quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Plácidos problemas cotidianos



Estas cartas − selecionadas entre as publicadas no Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, nʼA Província de S.Paulo na semana que antecedeu a Proclamação da República, no dia 15 de novembro de 1889 − atestam o marasmo existente no país nesse período.

Venda de esposa

Por 3 contos de réis cedeu anteontem um marido sua “cara-metade” a terceiro, obrigando-se aquele a retirar-se para a Europa. É necessário dizer que nenhum dos negociantes nem a “negociada” são filhos deste país. Caftismo de novo gênero.

São Paulo, SP

Saída rápida

Fui ontem chamado à defesa de tese que apresentei à congregação do Imperial Colégio de Pedro II no concurso para o provimento da cadeira de Inglês. Achando-me inscrito em quinto lugar sabendo que seríamos chamados pela ordem de inscrição, pedi licença ao senhor inspetor para ir à farmácia tomar um remédio, visto achar-me incomodado. Logo depois fui surpreendido pelo aviso de que eu havia sido chamado antes da ocasião que me competia. O senhor inspetor recusou-se a receber minha reclamação. Peço providências a quem competir.

Jasper L. Harben, Rio de Janeiro, RJ

Aos senhores fazendeiros

Um professor português, recém-chegado a esta cidade, deseja empregar-se em qualquer fazenda desta província. Tem longa prática no magistério primário e prontifica-se a habilitar alunos para exame tanto de Português como de Aritmética, Geografia e História. Cartas para a Rua Duque de Caxias, 81.

DFS, Rio de Janeiro, RJ

Mulher branca

Precisa-se de uma mulher branca para cozinhar em casa de um casal sem filhos. Rua dos Carmelitas, 13.

São Paulo, SP

Animais fugidos

Duas bestas, no dia 22 de setembro, uma de pelo claro, com marca T do lado esquerdo e alguns sinais de relho na perna esquerda, e a outra preta meio azulenga. Quem as trouxer em minha residência, Rua Vergueiro, 10, gratificarei com 30 000 réis.

José Joaquim de Oliveira, São Paulo, SP

O crime impune

Quando é que a justiça desta comarca vai finalmente firmar o processo em que é réu Benedito de tal? Ele matou com um tiro de pistola um mendigo demente, que não fazia mal a pessoa alguma. No entanto, faz quatro anos que se deu o fato criminoso e o processo se acha com uma pedra em cima, nas poeiras do cartório, sem andamento algum. O criminosos mora na fazenda do Turvinho, na beira da estrada, e sob o arrimo de um mandão de aldeia. Justiça pede o sangue gotejante da vítima!

Lençóis, SP

(Veja Edição Especial, de 15 de novembro de 1989
 – 100 anos da República)

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