sábado, 31 de agosto de 2019

Mulheres quando estiverem voltado para casa sozinhas



1. Faça um coque, quando estão de cabelos soltos é mais fácil alguém puxar vocês por trás.

2. Não andem coladas em muros, alguém pode estar atrás deles e puxar vocês.

3. Andem com mochilas e bolsa na frente, é mais fácil alguém puxar vocês por trás também.

4. Não andem com objetos de valor à mostra, joias, relógios, celular, etc.

5. Não andem com fones de ouvido, se alguém se aproximar  de você é bem difícil de perceber.

6. Andem com guarda-chuva, ou algo que sirva para bater, nas mãos. Pasmem: estupradores considerem mulheres com objetos nas mãos mais difíceis de pegar.

7. Andem olhando para trás de vez em quando, se virem que tem alguém atrás de vocês, acelerem o passo... Se essa pessoa acelerar o passo também, corram e gritem: Fogo! Se gritarem “socorro” não vão abrir a porta por medo. Isso mesmo, façam um escândalo! Se estiverem em uma rua sem casa, corram muito!

8. Se o caminho menos seguro demorar 5 minutos e o mais seguro demorar 30, optem sempre pelo mais seguro, 25 minutos custam sua vida.


Forma incorreta de andar na rua: Bolsa atrás, olhando o celular.

P.S. Este texto, do Almanaque Cultural Brasileiro, é o menos lido, principalmente pelas... mulheres!

Ele, também, não foi feito para ser lido por mulheres de classe média, que andam de carro, mas para as mulheres do povo, que andam na periferia, nas madrugadas, por ruas estreitas, indo sozinhas para o trabalho.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Receita de vida

Eunice Jacques


Pega-se um quilo de farinha de trigo especial, um ovo, uma colher de sopa de açúcar e outra, de igual tamanho, com sal.

Debruçada no desafio, me vejo a fazer meu primeiro pão. A receita havia anotado enquanto Nietta fazia o seu próprio pão para me ensinar como era. Há tempos me surgiu essa vontade, de produzir o alimento bíblico, de fazê-lo com as minhas próprias mãos.

(E te dar, meu amor do desde sempre, como alimento o trigo que em algum lugar colhi com o meu afeto.)
  
 Depois, prepara-se um leite morno e esperto e esfarelam-se dois tabletes de fermento.

(Dois, paixão, são dois. Nem precisaria de um para meu carinho crescer quando tão seguido penso em ti.)

Também é necessário meia xícara de óleo.

Tudo vai para uma bacia onde, por final, se coloca o leite até grudar.

(Já te falei que a minha vida está presa à tua?)

Então, é preciso botar a mão na massa, literalmente. E sovar, e virar, e bater. E a massa vai ganhando contornos e aparências e resultados. E eu me encanto de ver o que produzo.

Percebo que existe um bocadinho de farinha na minha roupa e me preocupo com as mãos ocupadas, que são as minhas.

(Seria bom se já estivesses perto para tirar toda essa poeira da minha saudade.)

Em seguida é preciso cobrir a massa e deixar que cresça, que dobre o próprio volume.

(Queres saber? Hoje já te quero o dobro do que te queria ontem.)

Quando essa parte se completa, é obrigatório dividir aquele inchado monte em três e trabalhar cada parte separadamente.

(Ah, isso é difícil. Como posso dividir em três um afeto que é único e exclusivo e indispensável?)

Então, cada gordo pedaço vai para fôrmas untadas, deixando espaços entre a massa e o alumínio para que ela duplique de tamanho outra vez.

Dá-se um tempo para esse acontecimento e, mais tarde, liga-se o forno e se deixa que aqueça. O calor não pode ser muito forte, e nem pode ser muito fraco.

(Ora, isso eu não compreendo. Como posso ser tão fraca se te amo assim tão forte?)

Tão logo estejam cozidos, tomam-se os pães multiplicados, esparge-se água bem em cima, ou um lambuzado de gema. O alimento está pronto.

(O perfume fresco e quente da obra que terminei de fazer me atinge com intensidade da vida. E escolho o pão que te darei para comer, fatia por fatia lambuzada de geleia, na parte ainda melhor da minha própria receita.)

(Crônica do jornal Zero Hora, publicada em 1996)

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Assim fica fácil...

Uma informação, por favor...


− Bom dia...

− Dia...

− A senhora sabe me informar onde fica a casa do Seu Laurindo, por aqui?

− Lau... O quê?

− Laurindo... Que trabalha na Casa Pena...

− Ah, o sô Lôrino da dona Figena...

− Isso! A Esposa dele é dona Efigênia...

− Sei sim...

− Pode, por favor, me dizer onde é?

 − Óia... É facim da sinhora achá... É só i reto aqui toda vida. Lá na frente vira pra banda de lá... Vai reto, reto, reto. Condo chegá perto du’a arve de flô vermêia, tem uma casa cum’a caxa d’água e um muro cumpriiiiiiiiiido...

 − Ah... É lá?

 − Ih, não! A sinhora inda tá longe... Anda mais pra diente... Vira pra ôta banda e segue. Onde caba as pedra da rua tem um barzim qui vende verdura. Aí é só priguntá que o home de lá sabe o resto...

 − Hum... Facinho! Até mais...

− Té...

*****

Texto de Marina Alves
Lagoa da Prata − Minas Gerais

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

A Bahia Canta a Sua Santa



O projeto “A Bahia Canta a Sua Santa” surgiu de uma forma inexplicável, assim como acontecem as coisas para quem tem fé, não é mesmo? De um jantar no hotel Fasano que reuniu nomes como Durval Lelys, Licia Fabio e Nizan Guanaes e outros artistas surgiu a ideia de gravar uma canção em homenagem à Irmã Dulce que, posteriormente, pudesse ser monetizada e ter o valor revertido para as Obras Sociais que levam o nome da santa baiana.

A Bahia inteira canta
para celebrar Nossa Santa,
que cuidou de nós.

Tocam sinos e atabaques
de um povo que viu seus milagres,
foste a voz daqueles que não têm voz.

Pequena e tão Gigante,
Mãe desses Filhos de Ghandi,
que entram em Roma,
soltando as pombas,
pomba da paz.

Ouve teu povo cantando
nas portas do Vaticano.
Ele tem fé,
ele tem axé,
ele veio a pé.

É a Bahia que canta,
Santa Dulce, a Nossa Santa,
que está no céu
cuidando da gente,
diariamente...


P.S. O áudio com a interpretação de vários cantores baianos está na internet. A letra está completa cantada por Margareth Menezes.

Dulce

Neste tempo de demofobia e radicalismos, saiu um bom livro para a alma. É “Irmã Dulce, a Santa dos Pobres”, do jornalista Graciliano Rocha. Ela será canonizada no dia 13 de outubro pelo Papa Francisco. Seu primeiro milagre salvou uma gestante que se esvaia em sangue. No segundo, devolveu a visão a um homem que a perdera havia 14 anos. A narrativa de Graciliano nos dois casos é emocionante.

O maior milagre de Santa Dulce (1914-1992) foi ajudar os pobres da Bahia, invadindo casas desocupadas ou atraindo milionários como Norberto Odebrecht e poderosos como José Sarney.

Certo dia, ela pediu dinheiro a um comerciante e levou uma cusparada. Limpou-se e disse:

− Isso é para mim, agora o que o senhor vai dar para meus pobres?

(Da coluna de Élio Gaspari, no Correio do Povo, setembro de 2019)

O grande payador dos Pampas


Jayme Caetano Braun

1924 − 1999


E um dia, quando souberes
Que este gaúcho morreu,
Nalgum livro serás eu
E nesse novo viver
Eu somente quero ser
A mais apagada imagem
Deste Rio Grande selvagem
Que até morto hei de querer!”

“O Jayme se constitui no panorama da literatura gaúcha como um dos mais expressivos da temática nativa. Ele englobava os grandes problemas universais e não se restringia a assuntos galponeiros. O Jayme, embora se dissesse um nativista, era um grande versejador. É um dom divino colocar o tema da terra nos questionamentos universais.”

Paixão Côrtes, folclorista

Trechos de poemas de Jayme Caetano Braun

Quando piá, foi o prazer
Que nunca troquei por outro
Saltar no lombo dum potro
Quando a manada saía
Artes que a gente fazia,
Se acaso estava solito
E depois pregava o grito
Quando o bagual se perdia!

(trecho de Gineteando)

Bendita china gaúcha
Que és a rainha do pampa
E tens na divina estampa
Um quê de nobre e altivo.
És o perfume, és lenitivo
Que nos encanta e suaviza
E num minuto escraviza
O índio mais primitivo.

(trecho de China)

Meu patrício, aí foi o mate
Vá chupando, despacito
Que é triste matear solito
Quando a velhice nos bate.
Por isso, neste arremate,
Que chegou num arrepio,
Meu velho peito vazio
Que já teve tanta dona
Ressonga que nem cordeona
Nos bailes do rancherio.

 (trecho de Mateando)


Mas que importa a diferença
Entre uma cruz falquejada
E a minha tumba marmorizada
De quem viveu na opulência?
Que importa a cruz da indigência
A quem não vive mais,
Se todos somos iguais
Depois que finda a existência?
Que importa a coroa fina
E a vela de esparmacete?
Se entre o varais do teu brete
Nada mais tem importância?
Um patrão, um peão de estância
Um doutor, uma donzela?
Tudo, tudo se nivela
Pela insignificância.

(trecho do poema Cemitério de Campanha)


Monumento Jayme Caetano Braun

São Luiz Gonzaga, Rio Grande do Sul − Está localizado no trevo da CESA, BR 285, onde foi construída uma Praça com traçado em J e B iniciais do seu nome.

Jayme Guilherme Caetano Braun: Timbaúva (hoje Bossoroca), na época distrito de São Luiz Gonzaga, RS, 30 de janeiro de 1924Porto Alegre, RS, 8 de julho de 1999) foi um renomado payador e poeta do Rio Grande do Sul, prestigiado também na Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. Era conhecido como El Payador e por vezes utilizou os pseudônimos de Piraj, Martín Fierro, Chimango e Andarengo.

Da morte de Jayme Caetano Braun

“Quem partiu agora não foi um homem, mas uma bandeira de cultura. Jayme foi um homem ímpar. Me sinto honrado de ter sido contemporâneo dele. Estou sozinho. Como se tivesse perdido uma das coisas mais importante da minha vida.”

Lúcio Yanel, músico

domingo, 25 de agosto de 2019

Obra-prima da poesia breve*



Maria remexe nos seus guardados e encontra uma velha foto em que ela e seu ex-amor dançam. Ele está falando algo que parece ser: − Te amo, Maria. Vê-lo outra vez a desconcerta e ela acaba fazendo o que fazem os bêbados da madrugada: Liga para ele, mas ele não atende. A ligação cai na secretária eletrônica. Ela, ofegante, faz confissões confusas de paixão desfeita, desliga e pensa que será engraçado, se ele tiver outra mulher. Então, recorda-se do amargo da separação, quando prometeu que nunca mais o beijaria. Seus olhos, que ainda fitam a foto, começam a marejar e ela tenta lembrar que música dançavam naquela noite. Supõe que era um bolero, em dezembro dourado e louco. Agora chorando, Maria conclui que ainda o ama, mas, como havia prometido, sabe que nunca mais o beijará. Nunca mais.

De uma crônica de David Coimbra: “Anos dourados e outro nem tanto”,
no jornal  Zero Hora, agosto de 2019

Outra versão

Outra versão

Uma mulher, de nome Maria, mexendo numa gaveta de sua casa, descobre antigas fotografias de sua mocidade. Agora, depois de longo tempo, detém-se numa em especial. Ela está dançando com um jovem muito bonito, alinhado num lindo terno de linho branco. Ele a olha embevecido. Ela, vendo melhor a foto, percebe coisas nunca havia notado antes, como perceber o olhar do rapaz que lhe parece dizer: “Te amo, Maria”. Nota, ainda, que estão felizes pelo olhar de um para o outro. O mês parece que era dezembro... A música parece que era um bolero...

Ela, pela emoção do sentimento inesperado que brota espontâneo do coração, liga emocionada para o telefone do antigo amor, deixando um recado para ele na secretária eletrônica, notando, com graça, que ele pode até estar amando outra mulher.

Começa a se imaginar ao lado do seu antigo amor, e percebe que ainda o ama. Pelo tempo longe um do outro. Chora de tristeza, mas sabe que os anos do namoro da juventude foram anos dourados, sabe que os beijos do antigo namoro nunca mais serão novamente dados. É a vida que segue...

(NSM)


Anos dourados 

1986

Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque de Holanda

Parece que dizes:
Te amo, Maria.*
Na fotografia,
Estamos felizes.
Te ligo afobada
E deixo confissões
No gravador.
Vai ser engraçado,
Se tens um novo amor.

Me vejo a teu lado,
Te amo?
Não lembro...
Parece dezembro,
De um ano dourado.
Parece bolero,
Te quero, te quero.
Dizer que não quero
Teus beijos nunca mais,
Teus beijos nunca mais.

Não sei se eu ainda
Te esqueço de fato.
No nosso retrato,
Pareço tão linda.
Te ligo ofegante
E digo confusões
No gravador.
É desconcertante
Rever um grande amor.

Meus olhos molhados,
Insanos dezembros,
Mas quando eu me lembro,
São anos dourados.
Ainda te quero,
Bolero,
Nossos versos são banais.
Mas como eu espero
Teus beijos nunca mais,
Teus beijos nunca mais.

*A gravação original da série Anos Dourados foi feita para ser cantada por Maria Bethânia.

P.S. A gravação dessa música está na internet na voz de Chico Buarque.


sábado, 24 de agosto de 2019

Os coronéis provisórios



Zeca Neto, sentado, à esquerda

Inicialmente, o posto honorífico de coronel, originário da Guarda Nacional do Império, atribuía-se aos comandantes dos corpos provisórios formados nas revoluções da República Velha. Acabou designando genericamente os latifundiários que controlavam as pequenas cidades do interior e sua população rural. Os grandes coronéis municipais, livres manipuladores de votos, constituíram as oligarquias estaduais que, agindo harmonicamente em São Paulo e Minas Gerais, dominaram a nação, na chamada política café-com-leite. Enquanto isso, os coronéis gaúchos dividiam-se, por razões mais filosóficas que práticas, em ximangos e maragatos. Quando afinal se uniram, lideraram a Revolução de 30.

Houve coronéis de todos os tipos, neles sempre presente, com maior ou menor intensidade, o binômio poder-riqueza. Alguns, entretanto, apresentavam contrastantes e por vezes insuperáveis deficiências culturais. Suas peripécias divertiam por décadas os frequentadores da Rua da Praia e do Largo dos Medeiros, em Porto Alegre
  
Há frases famosas, ditas por comandantes de corpos provisórios a seus soldados. Como a do lacônico coronel Espiridião, em vilarejo perto de Sant′Ana do Livramento, na linha com o Uruguai. Pretendendo motivar a tropa de pés no chão, lanças de bambu e alguns velhos mosquetões, formada à sua frente, bradou:

− Indiada! Aqueles cagado lá do centro do país diz que nóis semo uns baita cobarde. Nóis semo cobarde, Indiada?

− Não! − gritaram todos em coro.

Pues entonces bamo lá, indiada!

*****

O batalhão provisório retornou à cidade depois de longo período de refregas. O coronel deu a última ordem, dispensando-os:

− Os que querem irem indo podem irem indo, no más. Os restante estão deliberados.

*****

O coronel Nabuco raramente saía dos limites de sua fazenda e não tinha qualquer traquejo em assuntos sociais. Atrapalhava-se até quando visitava a vila, dentro de suas terras. As cerimônias mais solenes a que assistira na vida haviam sido cortejos fúnebres, assim mesmo modestos e despojados. Um dia recebeu convite para o casamento da filha de estancieiro de Bagé, grande amigo e companheiro de revoluções; não podia recusar.

Na hora da cerimônia, a igreja lotada, toda a sociedade presente, gente fina e aristocrática, políticos, autoridades, convidados do Uruguai, de Porto Alegre e até do Rio de Janeiro. O sacerdote, em traje de gala, pomposamente fez a clássica pergunta:

− ... E se houver alguém aqui presente que saiba de alguma coisa que impeça este matrimônio, que fale agora ou se cale para sempre...

Nabuco, lá do fundo, depois de olhar para os lados, foi levantando o corpanzil, chapelão seguro nas mãos, enquanto com voz grave e poderosa começou a dizer:

− Eu aqui, por exemplo, na parte que me toca...

Aterrorizados e respiração presa, todos os presentes olharam para ele. Pachorrento, já com jeito de formalidade cumprida, o coronel completou enfaticamente a frase, antes de voltar a sentar-se:

− ... não sei de nada!

Do livro “Anedotário da Rua da Praia 2”
de Renato Maciel de Sá Júnior.

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Um recado ao presidente e a todos os presidentes

Pela ordem, Seu presidente.

de Ary Monteiro e Raimundo Olavo


Linda Batista interpreta

Pela ordem, pela ordem!
Peço a palavra, Seu Presidente!

Vossa Excelência, dá licença,
Quero um aparte para falar.
Quero falar num artigo,
Cadê o trigo, cadê o trigo?
Levam a vida nessa marmelada,
Passa o tempo e não resolvem nada. (bis)

Peço a palavra pela ordem,
Na voz do meu coração.
O povo não tem casa pra morar,
Não tem transporte, não tem carne, nem feijão.
Até das frutas que existiam por aqui,
Só resta agora o abacaxi!

Vossa Excelência, dá licença,
Quero um aparte para falar.
Quero falar num artigo,
Cadê o trigo, cadê o trigo?
Levam a vida nessa marmelada,
Passa o tempo e não resolvem nada.

Disco RCA Victor 80-0551-A. Novembro de 1947. Arquivo Nirez. Coisas que o tempo levou.
Edição sugerida pelo Barão do Pandeiro.

Luciano Hortencio.

(Do Blog GGN – O Jornal de Todos os Brasis)

P.S.1: A gravação dessa música, na voz de Linda Batista, está disponível na internet no Blog citado acima.

P.S.2: Essa música era para o presidente Eurico Gaspar Dutra (1883-1974), que governou o Brasil de 1946 a 1951. Linda Batista era muito amiga de Getúlio Vargas. Alguns diziam até que era mais do que amizade...

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Por que a Cor Azul é usado para meninos e Rosa para meninas?



O rabino Dr. R. Brasch, um estudioso australiano de teologia, história e filosofia, assim como escritor, produtor de rádio e TV e conferencista, adquiriu renome internacional por seus livros How Did It Begin? (Como Tudo Começou?). Fez a seguinte constatação;

Como os bebês se parecem, foi decidido há muito tempo que os sexos seriam identificados pelo uso de cores diferentes. Nos tempos antigos, acreditava-se que os espíritos do mal ameaçavam o bem-estar dos bebês. Diz o Dr. Brasch: “Concluiu-se que a associação do azul com o céu do paraíso tornava as forças satânicas impotentes e as repelia”. Mesmo em nossos tempos, os árabes no Oriente Médio continuam a pintar as portas de suas casas de azul, para afugentar os demônios. Assim, vestir o bebê de azul não era simplesmente um adorno, mas uma precaução necessária.


Por outro lado, como os bebês do sexo feminino eram considerados inferiores, achava-se que não precisavam de cor especial para sua proteção. Posteriormente, os pais começaram a se preocupar com a negligência em relação às meninas e introduziram a cor rosa específica para elas.

(Do “Almanaque Para Todos”,
de Irving Wallace & David Wallechinsky, Parte 2)

Rosa nem sempre foi 'cor de menina' − nem o azul, 'de menino'


“A regra geralmente aceita é que rosa é para os meninos, e azul para as meninas. O motivo é que o rosa, sendo uma cor mais decidida e forte, é mais apropriado para meninos. Enquanto o azul, que é mais delicado e gracioso, é mais bonito para a menina.”

O parágrafo acima foi publicado há cem anos, em 1918, por uma revista de moda infantil americana, a Earnshaw, voltada para profissionais da área. Foi encontrado por Jo Paoletti, professora emérita de Estudos Americanos na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, e autora do livro Pink and Blue: Telling the Boys from the Girls in America (Rosa e Azul: Distinguindo Meninos de Meninas nos Estados Unidos).

“(Encontrar essa frase) virou minhas suposições de cabeça para baixo”, lembra a pesquisadora, em conversa com a BBC News Brasil. Afinal, o rosa nem sempre havia sido uma cor de menina, nem o azul cor de menino.

 “A ideia de que há algo natural e permanente sobre o uso de rosa para as meninas e azul para garotos é historicamente errada”, diz Paoletti. “Assim, também é errada a ideia de que se você não tratar as crianças segundo um estereótipo de gênero elas vão crescer confusas, serão pervertidas, vão se tornar homossexuais, transgênero. Não há nenhuma evidência disso. Não é dos estereótipos de gênero que nasce a identidade homossexual ou trans.”

(Do Blog BBC News Brasil)


segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Macchu Picchu

(Vilcapampa)



A 24 de julho de 1911, um destemido arqueólogo norte-americano, Hiram Bingham*, fez uma descoberta extraordinária, no topo de um precipício, sobre um rio impetuoso. À procura da última capital inca, ele acabou descobrindo a Cidade Perdida dos incas, hoje chamada de Machu Picchu (“velha montanha”), mas outrora conhecida como Vilcapampa, um centro do culto ao Sol. Bingham viu um conjunto espantoso de templos, palácios, praças e escadarias, uma cidade com estruturas de granito branco, de beleza incomparável, construída com uma maestria excepcional. Um pouco distante, havia centenas de terraços escorados com pedras, onde se plantavam as colheitas para alimentar os habitantes desse espetacular santuário de pedra. Era ali que viviam os imperadores e nobres incas, os sacerdotes do Sol e as mulheres Escolhidas ou Virgens do Sol, um grupo de mulheres treinadas desde a infância para ajudar nos rituais religiosos, escolhidas por sua beleza. Os visitantes autorizados a ingressar nos recintos sagrados tinham que se submeter aos rituais de purificação e tirar as sandálias, como um sinal de humildade. Os visitantes não autorizados eram barrados fisicamente pelas altas muralhas e psicologicamente pela ameaça de morte.


Foi em Vilcapampa que os últimos imperadores incas encontraram refúgio, ameaçados que estavam pelos conquistadores espanhóis, no século XVI. Foi ali que o primeiro inca, Manco, o Grande (cerca de 1200), construiu um templo memorial, com três imensas janelas dando para o Sol nascente. Outras construções importantes são o Templo Principal e o Templo Semicircular, reverenciado por ser o local de sepultamento dos imperadores. Sua muralha exterior, com uma suave inclinação, serviu de modelo para o famoso Templo do Sol, em Cuzco. Os incas reverenciavam e procuravam apaziguar o deus-sol, embora também venerassem a Lua, as estrelas, o trovão e o relâmpago. No alto dos Andes, sobre o platô peruano, a atmosfera rarefeita não retém calor do Sol e as noites são terrivelmente frias. Não havia qualquer garantia de que o Sol voltaria de sua jornada para o norte anual. O medo era mais intenso por ocasião do solstício de inverno, a 21 ou 22 de junho. 


Somente os sacerdotes podiam impedir a fuga do Sol. E eles o faziam prendendo um gigantesco disco de ouro, representando o Sol, a um pilar de pedra chamado de Intihuatama, “o lugar em que o Sol está preso” ou, de uma forma mais coloquial, “o pilar de amarrar o Sol”. Os espanhóis tinham o hábito de destruir tais estruturas, mas jamais chegaram à de Machu Picchu, que continua intacta. Podemos imaginar as procissões cerimoniais dos sacerdotes e Virgens do Sol, subindo pelas imensas escadarias brancas de granito, até o Intihuatama. Os sacerdotes erguiam os braços para o Sol nascente e atiravam-lhe beijos, como um ato de reverência.

Quando a dinastia inca terminou, em 1572, a cidade foi sendo gradativamente abandonada. Permaneceu ignorada da civilização, devido a sua localização remota e quase incessível. Machu Picchu é hoje um lugar santo. Os turistas chegam até a região de trem, depois pegam um ônibus para fazerem o percurso de oito quilômetros da Rodovia HIram Bingham. E deparam com uma vista espetacular. Cercadas por encostas de uma altura estonteante, sentem toda a magnitude do que ali está. Contemplando a grandiosidade e a serenidade de Machu Picchu, não há quem deixe de se emocionar e pensar nos mistérios do passado.

Do “Almanaque Para Todos Irving Wallace & David Wallechinsky”, 
Parte 1


* Hiram Bingham não era arqueólogo. Nem havia praticado arqueologia antes. Ele era um explorador que estava fascinado com a história da América Latina.

Sua obsessão por esse território foi consolidada em 1908, quando viajou a Santiago do Chile para participar do Congresso Científico Pan-americano. Em seu retorno aos Estados Unidos, ele parou em Lima, onde foi convencido a visitar a cidade de Choquequirao.

Bingham tinha o espírito de um explorador e estava obcecado com a possibilidade de encontrar antigas cidades Inca inexploradas. Assim, em 1911 ele fez sua primeira viagem ao Peru com o objetivo de descobrir a última capital do Império Inca. 

domingo, 18 de agosto de 2019

A carta do Fulano



por Luciano Hortencio

Minha mãe Luzinha Simões, bem antes de conhecer meu pai, teve um grande amor e uma maior decepção. Foi noiva do Fulano e o rapaz rompeu o laço por força de injunções e interesses maiores do que poderia ter ao casar com mamãe, órfã de pai, situação àquela época que equivalia a um demérito.

Ao romper o noivado, o Fulano escreveu-lhe uma carta de umas dez ou mais páginas, onde tentou encobrir sua fraqueza ao alegar problemas de saúde. Carta tocante para nós, já que o Fulano foi realmente um grande amor de mamãe.

Ao final da missiva, Fulano pede que a carta seja guardada, se a amada tivesse pena de um desgraçado, até a morte.

Quando mamãe estava já velha e um pouco esquecida, muitas vezes perdia a “Carta do Fulano” e até papai ajudava a procurá-la, pois sabia ele e nós todos que aquele tinha sido um grande amor, o primeiro grande amor de mamãe. Isso era respeitado por toda nossa família.

Quando partiu mamãe, coloquei a “Carta do Fulano” e alguns bilhetes do papai atrás de sua cabecinha branca. Alguém disse que eu não fizesse aquilo, uma vez que aqueles documentos eram importantes para nossa memória familiar. Fiz ouvidos moucos, porque tenho certeza que mamãe, se pudesse optar, queria levar as cartas com ela. E isso foi feito. Mamãe descansa em plena paz.

Há poucos dias descobri a gravação de Mariza de Lima para Carta de amor, de Alfredo Schultz e a associei à “Carta de Fulano”.

Carta de Amor

Há uns dias atrás,
Isso foi num domingo, aliás,
Encontrei, entre os velhos papéis,
Uma carta de amor.

Outra carta, assim,
Não deixava saudades em mim,
Raramente, as juras de amor
Causam tanta tristeza e dor.

Reviver outra vez
Um romance, antigo e a paixão,
Um momento feliz,
Muito curta é a separação...

A culpada fui eu,
Já é tarde a clamar pelo céu,
E por isso eu quero-te bem,
Não te guardo rancor.

O que foi já passou,
As feridas o tempo sarou,
E só uma lembrança ficou...
Essa carta de amor.

Mariza de Lima – Carta de Amor, samba-canção de Alfredo Schultz – Disco Chantecler 78 −0144-B, gravado em julho de 1959. A música está disponível na internet.

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Historinhas sintéticas



Menina intrigada

Menina, olhando as fotos da família, pergunta à mãe:
− Mamãe, quem é este rapaz bonito, magro, cabeludo que está com a senhora nesta foto?
− Esse é teu pai, minha filha.
− E quem é esse gordo careca que mora aqui em casa?

A Grande Lição

− Mestre, qual é o segredo da felicidade?
− Nunca discutir com um idiota.
− Não concordo, mestre, que esse seja o motivo!
− Você tem razão, meu filho.

Pensamento do dia:

Dinheiro deveria ser que nem problema: Devia aparecer do nada!

Miniteste de inteligência

1) Um açougueiro mede 1,80, calça 40 e pesa?

2) Uma é bom, duas são muitas e três são impossíveis?

3) Hoje em dia o que se deve fazer para a visita ir embora?

Respostas

1. Carne;

2. Ponta de lápis;

3. Desligar o Wi-Fi.

A melhor mãe!

Dez horas da manhã, toca o telefone. Aquela sorridente senhora atende e ouve do outro lado da linha:
− Mamãe?
− Que foi, minha filha?
− Mamãe, aconteceu algo terrível... Minha casa está uma bagunça, tenho que ir buscar as crianças na escola, fazer o almoço, preciso levar o Pedrinho na natação, estou com 38 graus de febre e o Otávio acabou de me ligar que vai trazer três amigos para o jantar.
− Mamãe, você precisa me ajudar, por favor!
− Fica calma, minha filha! Eu vou já pra aí. No caminho pego as crianças na escola, faço o almoço, depois levo o Pedrinho na natação, dou uma ajeitada na casa e, em seguida, preparo uma Lasanha para o jantar. Enquanto isso, você toma um comprimido e vai para a cama, descansar.
− Oh! Mamãe! Você é a melhor mãe do mundo, sabia? Te amo, mamãe!
− Obrigada, minha linda! Também te amo! Daqui a pouco estarei aí!
− Tá certo, e não se esquece de mandar um beijo para o papai!
− Papai? Mas filha, o seu pai morreu quando você era ainda uma garotinha!
− Pera um pouco! Aí não é do 7633-0856?
− Nããão. Aqui é do 7633-0865!
− Então, quer dizer que a senhora não vem?

Morto de sorte

O médico legista, Dr. Joaquim Manoel, chega em casa após um dia estafante.
− E aí? Como foi o seu dia hoje? − pergunta a esposa.
− Foi duro! Fiz autópsia num cara que levou seis tiros.
− Nossa que azar!
− Azar nada! Até que ele teve sorte. Só um tiro foi fatal, o resto pegou tudo de raspão!
  
Diálogo para cortar o barato

(Da tira do Níquel Náusea)

Barato:
− Oi, você vem sempre aqui?
Barata:
− Como assim?
Barato:
− Como assim o quê?
Barata:
− Como assim, eu venho sempre aqui?
Barato:
− Eu só estou conversando!
Barata:
− Como assim?
Barato:
− Eu acho que vou embora!
(Sai o barato)
Barata:
− “Como assim” não falha nunca!

O Esculápio e o Fígaro

Um médico entra numa barbearia e se senta:
- O cavalheiro deseja?
- Amputar os cabelos.

A descoberta da menina

Menina de 6 aninhos falando com a sua mãe:
− Descobri que o namorado da mana (de 18 anos) é guarda-noturno.
− Como você soube, filhinha.
− É que sempre que eles estão namorando no portão e eu me aproximo, ela fala pra ele: guarda... guarda...

Diferença

− Você sabe por que as mulheres são o sexo oposto?
− Não, por quê?
− Porque a gente gosta de uma coisa, e elas gostam de outra.

Acontecimento trágico

− Você sabe o que aconteceu com o sujeito que caiu entre os trilhos do trem do metrô?
− Não, não sei...
− Morreu em vão!

Galanteio original

Paquerador falando com uma mocinha num banco de praça:
− Se você fosse refrigerante seria soda.
− Ué, por quê?
− Porque no meu coração só dá você!

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Dona Palmira, a defensora dos animais.



No dia 10 de novembro de 2019, completou 40 anos da morte de Palmira Gobbi Dias, uma das figuras mais marcantes da história da defesa dos animais no Rio Grande do Sul. Ela morreu depois de sofrer por dois meses com câncer de fígado. Porto-alegrense, era casada com o comerciante português chamado José Dias. Os dois tiveram uma filha, mas adotaram 16 crianças. Idealizadora da Associação Rio-Grandense de Proteção aos Animais (Arpa), Palmira Gobbi deixou um legado importante ao Estado. “Ela foi a primeira nessa luta. Tinha um coração bom, encontrava um cachorro na rua e levava para casa. Chegou até a empenhar joias para cuidar dos seus amigos. Era uma mulher forte. Quando via alguém maltratando bichos, ia de relho para cima”, relatou um amigo anônimo.

Quem maltrata animais é mau caráter”, disse Palmira à Folha da Tarde, em 1974. Ela afirmava que havia testemunhado “horrores” desde pequena. Seu pai tinha um açougue na avenida Azenha. Perto dali, funcionava uma espécie de depósito da carrocinha que recolhia cachorros da rua. Aos 8 anos, Palmira costumava levar restos de carne do açougue para os cachorros, que eram mortos a pauladas no local. “Era uma forma de me despedir deles. Quando ouvia seus gritos, chorava que nem sei”, lamentava.

Um alívio surgiu quando a Câmara de Vereadores decidiu fazer vigorar o decreto 24.645, de 1934, que estabeleceu normas de proteção aos animais. No dia seguinte, Palmira estava em frente à prefeitura para conhecer o vereador Bonorino Butelli, autor da ideia. “Tornei-o fundador e primeiro presidente da Arpa. Começava então nossa maratona.” Dona Palmira, como ficou conhecida, fundou e presidiu a Associação Rio-Grandense de Proteção aos Animais (Arpa), que funcionou nos altos do Mercado Público, em Porto Alegre. Mais tarde, a entidade chegou a criar um hospital veterinário destinado a curativos, cirurgias e medicação em nível ambulatorial.

Devota de São Francisco de Assis, Palmira deixava de lado qualquer resquício de dureza diante dos animais, a ponto de chorar quando via algum ser maltratado. Ela abrigou muitos animais em sua própria casa até morrer, em novembro de 1979. Hoje, é lembrada como nome de rua e do minizoo do Parque Farroupilha.

Era a legítima mulher faca-na-bota. Nos anos 1960 e 1970, era sempre um prato cheio para a mídia porto-alegrense. Sem papas nem bispos na língua, enfurecia-se com quem maltratava animais.

Não ficava nisso. Várias vezes ela e seu inseparável chicote iam às ruas para detonar algum carroceiro que espancava o cavalo. É de sua inspiração uma lei, que consta vigir até hoje, obrigando carroceiros a colocarem chapéus nos cavalos no verão.


Ela tinha um horário fixo no final da tarde em uma rádio e a produção gostava de criar o contraditório, botar alguém para discutir e trocar farpas. Conta o jornalista Cristiano Dartsch que, certa vez, Palmira foi provocada no ar por uma desafeta que, exacerbada, provocou ao microfone:

- Está querendo me dizer que sou uma cadela?

E Dona Palmira: 

- Antes fosse, minha senhora. Antes fosse!



Sou profundo admirador de Dona Palmira Gobbi (4 de abril de 1909 - 10 de novembro de 1979), minhas mãos arrumam as flores de seu túmulo, no Cemitério da Santa Casa, em Porto Alegre, RS, que, para mim, deveria ser um santuário. 

(NSM)

Poemas de Antônio Carlos Osório*

Velhice


Aos poucos a velhinha foi sendo jogada par um canto do mundo
e foi se apequenando cada vez mais
humilde
para caber nele
e não incomodar a ninguém
com o que resta da sua presença.

Soneto do grito


Se for preciso grite e é preciso
gritar ora blasfêmias, ora louvor
e alto gritar a hora enquanto é vivo
o tempo em chama matando riso e dor.

Claro gritar, gritar na treva escura,
gritar na pura exaltação do amor,
gritar a cólera em látego que dura
enquanto carne exsude desamor.

Que grite o homem, só o gritar perdura
perdido embora, grite enquanto é rubro
o sangue a circular a pele impura.

O homem é um grito solto em largo espaço
e se ninguém ouvi-lo pouco importa,
ele sempre dirá: sou um grito e assim me faço.

*****

(O) muro se vai construindo
de
va
gar.

Antonio Carlos Elizalde Osorio nasceu em Quarai, RS, na fronteira com o Uruguai, em 1928 e faleceu em Brasília, DF, em 22 de abril de 2016. Fez estudos na França e formou-se em Filosofia e depois em Direito, em Porto Alegre. Viveu em Brasília desde a época da construção até a sua morte.


Ele foi o primeiro advogado a se estabelecer na capital federal, em 1957. Em um sorteio, os fundadores da Ordem decidiram que não haveria a inscrição 001. Ele ficou então com a de número 007. A diretoria convoca a advocacia do Distrito Federal a prestar essa última homenagem ao seu primeiro representante.