Este é um conto tradicional da
região da cidade do Porto, que eu próprio ouvi muitas vezes quando era criança.
Era uma vez uma formiga que andava na neve, entregue aos seus afazeres. A dado momento, a formiga ficou com uma pata presa na neve e, por mais esforços que fizesse, não conseguia libertá-la.
A formiga virou-se para a neve e pediu-lhe:
− Ó neve, tu és tão forte que o meu pé prendes. Liberta o
meu pezinho.
A neve respondeu-lhe:
− Não posso. Mais forte do que eu é o sol que me derrete.
A formiga virou-se para o sol e pediu-lhe:
− Ó sol, tu és tão forte que derretes a neve que o meu pé prende. Liberta o meu
pezinho.
O sol respondeu-lhe:
− Não posso. Mais forte do que eu é a nuvem que me tapa.
A formiga virou-se para a nuvem e pediu-lhe:
− Ó nuvem, tu és tão forte que
tapas o sol que derrete a neve que o meu pé prende. Liberta o meu pezinho.
A nuvem
respondeu-lhe:
− Não posso. Mais forte do que eu é o vento que me empurra.
A formiga virou-se para o vento e pediu-lhe:
− Ó vento, tu és tão forte que
empurras a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende. Liberta
o meu pezinho.
O vento respondeu-lhe:
− Não posso. Mais forte do que eu é a parede que me impede.
A formiga virou-se para a parede e pediu-lhe:
− Ó parede, tu és tão forte que
impedes o vento que empurra a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu
pé prende. Liberta o meu pezinho.
A parede respondeu-lhe:
− Não posso. Mais forte do que eu é o rato que me fura.
A formiga virou-se para o rato e pediu-lhe:
− Ó rato, tu és tão forte que
furas a parede que impede o vento que empurra a nuvem que tapa o sol que derrete
a neve que o meu pé prende. Liberta o meu pezinho.
O rato respondeu-lhe:
− Não posso. Mais forte do que eu é o gato que me papa.
A formiga virou-se para o gato e pediu-lhe:
− Ó gato, tu és tão forte que
papas o rato que fura a parede que impede o vento que empurra a nuvem que tapa
o sol que derrete a neve que o meu pé prende. Liberta o meu pezinho.
O gato respondeu-lhe:
− Não posso. Mais forte do que eu é o cão que me morde.
A formiga virou-se para o cão e pediu-lhe:
− Ó cão, tu és tão forte que
mordes no gato que papa o rato que fura a parede que impede o vento que empurra
a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende. Liberta o meu
pezinho.
O cão respondeu-lhe:
− Não posso. Mais forte do que eu é o pau que me bate.
A formiga virou-se para o pau e pediu-lhe:
− Ó pau, tu és tão forte que
bates no cão que morde no gato que papa o rato que fura a parede que impede o
vento que empurra a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé
prende. Liberta o meu pezinho.
O pau respondeu-lhe:
− Não posso. Mais forte do que eu é o fogo que me queima.
A formiga virou-se para o fogo e pediu-lhe:
− Ó fogo, tu és tão forte que
queimas o pau que bate no cão que morde no gato que papa o rato que fura a
parede que impede o vento que empurra a nuvem que tapa o sol que derrete a neve
que o meu pé prende. Liberta o meu pezinho.
O fogo respondeu-lhe:
− Não posso. Mais forte do que eu é a água que me apaga.
A formiga virou-se para a água e pediu-lhe:
− Ó água, tu és tão forte que
apagas o fogo que queima o pau que bate no cão que morde no gato que papa o
rato que fura a parede que impede o vento que empurra a nuvem que tapa o sol
que derrete a neve que o meu pé prende. Liberta o meu pezinho.
A água respondeu-lhe:
− Não posso. Mais forte do que eu é o homem que me bebe.
A formiga virou-se para o homem e pediu-lhe:
− Ó homem, tu és tão forte que
bebes a água que apaga o fogo que queima o pau que bate no cão que morde no
gato que papa o rato que fura a parede que impede o vento que empurra a nuvem
que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende. Liberta o meu pezinho.
O homem respondeu-lhe:
− Não posso. Mais forte do que eu é Deus que me governa.
A formiga virou-se então para Deus e pediu-lhe:
− Ó Deus, tu és tão forte que
governas o homem que bebe a água que apaga o fogo que queima o pau que bate no
cão que morde no gato que papa o rato que fura a parede que impede o vento que
empurra a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende. Liberta
o meu pezinho.
Deus, que tudo pode, libertou o
pezinho da formiga. Esta agradeceu e foi toda contente para casa.
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