados da enchente
Claudio Dilda
A
enchente de abril e maio de 1941 ‒ há oito décadas ‒ resultou de precipitações
de 791 milímetros. O lago Guaíba atingiu a cota de 4,75 metros, inundando Porto
Alegre. Tal foi o impacto sobre a população que gerou a expressão ‘abobados da enchente’. A construção do Muro da Mauá, no início dos anos 1970,
com 2.647 metros de comprimento e três metros a partir da superfície,
constituiu-se em proteção e em obstáculo para o acesso e a visão, dos
pedestres, de um dos mais belos cenários naturais do Parque Delta do Jacuí. Daí
também ser conhecido como muro da discórdia.
Cais do porto, em 1941, sem muro de proteção
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