quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Dona Palmira, a defensora dos animais.



No dia 10 de novembro de 2019, completou 40 anos da morte de Palmira Gobbi Dias, uma das figuras mais marcantes da história da defesa dos animais no Rio Grande do Sul. Ela morreu depois de sofrer por dois meses com câncer de fígado. Porto-alegrense, era casada com o comerciante português chamado José Dias. Os dois tiveram uma filha, mas adotaram 16 crianças. Idealizadora da Associação Rio-Grandense de Proteção aos Animais (Arpa), Palmira Gobbi deixou um legado importante ao Estado. “Ela foi a primeira nessa luta. Tinha um coração bom, encontrava um cachorro na rua e levava para casa. Chegou até a empenhar joias para cuidar dos seus amigos. Era uma mulher forte. Quando via alguém maltratando bichos, ia de relho para cima”, relatou um amigo anônimo.

Quem maltrata animais é mau caráter”, disse Palmira à Folha da Tarde, em 1974. Ela afirmava que havia testemunhado “horrores” desde pequena. Seu pai tinha um açougue na avenida Azenha. Perto dali, funcionava uma espécie de depósito da carrocinha que recolhia cachorros da rua. Aos 8 anos, Palmira costumava levar restos de carne do açougue para os cachorros, que eram mortos a pauladas no local. “Era uma forma de me despedir deles. Quando ouvia seus gritos, chorava que nem sei”, lamentava.

Um alívio surgiu quando a Câmara de Vereadores decidiu fazer vigorar o decreto 24.645, de 1934, que estabeleceu normas de proteção aos animais. No dia seguinte, Palmira estava em frente à prefeitura para conhecer o vereador Bonorino Butelli, autor da ideia. “Tornei-o fundador e primeiro presidente da Arpa. Começava então nossa maratona.” Dona Palmira, como ficou conhecida, fundou e presidiu a Associação Rio-Grandense de Proteção aos Animais (Arpa), que funcionou nos altos do Mercado Público, em Porto Alegre. Mais tarde, a entidade chegou a criar um hospital veterinário destinado a curativos, cirurgias e medicação em nível ambulatorial.

Devota de São Francisco de Assis, Palmira deixava de lado qualquer resquício de dureza diante dos animais, a ponto de chorar quando via algum ser maltratado. Ela abrigou muitos animais em sua própria casa até morrer, em novembro de 1979. Hoje, é lembrada como nome de rua e do minizoo do Parque Farroupilha.

Era a legítima mulher faca-na-bota. Nos anos 1960 e 1970, era sempre um prato cheio para a mídia porto-alegrense. Sem papas nem bispos na língua, enfurecia-se com quem maltratava animais.

Não ficava nisso. Várias vezes ela e seu inseparável chicote iam às ruas para detonar algum carroceiro que espancava o cavalo. É de sua inspiração uma lei, que consta vigir até hoje, obrigando carroceiros a colocarem chapéus nos cavalos no verão.


Ela tinha um horário fixo no final da tarde em uma rádio e a produção gostava de criar o contraditório, botar alguém para discutir e trocar farpas. Conta o jornalista Cristiano Dartsch que, certa vez, Palmira foi provocada no ar por uma desafeta que, exacerbada, provocou ao microfone:

- Está querendo me dizer que sou uma cadela?

E Dona Palmira: 

- Antes fosse, minha senhora. Antes fosse!



Sou profundo admirador de Dona Palmira Gobbi (4 de abril de 1909 - 10 de novembro de 1979), minhas mãos arrumam as flores de seu túmulo, no Cemitério da Santa Casa, em Porto Alegre, RS, que, para mim, deveria ser um santuário. 

(NSM)

4 comentários:

  1. Olá, Nilo, tudo bem? Sou professora de história e estou pesquisando sobre a Palmira Gobbi. Você tem um contato para conversarmos sobre? Atenciosamente.

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  2. Professora Elenita:

    Na minha adolescência, acompanhava, pelo rádio, as denúncias que Dona Palmira fazia contra quem maltratava os animais, principalmente cavalos. Ela era intransigente com carroceiros que não alimentavam bem seus animais. Este almanaque trata de cultura em geral, fala de pessoas de nossa cidade. Ao visitar o cemitério da Santa Casa, avistei, casualmente, o túmulo de dona Palmira Gobbi. Por isso coloquei um texto, que não sei bem a sua origem, neste almanaque. É tudo que sei dessa figura extraordinária!

    Nilo da Silva Moraes

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  3. Meu pai era um dos fiscais da ARPA, Morávamos no pátio do Hospital veterinário e dede da associação na Freitas de Castro. Lembro que as terças feiras eram feitas as audiências presidida por Dona Palmira. Onde eram Julgados as pessoas que eram intimadas por mais tratos aos animais. Certa vez fizeram uma fogueira enorme ode gaiolas e alçapões de passarinhos na rua onde hoje e a rua Zerou Hora





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    1. Muito oportuna a tua observação que só engrandece ainda essa figura notável de nossa cidade.

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