quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Imortalidade d’alma

 Uberto Rhodes

 Conhece-te a ti próprio e serás imortal...

Alguns séculos antes de Cristo, vivia, em Atenas, o grande filósofo Sócrates. A sua filosofia não era uma teoria especulativa, mas a própria vida que ele vivia. Aos setenta e tantos anos foi Sócrates condenado à morte, embora inocente. 

Enquanto aguardava no cárcere o dia da execução, seus amigos e discípulos moviam céus e terra para o preservar da morte. O filósofo, porém, não moveu um dedo para esse fim; com perfeita tranquilidade e paz de espírito aguardou o dia em que ia beber o veneno mortífero. 

Na véspera da execução, conseguiram seus amigos subornar o carcereiro (desde daquela época já existia essa prática...), que abriu a porta da prisão. Críton, o mais ardente dos discípulos de Sócrates, entrou na cadeia e disse ao mestre: 

- Foge depressa, Sócrates! 

- Fugir, por quê? − perguntou o preso. 

- Ora, não sabes que amanhã te vão matar? 

- Matar-me? A mim? Ninguém me pode matar! 

- Sim, amanhã terás de beber a taça de cicuta mortal − insistiu Críton. 

- Vamos, mestre, foge depressa para escapares à morte! 

- Meu caro amigo Críton − respondeu o condenado − que mau filósofo és tu! Pensar que um pouco de veneno possa dar cabo de mim... 

Depois puxando com os dedos a pele da mão, Sócrates perguntou: 

- Críton, achas que isto aqui é Sócrates? 

E, batendo com o punho no osso do crânio, acrescentou: 

- Achas que isto aqui é Sócrates?... Pois é isto que eles vão matar, este invólucro material; mas não a mim. Eu sou a minha alma. Ninguém pode matar Sócrates!... 

E ficou sentado na cadeia aberta, enquanto Críton se retirava, chorando, sem compreender o que ele considerava teimosia ou estranho idealismo do mestre. 

No dia seguinte, quando o sentenciado já bebera o veneno mortal e seu corpo ia perdendo aos poucos a sensibilidade, Críton perguntou-lhe, entre soluços: 

- Sócrates, onde queres que te enterremos? 

Ao que o filósofo, semiconsciente, murmurou: 

- Já te disse, amigo, ninguém pode enterrar Sócrates... Quanto a esse invólucro, enterrai-o onde quiserdes. Não sou eu... Eu sou minha alma... 

E assim expirou esse homem, que tinha descoberto o segredo da Felicidade, que nem a morte lhe pôde roubar. 

Conhecia-se a si mesmo,

o seu verdadeiro eu divino.

Eterno. Imortal... 

Assim somos todos nós seres Imortais, pois somos Alma, Luz, Divinos, Eternos... 

Nós só morremos, quando somos simplesmente Esquecidos...

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