sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Escola no tempo do mimeógrafo

 Leandro Staudt

Como já escrevi outras vezes, o olfato tem o poder de remexer em nossas memórias. Nenhum odor foi tão marcante na minha época de escola quanto as folhas das cópias do mimeógrafo. Quando aquele forte cheiro de álcool tomava conta da sala de aula, todos já sabiam que era dia de prova ou trabalho. 

Em um tempo de muito texto copiado do quadro e poucos livros didáticos para preenchimento pelo estudante, as cópias do mimeógrafo agilizavam o trabalho. Em uma prova de muitas perguntas, o aluno poderia ir direto às respostas. O equipamento foi precursor do xerox, da impressora e dos conteúdos digitais nos colégios. 

A palavra mimeógrafo vem do grego e significa imitar a escrita. É exatamente o que permite a invenção patenteada pelo norte-americano Thomas Edison no final do século 19. Com uso do estêncil, uma matriz com carbono escrita à mão ou datilografada, a professora poderia reproduzir muitas folhas para a turma. 

O sistema usa um feltro umedecido em álcool para fazer a cópia no papel em branco. Uma manivela precisa ser girada a cada página copiada. O trabalho é manual, folha por folha passando pelo rolo onde fica fixada a matriz. 

O segredo para a qualidade está na quantidade de álcool. Em excesso, borra. Se colocar pouco, a imagem fica muito clara, impossível de ler. A folha sai umedecida. Pegando por uma das pontas, o papel pode ser balançado para acelerar a secagem. A cópia fica em um tom entre o azul e o roxo. 

Em um ambiente fechado, o cheiro tão forte de álcool poderia até fazer um aluno passar mal. Ou seria desculpa para fugir da prova? Os mimeógrafos foram substituídos gradativamente com achegada do xerox, nome popular das fotocópias. 

Talvez o velho equipamento permaneça guardado no armário da secretaria de alguma escola por aí. Em busca na internet, encontrei mimeógrafos usados nesses sites de desapego. Nada impede de ser usado, mas hoje está mais para peça de museu. 

(Do jornal Zero Hora, 13 de agosto de 2023) 

P.S. Eu, como professor de escolas públicas e particulares, usei muito o meu próprio mimeógrafo. Eu tinha uma máquina de escrever IBM com editor de textos que datilografava tudo automaticamente para mim. Alguns anos depois, fazia os exercícios e as provas no computador, colocando nos textos e nas provas imagens de cliparts. Já quase na minha aposentadoria, usava um pen drive com exercícios e textos projetados no quadro do datashow. 

NSM

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Amiga, ele foi muito útil numa fase em que, nós, professores das antigas, o utilizamos muito em sala de aula...

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