Semana Amorosa
Viu-a domingo. Segunda,
narrou-lhe em
cheirosa carta
a sua paixão
profunda.
Na terça,
esperou; na quarta
recebeu este
postal:
– Vem à
quinta! e o moço, besta,
toma quinta
por quintal,
e vai à
quinta na sexta...
E no sábado
essa funda
paixonite
estava extinta,
e, triste,
chorava a tunda
que apanhou
sexta na quinta!
A mulher
Ela, dos 15 aos 20, nos enleia,
dos 20 aos 25, nos encanta,
dos 25 aos 30, não há feia
e, dos 30 aos 40, não há santa.
Dos 40 aos 50, ainda é sereia,
dos 50 aos 60, desencanta:
– Se for solteira – o próprio céu odeia,
se casada – de nada mais se espanta.
Dos 60 aos 70, não descrevo;
embora guarde n´alma um doce enlevo,
traz nos olhos da mágoa o espesso véu...
Seja avó, seja tia ou seja sogra,
toda velhinha meus carinhos logra
por lembrar minha Mãe que está no céu...
dos 20 aos 25, nos encanta,
dos 25 aos 30, não há feia
e, dos 30 aos 40, não há santa.
Dos 40 aos 50, ainda é sereia,
dos 50 aos 60, desencanta:
– Se for solteira – o próprio céu odeia,
se casada – de nada mais se espanta.
Dos 60 aos 70, não descrevo;
embora guarde n´alma um doce enlevo,
traz nos olhos da mágoa o espesso véu...
Seja avó, seja tia ou seja sogra,
toda velhinha meus carinhos logra
por lembrar minha Mãe que está no céu...
(Belmiro Braga)
Num momento de decepção ocasionada
por algum amigo Belmiro dirigiu-se ao seu cão Terra·Nova Príncipe estas duas
famosas quadras:*
Pela estrada da vida subi
morros,
desci ladeiras e, afinal, te digo:
desci ladeiras e, afinal, te digo:
se entre os amigos encontrei
cachorros,
entre os cachorros encontrei-te, amigo!
entre os cachorros encontrei-te, amigo!
Para insultar alguém, hoje
recorro
a novos nomes feios, porque vi
a novos nomes feios, porque vi
que elogio a quem chamo de
cachorro,
depois que este cachorro conheci.
depois que este cachorro conheci.
(Belmiro Braga)
*A primeira quadra ao Príncipe está
inscrita sob o busto de Belmiro Braga instalado no Parque Halfeld, em Juiz de
Fora, como homenagem à verve do poeta, justa síntese do modo como ele via o seu
próprio trabalho poético, e do modo como a gente do povo o leu e guardou na
memória. Não por acaso, são estes os versos que vêm à memória de Pedro Nava. Eles se
inscrevem nas lembranças do menino de Juiz de Fora, como se inscreveram na
memória popular. Cabe lembrar que o poema possui uma quadra complementar, que
assim desdobra o raciocínio da primeira:
E uma de suas
inúmeras trovas:
Mui decentes eu não acho
teus vestidos, minha prima:
são altos demais em baixo,
são baixos demais em cima!
teus vestidos, minha prima:
são altos demais em baixo,
são baixos demais em cima!
Resposta à notícia de
um contrato de casamento:
À notícia bato palmas
E mando um conselho aos dois:
Primeiro casem as almas
E os corpos casem depois,
E mando um conselho aos dois:
Primeiro casem as almas
E os corpos casem depois,
Que eu tenho os olhos cansados
De ver (uma mil talvez)
Dentro de corpos casados
Almas em plena viuvez.
De ver (uma mil talvez)
Dentro de corpos casados
Almas em plena viuvez.
(De Rosas.3ª. ed. 1917.)
Vindo ao Rio,
publicou numa revista esta...
Contrariedade
– A um certo cinema fui
e me assentei junto ao Rui.*
e me assentei junto ao Rui.*
E a sua cabeça – um mundo
de tanto saber profundo –
de tanto saber profundo –
não me deixou ver o rosto
do meu amor... Que desgosto!
Amo ao grande Rui com ânsia,
mas naquela circunstância...
Que nunca tal me aconteça!
Porque a verdade é verdade:
mas naquela circunstância...
Que nunca tal me aconteça!
Porque a verdade é verdade:
Eu cheguei a ter vontade
de ver o Rui...sem cabeça...
*Esses versos são uma referência à cabeça de Rui Barbosa, que o impediu de ver uma moça, sentada à sua frente, num cinematógrafo no centro do Rio de Janeiro.
Indo, em vilegiatura, a uma das
cidades das margens do Paraibuna, Belmiro viu-se constantemente assediado por
um literatelho com fumaças de orador.
De
regresso, fotografou-o:
Um certo orador maçante,
das margens do Paraibuna,
das margens do Paraibuna,
ao falar, de instante a
instante,
vai esmurrando a tribuna,
vai esmurrando a tribuna,
E quem o conhece, sente,
por mais ingênuo e simplório,
que os murros são simplesmente
para acordar o auditório.
que os murros são simplesmente
para acordar o auditório.
Vindas de Juiz de Fora, onde viveu e
morreu Belmiro, as suas trovas chegavam ao Rio e logo se espalhavam Brasil a
fora.
Eis
algumas:
“Vi teus braços”, que ventura!
teu colo... as pernas... que gosto!
Agora, tira a pintura,
teu colo... as pernas... que gosto!
Agora, tira a pintura,
que eu quero ver o teu rosto.
Noite de núpcias, O Gama
encontra a esposa envolvida
num lindo roupão e exclama:
– Posso, enfim, ver-te vestida!
encontra a esposa envolvida
num lindo roupão e exclama:
– Posso, enfim, ver-te vestida!
– Mui decentes eu não acho
teus vestidos, minha prima:
são altos demais em baixo,
são baixos demais em cima!
teus vestidos, minha prima:
são altos demais em baixo,
são baixos demais em cima!
– A beleza não te atrai?
Só te casas por dinheiro?
Tu pensas como teu pai,
Só te casas por dinheiro?
Tu pensas como teu pai,
que morreu velho e... solteiro.
Quando a mulher quer
Quando a mulher quer, eu acho
Que nem Deus a desanima...
É água de morro abaixo,
É fogo de morro acima.
A Bunda
Quando ela passa todo mundo
espia,
Não para a cara, que não é formosa,
Mas para a bunda, que é maravilhosa.
Em bunda, nunca vi tanta magia.
Requebra, sobe, treme e rodopia
Dentro de uma expressão maravilhosa.
Deve ser uma bunda cor-de-rosa,
Da cor do céu quando desponta o dia.
E ela sabe que sua bunda é boa.
Vai pela rua rebolando à toa,
Deixando a multidão maravilhada.
Eu a contemplo, num silêncio mudo.
Embora a cara não valesse nada,
Só aquela bunda me valia tudo.
Não para a cara, que não é formosa,
Mas para a bunda, que é maravilhosa.
Em bunda, nunca vi tanta magia.
Requebra, sobe, treme e rodopia
Dentro de uma expressão maravilhosa.
Deve ser uma bunda cor-de-rosa,
Da cor do céu quando desponta o dia.
E ela sabe que sua bunda é boa.
Vai pela rua rebolando à toa,
Deixando a multidão maravilhada.
Eu a contemplo, num silêncio mudo.
Embora a cara não valesse nada,
Só aquela bunda me valia tudo.
(Belmiro Braga)
Belmiro Ferreira Braga (Belmiro
Braga, então Vargem Grande, 7 de
janeiro de 1872
– 31
de março de 1937)
foi um poeta brasileiro. Em sua
homenagem,
seu local de nascimento recebeu seu nome após ser elevado à categoria de município,
passando a ser chamado Belmiro Braga.
Esta casa, à esquerda, era a
residência do poeta Belmiro Braga. Existe um prédio, hoje, em seu lugar. A foto
é de meados dos anos 60 e seria do saudoso Jorge Couri. Ela ficava na esquina
da atual Rua Mister Moore com Avenida Rio Branco.
(Do Blog Juiz de Fora
da Depressão)
Maravilha poder saber mais sobre Belmiro Braga, Grande Poeta!
ResponderExcluirPenso que esta também é do poeta de Juiz de Fora:
ResponderExcluirAté nas flores se nota
A diferença de sorte
Umas efeitam a vida
Outras efeitam a morte.
“Até nas flores se encontra
Excluira diferença da sorte,
umas enfeitam a vida,
outras enfeitam a morte”.
Os versos são do trovador cigano brasileiro Jerônimo Guimarães
Apesar de não poder afirmar com certeza absoluta, o estilo deste poema parece-me o dele (peoma Semana Amorosa). Será um poema dedicado ao ciclista português José Bento Pessoa (1874-1954) seu contemporâneo:
ResponderExcluirNas horas
«Ás duas põe um pé sobre um pedal
No Terreiro do Paço e passo bem!
Chega às duas e um quarto a Santarém
Ás duas e trinta e nove ao Tramagal!
Ás quatro entra do norte no Ginjal,
Dá um pulo d’ahi para Belem,
E às quatro e vinte e nove elle ahi vem
Já de regresso ao ponto inicial!
Para a gente julgar da rapidez
Com que elle n’este mundo sempre andou,
Basta saber-se que nasceu às dez,
Que às dez e trinta e cinco se casou,
Às onze era papá, e às onze e três
Andára tão depressa que era avô!»
Muito bom, instrutivo e pitoresco.
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