segunda-feira, 13 de maio de 2024

Um cavalo querendo viver

 Alcides Vilaça

‒ Mas é só um cavalo... 

‒ Não, senhor. É um cavalo equilibrando-se no espaço mínimo de uma cumeeira, para não morrer. É um cavalo que lutará até o último fôlego antes de se curvar às águas. É um cavalo que ainda espera um pouco de pasto. 

Veja os cascos dele, os músculos tesos, a cauda pensa – tudo imobilizado para poder viver. Sinta a energia guardada dentro dele. Quase se vê nela sua lembrança e esperança de um campo. 

Veja sua imagem multiplicada pela cidade, pelo país, pelo mundo. 

E veja, mas veja mesmo, que o salvaram, que o sedaram, que o protegeram no embarque, que o deitaram no bote, que o levaram dali, que o reanimaram no seco, que o afagaram e o alimentaram. 

Essas imagens todas pairaram acima das águas e dos maus sentimentos, imagens de um cavalo salvo, vejam só, pela dedicação humana. Nosso reino salvo, naquele instante, por um cavalo. 

Para ser tão especial, ele só teve que ser um cavalo querendo viver, resistindo em sua própria barca às penas do dilúvio. E segue agora tendo o nome doce que alguém lhe deu, um nome a que deve atender, quando o chamem: Caramelo.  

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