O jornalista Ricardo Boechat, âncora
do Jornal da Band, comentou o voto do deputado Jair Bolsonaro, na Plenária da
Câmara dos Deputados no dia 17/04/2016, durante a votação da admissibilidade do
processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, no qual ele
homenageou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador da ditadura militar
brasileira, chamando-o de “herói”.
“Torturadores
não têm ideologia. Torturadores não têm lado. Não são contra ou pró-impeachment.
Torturadores são apenas torturadores. É o tipo humano mais baixo que a natureza
pode conceber. São covardes, são assassinos e não mereceriam, em momento algum,
serem citados como exemplo. Muito menos numa casa Legislativa que carrega o
apelido de casa do povo”.
Ricardo Boechat*
*13 de julho de 1952 – 11 de fevereiro de 2019
P.S. O áudio e a imagem desse comentário estão na Internet.
A cruel dúvida do ator
Certa feita, um jovem ator estava
preocupado por interpretar o papel de um torturador. É que o interpretava muito
bem! Estava até gostando de tudo aquilo, dos instrumentos de tortura, dos
gritos das vítimas, a perversa alegria... Estava se sentindo realizado!
Então, foi procurar Augusto Boal, o
diretor, para lhe pedir ajuda – seria ele, afinal, um torturador nato, um monstro
em pele de ator? Boal o tranquilizou:
− É claro que você é um
torturador nato! Todos nós podemos ser tudo o que quisermos! A nossa culpa não
está em poder ser... mas em escolher o que jamais deveríamos ser.
Os Primeiros Tempos da Tortura
Não era mole aqueles dias
de percorrer de capuz
a distância da cela
à câmara de tortura
e nela ser capaz de dar urros
tão feios como nunca ouvi.
de percorrer de capuz
a distância da cela
à câmara de tortura
e nela ser capaz de dar urros
tão feios como nunca ouvi.
Havia dias que as piruetas no
pau-de-arara
pareciam ridículas e humilhantes
e nus, ainda éramos capazes de corar
ante as piadas sádicas dos carrascos.
pareciam ridículas e humilhantes
e nus, ainda éramos capazes de corar
ante as piadas sádicas dos carrascos.
Havia dias em que todas as
perspectivas
eram pra lá de negras
e todas as expectativas
se resumiam à esperança algo cética
de não tomar porradas nem choques elétricos.
eram pra lá de negras
e todas as expectativas
se resumiam à esperança algo cética
de não tomar porradas nem choques elétricos.
Havia outros momentos
em que as horas se consumiam
à espera do ferrolho da porta que conduzia
às mãos dos especialistas
em nossa agonia.
em que as horas se consumiam
à espera do ferrolho da porta que conduzia
às mãos dos especialistas
em nossa agonia.
Houve ainda períodos
em que a única preocupação possível
era ter papel higiênico
comer alguma coisa com algum talher
saber o nome do carcereiro de dia
ficar na expectativa da primeira visita
o que valia como um aval da vida
um carimbo de sobrevivente
e um status de prisioneiro político.
Depois a situação foi melhorando
e foi possível até sofrer
ter angústia, ler
amar, ter ciúmes
e todas essas outras bobagens amenas
que aí fora reputamos
como experiências cruciais.
e foi possível até sofrer
ter angústia, ler
amar, ter ciúmes
e todas essas outras bobagens amenas
que aí fora reputamos
como experiências cruciais.
Alex Polari
→ Alex Polari de Alverga nasceu em João Pessoa , em 1951
Foi preso no DOI-CODI em 1971 e barbaramente torturado. Polari sobreviveu para
denunciar ao próprio Tribunal Militar o assassinato de Stuart Angel (filho da
estilista Zuzu Angel) retratado no poema “Canção para Paulo” e as torturas que
sofreu e presenciou.
→ Em 1978, ainda preso, lançou
seu primeiro livro de poesia: “Inventário de Cicatrizes”. Em 1980 foi
finalmente libertado e se envolveu com o Santo Daime, não escrevendo mais
poemas.
→ A poesia de Polari é coloquial,
direta, despojada e bem humorada, apesar de profundamente marcada pela
experiência da clandestinidade, do cárcere, da tortura.
Essas pessoas não merecem comentário
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