sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

A verdade atrás da propaganda



Numa célebre conferência, na década de 60, um diretor de publicidade de Milwaukee deu a tônica de toda a propaganda comercial moderna quando comentou o fato das mulheres darem dois dólares e meio por um creme para a pele, mas não darem mais de 25 centavos por um sabonete: o sabonete − explicou − apenas promete deixa-las limpas (e cumpre), já o creme promete torná-las belas (mais tarde, os sabonetes, a começar por Lux, começaram também prometer beleza); e acrescentou: “os fabricantes de cosméticos não estão vendendo lanolina, estão vendendo esperança; os de sapato estão vendendo pés adoráveis; não compramos mais laranjas, compramos vitalidade; não compramos mais cigarros ou vinho, compramos sucesso social; não compramos mais automóvel, compramos prestígio”.

(Do livro “Cultura de verniz”, de Roberto Menna Barreto)

Com um dentifrício, por exemplo, adquirimos, não um mero antisséptico ou um produto de higiene, mas sim a libertação do medo de sermos sexualmente repulsivos. Com o vodka ou o whisky não adquirimos um veneno protoplásmico que, em pequenas doses, pode afetar o sistema nervoso de maneira psicologicamente valiosa; estamos adquirindo amizade e boa camaradagem... (...) Com o best-seller do mês adquirimos cultura, a inveja dos vizinhos menos ilustrados e a admiração dos que são intelectuais.

(...)

Em cada um dos casos, o analista de motivações encontrou um desejo ou um medo fundamente enraizado, cuja energia pode ser utilizada para levar o consumidor a distribuir dinheiro e assim, indiretamente, a fazer girar as rodas da indústria. Armazenada nos espíritos e nos corpos de incontáveis indivíduos, esta energia potencial é libertada e transmitida por uma linha de símbolos cuidadosamente disposta de maneira a evitar a racionalidade e a obscurecer a verdadeira questão.

Do livro “Regresso ao admirável mundo novo”,
Aldous Huxley)


Aldous Leonard Huxley (Godalming, 26 de Julho de 1894Los Angeles, 22 de Novembro de 1963) foi um escritor inglês e um dos mais proeminentes membros da família Huxley. Passou parte da sua vida nos Estados Unidos, e viveu em Los Angeles de 1937 até a sua morte, em 1963. Mais conhecido pelos seus romances, como Admirável Mundo Novo e diversos ensaios, Huxley também editou a revista Oxford Poetry e publicou contos, poesias, literatura de viagem e roteiros de filmes. Ele passou a última parte de sua vida nos Estados Unidos, vivendo em Los Angeles de 1937 até sua morte. No final de sua vida, Huxley foi amplamente reconhecido como um dos principais intelectuais de sua época. Ele foi nomeado para o Prêmio Nobel de Literatura sete vezes e foi eleito Companheiro de Literatura pela Royal Society of Literature em 1962.

Huxley era humanista e pacifista. Ele cresceu interessado no misticismo filosófico e universalismo, abordando esses temas com obras como A Filosofia Perene (1945) − que ilustra semelhanças entre misticismo ocidental e oriental − e As Portas da Percepção (1954) − que interpreta sua própria experiência psicodélica com mescalina. Em seu romance mais famoso Admirável Mundo Novo (1932) e seu último romance Island (1962), ele apresentou sua visão de distopia e utopia, respectivamente.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Declaração de princípios sem fins

Carlos Heitor Cony


Sou contra o desenvolvimento autossustentável e contra a insustentável leveza do ser. Sou contra o esgotamento dos prazos legais e contra as objurgatórias indeclináveis. Sou contra o fomento da agricultura e contra o colóquio de física nuclear. Contra o abastardamento de nossas tradições, contra o dever inelutável de consciência e contra os soluços da espiral inflacionária.

Sou contra a transparência das decisões ministeriais e contra os legítimos reclamos do operariado. Sou contra os artefatos de fabricação caseira e contra as armas de uso exclusivo das Forças Armadas. Sou contra a mais completa apuração das responsabilidades e contra a dilatação do perfil da dívida externa. Contra a camada de ozônio, contra a injusta concentração de renda e contra as colocações politicamente corretas.

Sou contra o quadro de nossas importações e contra o arbítrio das decisões apressadas. Sou contra o apaziguamento dos espíritos e contra as inalienáveis prerrogativas da pessoa humana. Contra os lídimos representantes das classes produtoras, contra os autênticos interesses de nossa soberania e contra os sagrados postulados da civilização cristã.

Sou contra a exata compreensão dos meus direitos de cidadão e contra o impostergável dever de solidariedade. Sou contra as injunções de ordem econômico-social e contra a voz da consciência, contra o tato político, contra o gosto da glória, contra o cheiro de santidade e contra os pagamentos à vista. Contra o arbítrio das decisões apressadas.

Sou contra o ovo de Colombo, a bacia de Pilatos, o tendão de Aquiles, a espada de Dâmocles, os gansos do Capitólio, as asas de Ícaro, o estalo de Vieira, a caixa de Pandora (nos tempos de Machado de Assis não se dizia “caixa”, mas ‘boceta de Pandora”) e contra a trompa de Eustáquio.

Sou contra o bico de Bunsen, o tonel de Diógenes, o teorema de Pitágoras, o disco de Newton, o gol do Gighia, o banho de Arquimedes, a casta Suzana, as rosas de Malherbe e o corvo de Poe. Sou contra a retirada da Laguna e os canhões de Navarone, contra as ilhas Sandwich, contra o estreito de Bósforo, o farol de Alexandria e o colosso de Rodes. Contra o templo de Diana e contra o desfiladeiro de Termópilas, contra o herói de Maratona e, acima de tudo, contra o quartel do Abrantes.

Sou contra a nuvem de Juno e a maldição de Montezuma, contra a vitória de Pirro, contra a casa da mãe Joana, contra a Maria vai com as outras, contra as vilas do Diogo, contra a invasão da Normandia, contra o túnel do tempo e contra a dança das horas.

Sou contra a Lei de Murphy e contra a matrona de Éfeso, contra as Guerras de Peloponeso, contra a paz de Campofórmio, contra a batalha de Itararé, contra a dieta de Worms e contra o Édito de Nantes, contra o Tratado de Tordesilhas, sobretudo contra a vingança do Zorro, contra o voto de Minerva e contra a besta do Apocalipse.

Sou contra a ampla pesquisa ao eleitorado e contra a arregimentação de consciências. Sou contra o imediato socorro às regiões desamparadas e contra o mais fino ornamento de nossa sociedade. Sou contra o transplante de ideias alienígenas e contra os óbices que entravam o nosso desenvolvimento. Contra o lúcido ensaísta e contra o rigoroso crítico teatral. Contra o inspirado poeta e contra o agudo filósofo. Contra o hábil cronista e contra o paciente pesquisador. Sobretudo, contra o vibrante jornalista.

Sou contra os valores agregados, o veredicto das urnas, a paz da família brasileira, os dois pontos para mais ou para menos das pesquisas eleitorais, sou contra todos aqueles que dispensam apresentações, contra os vasos comunicantes e, principalmente, contra as mulheres que fazem os poetas sofrerem, os governantes roubarem, os comerciantes falirem, os filósofos meditarem e os pecadores pecarem.

Do livro “O Melhor do Humor Brasileiro – Antologia”,
Organização de Flávio Moreira da Costa, Companhia das Letras.

P.S.: Esta crônica é baseada em texto antigo e já publicado em livro que a editora Leya acaba de lançar. Funciona como uma declaração de princípios sem fins, fala do trono de um plebeu que nem possui um reino para trocar por um cavalo.



Brincando de brincar



Meu Rio antigo, que brincavas
ao rubro som do Zé Pereira
e não conhecias as Avas
Gardners do Copa ou da Gafieira.

Pensas que a máscara e que o entrudo
valiam mais que a nova tralha?
Tu nada viste e eu já vi tudo:
amigo, o resto é zarandalha.

Gabas-me tuas fantasias
eu proclamo nosso à-vontade.
Teu carnaval eram três dias,
o de hoje o ano inteiro invade.

Teus democráticos, tenentes,
fenianos e não sei que mais
eram muito mais inocentes
que os “inocentes” atuais.

Havia o corso? O corso temos
e piratas com seus ataques
que, vibrando golpes extremos,
vão sorrindo nos cadilaques.

Ora, confete... Não reparas
Como é de uso e até de abuso?
Formas bajulatórias raras,
mais raras que o ritual druso.

Serpentina, velho, é a atitude
costumeira, e não só em março.
Nossa farra, bem menos rude,
e um faz-de-conta no ar, esparso.

Faz de conta que me divirto,
faz de conta que a vida é fácil,
faz de conta que o louro e o mirto
se juntam em coroa grácil.

Faz de conta que esse alumínio
das novas moedas é puro ouro.
(Nosso chefe, Deus ilumine-o
pelo menos no ano vindouro.)

Vês passar o bloco de sujos
− sol da Favela do Esqueleto?
Como ao tempo dos Araújos,
dança a miséria, em tom faceto.

Na Biblioteca Nacional
pregaram calungas de cor.
Vão fazer de Momo, afinal,
um instante de desamor?

As árvores não piam, mas
se piassem, Dr. Batista,
xingariam as luzes más
da ornamentação surrealista.

Os mobiles, sim, me agradaram.
Algo de novo se inaugura
e carnavais que já passaram
− dinamogênica figura −

estão brincando lá na altura.

C.D.A.*

*Carlos Drummond de Andrade. Brincando de brincar, Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 3 de março de 1957.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Ecos do carnaval

Manuel Bandeira


Entrudo na Rua do Ouvidor − 1884

Antigamente, era na Rua do Ouvidor que pulsava com mais força a vida desta heróica cidade. “Grande artéria”, chamavam-lhe os literatos e jornalistas, inclusive Coelho Neto. Era, de certa maneira, uma imagem inexata, porque na artéria está o sangue de passagem. Ora, não se passava pela Rua do Ouvidor: ia-se para a Rua do Ouvidor. Ali se parava, se namorava, se conspirava. Ali se situavam as redações dos grandes jornais, as lojas mais elegantes, os cafés e confeitarias mais frequentados. Ali é que chegavam ao clímax os acontecimentos mais notáveis da consagração pública. Quando em 1880, Carlos Gomes voltou glorioso da Itália, foi na Rua do Ouvidor que recebeu a apoteose máxima. O mesmo sucedeu com o segundo Rio Branco ao regressar da Europa para ser Ministro das Relações Exteriores. Nos três dias de Carnaval, então, a rua do Ouvidor ficava de não se poder meter um alfinete: a afluência de povo transbordava dali para as travessas, e a festa culminava com a passagem dos préstitos rua acima.

Pois bem, este ano, terça-feira gorda, por volta das três da tarde, desci de um lotação na avenida e subi a rua do Ouvidor até a rua Primeiro de Março. Estava deserta! Em certo trecho mesmo, entre Quitanda e Carmo, eu era o único transeunte! Senti-me um pouco como fantasma. Por sinal que me pareceu bom, só que um pouco melancólico, ser fantasma.

* * *

Situação privilegiada a que desfrutamos, os moradores da avenida Beira-mar, do Obelisco até o Aeroporto: estamos no coração da cidade e somos, no entanto, paradoxalmente marginais. O Carnaval das ruas está morrendo: já cabe todo na avenida e nem sequer a toma inteira. Dela para o mar é o deserto e o silêncio.

* * *

Naturalmente, me lembrei muito de Irene – Irene preta, Irene boa e sempre de bom humor. Passava ela o ano inteiro juntando dinheiro para gastar no Carnaval. Também, graças a ela, o boqueirão da Travessa do Cassiano brilhava nos três dias. Quarta-feira de Cinzas, às oito da manhã, estava à minha porta para o serviço. Era uma preta gorda, feira e tinha não sei que doença que lhe comia a beirada das orelhas, onde havia sempre um pozinho branco. A especialidade de Irene era a limpeza dos metais. Nas mãos dela o cobre virava ouro; todo metal branco, prata. Se as almas envolvessem os corpos, Irene não seria preta, não: seria da cor dos cobres que ela areava. Irene boa!

*****

Manuel Bandeira em Melhores Crônicas,
seleção e prefácio de Eduardo Coelho, Global Editora.

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Duas e três



Levei um susto quando aquela voz soprou em minha nuca:

− Se tu é bom, mata essa: “Não durmo no Rio porque tenho pressa; duas e três.”

Voltei-me para ver quem falava. Era um homem quarentão, alto e gorducho, de roupas imundas, rasgadas, e cara encardida. Uma cara simpática de gângster regenerado.

Ele ria:

− Mata essa, vamos!

Era de manhã cedo, em junho, e fazia um frio agradável. Acordara e, sem ter para onde ir, sentei-me naquele banco da Praça Floriano, em frente à Biblioteca Nacional, à espera de que ela abrisse. Meu velho terno marrom esfiapava nas mangas, o sapato empoeirado, a barba por fazer. “Esse homem está me tomando por um vagabundo”, pensei comigo. E achei divertido.

− Matar o quê?

− A charada, meu besta!

O velho se debruçava em cima de mim, com um riso gozador. Fedia a suor e molambo. Afastei-o um pouco, com o braço e, meio sem saber o que fizesse, acedi.

− Como é mesmo a charada?

− Só repito esta vez, tá bom? “Não durmo no Rio porque tenho pressa; duas e três.”

Sempre fui um fracasso para matar charadas. Fiz um esforço para penetrar nas palavras, mas em vão.

− Digo mais. – esclareceu-me o vagabundo. – Chaves: “Não durmo no Rio” e “Rio”. Conceito: “pressa”... Mas você é burro, hein?

Donde diabo viera aquele cara impertinente, para me obrigar a resolver uma charada àquela hora da manhã? Mas meu orgulho estava em jogo. Pensava e o pensamento escapulia.

− Não consigo decifrar. Não me amola.

− Então você perdeu.

− É, perdi.

− Então paga.

− Paga o quê?

− Duas pratas, meu Zé. Você perdeu!

Era incrível. Comecei a rir. Ele também ria e dizia: “Paga, duas pratas.”

Dei-lhe uma cédula de dois cruzeiros e fiquei ali rindo enquanto ele se afastava arrastando seus sapatos furados.

Semanas depois, estava eu no Passeio Público, quando ele veio com a mesma conversa, como se nunca me tivesse visto. “Mata essa: não durmo no Rio, porque tenho pressa; duas e três.” Respondi-lhe em cima da bucha: “Não durmo, velo; no Rio. Cidade: velocidade. “Ele ficou desapontado. “Você perdeu”, disse-lhe eu. “Paga duas pratas.” Olhou-me sério, meteu a mão no bolso e estendeu-me duas notas imundas. Fomos tomar juntos um café na Lapa.

*****

Ferreira Gullar. “Duas e três”, In: Poesia Completa, Teatro e Prosa, compilado do livro “A Biblioteca Nacional na crônica da cidade”, de Iuri Lapa e Lia Jordão.

P.S. Num concurso de charada feito pela Rádio Farroupilha, de Porto Alegre, RS, nos anos 50, foi transmitida a seguinte charada para os radiouvintes:

“Sozinho, o descendente do pai do meu pai declama versos.”

Uma e duas.

Chaves: Sozinho (uma); descendente do pai do meu pai (duas); conceito: versos.

Botei a cuca pra funcionar e resolvi a questão: sozinho=; descendente do pai do meu pai=neto: versos: soneto

(NSM)


Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro

Biblioteca Nacional, também chamada de Biblioteca Nacional do Brasil, cujo nome oficial institucional é Fundação Biblioteca Nacional, é a depositária do patrimônio bibliográfico e documental do Brasil, considerada pela UNESCO uma das dez maiores bibliotecas nacionais do mundo e a maior da América Latina. Entre suas várias responsabilidades incluem-se a de preservar, atualizar e divulgar uma coleção com mais de nove milhões de peças, que teve início com a chegada da Real Biblioteca de Portugal ao Brasil e cresce constantemente, a partir de doações, aquisições e com o depósito legal.

Entre os objetos que deveriam acompanhar a família real em sua viagem para o Brasil estavam os caixotes de livros e documentos da Real Biblioteca da Ajuda, de Lisboa, com um acervo de cerca de 60 mil peças. Na pressa, os caixotes ficaram abandonados no porto e só em 1810 começaram a ser transferidos para o Brasil. Com o acervo novamente reunido, o príncipe regente D. João fundou a Real Biblioteca Nacional. Até 1814, apenas os estudiosos podiam consultar a biblioteca e, mesmo assim, mediante autorização régia. Depois dessa data, o acesso foi liberado ao público.

Em 1858, a Biblioteca foi transferida para a Rua do Passeio, número 60, no Largo da Lapa, e instalada no prédio que tinha por finalidade abrigar de forma melhor o seu acervo. Atualmente, com algumas modificações, esse edifício abriga a Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Como seu acervo continuava a ampliar-se com as doações, aquisições e através de contribuição legal, compra de coleções de obras raras em leilões e em centros livreiros de todo o mundo, em breve seria necessária sua mudança para outro edifício, mais adequado às suas necessidades.

O crescimento constante e permanente do acervo da biblioteca foi fundamental para a realização de um projeto de construção de uma sede que atendesse a todas as necessidades da biblioteca, acomodando de forma adequada suas coleções. Com base nisso foi projetado seu atual prédio, que teve sua pedra fundamental lançada em 15 de agosto de 1905, durante o governo de Rodrigues Alves. A inauguração se realizou em 29 de outubro de 1910, durante o governo Nilo Peçanha.

O edifício da Biblioteca Nacional, cujo projeto é assinado pelo engenheiro militar Sousa Aguiar, tem um estilo eclético, no qual se misturam elementos neoclássicos e art nouveau, e contém ornamentos de artistas como Eliseu Visconti, Henrique e Rodolfo Bernardelli, Modesto Brocos e Rodolfo Amoedo. Eliseu Visconti, ainda em 1903, já havia projetado o ex-libris e o emblema da Biblioteca Nacional.

O prédio da Biblioteca fica situado na Avenida Rio Branco, número 219, praça da Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, compondo com o Museu Nacional de Belas Artes e o Teatro Municipal um conjunto arquitetônico e cultural de grande valor.



segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Viagem pitoresca e histórica ao Brasil

Pinturas de Jean Baptiste Debret*

O jantar


O jantar de um negociante era um ato íntimo sem o menor vestígio de etiqueta. O patrão queria comer inteiramente à vontade e já se preparando para o descanso que se seguia à refeição. A mulher entretinha-se com seus negrinhos de estimação. O calor e as moscas exigiam a presença de uma escrava com uma espécie de abano-espanador. Mulheres e crianças comiam com os dedos.

Funcionário público saindo com a família


Esta é uma das mais divulgadas litografias de Debret. O chefe da família, ao sair para um passeio, faz observar uma rigorosa ordem de precedência. Ele, naturalmente, rompe a marcha. Seguem-se os filhos, com os mais novos à frente, a mulher, já esperando outra criança, sua criada de quarto. As amas, o criado do patrão e mais alguns escravos do serviço doméstico. Esclarece o artista que esse costume alterou-se durante sua estada, passando os homens a dar braço às mulheres.

Uma senhora brasileira em seu lar


O trabalho do lar ocupava a dona da casa, as filhas e as escravas cada qual com suas atribuições especiais. Só depois de 1830 a educação musical e a leitura tornaram-se hábitos cultivados pelas famílias de posses.

Loja de sapateiro


Debret manifestou espanto diante do número considerável de pequenas fábricas de sapatos − especialmente femininos − que encontrou ao chegar ao Rio de Janeiro. Nesta loja, um sapateiro português castiga seu escravo dando-lhe uma série de “bolos” com uma palmatória. A mulher, enquanto aleita a criança que traz no colo, espia, curiosa, o castigo. À direita, os dois operários prosseguem, amedrontados, no serviço. As plantas representadas na parte inferior da prancha fornecem a cola destinada aos calçados  
  
Negras vendedoras de angu


De longa data se encontraram nas ruas do Rio de janeiro as vendedoras de angu. Começavam cedo suas atividades que duravam o dia inteiro. Como se pode observar, alguns fregueses levavam de casa suas sopeiras para enchê-las com o suculento petisco.

Barbeiros ambulantes


Estes barbeiros ambulantes tinham grande freguesia entre os chamados negros de engenho (constituídos de carregadores e de moços de recado), pedreiros, carpinteiros e marinheiros. Conduzindo seus instrumentos aboletavam-se em qualquer local para exercerem suas atividades. Segundo informações de Debret, eram obrigados a se apresentarem duas vezes por dia na casa de seus senhores para se alimentarem e entregarem o produto do trabalho.
  
O cirurgião negro


As moléstias mais comuns entre os negros eram os furúnculos, as doenças venéreas, a sarna, a erisipela e a tuberculose derivada, esta última, segundo Debret, do uso excessivo da cachaça. A cirurgia consistia, via de regra, na aplicação de ventosas ou de bichas, acompanhada de larga distribuição de amuletos.

Do livro:

“Debtret:
Todas as pranchas originais de Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”
Com legendas de Herculano Gomes Mathias,
(do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro)

*Jean-Baptiste Debret (Paris, França 1768 − idem 1848). Pintor, desenhista, gravador, professor, decorador, cenógrafo.


domingo, 26 de janeiro de 2020

A Marmita

Ledo Ivo*

*Lêdo Ivo (Maceió, Alagoas, 18 de fevereiro de 1924 − Sevilha, 23 de dezembro de 2012) foi um poeta, romancista, contista, cronista, ensaísta e jornalista brasileiro. Foi, também, Membro da Academia Brasileira de Letras.


Em sua marmita 
não leva o operário 
qualquer metafísica. 
Leva peixe frito, 
arroz e feijão.
Dentro dela tudo
tem lugar marcado.
Tudo é limitado 
e nada é infinito. 
A caneca d'água 
tem espaço apenas 
para a sua sede. 
E a marmita é igual 
à boca do estômago, 
feita sob medida 
para a sua fome. 
E quando termina 
sua refeição,
ele ainda cata
todas as migalhas, 
todo esse farelo 
de um pão que suasse 
durante o trabalho.
Tudo quanto ganha 
o operário aplica 
como um capital 
em sua marmita.
E o que ele não ganha 
embora trabalhe 
é outro capital 
que também investe: 
palavra que diz 
em seu sindicato, 
frase que se escreve 
no muro da fábrica, 
visão do futuro 
que nasce em seus olhos 
que só com fumaça 
se enchem de lágrimas. 
Em sua marmita 
não leva o operário 
o caviar de 
qualquer metafísica. 
E sendo ele o mais 
exato dos homens
tudo nele é físico
e material,
tem seu nome e forma, 
seu peso e volume,
pode-se pegar.
Seu amor tem saia 
pelos e mucosas
e, fecundo, faz 
novos operários.

As coisas se medem
pelo seu tamanho:
sono, mesa, trave.
No trem ou no bonde
nenhum operário
pode se espalhar
sem fazer esforço.
É como no mundo:
− tem que empurrar.
Vasilhame cheio
de matéria justa,
sua vida é exata
como uma marmita.
Nela cabe apenas
toda a sua vida.
E não cabe a morte
que esta não existe,
não sendo manual,
não sendo uma peça
de recauchutar.
(Artigo infinito,
sem ferro e sem aço,
qualquer um a embrulha
sem usar barbante
ou papel almaço.)
Fabril e imanente
o operário vive
do que sabe e faz
e, sendo vivente,
respira o que vê.
O tempo que o suja
de óleo e fuligem
é o mesmo que o lava,
tempo feito de água
aberta na tarde
e não de relógio.
E a própria marmita
também é lavada.
E quando ele a leva
de volta pra casa
ela, metal, cheira
menos a comida
do que a operário.



Cemitério de Campanha

Jayme Caetano Braun


Cemitério de campanha,
Rebanho negro de cruzes,
Onde à noite estranhas luzes
Fogoneiam tristemente.
Até o próprio gado sente,
No teu mistério profundo,
Que és um pedaço de mundo
Noutro mundo diferente.

Pouso certo dos humanos,
Fim de calvário terreno,
Onde o grande e o pequeno
Se irmanam num mundo só.
E onde os suspiros de dó
De nada significam,
Porque em ti os viventes ficam
Diluídos no mesmo pó.

Até o ar que tu respiras,
Morno, tristonho, pesado,
Tem um cheiro de passado
Que foi e não volta mais.
A tua voz são os ais
Do vento choramingando,
Eternamente rezando
Gauchescos funerais.

Coroas, tocos de velas
De pavios enegrecidos,
Que em terços mal concorridos
Foram-se queimando a meio.
Cruzes de aspecto feio,
De alguém que viveu penando,
E, depois de andar rolando,
Retorna ao chão de onde veio.

Mas que importa a diferença,
Entre uma cruz falquejada,
E a tumba marmorizada
De quem viveu na opulência?
Que importa a cruz da indigência
A quem já não vive mais,
Se somos todos iguais
Depois que finda a existência?

Que importa a coroa fina
E a vela de esparmacete?
Se entre os varais do teu brete
Nada mais tem importância?
Um patrão, um peão de estância,
Um doutor, uma donzela...
Tudo, tudo se nivela
Pela insignificância.

Por isso, quando me apeio
Num cemitério campeiro,
Eu sempre rezo primeiro
Junto à cruz sem inscrição,
Pois na cruz feita a facão,
Que terra a dentro se some,
Vejo os gaúchos sem nome
Que domaram este chão.

E compreendo, cemitério,
Que és a última parada
Na indevassável estrada
Que ao além mundo conduz.
E aqueces na mesma luz
Aqueles que não tiveram
E aqueles que não quiseram
No seu jazigo uma cruz.

E visito, de um por um,
No silêncio triste e calmo,
Desde a cruz de meio palmo
Ao mais rico mausoléu.
Depois, botando o chapéu,
Me afasto, pensando a esmo:
Será que alguém fará o mesmo
Quando eu for tropear no céu?



sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Gênesis, revisto e ampliado

Antonio Prata*

(1977)


Então o Senhor Deus disse a Adão: porquanto deste ouvidos à tua mulher, e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses: maldita é a terra por tua causa; com o suor do rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porque tu és pó e ao pó tornarás.

E, vendo o Senhor Deus que Adão fazia-se de desentendido, disse: espera, que tem mais; não só custará o pão o suor de teu rosto, como aumentará a circunferência de tua barriga, e a circunferência de tua barriga desagradará à Eva, e Eva te dará chuchu, e quiabo, e linhaça, e couve, e outras ervas que dão semente e leguminosas que dão asco, e delas usarás como alimento, em teus dias de tribulação.

E disse também o Senhor: porquanto comeste da árvore, porei em teu encalço insetos peçonhentos, e serão pernilongos nas cidades, e nas praias borrachudos serão; e ordenarei que te piquem bem na pelinha entre os dedos dos pés, e que zunam em teus ouvidos, e nas noites sem fim recordar-te-ás de teu criador.

Não satisfeito com os castigos, continuou o Senhor Deus: que destas ventas por onde soprei a vida escorra muco, e que seja frio e pegajoso como as escamas da serpente, e caudaloso como as águas do Jordão, e que brote numa sessão de cinema, ou na Sala São Paulo, e que tenhas à mão somente uma folha de Kleenex, e que com ela te enxugues e te assoes, até que se esfacele a última fibra de celulose, marcando teu rosto com inumeráveis pontinhos brancos, como marcarei a face pecadora de Caim.

E assim vagarás pela terra, disse o Senhor Deus, pois grande é teu pecado. E disse mais: cansado de perambular pela terra, inventarás o automóvel, mas o automóvel só fará multiplicar o teu cansaço; e gastarás metade de teus dias na Rebouças, e roubarão teu estepe, e te esquecerás do rodízio, e os pontos de tua carteira excederão o máximo permitido pelo Detran, que será 21, e andarás de táxi, e ouvirás elogios ao massacre do Carandiru, e diatribes contra médicos estrangeiros, e sentirás na carne a miséria de tua descendência.

Em vão, buscarás refrigério em viagens, mas quando no aeroporto estiveres, e chegares ao portão 4, alto-falantes te mandarão para o 78C; e quando o 78C alcançares, serás mandado de volta ao portão 4, e faminto pagarás R$ 16 num pão de queijo e numa Coca, e a Coca será de máquina, e o pão de queijo estará frio.

Então, visto que se aproximava a viração do sétimo dia, Deus se apressou, e disse: que o sal umedeça, que o bolo seque, que a meia fure, que a privada entupa, que o dinheiro escasseie, que o cupim abunde, que a unha encrave, que a internet caia, que o time perca, que a criança chore, que o churrasco do teu cunhado seja melhor que o teu, e que todos assim concordem, inclusive Eva, e que, largado num canto da varanda, com tua Kaiser quente na mão, te lembres que eu sou El Shaddai, e que estou acima de todas as coisas, inclusive de tua careca, que não temerá a finasterida, não aceitará o minoxidil nem reagirá às preces que, em vão, me enviarás.

E, dizendo isso tudo, o Senhor Deus lançou Adão para fora do jardim do Éden, e lançou Eva para fora do jardim do Éden, varão e fêmea, os lançou.

Do livro “O Melhor do Humor Brasileiro”,
Organização de Flávio Moreira da Costa. 


* Antonio de Góes e Vasconcellos Prata (São Paulo, 24 de agosto de 1977) é um escritor, cronista e roteirista brasileiro. É filho dos também escritores Mário Prata e Marta Góes e irmão da jornalista de moda, Maria Prata.

A pipoca tá quentinha

Sou a cabeleira do Zezé, 
a Maria Sapatão e o coitado do Waldemar.


Eu sou o pirata da perna de pau, o gato na tuba, o Zé Pereira e aquele outro mais que, depois de jogar pó de mico no salão politicamente correto, chamou na chincha a nega do cabelo duro. Não me importa se a mula é manca, não me importa se a radiopatrulha chegar aqui agora. Eu quero rosetar, garrafa cheia não quero ver sobrar. Acima de tudo quero comemorar, nesta segunda-feira de carnaval, a honra de ter sido, eu, a marchinha de carnaval, essa jardineira triste, essa Maria escandalosa, tombada como patrimônio imaterial do Rio de Janeiro.

Eu sou muitas, e também o velhinho na porta da Colombo, a coroa do rei, o pedreiro Waldemar e o deputado baiano, aquele que fala pouco para falar do coco. Peço a palavra para dedicar tamanha honraria patrimonial a todos que me seguraram a chupeta, pegaram o bonde de São Januário e passearam comigo no estribo dessa história cheia de confete, pedacinho colorido de saudade. Sou a marchinha do Kelly, do Lalá e do Braguinha. Obrigado, Rio, cidade que desde a marchinha “Vagalume”, de 1955, me seduz por de dia faltar água e de noite faltar luz − e fico feliz porque até hoje as doutas autoridades municipais pouco fizeram para me deixar desatualizada.

Meu obrigado também à favorita da Marinha, à Sapoti e à incomparável Marlene, damas encantadas sem as quais eu não teria tirado o cavaco do pau, não teria dançado o bigorrilho, o minueto no Municipal e nem sassaricado gostoso, ui, ui, ui, com a delícia que é a mulher do Ruy. Eu sou a Zilda do Zé, o Paquito e o Romeu Gentil.

Como fez Orlando Dias no carnaval de 1965, eu digo saravá, meu pai!

Como fez Osvaldo Nunes no desfile do Bafo da Onça em 1962, eu grito oba!, é nessa onda que eu vou.

Eu estou nas bocas desde que em 1899 Chiquinha Gonzaga fez o “Abre alas” para o Cordão Rosa de Ouro, e devo dizer, para aproveitar a rima, que ainda dou no couro. Ainda passo a mão na saca rolha e, enquanto tem garrafa, enquanto tem funil, é comigo mesmo. Balzaquiana, nega maluca, fale de mim quem quiser falar. Não me importo. Me segura que eu vou dar um troço e, aos que querem detalhes, garanto que ainda chupo muita uva no alto do caminhão. Leia na minha camisa: “Ah, coelhinho, se eu fosse como tu!”.

Eu sou o quebra, quebra, gabiroba, a voz do morro, a piada de salão e a mulher do seu Oscar, aquela que se foi lacônica, um bilhete em cima da mesa, dizendo “não posso mais, eu quero é viver na orgia”. Sou a marchinha de duplo sentido, a pipoca bem quentinha e a Dircinha Batista levando bomba na prova tão dura, mamãe, que naufragou e se molhou toda.

Há mais de um século, com pandeiro ou sem pandeiro, eu brinco. Eu sou o Rei Zulu, o general da banda, o retrato do velho outra vez, e tenho como única certeza a de que a mulata é a tal. Deus me perdoe, mas para levar outra vida é melhor morrer. Tenho fé, como canta o pessoal dentro do ônibus, que se essa porra não virar, eu chego lá em Maracangalha, na casinha em Marambaia ou no mundo de zinco que é Mangueira.

Eu já vivi muitas emoções nos bailes do Municipal, do Hotel Glória e dos Enxutos, no Teatro São José da Praça Tiradentes. Sou a cabeleira do Zezé, a Maria Sapatão e o coitado do Waldemar, aquele que comeu carne de boi com hormônio no carnaval de 1959 e deu pra se rebolar. Acontece. Eu topo todas sem perder o tom. Brinco nas onze. Virei hino oficial da cidade e, justo agora, ao ser perenizada patrimonialmente, eu quero chorar, mas não tenho lágrimas.

Sei que Edgar chorou quando viu a Rosa girando toda prosa numa baiana que ele não deu. Sei também que Madureira abriu o berreiro quando a voz do destino a sua estrela levou. Sei, por fim, que o Blecaute, no carnaval de 1959, provocou os Eikes da época cantando o “chora, doutor, chora, eu sei que o medo de ficar pobre lhe apavora”. A todos lamento a tristeza.

Eu deveria estar chorando, mas a fonte secou. Prefiro, mais ao estilo da festa que represento, gargalhar como faria o grande Risadinha ou chamar Lamartine para ele gritar, imperativo, na segunda do plural, o seu fabuloso “ride, palhaço!”. O carnaval mudou, acabaram com a Praça Onze, e as mulheres que me foram musas esses anos todos também. Eu sou a filha da filha da Chiquita Bacana, amasiada com a mulata bossa nova, e, em 2015, se alguém nos convidar pra tomar banho em Paquetá, pra piquenique na Barra da Tijuca, agora vamos dizer que yes, nós somos sacanas. Pra nossa fantasia de diabo não falta nem mais o rabo.

Eu sou a Maria Candelária, o “seu” China na ponta do pé, e voltei a cantar com júbilo por ter os méritos consagrados e estar, segundo os bofes sarados do Rola Preguiçosa, melhor do que nunca. Eu sou fã da Emilinha. Sou a garota Saint Tropez, com o umbiguinho de fora, laranja da Bahia que o Jorge Veiga cantou em 1964. Sou a garota gostosura, proibida pela censura − e, quando eu passo, se pisco o olho, no bole-bole, todo mundo grita “vai que é mole”. Sou assim, a marchinha, vem ni mim que eu sou facinha.

Texto de Joaquim Ferreira da Silva,
No livro “O Melhor do Humor Brasileiro”,
organização de Flávio Moreira da Costa.




quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Depoimentos


Luís Fernando Veríssimo


Luis Fernando por Diogo Salles

O Brasil está nocauteado pelas denúncias de corrupção. Em curtos depoimentos, o país tenta se reconhecer.

“Se eu já vi coisa parecida com o que está acontecendo no Brasil hoje? Olha, já vi sim. Nós tinha um chiqueiro em casa, e era parecido. Um pouco melhor porque porco não fala, né? Era como é hoje, mas sem os depoimentos.”

“Meu nome é Neuplides. Pior é meu irmão, que nasceu no dia primeiro de janeiro e meu pai foi olhar na folhinha que dia era aquele, pra ver que nome dava, e o nome dele ficou Circuncisão de Jesus. Mas em casa a gente chama de Cisão.”

“Manga com leite mata, água depois do café entroncha e cachaça com melancia não mata, mas o cristão fica uma semana piscando ligeiro e com o pé virado pra dentro. Um tio meu comeu uma rabada de porco com licor de graviola e quando acordou da sesta estava com a cueca pra fora das calças e só falava alemão.”

“Não sou padre milagreiro, não. O povo é que pensa, sabe como é brasileiro. Quer dizer, faço meus milagrinhos, mas nada de levantar morto ou fazer corcunda aprumá. Só milagrinho de quermesse. Levito galinha, curo catarreira e transformo lombriga em vagem. Nada de milagrão, desses de aparecer no Fantástico. Quem sou eu? Só milagre municipal!”

“Cantuérpia Falcão. Sou tia. Esta aqui no meu cartão; Profissão: tia. Acompanho menina em forró e baile no salão da igreja e também fico junto na sala em caso de namoro firme ou noivado. Sou incorruptível, um exemplo para os políticos. Cobro pouco e se a menina não chegar virgem no casamento, devolvo o dinheiro.”

“Vocês conhecem o Cego Aderaldo, o Cego Rupião e o Cego Jovair, todos os três cantador de primeira, mas aposto que não me conhecem. Vistas Cansadas Edélsio. Pois é, tá assim de sanfoneiro cego fazendo sucesso, mas eu ninguém convida. Eu tenho culpa de não ser cego? Não adianta dizer que tenho astigmatismo e miopia, eles querem cego, cego. Discriminação, sô!”

“Pra saber como vai ser o seu marido, encha uma bacia grande com água e deixe na rua durante toda a noite de São João. Se cair folha dentro da bacia vai ser moreno, se cair flor vai ser claro, se cair inseto vai ser militar e se cair homem, leva pra casa, enxuga e fica com ele mesmo, uai.”

“Os bonecos são todos meus, sim senhor. Mestre Pontinho, artista popular, seu criado. Este aqui é o Lampião, esta é a Maria Bonita, Corisco, Sarney, Xuxa... Este é mais caro porque é o Padre Cícero e este grupo aqui é a CPI do mensalão. Vendo separado ou tudo junto com desconto.”

“Pra casar, sendo homem tá bom. Eu já disse pra Santo Antônio: “Antônio faz o melhor que puder, mas se tiver defunteiro ou sapateiro viúvo não tem importância não, desde que esteja em bom estado. Só não quero manicure ou tesoureiro de campanha pra não me incomodá”.



Mãe é Avó!



Mãezinha, venha comigo.
Senta-te, aqui, do meu lado.
Preciso falar contigo.
Um assunto delicado!

Escuta-me, só um pouquinho,
Mãezinha, mas com carinho.
Eu quis até começar...                                           
Conjugando o verbo amar,
Estou fazendo rodeio.
No fundo, porque receio
Que eu possa te magoar.

Minha doce confidente,
Quero ver-te sorridente,
Preciso desabafar.
É grave o que vou dizer!
Mas, o que posso fazer?

Mãezinha, ó grande amiga!
Ouve-me, em paz e sem briga,
Sou sincera e verdadeira.
Não me olhes de viés,
Respira fundo, mãezinha,
Por favor, conta até dez!

Tu falaste e eu ouvi,
Mas, na hora... esqueci...
Vacilei... não resisti...
Sou, certamente, a primeira,
A contar-te o quê?... Nem sei...
Não me digas que errei,
Sou humana e muito amei.

Esqueci... Me descuidei.
Teus conselhos foram tantos
Foram muitos, eu diria.
Porém, mãe, naquele dia,
Me esqueci... Não me lembrei...

Mãezinha querida, agora,
Não me odeies, por favor!
Não fui inconsequente.
Perdoa-me. Estou contente!
Dou graças ao Criador!

Fiz-me mãe, espontaneamente.
Fiz-me mãe, com muito amor.
Foi uma experiência excitante!
Sem óbices. Sem empecilhos.
Sou mãe e daqui em diante,
Tu és a avó dos meus filhos.

(Jair Teixeira*, janeiro de 2001)

*Jair Teixeira (1929-2020), foi jornalista, funcionário do TRT, da 4ª Região, anglicano e maçom. 

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Confira como preparar pão integral em casa



Por chef Lidiane Barbosa

Receita rende quatro pães de 180g cada

Ingredientes

560 g de farinha de trigo 100% integral; 100 g de farinha de leguminosas (receita abaixo), 75 g de aveia em flocos; 10 g de açúcar mascavo; 10 g de fermento seco para pão; 8 g de sal marinho moído; 500 ml de caldo de legumes caseiro; 25 g de semente de mamão (retire a semente do mamão. Deixe de molho em água suficiente para cobrir por 1 hora. Despreze a água. Coloque a sementes em uma assadeira e leve a temperatura de 120°C por 40 minutos).

Farinha de leguminosas

Pegue 100 g de sobras de feijão e deixe de molho por 8 horas em água suficiente para cobrir com duas colheres de sopa de vinagre de maçã. No dia seguinte, escorra a água e coloque em uma assadeira. Espalhe bem e leve ao forno 120°C para secar por 40 minutos. Triturar no liquidificador, bem trituradinho e passar em uma peneira.

Modo de preparo

Em uma batedeira coloque as farinhas, o fermento e o açúcar. Bata em velocidade baixa, para misturar. Acrescente aos poucos o caldo. Coloque 300 ml e bata em velocidade média por 8 minutos. Acrescente o sal. A massa precisa estar pegajosa, mas desgrudando das mãos. Acrescente as sementes de mamão e o restante do caldo se necessário e bata por mais 3 minutos. Faça uma bola com a massa, coloque um fio de azeite e cubra com um pano úmido e deixe descansar 40 minutos. Modele os pães. Serão quatro bolinhas iguais.

Rendimento: quatro pães de 180 gramas cada;
Preparo: 1 hora e 30 minutos;
Execução: médio.

Do blog Menu:
A mais premiada revista de gastronomia

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

O que é o catarro e como ele se forma?



O  interior das narinas é revestido pela mucosa nasal, cuja principal função é produzir uma secreção transparente para barrar a entrada de corpos estranhos, como bactérias e poeira, no corpo. A maior parte dessas impurezas é retida pelo muco, que vai ficando mais espesso. Ao mesmo tempo em que as impurezas vão sendo retidas, as células ciliadas empurram esse muco para a garganta, onde poderá ser engolido.

Quando não estamos gripados, o catarro é apenas uma mistura de proteínas, água e restos celulares produzidos pela mucosa para proteger as vias aéreas. Sua função é filtrar o ar que respiramos que normalmente é infectado por bactérias e outras impurezas.

O problema é que, quando somos atacados por gripes fortes, várias partículas escapam do filtro nasal e seguem rumo aos pulmões. Para evitar que isso aconteça, entram em cena, as células de defesa presentes no nariz, na região dos brônquios há glândulas mucosas que produzem uma secreção mais potente, que será a base do catarro mais espesso característico das gripes.

Bom, daí os invasores capturados, começam uma rebelião na secreção do catarro, que engrossa com restos de anticorpos e microorganismos e muda de cor: em geral, mais esverdeado (para viroses) ou mais amarelado (para reações imunológicas causadas por bactérias). Enquanto isso tudo acontece, os cílios fazem a sua parte, empurrando o catarro para a garganta. Assim que essa gosma contaminada com bactérias, microorganismos, sujeira e anticorpos chegam à garganta.

Nessa fase, há duas opções: engolir ou escarrar. E tanto faz. Se você escarrar, assunto acabado, joga tudo aquilo pra fora e pronto. Se engolir, o catarro será tratado pelo corpo como qualquer coisa ingerida: o que for útil é reabsorvido, o resto vira fezes.

O catarro é uma briga entre nosso sistema imunológico e microorganismos!

Consistência

A consistência do escarro depende principalmente da sua composição: soro, pus e muco. Em situações patológicas como pneumonia e enfarte pulmonar é muito consistente e viscoso. Na clínica denominam-se os tipos de escarro em relação à consistência como: escarro seroso, seropurolento, purulento, mucoso e mucopurolento. Existe também o escarro numular, oriundo das cavernas tuberculosas e cavidades bronquectásicas, constituídos de massa mucopurulentas achatadas parecidas com moedas.

Cheiro

Normalmente não apresenta cheiro. Em algumas patologias como bronquite pútrida e gangrena pulmonar apresenta cheiro pútrido. Dependendo da ingestão de alguma substância ou medicamento eliminado pela via pulmonar, apresenta cheiro característico.

Cor

Apresenta coloração incolor, esverdeada ou amarelada. Sangue o torna rosado ou castanho-avermelhado. A pneumonia proporciona um escarro cor-de-ferrugem.

(Revista Super Interesante)