Irmão Inácio, frade laico, diariamente recolhia a esmola para o Convento. Passava de bom grado pelas casas dos pobres, porque os humildes, o que lhe davam, era de coração; porém, a um tabelião chamado Franco nunca pedia, porque sabia que era homem sem compaixão, que sugava o sangue dos pobres.
Um dia o tabelião Franco, ofendido com o irmão Inácio, porque evitava sua casa, foi ao convento queixar-se ao Prior por tanta desconsideração.
- Parece-lhe, padre, que eu seja pessoa assim desprezível?
O Prior pediu que se tranquilizasse, dizendo que já havia pensado em orientar o Irmão Inácio; o tabelião se acalmou e foi embora.
Quando o Irmão Inácio voltou ao convento, o Prior o chamou e o repreendeu.
- Que maneira é essa de tratar o tabelião Franco? Amanhã vai a casa dele e traga tudo o que ele te der.
Irmão
Inácio ficou quieto e baixou a cabeça. Na manhã seguinte, esteve na casa do
tabelião, e Franco encheu a mala de garupa com tantas boas coisas que Deus dá.
Irmão Inácio carregou a mala nas costas e se pôs a caminho do convento. Ao
primeiro passo, uma gota de sangue pingou da mala, depois outra, e outras mais
ainda. As pessoas no caminho, vendo o irmão
- Coleta gorda, hoje, para o Irmão Inácio.
À noite, os padres preparam um jantar daqueles. E Irmão Inácio, calado, continuava a caminhar, deixando atrás de si um rastro de sangue.
No convento, os frades, vendo-o chegar com todo aquele sangue, diziam:
- Irmão Inácio já nos traz carne pela manhã. Carne fresca. − Abriram a mala de garupa e não havia carne. – E aquele sangue todo? De onde veio?
- Não se espantem, − interrompeu o Irmão Inácio. – O sangue sai mesmo da mala, porque a esmola que o tabelião Franco dá não é fruto de seu trabalho, mas sangue dos pobres que ele suga.
Daquele dia em diante, Irmão Inácio nunca mais foi ao tabelião pedir esmola.
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É a fábula nº. 191 de “Fiabe Italiane” de Ítalo Calvino, recolhida por ele em Caglari.
Nota do livro: ”Irmão Inácio nasceu em Laconi e seu nome é ainda popularíssimo em Caglari e em lugarejos de Campidano. Foi irmão arrecadador do convento dos capuchinhos e dele ainda se conservam o leito, o terço e o crucifixo; foi declarado venerável e os “caglaritanos” tem por ele a mesma veneração que a um santo.”
(Colaboração de
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