quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Aulas do Barão de Itararé

 

Aparício Torelly – O “Barão de Itararé”

A origem do nome Iracema − Iracema não é um nome indígena, como muita gente supõe. IRACEMA é um anagrama de AMERICA, composto por José de Alencar, que era perito na elaboração desses passatempos. José de Alencar, dando o nome de Iracema à heroína de seu romance, quis, assim, simbolizar a mulher americana. 

A origem do símbolo “Cr$” − A instituição do cruzeiro como moeda nacional, em substituição ao mil réis, não é coisa velha. Verificou-se durante a Segunda Grande Guerra, quando governava o Brasil o senhor Getúlio Vargas. Tudo correu fácil. A reforma monetária já fora estudada no tempo do senhor Washington Luís e o decreto da mudança da moeda de há muito estava pronto para ser assinado. Só faltava um detalhe: − qual seria a abreviação do “cruzeiro” a ser usada na escrituração mercantil? Os técnicos das finanças reuniram-se com o ministro da Fazenda, o diretor do Tesouro, o presidente do Banco do Brasil e o chefe da Casa da Moeda. Depois de duas horas de extenuantes e exaltadas discussões, ficou decidido que, como estávamos empenhados numa guerra que passaria para a História, nada mais justo que escolhêssemos para a nossa nova moeda um símbolo que perpetuasse uma homenagem aos nossos aliados, Inglaterra, Estados Unidos e Rússia. E, assim, resolveu-se por unanimidade que a abreviação oficial do cruzeiro fosse integrada pelas iniciais dos três bigs do momento, que eram Churchill, Roosevelt e Stalin, isto é, CRS. A grande comissão de técnicos foi, então, incorporada, à presença do sr. Getúlio Vargas, para cientificá-lo do resultado a que tinham chegado. O presidente concordou com tudo, muito satisfeito, mas, no momento em que foi assinar o decreto da regulamentação da nova moeda, riscou, à última hora, a inicial de Stalin. Por isso, a abreviação do cruzeiro apareceu e continua a aparecer assim: CR$... 

A origem da palavra Larápio − Na Roma dos Césares havia um cônsul da Cirenaica de nome Lucius Amarus Rufus Apius, que gozava de grande popularidade pelas suas preclaras virtudes cívicas e morais. Mas, como neste mundo não há nada perfeito, também Lucius Amarus Rufus Apius tinha um pequeno defeito, aliás bastante comum nos homens públicos dos nossos dias atômicos e que consistia em confundir muito a miúdo o patrimônio alheio com o próprio. Por isso, quando alguém era apanhado em flagrante delito de apropriação indébita, o criminoso era comparado a Lucius Amarus Rufus Apius. Como, porém, esse nome era muito comprido, o povo o abreviava, dizendo simplesmente “L.A.R.APIUS”. 

A origem da palavra Cadáver − Essa história de se chamar a Associação Brasileira de Imprensa de “ABI” e o Departamento do Serviço Público de “DASP” não é uma invenção dos homens modernos. Em todas as línguas, mesmo nas mais antigas, encontramos abreviações análogas, formando palavras que foram incorporadas mais tarde ao vocabulário comum. São palavras que valem por frases e que dificilmente poderão ser traduzidas para outras línguas. Isso tudo se explica facilmente, porque o povo procura sempre naturalmente a maneira mais cômoda de se expressar e, sem dúvida, é mais fácil pronunciar rapidamente uma palavra de uma sílaba, que dizer por extenso várias palavras cuja ordem e significado nem sempre podem ser retidos, compreendidos e articulados pelo homem da rua. Os romanos, por sua vez, não gostavam, por certo, de dizer as coisas íntimas ou afetivas com brutalidade e, por isso, principalmente as notícias tristes, eles procuravam disfarçá-las. Um homem ou um animal mortos era, em todo caso, “carne dada aos vermes”. Essa coisa desagradável, entretanto, os romanos não a diziam com todas as letras. Assim, para transmitir à família, aos parentes e amigos que alguém havia morrido, eles não diziam que o morto era “carne dada aos vermes” (“Caro data vérmibus”). Eles faziam essa comunicação de uma forma sintética, dizendo simplesmente que o morto  era  “ca-da-ver”,  empregando apenas a primeira sílaba de cada palavra.

CA-ro
DA-ta
VER-mibus

Talvez venha daí também o provérbio: “Para bom entendedor, meia palavra basta”, mesmo porque, para quem sabe ler, um pingo é letra. 

A origem da palavra Arara − Os nossos etimologistas acham que a palavra “arara” é uma onomatopeia, de origem indígena. Pretendem esses senhores que a linda ave dos trópicos, de repente, dá um grito, no qual parece que se lhe ouve dizer “a-raa-ra!”. Tudo isso é possível, porque o “bem-te-vi” também diz, no duro, “bem-te-vi!”. Mas, apesar de tudo isso ser muito provável, nós preferimos aceitar outra versão, que é a daqueles que afirmam que “arara” é realmente uma palavra indígena, formada pela repetição de “ara”, que significa periquito. “Ara-ara”, então, seria periquito duas vezes, embora as araras sejam em geral 4 ou 5 vezes maiores que os periquitos. 

A origem da palavra Snob (esnobe) − A Universidade de Oxford, na Inglaterra, era o estabelecimento de ensino preferido pelos nobres para a educação de seus filhos. Contam que ali havia um professor que fazia uma severa distinção entre os alunos pertencentes à aristocracia e os que descendiam da classe burguesa. Na lista dos alunos, esse professor, para dar o tratamento a cada um, de acordo com a sua origem, costumava escrever, com letra miudinha, depois do nome dos alunos plebeus, esta anotação: “S.nob.”, que era a abreviação das palavras latinas “Sine nobilitate”, isto é, sem nobreza. Esta é a origem da palavra “snob”, que se emprega em muitos idiomas para qualificar um indivíduo que se quer dar ares de nobre, sem sê-lo. 

A origem da palavra “Habeas Corpus” − A expressão “Habeas Corpus” tem a sua origem numa lei inglesa, cujo texto latino começa com estas palavras: “Habeas corpus ad subjudiciendum”, as quais, traduzidas mais ou menos de orelhada, significam: “Que tenham ou disponham de corpo para apresentá-lo em juízo”. 

Este instituto foi incorporado à legislação do Brasil, que, por ser o país da borracha, lhe deu uma grande elasticidade.


terça-feira, 30 de agosto de 2022

Um contundente recado musical

 Última forma 

Baden Powel e Paulo César Pinheiro

É... como eu falei não ia durar.

Eu bem que avisei, pois é, vai desmoronar.

Hoje ou amanhã, um vai se curvar

E graças a Deus, não vai ser eu quem vai mudar,

Você perdeu... 

E sabendo com quem eu lidei,

Não vou me prejudicar,

Nem sofrer, nem chorar,

Nem vou voltar atrás.

Estou no meu lugar,

Não há razão pra se ter paz

Com quem só quis rasgar o meu cartaz,

E agora pra mim você não é nada mais. 

E qualquer um pode se enganar,

Você foi comum, pois é, você foi vulgar.

O que é que eu fui fazer

Quando dispus te acompanhar,

Porém pra mim você morreu.

Você foi castigo que Deus me deu. 

Não saberei jamais

Se você mereceu perdão,

Porque eu não sou capaz

De esquecer uma ingratidão,

E você foi um a mais. 

E qualquer um pode se enganar.

Você foi comum, pois é, você foi vulgar!

O que é que eu fui fazer

Quando dispus te acompanhar,

Porém pra mim você morreu.

Você foi castigo que Deus me deu.

E como sempre se faz,

Aquele abraço, adeus...

E até nunca mais! 

******* 

P.S. Ouça, na internet, essa música na voz de Emílio Santiago. 

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Pegadinhas verbais

 Por Sérgio Nogueira

Quando você quiser deixar uma boa impressão com o uso das palavras, é melhor estar prevenido. O português muitas vezes nos prega peças. 

Chefe ordena à secretária: 

“Faça um cheque de R$ 600,00.” 

Ela pergunta: 

“Como se escreve 600?” 

Ele dá nova ordem: 

“Faça dois cheques de 300.” 

A secretária, preocupada, faz nova pergunta: 

“E 300 se escreve com ‘s’ ou com z?” 

O chefe, nervoso, grita: 

“Se não sabe escrever 300, faça quatro cheques de 150.” 

E a secretária, sempre zelosa pelo bom português, faz uma pergunta definitiva: 

“Chefe, o trema já foi abolido?” 

Vencido, só lhe resta uma saída: 

“Pelo amor de Deus, mande pagar em dinheiro!” 

Para não haver dúvida, é bom lembrar: seiscentos é com “sc”; trezentos se escreve com “z” e o trema foi abolido, portanto o correto é cinquenta.

******* 

Você vem dirigindo o carro. O mapa indica o caminho da esquerda, mas, na bifurcação, você entra à direita. Alguns quilômetros à frente, descobre que está perdido. Desesperado, desce do carro e começa a gritar: 

Aonde estou? Aonde estou?” 

Além de não saber ler um mapa, também não sabe pedir socorro. Quem está, está “em” algum lugar. Portanto, se você já está em algum lugar, mesmo perdido e desesperado, grite em bom português: 

Onde estou? Onde estou?” 

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Responda rápido: 

“Você assiste o jogo ou ao jogo?” 

Quando leio num jornal que “cem mil pessoas foram assistir o jogo”, fico imaginando que “porcaria” de jogo foi esse. Afinal, foram cem mil pessoas para prestar assistência! Pior é o médico que assiste ao doente. É por isso que o paciente morre: o médico fica só olhando! Portanto, o certo é: 

“Assistir ao jogo” e “Assistir o doente”. 

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Se quiser, você pode “sentar na mesa”, mas está errado e é falta de educação. O que você pode realmente fazer é “sentar-se à mesa”. Você pode sentar-se na cadeira, mas com certeza deve sentar-se à mesa. 

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Quando encontro uma plaquinha anunciando “Concertam-se sapatos”, fico logo imaginando uma “sinfonia” de sapatos. Com certeza, antes dos sapatos, o nosso amigo deveria consertar a plaquinha: “Consertam-se sapatos”. É bom lembrar que concerto é “sinfônico, musical, orquestral...” e que consertar é “corrigir, reparar, retificar...” 

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Com frequência podemos observar em alguns restaurantes: “Hoje, cosido à portuguesa.” Nessas horas, costumo ficar imaginando um patrício lusitano “todo costurado” em cima da mesa. Não esqueça que um bom “cozido à portuguesa” só pode ser com “z”. Estou falando do cozido porque o português e a portuguesa serão escritos sempre com “s”. 

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Muita gente fala em crise de desemprego. Mas o que está em crise é o emprego e não o desemprego. O mesmo acontece com o famoso correr atrás do prejuízo. Isso é loucura! Corre-se atrás do lucro. Muitos afirmam que correm risco de vida Mas correm risco de morte. Pior ainda é essa mania de tirar a pressão. Se tirar a pressão, você morre. É melhor medir a pressão. 

Fato semelhante ocorreu com aquele aluno que escreveu na sua redação do concurso vestibular que adorava “surpresas inesperadas”. Ora, se não fosse inesperada, não haveria surpresa. Ele adora surpresas e ponto final. Isso me faz lembrar aquele marido “previdente” que teria escrito para a mulher antes de retornar de uma lona viagem: “Chegarei de surpresa na próxima sexta-feira, no voo da Varig das 22 horas.” 

Certa vez, encontrei num jornal a seguinte manchete: “Neste fim de semana houveram vários crimes na cidade.” Pensei: O primeiro foi contra a língua portuguesa. Por mais crimes que haja na cidade, o certo é “houve vários crimes”.

Pontuar de acordo com o sentido que se pede:

 

Cris por favor ajude-me a convidar nossos amigos para a festa de meu aniversário cuidado entregar convites para a Júlia e Dani de jeito nenhum quero ver o Lucas na minha festa 

a) Pontuar de forma que o convite seja para a Júlia e para o Lucas: 

Cris, por favor ajude-me a convidar nossos amigos para a festa de meu aniversário. Cuidado: entregar convites para a Júlia, e Dani de jeito nenhum. Quero ver o Lucas na minha festa. 

b) Pontuar de forma que o convite seja para a Júlia e para a Dani: 

Cris, por favor ajude-me a convidar nossos amigos para a festa de meu aniversário. Cuidado: entregar convites para a Júlia e Dani. De jeito nenhum quero ver o Lucas na minha festa. 

c) Pontuar de forma que o convite seja apenas para o Lucas: 

Cris, por favor ajude-me a convidar nossos amigos para a festa de meu aniversário. Cuidado: entregar convites para a Júlia e Dani, de jeito nenhum. Quero ver o Lucas na minha festa. 

******* 

Edgar costuma escrever bilhetes para a sua família. Hoje de manhã, escreveu dando pistas sobre o seu presente de aniversário. Por estar atrasado, não teve tempo de pontuar o bilhete: a kombi escolar já estava buzinando. Assim ficou o bilhete: 

“O que eu quero é uma bicicleta não um videogame de jeito nenhum gostaria de uma bola oficial” 

a) Pontuar de forma que Edgar possa ganhar uma bicicleta: 

O que eu quero é uma bicicleta, não um videogame. De jeito nenhum gostaria de uma bola oficial. 

b) Pontuar de forma que Edgar possa ganhar um videogame: 

O que eu quero é uma bicicleta? Não! Um videogame. De jeito nenhum gostaria de uma bola oficial. 

c) Pontuar de forma que Edgar possa ganhar uma bola oficial: 

O que eu quero é uma bicicleta? Não! Um videogame? De jeito nenhum! Gostaria de uma bola oficial. 

Referência: FALCETTA, Antônio Paim et al. Cem aulas sem tédio – Língua Portuguesa: sugestões práticas, dinâmicas e divertidas para o professor. Santa Cruz: Editora IPR, 2008.

Um pouco de cultura

 Olhe essas expressões usadas frequentemente...

01. Planos ou projetos para o futuro. → Você conhece alguém que faz planos para o passado? 

02. Criar novos empregos. → Ora, bolas, alguém consegue criar algo velho?

03. Hábitat natural. → Todo hábitat é natural; consulte um dicionário.

04. Prefeitura Municipal. → No Brasil só existem prefeituras nos municípios.

05. Conviver junto. → É possível conviver separadamente?

06. Sua autobiografia. → Se é autobiografia, já é sua.

07. Sorriso nos lábios. → Já viu sorriso no umbigo?

08. Goteira no teto. → No chão é impossível! 

09. Estrelas do céu. → Paramos à noite para contemplar o lindo brilho das estrelas do mar? 

10. General do Exército. → Só existem generais no Exército.

11. Brigadeiro da Aeronáutica. → Só existem brigadeiros na Aeronáutica.

12. Almirante da Marinha. → Só existem almirantes na Marinha. 

13. Manter o mesmo time. → Pode-se manter outro time? Nem o treinador da seleção brasileira consegue! 

14. Labaredas de fogo. → De que mais as labaredas poderiam ser? De água? 

15. Pequenos detalhes. → Se é detalhe, então já é pequeno. Existem grandes detalhes? 

16. Erário público. → O dicionário ensina que erário é o tesouro público, por isso, erário só basta! 

17. Despesas com gastos. → Despesas e gastos são sinônimos!

18. Encarar de frente. → Você conhece alguém que encara de costas ou de lado?

19. Monopólio exclusivo. → Ora, se é monopólio, já é total ou exclusivo...

20. Ganhar grátis. → Alguém ganha pagando?

21. Países do mundo. → E de onde mais podem ser os países? 

22. Viúva do falecido. → Até prova em contrário, não pode haver viúva se não houver um falecido... 

23. História Baseada em fatos reais. → Todos os fatos já são reais. 

24. Ela teve uma hemorragia sanguínea. → Alguém já teve uma hemorragia que não fosse sanguínea? 

25 A grande maioria do povo brasileiro não votará em genocida. → Se é maioria já é em grande quantidade. 

26. Exultar de alegria. → Você consegue exultar de tristeza? 

27. Na minha opinião pessoal. → Qual opinião que não seja pessoal?

28. Ele compareceu pessoalmente. → Alguém comparece em algum lugar que não seja com a sua própria pessoa?

29. Bater palma com as mãos. → Alguém bate palmas com os pés?

30. Preconceito intolerante. → Se é preconceito, já é intolerante.

domingo, 28 de agosto de 2022

A coletividade pede passagem

 Alina Souza

Ao todo, passo muitas horas de minha vida dentro de ônibus e percebo como as cenas no transporte público revelam profundos traços comportamentais da sociedade. São medidores de cidadania. De respeito − ou da falta deles. Vamos a alguns fatos. Ônibus cheio, dois assentos preferenciais ocupados por jovens em órbitas distantes. Uma senhora na faixa dos 70 anos passa e nenhum deles faz menção de se levantar. A senhora vai o trajeto inteiro em pé, tentando firmar-se na barras verticais e no próprio banco onde está sentado um dos moços que sequer olhou para fora de si mesmo. Zero consideração à pessoa idosa. Passamos então para outro fato comum: passageiro que não desembarcarão imediatamente e, mesmo assim, obstruem as portas de saída. Já quase perdi minha parada porque esperei o sujeito na minha frente descer, e não desceu, e eu demorei para entender que ele estava ali só de enfeite. Poxa, alguém lembra que é transporte coletivo? Vou repetir: co-le-ti-vo. Custa enxergar um pouco além do próprio umbigo, antes do fim da linha? 

(No Correio do Povo, agosto de 2022)

sábado, 27 de agosto de 2022

Você deve fugir do homem que diz...

 

Ì ... Eu sempre fui muito castrado. 

Ì ... Eu só vou botar a cabecinha. 

Ì ... Isso nunca me aconteceu antes. 

Ì ... A sua comida é melhor do que a da minha mãe. 

Ì ... Quero ter um filho chamado júnior. 

Ì ... Essa bolsa, definitivamente, não combina com o meu sapato. 

Ì ... Eu me sinto completamente impotente diante de sua beleza. 

Ì ... Eu tô precisando muito de uma companhia para conversar sobre os meus problemas. 

Ì ... Quando tiro alguma coisa do lugar, não consigo botar de volta. 

Ì ... Eu sempre fui o maior desmancha-prazeres. 

Ì ... Eu estou sempre atrás de alguma coisa que não sei o que é. 

Ì ... Eu sempre quis te dar mole. 

Ì ... Eu tenho uma alma feminina bem trabalhada. 

Você deve se aproximar do homem que diz...

É ... Eu gostaria de colocar pra fora tudo o que está guardado aqui dentro. 

É ... Eu sou bilíngue. 

É ... Eu sou muito intrometido. 

É ... Eu sempre quis ter dar uma dura. 

É ... Eu tenho o maior tesão em tudo o que faço. 

É ... Eu costumo entrar de cabeça nas coisas. 

É ... Eu adoro comer. 

Þ ... Eu sou muito cabeçudo... 

Do livro: 

“O grelho falante apresenta: Tapa de humor não dói”

A hora e a vez das mulheres gozarem

Ping-Pong

 Texto de Jô Soares

* É amanhã que o hoje vira ontem. 

* Avião é aquele negócio que sai sempre no horário quando você chega atrasado. 

* Gramática é aquilo que ensina a escrever certo o que já se fala errado. 

* Com o desmatamento, acabou-se a época do cada macaco no seu galho. 

* A mosca tsé-tsé mordeu o chato e morreu de sono. 

* Aquele canibal tinha um rei na barriga. 

* Perdeu a memória e não conseguia lembrar onde. 

* Se não fosse o ponto, as frases seriam muito mais longas. 

* Nunca chame ninguém de burro. Seria uma patada. 

* O peixinho dourado atravessou o oceano no aquário do navio. 

* Cuidado menino! Esse vaso era caro! 

* Estava em minoria, mas era o pai. 

* Uma rosa é uma rosa é uma rosa, dizia o jardineiro gago. 

* Aquele locutor esportivo colocou uma tabuleta no gramado da casa: “Não adentre o tapete verde. Penetre pelas laterais”. 

* O diagnóstico no ser humano é muito mais fácil. Por exemplo: o boi, quando fica abatido, já está morto. 

* Quem terá ditado todos os ditados? 

* Tinha a mesma doença que o seu médico. Só que o seu médico tinha um bom médico. 

* A melhor maneira de alfabetizar uma pessoa é ensiná-lo a ler. 

* O pior da guerra é perder. 

* Branca de Neve: um pleonasmo para crianças.

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Um plano genial

 Barão de Itararé

Joaquim Rebolão estava desempregado e lutava com grandes dificuldades para se manter. A sua situação ainda mais se agravava pelo fato de ter que dar assistência a um filho, rapaz inexperiente que também estava no desvio. 

Joaquim Rebolão, porém, defendia-se com um autêntico leão da Núbia, neste deserto de homens e ideias. 

O seu cérebro, torturado pela miséria, era fértil e brilhante, engendrando planos verdadeiramente geniais, graças aos quais sempre se saía galhardamente das aperturas diárias com que o destino cruel o torturava. 

Naquele dia, o seu grude já estava garantido. Recebera convite para um banquete de cerimônia, em homenagem a um alto figurão que estava necessitando de claque. Mas o nosso herói não estava satisfeito, porque não conseguira um convite para o filho. 

À hora marcada, porém, Rebolão, acompanhado do rapaz, dirige-se para o salão, onde se celebraria a cerimônia. Antes de penetrar no recinto, diz a seu filho faminto: 

- Fica firme aqui na porta um momento, porque preciso dar um jeito a fim de que tu também tomes parte no festim.

Já estava todos os convidados sentados nos respectivos lugares, na grande mesa em forma de ferradura, quando, ao começar o bródio, Rebolão se levanta e exclama: 

- Senhores, em vista da ausência do Senhor Vigário nesta festa, tomo a liberdade de benzer a mesa. Em nome do Padre e do Espírito Santo! 

- E o filho? – perguntou-lhe um dos convivas. 

- Está na porta – responde prontamente. E, voltando-se para o rapaz; ordena, autoritário e enérgico: 

- Entra de uma vez, menino! Não vês que estes senhores te estão chamando? 

********** 

“Máximas e Mínimas do Barão de Itararé” – Editora Record 

Terra à Vista!*

 Eduardo Bueno 

A Visão da Proa

Foi como uma miragem em um deserto de águas salgadas. Após 44 dias entre o mar e o céu, o horizonte deixou de ser uma linha longínqua na qual o azul-celeste imaculado encontrava o azul revolto de um oceano sem fim. 

No último ponto que os olhos podiam vislumbrar, erguia-se, agora, a silhueta verdejante de uma pequena serra, pontilhada pelo cume de um monte “mui alto e redondo”. Em breve, o aroma das flores e dos frutos não precisaria mais ser imaginado: seria sentido. Os homens acotovelaram-se na amurada das naus, com os olhos postos de encontro ao céu crespuscular. A terra, enfim, estava à vista, como uma visão do paraíso. Parecia miragem – mas era real. 

Com as cores do entardecer tingindo a cena de dourado, os 12 navios da frota comandada por Pedro Álvares Cabral prosseguiram seu avanço. Era 22 de abril de 1500, e a maior esquadra já enviada para singrar o Atlântico encontrava-se a cerca de 60 quilômetros de uma costa desconhecida. Seria ilha ou terra firme? Provavelmente ilha, julgaram os marujos mais experientes – uma das tantas, reais ou lendárias, que povoavam as imensidões do chamado de Mar Tenebroso. A frota avançou cautelosamente a uma média de 5 quilômetros por hora e lançou âncoras. Elas mergulharam 34 metros antes de se acomodarem nas claras areias do fundo. Estava descoberto o Brasil. Um novo mundo amanhecia. 

A Visão da Praia: 

Foi como uma miragem bailando sobre as águas salgadas. Após uma sequência infindável de dias iguais, o horizonte já não era uma linha longínqua e vazia. No último ponto que os olhos podiam vislumbrar, surgiam, agora, estranhas silhuetas. Pareciam montanhas flutuantes singrando o oceano. Os homens acotovelaram-se à beira-mar, com os olhos postos de encontro ao céu matinal para vislumbrar a mais espantosa novidade de suas vidas. Que tipo de canoas seriam aquelas, que pareciam ter asas, tão brancas e tão amplas, e que avançavam junto com o sol? Trariam boas novas ou más notícias? Vinham em paz ou prontas para a guerra? Parecia miragem, mas era real. 

Com as cores do amanhecer tingindo a cena de dourado, os 6 ou 7 homens que estavam na praia juntaram seus arcos e flechas e se prepararam para um encontro com os desconhecidos. De onde viriam os recém-chegados? De uma ilha ou de alguma terra além-mar? Vinham provavelmente da Terra Sem Males, julgaram os mais experientes: o lugar onde todos eram felizes e ninguém morria, e que ficava para lá da imensidão das águas salgadas. Os nativos avançaram cautelosamente e, após alguma hesitação, depuseram as lanças. Elas acomodaram-se nas claras areias da praia. Uma nova era estava se iniciando em Pindorama, a Terra das Palmeiras. Um velho mundo estava prestes a desaparecer. 

O Primeiro Encontro 

Os homens que estavam nos navios eram portugueses. Um mês e meio antes, tinham partido de Lisboa em direção à longínqua Índia. Ainda não é possível afirmar se chegaram àquela praia ensolarada por vontade própria ou por um desvio de rota, mas o mais provável é que o desembarque tenha sido intencional. Os portugueses estavam vestidos, usavam barbas, tinham armas de fogo e ferro e já haviam encontrado e conquistado vários povos e várias terras. Seu objetivo era conquistar a Índia, mas eles aproveitaram para tomar posse daquele novo território e incluí-lo em seu vasto império ultramarino. Evidentemente, o fizeram sem consultar os homens que estavam na praia. 

Os homens que estavam na praia eram Tupiniquins. Uns dois mil anos antes, tinham partido dos vales dos rios Madeira e Xingu (afluentes da margem direita do Amazonas), em busca de uma longínqua terra Sem Males. Não a acharam, mas acharam Pindorama, a Terra das Palmeiras. Os Tupiniquim estavam nus, raspavam os pelos e usavam armas de pau e pedra. Com elas, haviam conquistado aquelas praias ensolaradas, expulsando para o sertão os antigos senhores da costa, os Tapuias. Na manhã de 23 de abril de 1500, a visão dos homens que estavam na praia e a visão dos homens que estavam na proa começaram a se fundir. Dali iria nascer um novo mundo, chamado Brasil. 

* Os portugueses eram europeus e cristãos. A vela de seus navios era adornada pela cruz da Ordem de Cristo. Eles acreditavam na existência de um paraíso na Terra e, naquela manhã, alguns deles devem ter acreditado que tinham chegado lá. 

Do livro:

 “Brasil: Terra à vista!

A Aventura Ilustrada do Descobrimento”,

de Eduardo Bueno. 

terça-feira, 23 de agosto de 2022

Cem anos de Liberdade, Realidade ou Ilusão*

 

(1888 – 1988) 

Compositores: Hélio Turco, Jurandir e Alvinho 

O negro samba,
Negro joga capoeira,
Ele é o rei da Verde e Rosa da Mangueira. (bis)
 

Será?

Será que já raiou a liberdade,

Ou se foi tudo ilusão.

Será?

Que a Lei Áurea tão sonhada,

Há tanto tempo assinada,

Não foi o fim da escravidão.

Hoje, dentro da realidade,

Onde está a liberdade?

Onde está que ninguém viu? 

Moço,

Não se esqueça que o negro também construiu

As riquezas do nosso Brasil! (bis) 

Pergunte ao criador?

Pergunte ao Criador?

Quem pintou esta aquarela?

Livre do açoite da senzala,

Preso na miséria da favela? (bis) 

Sonhei...

Sonhei que Zumbi dos Palmares voltou,

A tristeza do negro acabou,

Foi uma nova redenção. 

Senhor, ai Senhor!
Eis a luta do bem contra o mal,
Que tanto sangue derramou
Contra o preconceito racial. (bis)

O negro samba,
Negro joga capoeira,
Ele é o rei da Verde e Rosa da Mangueira.

* Samba-Enredo de 1988 − 100 Anos de Liberdade, Realidade ou Ilusão, da  G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (Rio de Janeiro). Esta música está na internet na voz do saudoso José Bispo Clementino dos Santos, mais conhecido como Jamelão (Rio de Janeiro, 12 de maio de 1913 − Rio de Janeiro, 14 de junho de 2008), foi um cantor brasileiro, tradicional intérprete dos sambas-enredo da Escola de Samba Mangueira.

Nós? Complicadas? Será?

 

Se a gente se insinua, é uma mulher atirada;

Se a gente fica na nossa, está dando uma de difícil.

Se a gente aceita transar no início do relacionamento, é uma mulher fácil;

Se a gente não quer ainda, está fazendo c... doce.

Se a gente põe limitações no namoro, é autoritária;

Se concorda com o que o namorado diz, é uma alienada sem opinião.

Se a mulher batalha por estudos e profissões, é uma ambiciosa;

Se não está nem aí pra isso, é uma dondoca.

Se a gente adora falar em política e economia, é feminista;

Se não se liga nesses assuntos, é desinformada.

Se a mulher corre pra matar uma barata, não é feminina;

Se corre de uma barata, é uma medrosa.

Se a gente aceita tudo na cama, é vagabunda;

Se não aceita, é fresca.

Se a gente ganha menos que o homem, é pra ser sustentada;

Se ganha mais que o homem, é pra jogar na cara deles.

Se a gente adora roupas e cosméticos, é narcisista;

Se não gosta, é desleixada.

Se sai mais cedo do trabalho, é folgada;

Se sai mais tarde, está dando pro chefe.

Se faz hora extra, é gananciosa.

Se gosta de novelas na TV, é fútil;

Se gosta de livros, está dando uma de intelectual.

Se a gente se chateia com alguma atitude dele, é uma mulher mimada;

Se aceita tudo o que ele faz, é submissa.

Se a gente quer ter quatro filhos, é uma louca inconsequente;

Se só quer ter um, é uma egoísta que não tem senso maternal.

Se a gente gosta de rock, é uma doida chapadeira;

Se gosta de música romântica, é brega;

Se gosta de música eletrônica, é porra-louca.

Se a gente usa sainha curta, é vulgar;

Se usa saia comprida, é crente.

Se a gente está branca, eles dizem pra gente pegar uma corzinha;

Se está bem bronzeada, eles dizem que preferem as mais clarinhas.

Se a gente faz cena de ciúme, é uma neurótica;

Se não faz, não sabe defender seu amor.

Se a gente fala mais alto que ele, é uma descontrolada;

Se a gente fala mais baixo, é subserviente.

E depois vem dizer que mulher é que é complicada...

 Fala Sério!!!


Baile da Saudade...

 Giuseppe Martinelli

“Senhorita, permita-me esta dança?”.

Era assim que antigamente se usava,

O “cavalheiro” convidando a dama;

Oferecia a mão e a levava ao centro do salão.

Ao som da orquestra, se preparavam

A dançar aquele lindo samba-canção.

Delicadamente, puxava-a contra o peito,

E balançavam os corpos de rostos colados. 

Esfregando as coxas, disfarçadamente,

No balanço da dança... o calor subia;

A emoção despejava adrenalina...

E o corpo dela todo... estremecia... 

Naquele vai-e-vem do samba-canção,

Os corações ficavam batendo a mil.

Ainda mais forte tornava-se o abraço,

E ele, ao ouvido, a falar-lhe de amor... 

Terminada a dança e ele acompanhava

A moça de volta lá no seu lugar;

Ela pegava sua bolsa e corria para toalete,

E ele voltava ao bar a tomar sua cuba-libre... 

Hoje em dia, os bailes são diferentes...

Mudou bastante desde minha juventude.

Respeito e não critico “os novos tempos”,

Mas eu ainda prefiro o “Baile da Saudade”... 

Guarapuava, janeiro de 2006.

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Os moradores de rua

 Luiz Coronel

Perdão por não vos oferecer

o CEP (código de endereço

postal) dos moradores de rua. 

Eles habitam a proteção

das marquises, vão de elevadas

e investem nos bancos de praça. 

Para eles, as estrelas

são goteiras e o sol, seu

manto, poncho e sobretudo*. 

Eles lembram os caracóis.

Formam uma cidade

de nômades pelo deserto

humano das ruas. 

Cobrem-se com jornais

que noticiam a produção

de duas toneladas de grãos

por habitante e a cotação

do dólar na bolsa de valores. 

Romeu e Julieta,

Dante e Beatriz,

não passam

de simples namoriscos

se comparados à relação

do morador de rua e seu cão. 

Ambos estão presos

à coleira. O cão, a seu dono,

e o morador de rua, à pobreza

e à indiferença dos senhores

que emitem emendas

e discursos nos luminosos

palácios do poder.

(Correio do Povo, agosto de 2022) 

* Sobretudo, no Sul, é uma espécie de casacão de lã.