sábado, 25 de maio de 2024

Dois poemas

 de Ricardo Silvestrin

A Invenção do abraço 

Há braços longos e curtos,

magros e gordos.

Há braços brancos e negros,

de velhos, de crianças.

Há braços de homens e de mulheres.

Há braços e braços.

Até que um dia alguém deu um passo...

diminuiu o espaço e fez do braço um laço.

Foi um sucesso, virou moda,

e hoje até na hora do fracasso...

se há braço, há abraço.



Quatro remadoras

Eram quatro remadoras,

todas no mesmo barco.

Duas no lado direito,

duas no lado esquerdo.

 

Levavam o barco no braço,

sempre com movimento perfeito,

giravam o remo na água

todas ao mesmo tempo.

 

Quem vê as quatro juntas

às vezes se pergunta:

“de onde tiram tanta força

aquelas quatro moças?”.

 

O barco já vai longe,

cruza a linha do horizonte.

Elas seguem sem parar,

inspiram e expiram o ar.

 

Quando chegam ao cais,

mesmo com todo o cansaço ‒

dessa vez foi demais!

‒ ainda resta força para o abraço.

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Ricardo Silvestrin é autor dos livros de poesia Carta aberta ao Demônio, Sobre o que, Typographo, Metal, O menos vendido, Palavra mágica, entre outros. Na prosa, lançou Play, contos, e O videogame do rei, romance, ambos pela editora Record. Recebeu por cinco vezes o prêmio Açorianos de Literatura. É também compositor e vocalista e lançou o álbum SILVESTREAM. Mestre em Literatura pela UFRGS com a dissertação Manuel Bandeira, um poeta na fenda. 

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