sábado, 19 de agosto de 2023

REDE

 

É noite alta, perto a madrugada,
Uma enorme lua beija o oceano,
Um casal passeia de mãos dadas
Para o futuro ambos fazem planos.

São jovens, se beijam com carinho,
Admiram o luar, cruzam vielas,
Resolvem brincar, estão sozinhos,
Brincar como crianças, olhar janelas.

A primeira casa está toda fechada;
Na segunda casa alguém está chorando;
A terceira parece abandonada,
Mas na quarta estão comemorando.

Continuam a procurar por novidades,
Com cuidado, mirando das janelas,
E uma atrai as suas curiosidades,
Há um rapaz com rosto cor de vela.

Esquálido, olhos fundos e cansados,
Ele se senta e preme alguns botões.
Algo acontece, o quarto está mais iluminado,
E numa tela surgem uns borrões.

Ele dedilha algo num teclado,
Depois aguarda que haja alguma ação.
A tela agora mostra imagens, num quadrado,
Ele volta a escrever, com atenção.

E fica ali, olhando aquela tela,
E o casal vendo o que não lhe compete,
Pensa, em como a vida é bela.
O amor nas ruas, não pela internet.

Dão-se de novo as mãos, já pensativos,
Ficarão juntos, na tristeza ou na dor,
Correm para se sentirem vivos,
Fogem da máquina, fogem para o amor.

(Clarival Vilaça: 29/01/98)

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