sábado, 11 de maio de 2024

Não era só um cavalo...

 

Não era só um cavalo...

Era um monumento vivo

Dos andarengos da Ibéria

Que mesclou em cada artéria

Do rubro sangue nativo

O ancestral primitivo,

‒ Cara limpa, lombo nu ‒

Que carregou o xiru

Pelas terras missioneiras

E que tombou nas fileiras

Das tropas de Tiaraju. 

Não era só um cavalo...

Era a própria imagem

Do Rio Grande açoriano,

Que alargou meridianos

Pelas rotas de passagem,

Era o cavalo selvagem

Rasgando campo e fronteira

Perdido na polvadeira

Ou entre a chuva e o vento,

E que invadiu Sacramento

Com Dom Cristóvão Pereira. 

Não era só um cavalo...

Era o esteio da lida,

Que a cada marcha tropeira

Se fez alma aventureira

Pra ofertar a própria vida,

E nesta saga sofrida

De desbravar o sertão,

Percorreu cada rincão

Desse Brasil continente,

Sustentando nossa gente

Pra erguer uma Nação. 

Não era só um cavalo...

Era um herói da terra

Que a história não menciona,

E que o covarde abandona

No entrevero da guerra!

Que vendo a morte, não berra,

Porque engole o sofrimento

‒ Soldado sem regimento

Da velha estirpe proscrita ‒

Que foi garupa pra Anita

E montaria de Bento. 

Não era só um cavalo...

Era o Rio Grande em pelo!

E no horizonte da incerteza

Enfrentou a natureza

Neste último atropelo,

Tostado sem marca e selo

Pelo-duro que se amansa,

Que na rédea é uma balança

E na vida é um regalo

Cavalo que é bom cavalo

Pro trabalho e pras crianças. 

E não era só um cavalo...

Era também um amigo,

E um amigo não fica pra trás... 

Osmar Ransolin

 


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