Um assassino em série brasileiro
Febrônio Índio do Brasil (1895−1984)
acreditava ser o “Filho da Luz”. Sua missão era atacar e marcar jovens com
tatuagens purificadoras.
Retrato Falado: o serial killer tatuador brasileiro
Por Danilo Cezar
Cabral*
01. Febrônio Índio do Brasil era
o segundo filho de uma família com 14 irmãos. Natural de Jequitinhonha (MG),
aos 21 anos já demonstrava ter tendências criminosas, com seus pequenos furtos,
roubos, fraudes, chantagens e vadiagem. Desde jovem, já colecionava idas e
vindas na cadeia.
02. Em 1920, durante uma de suas
prisões, na Colônia Correcional de Ilha Grande, no Rio de Janeiro, ele teve uma
visão: uma mulher loira o batizou de “Filho da Luz” e disse que sua missão na
Terra era purificar os jovens, marcando-os com tatuagens.
03. Após sair da cadeia, em 1921,
mudou o nome para Bruno Ferreira Gabina, usando um diploma roubado de um
dentista – que nunca mais foi visto. No mesmo ano, mudou-se para a Bahia e,
depois, para o Espírito Santo. Lá, exercendo a função de médico, foi
responsabilizado pela morte de duas crianças e fugiu para o Rio de Janeiro.
04. Na capital carioca, começou a
ter delírios. Em outubro de 1926, foi preso enquanto dançava sem roupa no topo
do Pão de Açúcar. No Hospital Nacional de Psicopatas, Índio foi diagnosticado
com distúrbios mentais. Por não ter condições financeiras, recebeu alta e ficou
à solta novamente.
05. Em janeiro de 1927, foi encarcerado
mais uma vez e atacou sexualmente dois jovens em sua cela. Um terceiro detento,
Djalma Rosa, tentou resistir e acabou espancado até a morte. O assassinato foi
considerado um acidente e Febrônio foi liberado de novo.
06. Meses depois, outra
alucinação o levou de volta à prisão. Pintado de amarelo, ele foi flagrado
dançando pelado em frente a um garoto amarrado em uma árvore, no Corcovado. O
episódio, somado ao depoimento de uma testemunha, que presenciou Febrônio
cozinhando a cabeça de um defunto, lhe rendeu outra visita ao Hospital Nacional
de Psicopatas.
07. Índio escapou do hospício
semanas após ser internado. E levou consigo dois garotos de 17 anos. Seguindo
as revelações da loira de seus sonhos, ele tatuou no peito dos meninos as
letras DCVXVI – que significam Deus, Caridade, Virtude,
Santidade, Vida e Ímã da Vida. Depois do ritual, ambos conseguiram escapar do psicopata.
Jacob Edelman, sobrevivente a
ataque de Febrônio Índio do Brasil, acusado de matar e estuprar garotos no Rio
de Janeiro na década de 30. Febrônio tatuou no rapaz a inscrição DCVXVI, que,
segundo o criminoso, significava “o Deus vivo”.
08. Ele foi detido mais uma vez,
ao tatuar um garoto de 18 anos nas ruas do Rio de Janeiro. Mas o rapaz
desapareceu e Índio foi liberado por falta de provas. Saiu da prisão usando uma
farda azul e um boné de marca furtados. O look peculiar chamou a atenção da
polícia.
09. Em liberdade, ele atacou e
tatuou um rapaz de 20 anos, Altamiro José Ribeiro. O jovem tentou resistir, mas
foi estrangulado com um cipó. Dois dias depois, Febrônio tatuou um garotinho de
10 anos, “Jonjoca” Ferreira, estuprado e morto em Jacarepaguá.
10. Investigadores encontraram o
corpo de Altamiro e, ao lado dele, recolheram um boné. O acessório foi
reconhecido pelo policial que fez o registro da última prisão de Índio. E a
identidade foi confirmada pelos pais de “Jonjoca”. Após uma perseguição, o
criminoso foi preso em uma estação de trem em Barão de Mauá. Ao confessar dois
de seus crimes, ele alegava ter oferecido a vida das vítimas em holocausto a
Deus.
Febrônio, à direita,
sentado, depondo numa delegacia.
Que fim levou?
Febrônio foi enviado ao Manicômio
Judiciário do Rio. Em 1935, ele tentou uma última fuga, mas foi capturado no
mesmo dia. Quarenta e nove anos depois, aos 89, morreu de enfisema pulmonar na
instituição, em 27 de agosto de 1984. Seu corpo foi discretamente inumado em 5
de setembro de 1984, no Cemitério do Caju.
FONTES: Sites Rede Globo e Serial Killer e livro Arquivo
Serial Killers, de Ilana Casoy.
*Revista Super Interessante, de julho de 2018.
P.S. Do seu livro ‘Revelações do
Príncipe de Fogo’, só restou uma cópia, que está na biblioteca particular de
Mario de Andrade, no Instituto de Estudos Brasileiros, na Universidade de São
Paulo.