Pintura de 1854 de
Alfred de Musset,
autoria de Charles Landelle (1812-1908).
Há cento e cinquenta anos* morria em
Paris, moço ainda, o grande poeta francês Alfred de Musset. “Filho do século”,
acabara tristemente, vítima de Eros e do álcool, o autor de poemas que
atravessaram o século e seguirão encantando gerações sobre gerações.
Ficou célebre sua aventura amorosa
com George Sand, a escritora de gênio e a mulher extravagante que acabaria
dando-lhe dores de cotovelo. Foram duas criaturas feitas para se detestarem e
que pensaram poder ligar-se pelo amor. Seu ninho em Veneza ainda hoje é
visitado por turistas sentimentais, talvez os mesmos que vão levar flores ao
túmulo da Dama das Camélias.
Abandonado em vida, Musset o foi
também depois de morto. As homenagens ficariam a cargo da Posteridade...
Depois que seu modesto féretro deixou
a igreja de Saint Roch, das 200 pessoas que assistiram à cerimônia religiosa,
apenas umas quarenta o acompanharam ao cemitério de Père Lachaise. Aí chegados,
nova debandada, de modo que só assistiram à inumação raríssimos amigos.
Acabava a França de perder um dos seus
maiores poetas, um dos seus maiores escritores, um dos seus espíritos mais
encantadores, uma das suas mais puras e radiantes glórias. Felizmente fazia
tempo esplêndido. Se houvesse chovido, é bem possível que ninguém houvesse
assistido ao seu enterro.
Albéric Second, em La Comédie Parisienne ,
comenta:
Musset pertencia à Academia Francesa.
Pensar-se-á sem dúvida que a Academia compareceu em massa. Engano. Os
que lhe prestaram a última homenagem podem contar-se pelos dedos: Merimée, Sainte-Beuve,
Pongerville, Legouvé, Augier, além de Villemain, Vigny, Empis e Vitet, que
seguravam as alças do caixão.
E os outros trinta, onde se achavam?
Ah! Se Alfred de Musset tivesse sido
ministro de qualquer coisa ou embaixador em qualquer parte, num regime
qualquer, então, sim! teria sido abundantemente carpido e piedosamente
acompanhado. Mas um simples poeta!
O teatro devia-lhe belos sucessos. Só
dois atores comparecerem à igreja. Atriz, nenhuma.
Quanto à juventude parisiense, a cujo
coração falara o poeta, ninguém dela acorreu a ver seu corpo descer à
sepultura. No entanto, àquela hora, a bolsa não estava funcionando...
Campa de Alfred de Musset no cemitério de Père
Lachaise
* Na época da revista, fazia cem anos da morte do poeta. (11.12.1810-02.05.1857)
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