quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Aprendendo com o mais velho...

 

Um velho doutor, que sempre trabalhara no meio rural, achou que tinha chegado à hora de se aposentar depois de ter exercido a medicina mais de 50 anos!

Ele encontrou um jovem médico para o lugar dele, e sugeriu ao novo diplomado de acompanhá-lo nas visitas domiciliares, para que as pessoas se habituassem a ele progressivamente.

Na primeira casa uma mulher queixou-se que lhe doía muito o estômago.

O velho doutor respondeu-lhe:

- Sabe, a causa provável, é que você abusou das frutas frescas... Por que não reduz a quantidade que consome?

Quando eles saíram da casa o jovem disse:

- O senhor nem sequer examinou aquela mulher... Como conseguiu chegar a esse diagnóstico assim tão rápido?

- Oh, nem valia a pena examiná-la... Você notou que eu deixei cair o estetoscópio no chão? Quando me baixei para apanhá-lo, notei que havia meia dúzia de cascas de bananas no balde do lixo. É provável que fosse isso que lhe deu as dores.

- Humm! Que esperteza! Eu penso que vou tentar empregar essa técnica na próxima visita.

Na casa seguinte, eles passam vários minutos a falar com uma mulher ainda jovem. Ela queixava-se de uma grande fadiga:

- Eu me sinto completamente vazia...

O jovem doutor disse-lhe então:

- Você deu provavelmente muito de si mesma para a igreja... Talvez que, se reduzir essa atividade, lhe permita de recuperar um pouco de energia.

Assim que deixaram aquela casa, o velho doutor disse para o novo:

- O seu diagnóstico surpreendeu-me... Como é que chegou à conclusão que aquela mulher se dava de corpo e alma aos trabalhos religiosos?

- Eu apliquei a mesma técnica precedente que o senhor me indicou: deixei cair o meu estetoscópio, e quando me baixei para apanhá-lo, vi que o padre estava debaixo da cama...! 

* * * * * * *

Quando perdemos Deus

 

Silvia Schmidt 

Disse um discípulo ao seu mestre: 

“Mestre, há dias em que minha cruz parece tão pesada,

que chego a pensar que perdi Deus.

Vou para todos os cantos da casa em busca de
um sinal de que Ele ainda está comigo.”
 

Respondeu o mestre: 

 “Você não O buscou em gavetas, armários e estantes. 

Tire das gavetas e dos armários todas as roupas
e calçados há tanto tempo guardados
e que você não usa.
 

Tire de outros armários louças, vasilhames
e utensílios há tanto tempo também sem uso.
 

 Tire das estantes os livros empoeirados,
lápis, canetas e papéis.
 

 Tire daquele cômodo há tanto tempo fechado
os brinquedos esquecidos e as sobras de
materiais de construção.
 

 Tire daquele pequeno armário todas as amostras
grátis de remédios, que você guarda só por hábito.
 

Em seguida, faça pacotes e entregue àqueles

que dão assistência aos pobres, às crianças,
aos idosos, aos doentes e aos animais.
 

Após essas providências você sentirá a
agradecida Presença de Deus.

 O que para você é inútil e largado no escuro,
para outros é manifestação de Luz.
 

 Quando os pesados pacotes forem abertos,
você terá aliviado o peso da sua cruz.”

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Fuja do sincerão

 Por trás do sincerão há sempre um grosso. 

Juremir Machado da Silva

Estava lendo uma crônica sobre um tipo muito comum: o sincerão. É aquele cara mala que se permite dizer tudo o que pensa em nome da franqueza. Chega e vai avisando que não passa pano. Nas reuniões da firma, é o chato que destila inconveniências até provocar um climão. O sincerão é o grosso que se acha. Engraçado é que se tomar o troco, desaba, chora, entra em crise. Há dois tipos de sincerão: o tosco que fala por não perceber o estrago que causa; e o protegido da estrutura, que se permite atropelar os outros por ter as costas bem quentes. 

O sincerão diz tudo o que pensa por uma razão bem simples: não pensa. Há três formas de reagir ao sincerão: ficar quieto para não dar corda; responder com uma tirada genial; chutar a canela. Cada uma dessas modalidades tem vantagens e desvantagens: a primeira é bastante eficaz, mas resulta em caras sessões de terapia, em alto consumo de Rivotril e até em AVC. A segunda é a melhor, mas tem uma limitação: a resposta genial só costuma aparecer alguns meses depois do incidente. A terceira não exige inteligência nem deixa a pessoa engasgada pelo resto da vida. Depende, no entanto, do tamanho do sincerão. Aqueles que dão respostas cruéis, verdadeiros coices, são vistos como gênios. 

Uma vez, presenciei a seguinte conversa de um sincerão com uma moça aparentemente tímida e até assustada com a situação enfrentada: 

– Muito ruim a sua fala – decretou o sincerão.
– Mesmo?
– Péssima.
– O que o senhor faz?
– Estou aposentado.
– Não tem como retomar a sua atividade?
– Por quê?
– Para o senhor falar de uma coisa que talvez entenda.
 

O sincerão acusou o golpe. Chamou a moça de grosseira. 

– A senhora precisa aprender a aceitar críticas – disse.
– Me dê o exemplo – ela respondeu.
 

O sincerão adora temas como ideologia, futebol e religião. Chega, senta na janelinha e logo dispara o seu bordão predileto: 

– Comigo tudo se discute. 

A partir daí não tem mais discussão. Só ele fala. Na verdade, o sincerão não fala, discursa. Não discursa, pontifica. A sua única dúvida é sobre quando passou a ter certeza de tudo o que é certo. Todo mundo conhece um sincerão ou tem um para chamar de seu. É o sujeito que num velório esculhamba o morto. Num casamento, se fizessem a pergunta sobre ter algo para dizer ou se calar para sempre, jogaria no ventilador todas as fofocas sobre os noivos. Quando lhe perguntam pela saúde, mostra os exames e resume tudo em três horas de relatório. O sincerão disserta sobre o tamanho do nariz do interlocutor, coloca apelidos nas pessoas baseado em aspectos físicos da vítima e dá a sua opinião sabendo que é a ultima coisa desejada por quem o ouve. 

Como identificar um sincerão a tempo de fugir dele. Basta prestar atenção em como inicia uma conversa. Três começos fatais: 

– Não é por mal, mas...
– Como eu falo tudo na lata...
– Como não tapo sol com peneira... 

(Correio do Povo, setembro de 2021)

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

“Alma carioca, Cristo Redentor”

 Moacyr Luz escreve samba em homenagem ao Rio de janeiro

Reverência histórica! No dia 12 de outubro de 2021 será celebrado 90 anos de um dos monumentos mais importantes e belos do mundo, o Cristo Redentor. Em sua homenagem, o sambista Moacyr Luz compôs uma canção e reuniu um time dos sonhos da MPB: Zeca Pagodinho, Maria Rita, Diogo Nogueira, Mart´nália, Fagner, Paula Toller, Xande de Pilares, Fernanda Abreu, Padre Omar, Sandra de Sá, Jorge Aragão, Toni Garrido, Bruno Gouveia, além, por óbvio, do próprio cantor. 

Alma carioca, Cristo Redentor 

Moacyr Luz 

Uma cidade de beleza rara,

Braços abertos sobre a Guanabara,

Pedra sabão, o coração Carrara,

Que bate forte numa noite clara.

Um ponto de luz, estrela de luz,

Iluminado segue o protetor.

Da janela de uma bossa nova,

A esperança que hoje se renova.

O vento passa, o tempo prova,

Há quanto anos que Você me olha,

Não é de agora que eu vivo aos pés do Cristo Redentor. 

Mora ali no céu, nesse mundaréu, na constelação.

Na lua-de-mel, um cartão postal, na imaginação.

Em busca de amor, fiz uma viagem

Com a Tua imagem, joia de valor,

Alma Carioca sobe o Corcovado o Cristo Redentor! 

*******

Inaugurado em 12 de abril de 1931, o Cristo Redentor faz 90 anos com trilha sonora renovada para a celebração do aniversário. 

Em rotação desde a noite de domingo, 26 de setembro, o single Alma carioca, Cristo Redentor saúda a estátua art déco que retrata Jesus Cristo e que, além de ter se tornado um dos símbolos da cidade do Rio de Janeiro (RJ), virou cartão-postal capaz de identificar o Brasil no mapa-múndi. 

A música oficial dos 90 anos do Cristo Redentor é samba inédito composto pelo bamba Moacyr Luz – em apenas um dia, de acordo com nota oficial sobre o single – e gravado por Bruno Gouveia, Diogo Nogueira, Fagner, Fernanda Abreu, Jorge Aragão, Maria Rita, Mart'nália, Padre Omar, Paula Toller, Sandra de Sá, Toni Garrido, Xande de Pilares e Zeca Pagodinho, além do próprio Moacyr Luz. 

Desses 14 artistas, somente o cearense Raimundo Fagner e a paulistana Maria Rita nasceram fora da cidade que abriga o Cristo Redentor. 

Padre Omar, reitor do Santuário Cristo Redentor diz que graças ao Cristo Redentor foi possível arregimentar pessoas maravilhosas que têm um amor profundo pelo Brasil e sua cultura. “O Cristo Redentor merece o melhor. Como símbolo nacional, é capaz de integrar todas as perspectivas artísticas, fazendo com que, de fato, a experiência de nossa brasilidade possa ser evidenciada a partir desses braços abertos. O Santuário Cristo Redentor é um lugar de profunda espiritualidade e de encontro da realidade turística, cultural e ambiental, uma perfeita integração que faz de nós, povo brasileiro, essa linda nação, esse grande altar para o Redentor poder estender a sua solidariedade, o seu amor. Por isso, essa música traz todos os valores presentes em nossa cidade e, ao mesmo tempo, esse monumento, que, mais do que nunca, é símbolo do Brasil, comunica tanta fé e esperança para o povo brasileiro e o mundo inteiro”, afirma. 

Construído a 710 metros de altura, no topo do morro do Corcovado, o monumento com 38 metros de altura pode ser visto de praticamente todos os pontos da cidade. O Cristo, aliás, já foi tema de diversas músicas, como o clássico Samba do Avião, de Tom Jobim.

P.S. Essa música já está na internet, é ouvir e se emocionar!

domingo, 26 de setembro de 2021

Dom Bosco e Brasília

 Dom Bosco profetizou a construção de Brasília no século 19

“Entre os graus 15 e 20 havia uma enseada bastante longa e bastante larga, que partia de um ponto onde se formava um lago. Disse então uma voz repetidamente: − Quando se vierem a escavar as minas escondidas no meio destes montes, aparecerá aqui a terra prometida, de onde jorrará leite e mel. Será uma riqueza inconcebível.” 

Tais palavras são consideradas por muitos como uma profecia da construção de Brasília. São o relato de um sonho de São João Bosco. Elas aparecem no livro “Memórias Biográficas de São João Bosco”, escrito por seu assistente, padre Lemoyne.

Em agosto de 1883, Dom Bosco, sonhou que fazia uma viagem à América do Sul – continente que jamais visitou. No sonho, ele passou por várias terras entre a Colômbia e o sul da Argentina, vislumbrando povos e riquezas. Ao chegar à região entre os paralelos 15° e 20°, viu um local especial, onde, nas palavras de um anjo que o acompanhava em sua visão, apareceria “a terra prometida” e que seria “uma riqueza inconcebível”. 

Setenta e sete anos depois do sonho, era inaugurada no Planalto Central brasileiro a cidade de Brasília, exatamente dentro do intervalo de coordenadas geográficas mencionado na visão de Dom Bosco e emoldurada pelo Lago Paranoá. A vinculação com o sonho do santo existiu desde o começo da construção da capital, porque muitos dos que trabalharam na construção da capital eram ex-alunos salesianos, e sabiam desse sonho-profecia. 

Assim, a primeira obra de alvenaria a ser erguida na capital foi a Ermida Dom Bosco, uma pequena capela em forma piramidal, projetada por Oscar Niemeyer e localizada às margens do Lago Paranoá. Foi construída em 1957 como uma homenagem ao santo – mais tarde feito padroeiro de Brasília ao lado de Nossa Senhora Aparecida – e como um pedido para que ele abençoasse a nova cidade. Além disso, a congregação fundada por São João Bosco, a dos Salesianos, desde 1956 se fez presente acampamentos dos trabalhadores – foi a primeira ordem religiosa a chegar ao Distrito Federal. 

(Do blog Paróquia São João Bosco − Alto da Lapa − São Paulo − Brasil)

O candidato certo

 A quem interessa meu voto 

Martha Medeiros

  

Todo colunista já recebeu alguma mensagem de leitor avisando que, por causa de um determinado texto, cancelará a assinatura do jornal. É um clássico da mágoa que, involuntariamente, causamos em quem não concorda com o que escrevemos. O leitor está no seu direito, ainda que a ameaça raramente se concretize. No entanto, recebi o e-mail de um Cláudio que foi até o fim e, já meio arrependido da medida extrema que tomou por motivo tão banal, despediu-se de mim fazendo um último pedido: por favor, não vote em um ladrão. 

Fiquei comovida, juro. A política leva as pessoas a desatinos. Nunca vi esse leitor nem ele sabe nada sobre mim, a não ser que sou contra este governo, e ele a favor, como já havia revelado em e-mails anteriores. O que responder a ele, com a atenção que merece? 

Cláudio, votarei em 2022 no candidato que tiver as melhores propostas para o país, não para mim mesma. Como cidadã, preciso do governo, mas não tanto como precisam outros. Sou privilegiada. Estudei, fiz faculdade, tive meu primeiro emprego aos 19, nunca sofri discriminação, vivo num bairro seguro de uma grande metrópole. O preço da gasolina afeta meu custo de vida, a criminalidade impede que eu caminhe sozinha à noite, mas, ainda assim, minha vida é infinitamente melhor do que a maioria dos brasileiros. Corri os mesmos riscos só durante a pandemia. Ali não havia privilegiados, estávamos todos à mercê de um vírus mortal que só viria a ser neutralizado através da vacina, do uso de máscara e do distanciamento social, procedimentos que este governo irresponsável negligenciou.

No mais, não preciso olhar para o próprio umbigo na hora de votar. Tenho obrigação, isso sim, de olhar para os lados, para quem é pobre e precisa comer, para quem está desempregado e precisa trabalhar, para quem nunca segurou um livro nas mãos. Ao votar, preciso escolher quem apoia a cultura, quem preserva o meio ambiente, quem transmite boa imagem do país no exterior, quem atrai investimentos, quem não incita a violência, quem não propaga fake news, quem desenvolve projetos de inclusão, quem respeita todas as religiões, incluindo os sem religião. E, claro, quem combate a corrupção. 

Já tenho candidato para o primeiro turno de 2022 e, até onde sei, ele não é ladrão. Haverá de fazer alguma aliança que eu desaprove, ceder em questões que me desagradem. desapontará em alguns pontos: política nunca foi um jardim de infância. Mas ele jamais apoiará a ditadura ou exaltará a ignorância, que isso não é coisa de gente equilibrada e comprometida com o futuro. Agradeço sua preocupação e garanto a você: em qualquer configuração, meu voto não irá para um extremista. Porque extremista só haverá um no pleito, e sempre teremos opção mais democrática. 

(No caderno Donna, de Zero Hora, setembro de 2021)

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

SAMBA DA UTOPIA

 (Jonathan Silva)

Se o mundo ficar pesado,

Eu vou pedir emprestado

A palavra POESIA. 

Se o mundo emburrecer,

Eu vou rezar pra chover

Palavra SABEDORIA. 

Se o mundo andar pra trás,

Vou escrever num cartaz

A palavra REBELDIA. 

Se a gente desanimar,

Eu vou colher no pomar

A palavra TEIMOSIA. 

Se acontecer, afinal,

De entrar em nosso quintal

A palavra tirania. 

Pegue o tambor e o ganzá,

Vamos pra rua gritar

A palavra UTOPIA*! 

* 1. lugar ou estado ideal, de completa felicidade e harmonia entre os indivíduos. 

2. qualquer descrição imaginativa de uma sociedade ideal, fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar da coletividade. 

P.S. Essa música está na internet.

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Sua ligação é muito importante para nós

 Disque, disque, disque... 

Mário Corso

     

Sua ligação é muito importante para nós. Mas não o suficiente para contratarmos mãos pessoas, que facilitariam sua vida. 

Nossas conversas são gravadas porque somos sommeliers de indignação de clientes. Nas horas vagas, ouvimos seus gemidos e lamentos exasperados para rir e relaxar. 

Disque#1 para falar direto com um de nossos atendentes. Tempo de espera: 17 horas e 15 minutos. Sua posição é 65.381. 

Vai que, por acaso e muita sorte, você finalmente consiga falar com um dos nossos atendentes. Suas opções são: 

Disque *1 para um atendente com um sotaque do interior do sertão de Piriri e que não entende o teu. 

Disque *2 para um atendente em treinamento que pergunta tudo para o supervisor, te deixa pendurado, e você não fica sabendo sua ligação cortou ou não. 

Disque *3 para um funcionário terceirizado, que trabalha para várias companhias e não lembra do protocolo de nenhuma. 

Disque *4 para um atendente que sabe te orientar, mas que a ligação é tão ruim, que tem que ser aos berros. 

Disque #2 para trocar de musiquinha. Depois disque *1 para música de elevador. Disque *2 para música de espera de telemarketing coreano. Disque *3 para ouvir sertanejo metal. Disque *4 para Mozart pasteurizado. Disque *5 para harpa dodecafônica. 

Disque #3 para desligar agora. Igual, a ligação vai cair em algum momento. Ainda mais se você estiver perto de alcançar o que procura. 

Disque #4 para seguir sendo humilhado. Disque *1 para humilhação padrão. Disque *2 para humilhação com requintes de crueldade. Disque *3 para passar um dia deprimido. Disque *4 para passar uma semana deprimido. Disque *5 para repensar a vida em sociedade. Disque *6 para perder a fé na humanidade. 

Disque #5 se você precisar de uma pausa. Disque *1 para chorar. Disque *2 para chorar convulsivamente. Disque *3 para berrar e/ou esmurrar as paredes. Disque *4 para tomar um Rivotril. Disque *5 para se aconselhar com um monge budista. Disque *6 caso necessite de intervenção psiquiátrica 

Disque #6 para orientações de interrupções alternativas. Disque *1 para arrancar o fio do telefone da tomada. Disque *2 para jogar o aparelho no chão. Disque *3 para atirá-lo pela janela. Disque *4 para pisoteá-lo sapateando. 

Disque #7 para voltar ao início do labirinto. 

Disque #8 para anotar um protocolo de 36 minutos. 

É provável que, na velocidade em que falamos, você se perca na metade. Não serve para nada. Mas, depois, se a gente perguntar e você não souber, não poderemos te ajudar... 

Disque #9 para avaliar nosso serviço. 

Disque *1 para bom; *2 para muito bom; *3 para excelente. Desligue imediatamente para comunicar que a ligação atendeu seu objetivo. 

Obrigado por nos contatar. Sua insatisfação é nossa meta.

******* 

(No jornal Zero Hora, de setembro de 2021)

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Você ainda se lembra...

 

- Lembra quando o Ronnie Von jogava a franja de lado cantando “Meu Bem”?

- Lembra quem cantava “Pare de tomar a pílula”? E quem pedia ao “Senhor Juiz, pare agora!”?

- Assistia a “Perdidos no Espaço” aos domingos? “Túnel do Tempo”? “Terra de Gigantes”?

- Sabia de cor a música de Bat Masterson?

- Se divertia com os SOC, POW, CRASH do Batman e Robin?

- Sabe quem foi Phantomas?

- Sabe quem foi Teddy Boy Marino?

- É fã do Jô Soares desde a Família Trapo?

- Assistiu a “Direito de Nascer” na TV Tupi? E na rádio Tupi?

- Assistiu a qualquer programa da TV Tupi?

- E da TV Excelsior?

- Assistia ao Repórter Esso?

- Assistiu à Copa do Mundo de 1970 em preto e branco ou colorido?

- Lembra da escalação dessa seleção?

- Assistia ao Toppo Giggio?

- Lembra do anúncio das Casas Pernambucanas?

- Lembra da Dorinha Duval no Sítio do Pica-pau Amarelo?

- Assistia à Vila Sésamo?

- Assistia ao Almoço com as Estrelas do Aírton e Lolita Rodrigues?

- Sabe quem foi Corey Baker?

- Sabe quem foi Jonhnny Weismuller?

- Lembra o nome da moça que saía de dentro de uma banana no Planeta dos Homens?

- E o programa Time Square, assistiu?

- Assistiu à “Balança, mas não cai”?

- Assistiu ao Vigilante Rodoviário?

- Sabe quem foi Dr. Bellows?

- Assistiu aos filmes do Mazzaroppi nas matinês de sábado?

- Ouviu Rita Pavone?

- Assistiu à “Independência ou Morte” no cinema?

- Cantava "eu era nenê, não tinha talco, mamãe passou açúcar em mim", do Wilson Simonal?

- Dançou If, do Bread, colado?

- Lembra do Amigo da Onça, na revista O Cruzeiro?

- Lia Diversões Escolares?

- Lembra do quadrinho “Um Saturnino descobre a Terra?”

- Lembra o que o Saturnino adorava beber?

- Lembra do cumprimento entre o Arrelia e o Pimentinha?

- Lembra quando o Michael Jackson era apenas o caçula dos “Jackson Five”?

- Assistiu ao desenho dos “Jackson Five”?

- No programa dos “Banana Split”?

- Assistia a Pullman Júnior?

- Assistia à Sessão Zig-Zag?

- Lembra o que era um compacto simples e um compacto duplo?

- Leu a revista Realidade?

- Pim, pam, pum, Estrela

- Revista Recreio

- Tela colorida cobrindo a tela da TV (ficava tudo de uma só cor ou com 3 “lindíssimas” listas: “maravilha”, verde, amarelo... ou azul...

- Lembra quem “era Flamengo e tinha uma nega chamada Tereza”? De onde vem “Patropi?”

- E do Nacional Kid? E dos Ultra-seven, Ultraman e cia bela?

- Lembra de Don e Ravel?

- Sua avó assistia ao Chacrinha (claro que você não assistia!)? A “Buzina do Chacrinha” ou a “Discoteca”?

- Assistiu a alguma luta do Eder Jofre?

- Sabe quem era Ternurinha? E Tremendão?

- Assistiu ao “Boa noite, Cinderela”?

- Sua mãe usava Cera Parquetina?

- E Cera Colmeína?

- Você lembra do sabão em pó Rinso?

- E do Viva?

- Sua mãe corava roupa no quintal?

- Você engraxava sapato com graxa Nugett? Latinha com borboleta para abrir? E punha a lata no fogo para derreter a graxa quando ela ficava quebradiça?

- Lembra da TV com seletor de canais?

- Sabe o que é um rádio capelinha?

- Lembra do Jeca-Tatu?

- Sabe o que é um rádio de galena?

- Lembra do Theobaldo?

- Fez curso de datilografia?

- Usava Desenhocop na escola?

- De quem é o slogan: “A turma lá de casa é do manda brasa”?

- Você tinha um broche em forma de vassourinha da campanha presidencial do Jânio Quadros? Ou de espada do Marechal Lott?

- Teve uma vitrola?

- Esperou uma hora (ou mais) para “completarem” a ligação interurbana?

- O que acontecia quando “Seu Cabral ia navegando?”

- E o que a gente fazia “Depois de um sonho bom”?

- O que você não devia esperar quando “Já é hora de dormir”?

- Usou no seu carro um adesivo “Brasil: Ame-o ou deixe-o”?

Motociclíadas

 Frases divertidas relacionadas a motos 

Uma visão feminina da aventura que é viajar de moto com dicas

e curiosidades  do mundo das duas rodas. 

Eliana Malizia

Dia desses conversando com amigos motociclistas, entre um assunto e outro falando sobre o mundo das duas rodas, surgiu o assunto sobre frases divertidas relacionadas a motos. Depois disso chegando em casa, fiz uma busca sobre essas frases na internet e encontrei muitas delas (autores desconhecidos). 

Nós que gostamos muito de moto muitas vezes queremos esboçar essa paixão e não sabemos como. Essas frases são perfeitas para fazer um adesivo, estampar na camiseta, enfim, usar como sua criatividade permitir. Divirtam-se! 

“Nunca pilote mais rápido do que o seu anjo da guarda possa voar.”

“Tenha uma vida equilibrada: ande sobre duas rodas.”

“Vento no rosto, bunda no encosto, tá do meu gosto!”

“O Ministério da Saúde adverte: andar de moto causa dependência. E eu com isso?” 

“Motocicleta, é sempre o melhor veículo: nunca cabe a sogra!”

“Lugar de mulher é atrás do tanque... de uma moto.”

“Se você for motociclista, que Deus lhe abençoe, se não for, que Deus lhe perdoe.”

“Meninas boas vão para o céu, meninas motociclistas vão a todos os lugares.”

“Viajando de carro você vê a paisagem; de moto faz parte dela.”

“Não importa a cilindrada, o que interessa é o espírito.”

“A liberdade existe: fica entre a roda dianteira e a roda traseira.”

“Muitos falam sobre liberdade. Somente os motociclistas a conhecem de verdade!”

“O seguro morreu de velho. Quero morrer velho e seguro em cima da bike!”

“De moto: deite, mas não rolê!”

“Quem gosta de motorzinho é dentista!”

“Você não para de andar de moto porque fica velho. Você fica velho porque parou de andar de moto.” 

“Barriga não! Porta capacete.”

“Ela disse: a moto ou eu. Sinto saudades dela.”

Mototerapia: “Uma boa viagem limpa sua mente, restaura a fé e te mostra a beleza da vida.” 

“Somente um motociclista sabe por que um cão põe a cara para fora da janela quando anda de carro.”

* Todas frases de autores desconhecidos. 

Eliana Malizia é graduada em educação física, tem formação em fotojornalismo e MBA em Marketing. É colaboradora há vários anos da revista MotoAdventure. Acelerada por natureza, divide o tempo com as responsabilidades da vida profissional com viagens e aventuras de moto. Fundou o site Acelerada (www.acelerada.com.br) que oferece informação e serviço sobre o mundo das duas rodas e estilo de vida.

Fonte: Equipe MOTO.com.br 

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Aos olhos da mestra

 Uma crônica de Moacyr Scliar)

Evoco uma cena de minha infância: a professora entrando na sala, e os olhares de cinquenta alunos imediatamente convergindo sobre ela, à espera do que ia fazer ou dizer. A encenação de um texto? Uma aula comum? Uma sabatina de improviso? 

Os olhares sobre ela. Durante anos pensei na professora como uma pessoa a ser olhada, a ser observada, a ser escutada. Mas depois – acho que aí já estava me tornando adulto – comecei a pensar na professora como uma pessoa que olha. E como é esse olhar do mestre sobre a classe? Que panorama ele divisa? 

Só recentemente, dando palestras a diferentes grupos de estudantes, me dei conta que, da perspectiva do professor, há muitas formas de ver os alunos. 

Mas há uma que me parece muito constante: é aquela que divide a classe, mediante uma linha imaginária, em duas metades, a da frente e de trás. 

O aluno da frente é o que chega cedo, o que vem limpinho e arrumado. Seus lápis estão cuidadosamente apontados, seus cadernos escrupulosamente cuidados. Ele senta inclinado para a frente; testa enrugada, olhar fixo, boca entreaberta, ele bebe todas as palavras da professora, faz anotações, não esquece nada. O aluno da frente é aplicado; ele sabe tudo; ele tira boas notas, não cola no exame, não conversa com o vizinho do lado. 

Muitas vezes fica depois da aula, faz perguntas. Nos velhos tempos este aluno era classificado como Caxias, talvez como homenagem ao infatigável militar que se dedicou – justamente – a impor a ordem e a disciplina neste país; ou, mais grosseiramente, de cu-de-ferro, sugerindo um traseiro habituado a longas temporadas sobre duros assentos (tanto o apelido como a situação se constituindo no terror da proctologia). 

O aluno lá de trás chega depois que a aula começou. Muitas vezes nem traz livros ou cadernos. Senta atirado para trás, encostado na parede – o que é um privilégio de poucos, pois nem todas as filas são a última fila. O aluno lá de trás fuma, diz palavrões, dá tapas nos colegas da frente e conversa com os do lado. Cola descaradamente na prova, mas mesmo assim suas notas são péssimas. Contudo, o que melhor caracteriza o aluno lá de trás são os óculos escuros, particularmente aqueles, hoje raros, de lentes espelhadas. 

Atrás dos óculos escuros o aluno lá de trás torna-se uma figura enigmática. A professora nunca sabe se ele está tramando alguma coisa, se está distante, ou mesmo se está dormindo. 

Alunos da frente e alunos de trás. Uma classificação que é inútil, naturalmente: na sociedade competitiva em que vivemos é muito possível que o aluno da frente se torne um pobre funcionário e que o aluno de trás se transforme num grande magnata. Mas há outra razão pela qual esta classificação não importa. 

É que em algum lugar da classe há um aluno que ama desesperadamente a professora, que povoa com a figura dela seus sonhos e seus devaneios, que suspira por um olhar dela. E este aluno tanto pode estar sentado na frente como atrás. O amor à professora supera todas as barreiras.

domingo, 19 de setembro de 2021

O energúmeno

 O energúmeno que não se reconhece como tal 

Energúmeno: indivíduo ignorante, boçal, imbecil. Para o atual presidente do Brasil – Jair Bolsonaro, é exatamente isto que o patrono da educação brasileira e um dos pensadores mais citados do mundo – Paulo Freire, é. O insulto foi proferido na última segunda-feira (16.12.2019), quando o presidente sem partido declarou que não pretende renovar o contrato do Ministério da Educação com a TV Escola, que para ele, possui uma programação totalmente de esquerda e ‘deseduca’ o público. 

Frase do dia 

“Bolsonaro é um homem sem nenhum pudor, sem nenhum caráter. Tudo o que ele tem na cabeça é contra as outras pessoas, ele só tira das ofensas os três filhos. É um homem nefasto.” 

(Ana Maria Araújo Freire, mulher do educador Paulo Freire, chamado por Bolsonaro de energúmeno) 

Paulo Reglus Neves Freire foi um educador e filósofo brasileiro. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica. É também o Patrono da Educação Brasileira. Nasceu em 19 de setembro de 1921, Recife, Pernambuco e faleceu em 2 de maio de 1997, em São Paulo, São Paulo.

Paulo Freire energúmeno 

José Paulo Cavalcanti Filho  

   

Paulo Freire é, talvez, o brasileiro mais homenageado pelo mundo. Depois de Pelé. Tem 35 títulos de Doutor Honoris Causa em universidades estrangeiras. Sua Pedagogia do Oprimido é o terceiro livro mais citado nos trabalhos da área de humanas. Bem mais que Vigiar e Punir, de Foucault. Ou O Capital, de Marx. Não é pouca coisa. Mas ninguém é perfeito. Pode-se até dizer que não era tão preparado assim. Por exemplo, em concurso para a cátedra de Filosofia (na UFPE), ele foi derrotado indiscutivelmente por nossa confrade, na Academia Pernambucana de Letras, Maria do Carmo Tavares de Miranda. A Filósofa de Paris, como a definia Gilberto Freyre. Doutora pela Sorbonne, foi assistente do maior filósofo alemão do século passado, Martin Heidegger. Na Universidade de Friburgo (Alemanha). Para lembrar, uma de suas alunas era Hannah Arendt. Ou pode-se referir não ser tão original. Que teria só adaptado teses anteriores de Anísio Teixeira e outros. Mas “energúmeno”, com certeza, Paulo não era. 

É difícil entender por que o presidente da República tem rompantes assim. Como esse, definindo como “energúmeno” alguém que nunca lhe fez mal. De graça. Descumprindo a regra básica da cavalaria, que manda cessar a batalha quando o oponente não pode mais pelejar. Ofendendo um morto. Então, por que a grosseria mal-educada? Duas hipóteses. Uma, é que se trate de uma pessoa instável. Que diz o que não deve, nas horas mais impróprias. Não acredito nisso. Num conto de Poe (O Escaravelho Dourado), a velhinha desconfia da loucura de um personagem. Por haver “um certo método”, nas ações dele. E é possível entrever esse método, por trás das diatribes do nosso presidente. Como se ele calculasse, antes de falar. 

Única explicação possível, pois, é ser de propósito. Para ter vantagens eleitorais, ao ofender um ícone da esquerda. Alguém do PT. Lembro do estrategista militar e futurólogo americano Herman Khan. Autor de Quando a História Também é Futuro. Para ele, “alguns assuntos deveriam ser tratados só por loucos e entendidos”. Sigo nessa trilha. Como louco não sou (ou penso eu não sou, o que dá no mesmo), e muito menos entendido nas tramas da política (com certeza), melhor então ficar em silêncio. Outros expliquem. Mas, pensando no Brasil, e para não perder a oportunidade, faço um pedido natalino: Por que não te calas?, senhor presidente. 

Como árvores são importantes

 

Uma árvore não fica de costas para ninguém. Dê a volta em torno dela, e a árvore estará sempre de frente para você. Os verdadeiros amigos também...

Dizem os chineses: árvore plantada com amor, nenhum vento derruba! Uma verdadeira amizade também!

Quem planta árvores, cria raízes. Quem cultiva bons amigos, também!

As árvores, como os amigos, produzem beleza para os olhos e os ouvidos, na mudança sutil de suas cores. A árvore é sombra protetora, como os amigos; sombra que varia com o dia, que avança e faz variados rendados de luz semelhantes às estrelas. As árvores são sinônimo de eternidade, e uma verdadeira amizade também é para sempre! 

Equilíbrio

Para sentir-me pleno, tenho que ser estável. Para ser estável, é necessário equilíbrio. O equilíbrio entre: 

Ser alegre, e não inconveniente.

Ser sincero, e não machucar.

Ser firme nas ideias, e não arrogante.

Ser humilde, e não submisso.

Ser rápido, e não impreciso.

Ser contente, e não complacente.

Ser despreocupado, e não descuidado.

Ser amoroso, e não pegajoso.

Ser pacífico, e não passivo.

Ser disciplinado, e não rígido.

Ser flexível, e não frouxo.

Ser comunicativo, e não exagerado.

Ser obediente, e não cego.

Ser doce, e não melado.

Ser moldável, e não tolo.

Ser introspectivo, e não enclausurado.

Ser determinado, e não teimoso.

Ser corajoso, e não agressivo. 

Faxina literária

Martha Medeiros*

O primeiro passo é providenciar a “sujeira”. Espalho frases de qualquer jeito, abuso dos pronomes possessivos, solto umas ideias mal alinhavadas. Que ninguém veja. Há um começo manco, um final precipitado, mas já se percebe o conteúdo, precisa apenas de uma boa faxina. É um texto, apenas mais um texto esparramado na tela em branco. Tem futuro, depois que começar a varredura pode dar certo, mas deixe pra amanhã, desligue o computador e vá dormir. 

No dia seguinte, mãos à obra. A página tem que ficar apresentável, estará diante dos olhos de muita gente, procure não passar vergonha. 

É a partir desse ponto que me animo, que gosto de ser aquela que escreve, sabendo que escrever não é só emendar uma palavra na outra. É limpar, suprimir, arrumar, desinfetar, reescrever uma, quatro, dez vezes, até abrir a porta ao prezado leitor e liberar o acesso, “pode entrar”. 

Aquele verbo, por exemplo. A frase ganhará outro ritmo se ele tiver três sílabas em vez de duas. Busque outro com o mesmo sentido e se possível a mesma terminação. 

A palavra medo não se aplica no segundo parágrafo, o assunto não é tão dramático, troque por receio, que fica mais suave, e fique atenta àquela rima ali no meio, a não ser que seja proposital, o leitor perdoa quando o autor poetiza a rotina. Vamos lá, não desanime, ainda há trabalho pela frente. 

Aquelas redundâncias perto do fim: dispense todas elas. 

Caramba, justo onde inseri uma piada? Cortá-la vai doer, a gente se apega, sabe? Será que posso transferi-la para outra parte do texto? Não, ela não serve, precisa ser eliminada. Lá por novembro você tenta de novo, hoje não é dia de gracinhas. Diga adeus, coragem. 

Retiro um “é preciso reconhecer que” para ir direto ao assunto, dou contundência a uma descrição, deleto quatro adjetivos poluentes e troco “até este exato momento” por algo mais enxuto: “por enquanto”, isso. Preciso me manter nas cercanias dos 2,3 mil caracteres ou comprometerei a diagramação da coluna. 

Passo a guilhotina nos advérbios, enxugo um excesso de palavras terminadas em “ão” e troco uma crítica explícita por uma ironia. Aparafuso uma palavra que estava frouxa, ajusto uma concordância equivocada e inverto a sequência de duas frases – hum, ficou melhor assim. Substituo uma expressão em inglês por sua versão em português, retiro umas aspas, altero um tempo verbal, reforço um ponto de vista, volto a colocar as aspas, leio tudo em voz alta e só então me indisponho com uma gíria que não se usa mais. Ah, tudo bem, ela fica. 

Terminou? Termina nunca. Sempre sobra uma gordurinha ou uma pontuação duvidosa, mas, paciência, uma hora é preciso dar o texto por encerrado, relaxe, ficou ajeitadinho, o público já pode entrar. 

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*Do caderno Donna de Zero Hora, setembro de 2021. 

sábado, 18 de setembro de 2021

Xibolete

 Este vocábulo é a transliteração de um vocábulo hebraico

que é traduzido por alguns por “espiga de grãos”

 e outros por “torrente de água”.

 

No país de Galaad viveu, outrora, um príncipe valente chamado Jefté, que muitas vitórias alcançou contra os inimigos de seu povo. Jefté era judeu e governava um povo judeu. 

Aconteceu que outra tribo, também de judeus − a de Efraim movida por negra inveja e ambição, resolveu apoderar-se dos rebanhos e das terras de Galaad. Informado de que os efraimitas haviam atravessado o Jordão e invadido os seus domínios, iniciando, desse modo, uma agressão covarde e iníqua, organizou Jefté uma aguerrida tropa de Galaad e marchou contra os invasores. Foram estes vencidos e tiveram que fugir. 

Para impedir a fuga dos inimigos, ordenou Jefté que uma de suas colunas, postada na margem oposta do Jordão, se apoderasse de todos os pontos em que esse rio pudesse oferecer fácil passagem. E, assim, os soldados de Jefté, por ordem do príncipe, vigiavam dia e noite todos os vaus do sinuoso rio. 

Quando um judeu desconhecido descia das terras de Galaad buscando a margem oposta, os esculcas de Jefté o prendiam. Seria aquele homem um agressor inimigo que abandonava Galaad ou um aliado fiel que retornava à sua aldeia? 

Os soldados o interrogavam com precaução: 

- Acaso és efraimita? 

O suspeito replicava logo com azedume: 

- Deixem-me passar. Sou da tribo de Jefté. Sou de Galaad! 

A desconfiança esparzia sobre a identidade do prisioneiro as cinzas da incerteza. Estaria o homem mentindo? Como apurar a verdade? 

O próprio Jefté, consultado pelos seus oficiais, não sabia como decidir. 

Um dia, achava-se o chefe vencedor em sua tenda de guerra quando um ancião de Galaad foi procurá-lo. Era um sábio. Estudara os dialetos das diversas tribos e conhecia os mil segredos do linguajar dos povos. 

- Príncipe! – declarou o sábio. – Existe em nosso idioma – o hebraico – uma palavra dotada de som extraordinário. Essa palavra pode revelar se uma pessoa qualquer pertence à nossa tribo ou se perfila entre os inimigos que desejam a ruína e a destruição de Galaad.

Jefté, sensato e inteligente, venerava os sábios. Perguntou-lhe, pois: 

- Que palavra é essa? 

- É a palavra “xibolete” – esclareceu o filólogo. Um homem de Efraim pronuncia esse vocábulo de um modo especial: “cibolete” (a primeira sílaba denuncia logo a diferença!) ao passo que os nossos amigos articulam claramente: “xi-bo-le-te”! 

Nesse mesmo dia determinou Jefté que todos os suspeitos fossem interrogados pelos vigilantes que guarneciam as passagens livres do rio. 

- Acaso és efraimita? 

Respondia, em geral, o interpelado com sobranceria impertinente: 

- Ora, deixem-me passar! Sou de Galaad! Pois não veem? 

Tal explicação não bastava. Os soldados de Jefté insistiam: 

- Dize, então: Xibolete! 

E tudo ali, no mesmo instante, se decidia. Se o interrogado falseava na pronúncia de “xibolete* (impossibilitado de articular bem a primeira silaba), era logo degolado. 

E foram, assim, − afirmam os historiadores − por causa dessa palavra sinistra, sacrificados quarenta e dois mil prisioneiros! 

Obs.: Este episódio é verdadeiro e está narrado na Bíblia no livro dos Juízes, capítulo 12. Segundo a Bíblia, o nome do povo onde o fato ocorreu é Gileade e não Galaad. 

(“Lendas do Povo de Deus”, de Malba Tahan) 

A forma xibolete é registrada no Aurélio XXI e no Grande Manual de Ortografia, de Celso Pedro Luft. Já Antenor Nascentes registra a forma xibolet. O termo também pode ser escrito como xibolé ou xibolê. Em Inglês e Francês é escrito shibboleth.

*Também há a grafia “chibolete” que é a transliteração de um termo hebraico que aparece de forma não traduzida no livro de Juízes no famoso teste “chibolete e sibolete” (Juízes 12:6). O significado de “chibolete” na Bíblia aparece tanto como “corrente de água” como “espiga de cereal”. 

Shibboleth também pode ser uma palavra passe da maçonaria. 

Há, ainda, as grafias Shibboleth, Schibbolet e Xibolete.

Histórias de Almanaques

  

Para que tanta confusão? 

Um homem estava descansando debaixo de uma árvore, quando um amigo lhe gritou:

- Ei, por que não vai cortar um bocado de lenha?

- Para quê?

- Para vender. Com esse dinheiro você pode comprar um burro e entregar a lenha de casa em casa. Assim ganha mais dinheiro e pode comprar um caminhão; depois, uma pequena serraria e um frota de caminhões. Então constrói um império para você!

- Para quê?

- Para se milionário e aí poder repousar em paz!

- E que é que você acha que estou fazendo agora?  

O miolo do juízo 

Três filósofos. Aaro, Bruno e Carolus, dormem junto à fogueira do acampamento. Um perito em encerar esquis, ansioso para pregar uma peça nos três, passa por ali e derrama um pouco de breu na testa de cada homem.

Logo que despertam, os três pensadores começam a rir. Cada qual acha que está caçoando das feições manchadas dos outros dois, achando que a sua própria cara está limpa.

De repente Aaro pára de rir. Como foi que ele descobriu que também estava com breu no rosto? 

Solução: 

Aaro raciocinou que Bruno estava convencido de que seu próprio rosto estava limpo. Se a cara de Aaro também estivesse limpa, Bruno se indagaria por que motivo Carolus estava rindo. Este estaria vendo o único rosto limpo. Bruno, porém, não se mostrava admirado. Portanto, a cara de Aaro também teria de estar suja de breu. 

Medicânico 

Um médico entrou num quarto de hospital e disse ao marido da paciente para esperar do lado de fora, enquanto fazia o exame. Alguns minutos depois, o médico saiu e pediu a uma assistente de enfermagem para lhe arranjar um alicate. Ela obedeceu, e ele voltou ao quarto da paciente. Cinco minutos depois, tornou a sair e pediu uma chave de fenda. Quando saiu pela terceira vez e pediu um martelo, o marido, aflito, perguntou o que havia com sua esposa.

- Ainda não sei – disse o médico. - Não consigo abrir a minha maleta. 

Autoestima 

Há um letreiro colocado baixo da balança no consultório do meu médico:

“Imagine que seja o seu Q.I.” 

Propaganda enganosa 

Na rua principal de certa cidade grande havia quatro padarias. A primeira exibia o seguinte letreiro:

“O melhor pão da cidade”.

O da segunda se vangloriava:

“O melhor pão do país”.

O da terceira chegava a ponto de alardear:

“O melhor pão do mundo”.

Mas o letreiro da quarta padaria dizia simplesmente:

“O melhor pão desta rua”. 

Batalha no armário 

Quando uma mulher vai até seu armário e diz:

“Não tenho nada para vestir”, ela, na verdade, quer dizer:

“Não tenho nada novo para vestir”.

Quando um homem vai até seu armário e diz:

“Não tenho nada para vestir”.

O que ele realmente quer dizer é:

“Não tenho nada limpo para vestir”.  

Arrogância positiva 

Mestre da arte das Relações Públicas, Michel Levine acredita que a melhor maneira de se vender a própria imagem é projetar uma aura de arrogância positiva e saudável. E lembra da história sobre a reunião de um fabricante de colchões com um consultor de Relações Públicas.

- O que você vende? – perguntou o consultor.

- Colchões, é claro – respondeu o fabricante.

- Não, não – retrucou o consultor meneando a cabeça. - Você vende bons sonhos e sexo agradável! 

A vida é assim... 

Perguntaram a um sujeito como é que ele fazia o orçamento de suas despesas, e ele respondeu:

- Quarenta por cento para a comida, 30 por cento para casa, 30 por cento para a roupa e 20 por cento para diversões e extraordinários.

- Ora, mas isso são 120 por cento! – replicaram

- Pois é. Aí é que está a dificuldade! 

Diferenças sociais 

Um homem rico e um pobre encontra,-se numa cela da cadeia. O rico pergunta:

- Por que você está aqui?

- Por roubo. E você?

- Estou aqui porque sofro de cleptomania.

Isso sim que é um vendedor bom! 

Um vendedor bate à porta de uma casa: 

− A senhora quer comprar uma apólice de seguros? 

− Não, já tenho uma. 

− E uma coleção de livros infantis? 

− Não, obrigada. 

− E um teclado eletrônico com mais de 800 ritmos diferentes? 

− É claro que não, música não é a minha diversão. 

− Para se ver livre de mim, a senhora compraria um sabonete? 

− Compro até dois! 

− Obrigado. É isso mesmo que eu estou vendendo!