Estas cartas − selecionadas entre
as publicadas no Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, nʼA Província de
S.Paulo na semana que antecedeu a Proclamação da República, no dia 15 de
novembro de 1889 − atestam o marasmo existente no país nesse período.
Venda de esposa
Por 3 contos de réis cedeu
anteontem um marido sua “cara-metade” a terceiro, obrigando-se aquele a
retirar-se para a Europa. É necessário dizer que nenhum dos negociantes nem a
“negociada” são filhos deste país. Caftismo de novo gênero.
São Paulo, SP
Saída rápida
Fui ontem chamado à defesa de
tese que apresentei à congregação do Imperial Colégio de Pedro II no concurso
para o provimento da cadeira de Inglês. Achando-me inscrito em quinto lugar
sabendo que seríamos chamados pela ordem de inscrição, pedi licença ao senhor
inspetor para ir à farmácia tomar um remédio, visto achar-me incomodado. Logo
depois fui surpreendido pelo aviso de que eu havia sido chamado antes da
ocasião que me competia. O senhor inspetor recusou-se a receber minha
reclamação. Peço providências a quem competir.
Jasper L. Harben, Rio
de Janeiro, RJ
Aos senhores fazendeiros
Um professor português, recém-chegado a esta cidade, deseja
empregar-se em qualquer fazenda desta província. Tem longa prática no
magistério primário e prontifica-se a habilitar alunos para exame tanto de
Português como de Aritmética, Geografia e História. Cartas para a Rua Duque de
Caxias, 81.
DFS, Rio de Janeiro,
RJ
Mulher branca
Precisa-se de uma mulher branca
para cozinhar em casa de um casal sem filhos. Rua dos Carmelitas, 13.
São Paulo, SP
Animais fugidos
Duas bestas, no dia 22 de
setembro, uma de pelo claro, com marca T do lado esquerdo e alguns sinais de
relho na perna esquerda, e a outra preta meio azulenga. Quem as trouxer em
minha residência, Rua Vergueiro, 10, gratificarei com 30 000 réis.
José Joaquim de
Oliveira, São Paulo, SP
O crime impune
Quando é que a justiça desta
comarca vai finalmente firmar o processo em que é réu Benedito de tal? Ele
matou com um tiro de pistola um mendigo demente, que não fazia mal a pessoa
alguma. No entanto, faz quatro anos que se deu o fato criminoso e o processo se
acha com uma pedra em cima, nas poeiras do cartório, sem andamento algum. O
criminosos mora na fazenda do Turvinho, na beira da estrada, e sob o arrimo de
um mandão de aldeia. Justiça pede o sangue gotejante da vítima!
Lençóis, SP
(Veja Edição Especial,
de 15 de novembro de 1989
– 100 anos da República)
– 100 anos da República)
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