Os mitos e lendas brasileiras andam
pelos lares de nosso povo assustando e fazendo a imaginação voar. Às vezes,
estão em vários lugares diferentes ao mesmo tempo. Os nomes podem variar e
algumas características também, mas suas histórias e aparições não morrem. A
cultura indígena do Brasil tem todo um repertório de lendas mais ligadas às
coisas da natureza, envolvendo animais, estrelas, rios e plantas e. algumas
dessas lendas misturaram-se às crendices dos brancos católicos, Vamos conhecer
algumas dessas lendas que envolvem animais.
BOTO E IARA → diz-se que o
grande golfinho do rio Amazonas se transforma num homem branco, alto e forte,
que gosta de beber e conversar, e que geralmente seduz moças para engravidá-las,
desaparecendo depois. Mas há umas poucas versões que contam da capacidade do
Boto de se transformar também numa mulher atraente, que conquista o homem para
levá-lo para o fundo das águas - uma história que se confunde com a da Iara, Esta, uma
espécie de sereia dos rios amazônicos, canta e seduz os que vivem perto das
margens, carregando-os para o fundo assim que os conquista.
LOBISOMEM → Quando um casal
tem filhos, todos meninos, precisa fazer o mais velho batizar o mais novo, para
que este não se torne um Lobisomem. No caso de sete meninas, deve ser feita a
mesma coisa para que a garota não vire bruxa. Dizem que é fácil identificar os
Lobisomens: são esquálidos, pálidos, com um tom amarelado nas faces. Os
indivíduos que têm tal sina transformam-se de quinta para sexta-feira. Na
região Centro-sul do Brasil acredita-se que, se o sujeito for branco, vai
aparecer na forma de um enorme cachorro preto; se for negro, o cachorro será
branco. Apesar de meter medo nos homens, com suas pernas traseiras mais longas
que as dianteiras, muitos dizem que o Lobisomem só sai para comer fezes de
galinha. Se não há galinheiros, ele então procura crianças com fralda. No
Norte, acredita-se que Lobisomem ou Bruxa será o sétimo filho ou filha do
casamento de um padre.
BOITATÁ → Lenda muito forte no
Sul do país, refere-se ao duende que, numa noite de tempestade, aproveitou para
comer os olhos das carniças dos animais, vítimas de enchentes. Passou, então, a
ser um luzeiro ambulante e transparente. No verão, onde há carniça, o Boitatá
sempre aparece na forma de uma bola-de-fogo amarelo-azulada, que desaparece de
repente. Outros dizem que ele é, na verdade, uma cobra de fogo que percorre
Campinas, mergulha nas lagoas e guarda as cavernas, buracos na terra, onde
estariam guardados tesouros dos tempos dos jesuítas.
BEM-TE-VI → Pelo som do seu
canto, o Bem-te-vi é chamado de Triste-Vida, Tempo-Quer-Vier, Tique-Te-Vi e
Te-Vi. No Rio Grande do Norte, ele é malvisto porque gritou muito quando Nossa
Senhora procurava fugir para o Egito com São José e o Menino Jesus. Mas o
Bem-Te-Vi, que sabe de tudo, costuma também anunciar visitas. Pergunta-se:
"que tu viste?" - se ele responder imediatamente, é visita de homem;
se demorar, é mulher que vem.
JOÃO DE BARRO → É tido como
passarinho trabalhador e inteligente. Seu canto parece uma gargalhada (no Sul
dizem que, quando ele canta, é sinal de bom tempo) e é amigo de todos, lutando
para salvar seu ninho, sua casa. Um dia, conta-se, brigou com Tapera (andorinha),
que chegou a dominá-lo e despejou-o do ninho ainda em construção. A fêmea,
conhecida como "Joaninha-de-barro" ou "Maria-de-Barro",
ajuda na construção do ninho, mas parece não ser constante, abandonando o
macho. O João-de-Barro é fiel até o fim e, por isso, quando percebe que a
esposa mudou de amor, tampa a abertura da casa, fechando-a para sempre.
CAIPORA → É um homem com o
corpo coberto de pêlos que anda montado num "Queixada", ou
porco-do-mato. Muitas pessoas dizem que ver o Caipora dá azar, provavelmente
porque ele é tido como protetor dos animais do mato atrapalhando os homens que
saem para caçar. No Acre, Caipora é mulher: aparece como uma caboclinha muito
esperta, pequena, robusta, com
a cabeleira cobrindo-lhe o sexo, e que só dá caça a quem lhe
der de fumar. Quando se apaixona, é ciumentíssima.
NEGRINHO DO PASTOREIO → Este,
sim, é um ente exclusivo do imaginário dos gaúchos. Contam que, no tempo dos
escravos, um senhor de terras que só tinha olhos para cavalos e para o único
filho, punha um negrinho seu escravo para cuidar da tropa, mas o menino era
sempre enganado pelo filho do fazendeiro, que espantava os cavalos e punha a
culpa no negrinho. Um dia, depois de muito açoitar o escravo, o senhor colocou
o negrinho na boca de um formigueiro, para ser "Comido" pelos
bichinhos. Três dias se passaram e o senhor acabou encontrando o negrinho
perfeitamente são por obra e graça de Nossa Senhora. Levando os cavalos pela
pradaria afora. O Negrinho do pastoreio tornou-se protetor dos animais e das
pessoas perdidas no campo Quem perdeu algo no pasto também pode pedir ajuda a
ele, bastando apenas acender um toco de vela à noite, de preferência no fundo
escuro do quintal.
MULA-SEM-CABEÇA → Moça que
transa antes do casamento, ou comadre que se liga com compadre, ou mulher que
casa com padre, vira Mula-Sem-Cabeça. Ela também é conhecida, no Nordeste, como
Lula-de-padre. Aparece nas sextas-feiras e, quando encontra uma pessoa,
chupa-lhe os olhos, as unhas e os dentes, além de soltar fogo pelas ventas.
Outra coisa que faz a Mula-sem-cabeça aparecer é a pessoa passar correndo
diante da cruz à meia-noite.
UIRAPURU → "Um jovem
guerreiro apaixonou-se pela esposa do grande cacique. Como não poderia se
aproximar dela, pediu a Tupã que o transformasse em um pássaro. Tupã
transformou - o em um pássaro vermelho-telha, que à noite cantava para sua
amada. Porém foi o cacique que notou seu canto. Ficou tão fascinado que
perseguiu o pássaro para prendê-lo. O Uirapuru voou para a floresta e o cacique
se perdeu. À noite, o Uirapuru voltou e cantou para sua amada. Canta sempre,
esperando que um dia ela descubra o seu canto e o seu encanto. É por isso que o
Uirapuru é considerado um amuleto destinado a proporcionar felicidade nos
negócios e no amor.”
SUCURI → É uma das mais
conhecidas lendas do folclore amazônico. Conta a lenda que em uma certa tribo
indígena da Amazônia, uma índia, grávida da Boiúna (Cobra-grande, Sucuri), deu
à luz a duas crianças gêmeas. Um menino, que recebeu o nome de Honorato ou
Nonato, e uma menina, chamada de Maria. Para ficar livre dos filhos, a mãe
jogou as duas crianças no rio. Lá no rio eles se criaram. Honorato não fazia
nenhum mal, mas sua irmã tinha uma personalidade muito perversa. Causava sérios
prejuízos aos outros animais e também às pessoas. Eram tantas as maldades
praticadas por ela que Honorato acabou por matá-la para pôr fim às suas
perversidades. Honorato, em algumas noites de luar, perdia o seu encanto e
adquiria a forma humana transformando-se em um belo e elegante rapaz, deixando
as águas para levar uma vida normal na terra. Para que se quebrasse o encanto
de Honorato era preciso que alguém tivesse muita coragem para derramar leite na
boca da enorme cobra, fazendo um ferimento na cabeça até sair sangue. Mas
ninguém tinha coragem de enfrentar o enorme monstro. Até que um dia um soldado
de Cametá (município do Pará) conseguiu libertar Honorato do terrível encanto,
deixando de ser cobra d'água para viver na terra com sua família. A superstição
popular aconselha que, quando alguém enxerga assombrações desse tipo, deve
deitar-se de bruços e esconder as mãos. Quem vê alma do outro mundo também não
deve acender as luzes ao chegar em casa, devendo esperar o clarear do dia.
Lúcia Helena
Salvetti De Cicco
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