Na foto acima, no meio
da quadra, lado direito, o começo do Beco do Leite, chamado pelo povo de Beco
do Mijo, na rua Andrade Neves. Na foto abaixo, na Rua da Praia, assinalado pela seta, o final (ou
começo) do Beco do leite.
Assim era o Beco do Leite, que foi
engolido pelo portal de entrada do prédio da Energia Elétrica. Ele já passou e
ainda terá de passar por este desenho da rua.
Era um corredor com um bueiro
central, que recolhia as águas fétidas dos despejos de algumas casinholas que
por ali se alinhavam, moradias de lavadeiras e engomadeiras. Sentido de longe
pela mistura de cheiros, de carvão queimado e de urina. Não era por menos que
também o chamassem – desculpem, mas é verdade – de “Beco do Mijo”. Traço de
ligação entre os fundos dos “Caçadores” e a Rua da Praia, ali lavavam roupas e
engomavam colarinhos a tostão. Reduto do “jogo do bicho” e escoadouro dos
últimos retirantes do célebre cabaré, pela madrugada.
Sou tentado a relatar – e não sei
ainda se o faço – um episódio pitoresco ocorrido com um conhecido médico
boêmio, naquela local. Mas vá lá, que não devo ter reservas para com meus
leitores.
Estava o notívago encostado à parede,
quando foi surpreendido pelo “Trinta e Cinco”, ordenança do delgado Louzadinha.
No chão extensa poça escorria pelo passeio, denunciando a transgressão das
posturas municipais. O policial flagrou o descuidado boêmio e conduziu-o à
delegacia, sob os protestos deste, alegando que o molhado já estava lá, não era
dele. Mas o “rato branco” não quis saber de nada e levou o preso, que foi
custodiado pelos companheiros de noitada, aflitos em ver como ele se sairia
daquela. Na delegacia, Louzadinha charutão na boca, a cartola sobre a
escrivaninha – ouviu o relato e perguntou ao acusado o que tinha a alegar em
sua defesa.
− “A prova de que não fui eu, senhor
delegado, é que, com vossa licença, vou agora mesmo esvaziar a bexiga, pois até
que estou necessitado”.
Assim o fez e abundantemente, às
vistas do Louzadinha e do atônito policial. O “Trinta e Cinco” baixou a cabeça
ante a evidência da prova e pelas reprimendas do delegado, por haver preso a um
moço tão distinto. E a este mandou em paz, com as devidas desculpas pelo
engano. À saída, o jovem médico, e depois famoso jornalista, comentou para os
amigos:
− Vejam vocês o quanto vale uma
cistite*...
(Do livro “Rua da
Praia”, de Nilo Ruschel)
*Cistite o termo para descrever
uma inflamação na bexiga. Muitas vezes a cistite confundida com uma infecção
urinária, no entanto ela não é sinônimo de infecção urinária.
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