segunda-feira, 31 de maio de 2021

Textos de Seleções antigas

 Psicologia elementar

Precisando de uma nova secretária, o presidente de uma companhia achou que as candidatas ao lugar deviam ser julgadas por um psicólogo. Três jovens foram entrevistadas juntas. 

− Dois e dois, quanto são? Perguntou o psicólogo à primeira. 

− Quatro, respondeu ela prontamente. 

A mesma pergunta foi feita às duas outras. A segunda respondeu: 

− Pode ser vinte e dois. 

E a terceira: 

− Pode ser vinte e dois e pode ser quatro. 

As candidatas se retiraram, e o examinador disse ao presidente, triunfantemente: 

− Eis aí o valor da psicologia! A primeira candidata deu a resposta óbvia; a segunda desconfiou de alguma coisa; e a terceira se contentava com qualquer solução. Qual das três o senhor prefere? 

O presidente não pestanejou: 

− A loura, de olhos azuis, disse ele.

Ordens são ordens 

 

Quando repórter, Mark Twain recebeu do seu chefe ordens de não declarar nada cuja veracidade ele não pudesse verificar pessoalmente. Um dia mandaram-no escrever uma notícia sobre um importante acontecimento social, e foram as seguintes as suas palavras: 

“Ao que se informa, uma mulher, que diz chamar-se senhora James Jones, e que é considerada pessoa de destaque social, promoveu ontem uma festa, que se diz ter sido uma recepção a certo número de mulheres, tidas como damas de sociedade. A anfitriã diz ser esposa de um conhecido advogado.” 

(Da “Seleções do Reader’s Digest”, janeiro de 1948)

 Maravilhas da burocracia

Não há muito tempo, alguém sugeriu no Departamento de órgão federal que fossem destruídos certos volumosos documentos arquivados, já velhos e sem importância, para dar lugar a outros mais recentes. O ofício, contendo a proposta, foi transmitido de uma repartição para outra, segundo a rotina de sempre, até constituir por si só uma respeitável papelada. Finalmente, depois de ter sido a sugestão aprovada por mais de uma dúzia de funcionários, foi dada a ordem para a destruição dos velhos papéis arquivados. Todavia, o funcionário a quem coube dar a informação final sobre o caso acrescentou o seguinte despacho: “Desde que sejam feitas cópias de todos os documentos destruídos.” 

(Da “Seleções do Reader’s Digest”, março de 1943)

Disco rachado

À hora do chá, estava sendo discutida a teoria da influência que os acidentes pré-natais exercem sobre as pessoas. Uma jovem na vizinhança, depois de ouvir, durante vários minutos, a conversação, decidiu emitir a sua opinião: 

− Não me acho de acordo, disse ela. Não acredito absolutamente em tais influências. Vejam o meu caso, por exemplo. Pouco antes de eu nascer, minha mãe teve um acidente, derrubando uma poção de discos de fonógrafos, partindo-os todos. Mas isso não me afetou, me afetou, me afetou, me afetou... 

(Da “Seleções do Reader’s Digest”, março de 1943)

Sabida

A mãe de uma mocinha pregou-lhe um grande sermão sobre as travessuras das garotas que andam sempre com os moços de sua idade e, ao terminar, perguntou-lhe: 

− Diga-me agora, minha filhinha, aonde vão as meninas que procedem mal? 

A moça sorriu e respondeu: 

− Vão a tudo quanto é lugar, mamãe. 

(Da “Seleções do Reader’s Digest”, janeiro de 1946)

Há três coisas essenciais à felicidade: 

Ter o que fazer,

Ter algo para amar

E ter esperança em alguma coisa.

domingo, 30 de maio de 2021

Como nasce um fofoqueiro

 

Fabrício Carpinejar

O fofoqueiro não nasce levantando o gancho do telefone para ouvir a conversa alheia. 

O fofoqueiro não nasce captando o que se fala atrás da porta. 

O fofoqueiro não nasce fazendo perguntas indiscretas para depois passar adiante. 

O fofoqueiro não nasce na janela do condomínio prestando atenção em quem entra e sai no prédio. 

O fofoqueiro não nasce registrando os papos paralelos nos restaurantes e bares. 

O fofoqueiro não nasce no salão de beleza, no supermercado, nos corredores dos shoppings. 

O fofoqueiro não nasce no churrasco dos domingos. 

O fofoqueiro não nasce ao espalhar o que não tem certeza. 

O fofoqueiro não nasce de sua maldade na escola, da língua solta no recreio. 

O fofoqueiro nasce muito antes. Muito antes. 

Descobri quando nasce o fofoqueiro, o exato instante em que ele vem à tona, o momento em que sua alma solitária passa a ser enxerida, em que perde a admiração pelo respeito e silêncio e torna-se um agente do ruído. 

Quando seus pais deixam o filho dormir no meio deles. 

Quando os pais permitem que seu filho durma por longo período na cama de casal. 

Quando seus pais não colocam o filho de volta para seu quarto, sensibilizados pelo medo ou pela chantagem emocional. 

A criança aprende que pode se meter na vida dos outros. É autorizada a estar infiltrada na intimidade, apropriando-se do que não é dela. Não recebe nenhuma negativa para estabelecer limites. Age pelo impulso da emoção, inconsequente, pois seus caprichos acabam atendidos com rapidez. Ficará eternamente confusa sobre onde começa e termina sua liberdade. Pois toda casa é seu berço, todas as pessoas são influenciadas por ela. Não diferencia o coletivo do particular. Percebe que a manha é uma moeda e que mentir sempre funciona para conseguir o que quer. 

Não é inspirada a respeitar os espaços, a consolidar sua solidão, a manter seus segredos e territórios da imaginação. Por mais bem-intencionado que seja o acolhimento, é um convite para a especulação emocional. Num simples ato de aceitar que o filho não descanse em seu quarto, validamos que seja penetra das confidências. Tem um passaporte para chegar a qualquer hora, a qualquer momento, e interferir nos acontecimentos. Acostuma-se a não ter um lugar, e assumir papéis que não são seus. 

O fofoqueiro é o resultado da insegurança dos pais.

sábado, 29 de maio de 2021

A música popular sai do armário

 Algumas músicas*

Porção mulher 

Gilberto Gil 

Um dia, vivi a ilusão de que ser homem bastaria,

que o mundo masculino tudo me daria

do que eu quisesse ter... 

Que nada, minha porção mulher

que até então se resguardara,

é a porção melhor que trago em mim agora,

é o que me faz viver... 

Quem dera, pudesse todo homem compreender,

ó mãe, quem dera,

ser o verão no apogeu da primavera,

e só por ela ser... 

Quem sabe o super-homem venha nos restituir a glória,

mudando como um Deus, o curso da história

por causa da mulher... 

Johnny Pirou

(Johnny B. Goode) 

Leo Jaime 

Era uma tarde de domingo e tinha muito sol.

Jogo do Flamengo e Fluminense legal.

Johnny viu anunciado no jornal

E foi para o Maracá assistir na geral,

Pela primeira vez sentiu a sensação de um gol 

Foi gol!

Foi gol! Gol do Mengão, foi gol!

Gol do Mengão, foi gol!

Gol do Mengão, foi gol!

Gol do Mengão, foi gol!

Johnny pirou... 

Johnny é executivo de uma multilegal

E mora em suíte presidencial,

Mas naquela tarde tudo, tudo mudou

Quando um negão sua cintura agarrou

E com uma voz muito grossa em seu ouvido gritou: 

Foi gol! Gol do Mengão, foi gol!

Gol do Mengão, foi gol!

Gol do Mengão, foi gol!

Gol do Mengão, foi gol!

Johnny pirou... 

De repente, o ponta pelo beque passou

E com muito charme para a área lançou.

O goleiro apaixonado nem sequer reparou

Quando entre suas pernas a bola entrou

E o negão, animadão, novamente

A Johnny agarrou e beijou. 

Foi gol! Gol do Mengão, foi gol!

Gol do Mengão, foi gol!

Gol do Mengão, foi gol!

Gol do Mengão, foi gol!

Johnny pirou no negão. 

Pirou, pirou no negão pirou...

Pirou, no negão pirou...

Pirou, no negão pirou...

Johnny pirou. 

Diga aí, companheiro 

Joyce 

Você meu pede meu batom, empresto.

Empresto a sobra pra passar nos cílios,

Mas você tem que me dizer, amor,

O que é que eu digo aos nossos filhos. 

Quer minha canga pra botar na praia

E mil purpurinas realçando o brilho.

Não tem problema, mas me diga, amor,

O que é quer digo aos nossos filhos. 

Agora sempre esse inferno,

A gente um casal tão moderno.

Você já não usa mais terno.

No inverno anda sem agasalho.

Não quer mais saber de trabalho,

Caiu na gandaia de boca,

Caiu de cabeça na dança

E sem falar nessas tranças,

Que você botou no cabelo,

Dizendo que é novo modelo...

Coberto com arco de fita,

Parece uma nega bonita.

Só uma coisa me agita:

O que eu vou falar pras crianças! 

Rocky Mary 

Paulinho Boca de Cantor e David Moraes 

Mamãe, aqui eu pirei por causa de Mary.

Mamãe, aquela angelical e fina flor do amor,

Também pirou, está pra lá de punk, mamãe.

Me viciou, viciou, viciou, em rock roll.

Me viciou, viciou, viciou, em rock roll. 

Certa vez me deu um toque

Com um sanfoneiro do norte

E o cabra não era mole.

Mary só voltou por sorte,

Quando eu puxei melhor o fole.

Mary só voltou por sorte,

Quando eu puxei melhor o fole. 

Mamãe, aqui eu pirei por causa de Mary.

Mamãe, aquela angelical e fina flor do amor

Também pirou, está pra lá de punk, mamãe.

Me viciou, viciou, viciou, em rock roll.

Me viciou, viciou, viciou, em rock roll. 

O que é que eu faço sem Mary,

Se mandou com uma dona

Cujo sapato e bem maior do que o meu.

Mamãe, não duvide.

Mary só volta pra mim,

Quando eu pirar pra lá de Lou Reed. 

Telma, eu não sou gay

(Tell me once again) 

Leo Jaime 

Diz que vai dar, meu bem,

Seu coração pra mim.

Eu deixei aquela vida de lado

E não sou mais um transviado. 

Telma, eu não sou gay.

O que falam de mim são calúnias, meu bem,

Eu parei... 

Não me maltrate assim, não posso mais sofrer.

Vamos ser um casal moderno,

Você de bobs e eu de terno. 

Telma, eu não sou gay.

O que falam de mim são calúnias, meu bem,

Eu parei... 

Eu sou introvertido até no futebol.

Isso tudo não faz sentido

E não é meu esse baby doll. 

Telma, eu não sou gay.

O que falam de mim são calúnias, meu bem,

Eu parei... 

Recitando 

Telma, ô Telminha, não faz assim comigo...

Não me puna por essas manchas no meu passado.

Já passou, esses rapazes são apenas meus amigos.

Agora eu sou somente seu, meu amor! 

Telma, eu não sou gay.

O que falam de mim são calúnias, meu bem,

Eu parei... 

***** 

Baseado na crônica “Homens (e mulheres) com H”, no livro: “Trêfego e Peralta”, de Ruy Castro, Companhia das Letras. 

*P.S.1: Todas as músicas estão na internet.

P.S.2: Outras músicas com o mesmo tema: “Masculino e Feminino”, de Pepeu Gomes; “Bárbara”, de Chico Buarque; “Minorias”, de Filó e Sérgio Natureza; “A nível de”, de Aldir Blanc e João Bosco; “Rock das aranhas”, de Raul Seixas; “Jane e Júlia”, do Brylho.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

Crônica das ruas de Porto Alegre

 Por Isaac Menda*

Certa vez, Luís de Camões, Marquês do Pombal e Eça de Queiroz se encontraram em Portugal para analisar a situação Luzitana. 

A discussão também envolveu os poetas Castro Alves, Olavo Bilac e Goethe. Para julgar a questão, foram convocados os irmãos Casemiro de Abreu, Luciana de Abreu e Almirante de Abreu. Outros irmãos quiseram participar. Chamaram João Telles, Amélia Teles, Jaime Teles e os Andradas. Só uma pessoa poderia resolver tudo: Osvaldo Aranha. 

Alguns ex-presidentes se envolveram: Castelo Branco, Marechal Deodoro, Washington Luiz, Floriano Peixoto e Getúlio Vargas. De prontidão ficaram o Duque de Caxias e os gaúchos Assis Brasil, Borges de Medeiros e Bento Gonçalves. De repente, alguém deu um grito na Ipiranga. Tinha sido D. Pedro. 

Logo, Carlos Gomes compôs uma ópera narrando todo o incidente, que aprecia uma batalha como a do Riachuelo. 

Depois que tudo se acalmou, concordaram em realizar um jogo de futebol. Convidaram Botafogo e Vasco da Gama. O jogo seria abençoado pelo Irmão José Otão, pelo Vigário José Inácio, pelo Padre Hildebrando e pelo Padre Chagas, invocando o Espírito Santo. Houve desfile de princesas, entre elas a Princesa Isabel. 

Estavam presentes os governadores do Paraná, Pará, Amazonas, Bahia e Pernambuco. Alguns prefeitos também: de Taquara, Encantado, Garibaldi, Bagé, Montenegro e Lajeado. Do exterior vieram os perfeitos de Chicago e Nova York. 

Entre os militares se fizeram presentes Coronel Vicente, Coronel Lucas de Oliveira, Capitão Montanha, Coronel Fernando Machado, Coronel Bordini, General Câmara, General Vitorino, General Lima e Silva e o Tenente Ary Tarragô. 

Uns dizem que isso aconteceu em 24 de Outubro. Outros, em 24 de Maio, mas foi em 3 de Maio. 

Alguns doutores compareceram, entre eles: Dr. Flores, Dr. Nilo Peçanha, Dr. Lucidoro Brito, Dr. Armando Barbedo, Dr. Dias Carvalho e Dr. Timóteo. Santos Dumont não veio, pois perdeu o voo em Buenos Aires. Essa história me foi contada por Machado de Assis e Érico Veríssimo. 

***** 

* O advogado e escritor Isaac Menda lembrou de duas histórias que fez alguns anos atrás, quando era colunista do Diário Gaúcho. Uma delas, contada acima, fala de nomes das ruas de Porto Alegre.

quarta-feira, 26 de maio de 2021

Clichês de filmes de faroeste

 

Eis alguns clichês, entre os mais clássicos e inesquecíveis − para a próxima vez que você sintonizar um faroeste no seu canal de filmes cult na TV. 

● O mocinho é sempre ambidestro − saca dos dois revólveres. Tem de ser, para poder enfrentar sozinho os quatro ou cinco bandidos que o esperam na cidade deserta. 

● O mocinho raramente bebe uísque. Se beber, deverá fazer uma careta ao tomar o copo de um só trago. 

● O garçom nunca lhe serve a bebida educadamente. Despacha-a sobre o balcão como se ela fosse uma bola de boliche. 

● A porta sempre range quando o bandido entra no saloon. Às vezes, um cachorro, até então dormindo num canto, recolhe o rabo e prefere se retirar. 

● Quando o bandido entra no saloon, o piano para de tocar. 

● Todo saloon é quase um cassino. Ninguém se senta ali para jantar ou conversar fiado. Todos jogam pôquer. 

● O trapaceiro no pôquer usa um bigode fininho e tem uma pequena arma com cabo de madrepérola no bolso do colete. 

● Aliás, quanto mais fino o bigode, maior probabilidade de o sujeito ser um trapaceiro. 

● Se, atrás do balcão, houver um belo espelho, pode-se garantir que ele será quebrado numa briga. 

● Nenhuma mesa ou cadeira no saloon suporta o peso de um homem que cai sobre ela depois de levar um soco. 

● Mas, não importa o grau de destruição no saloon, sua decoração já terá sido refeita na próxima sequência em que ele aparecer. 

● O mocinho fuma ocasionalmente. Mas dá apenas uma tragada e joga o cigarro fora, mesmo que tenha tido um certo trabalho para enrolá-lo. O fósforo é riscado em qualquer superfície de madeira ou na sola da bota do mocinho.

● Para libertar um prisioneiro que está para ser linchado, basta atar uma corda à grade da janela da cela e puxá-la com seu cavalo. A parede cairá imediatamente. 

● As balas miam ao ricochetear contra uma pedra. 

● Antes de dar tiros através da janela, é preciso quebrar o vidro com o cano do revólver. 

● Alguns revólveres dão cinquenta tiros antes de descarregar. 

● Ao ver que seu revólver está descarregado, o bandido joga-o fora. 

● Nenhum bandido sabe contar até seis. Sempre acha que o tambor do revólver do mocinho já se descarregou. 

● Não se conhece nenhum caso de mocinho que tenha esmagado os testículos ao pular de uma pedra ou de um segundo andar sobre um cavalo parado lá embaixo. 

● Quando a rua se esvazia em função de um duelo, sempre sobrará um mexicano dormindo na calçada. 

● Todo ferimento de bala é desinfetado com uísque. 

● O bebedouro dos cavalos serve tanto para curar uma carraspana quanto para aliviar os ferimentos provocados por uma briga. 

● Com todas aquelas brigas a socos, os queixos nos faroestes são inexpugnáveis. Os dentes também − não há memória de nenhum dentista nos filmes do gênero. 

● Embora os bandidos às vezes usem aquelas capas impermeáveis, nunca chove nas cidades do Velho Oeste. 

● O bandido usa chapéu preto; o mocinho, branco. Mas nenhum dos dois chapéus cai da cabeça numa briga. 

● O chefe da quadrilha é sempre um banqueiro ou alguém com uma profissão respeitável. Ninguém desconfia dele, mesmo quando os bandidos atacam uma diligência cuja hora de chegada só ele conhecia.

● Embora não hesite em mandar matar seus asseclas que não estão se portando a contento, o chefe da quadrilha nunca tem dificuldades para recrutar novos bandidos. 

● Se, ao fim de um duelo, o bandido é mostrado caminhando em direção à câmera, pode-se apostar que ele perdeu e vai cair morto. 

● O xerife costuma ser um bandido que se regenerou. Se não for isso, será um banana que precisará de ajuda do mocinho. 

● O cavalo do mocinho é sempre mais rápido e o único que não tem medo de saltar sobre o abismo. 

● Os índios falam um inglês primitivo (“Índio não vai assinar tratado, índio não confia homem branco”), mas todos pronunciam inglês perfeito. 

● Alguns índios têm olhos azuis. 

● O garimpeiro é sempre um homem barbudo. 

● Mocinhos e bandidos invariavelmente usam um lenço no pescoço. Mas apenas como enfeite − nunca se viu um deles o tirar para enxugar a testa. 

● Bandidos mascarados nunca são identificados pela população de uma cidade, embora usem roupas e montem cavalos facilmente reconhecíveis. 

● Às vezes, um bandido morto no começo do filme reaparece em outra sequência mais adiante. 

● Os bandidos mortos em combate nunca são enterrados, ao contrário de qualquer amigo do mocinho, que, quando morre, tem direito a cena de enterro com pastor, citação bíblica e testemunhas. 

● As únicas mulheres nos faroestes são a dona do saloon − sempre uma mulher com um passado sobre o qual não resta a menor dúvida − e a professorinha, geralmente um pastel e, aliás, filha do pastor. 

● Os bandidos respeitam as mulheres que eles capturam. Nem ao menos tentam roubar um beijo. 

● Já os mocinhos teriam direito a beijos, se quisessem, mas estão sempre muito ocupados. 

●Ao liquidar com os bandidos e pacificar a cidade, o mocinho não se casa com a moça mais bonita do lugar e se estabelece por ali. Prefere ir embora sozinho, para cuidar de um rancho em Montana, no Arizona, ou em qualquer buraco semelhante. 

E por aí vai. Alguns desses clichês foram recolhidos por Philippe Mignaval em Tous les clichês du cinema (Édition Fetjaine, Paris, 2012). Os outros, por mim mesmo (Ruy Castro), velho fã de Allan “Rocky” Lane. 

(...) 

(Do livro “Trêfego e peralta”, de Ruy castro, Companhia das Letras)

P.S. Imagens da internet.

 


segunda-feira, 24 de maio de 2021

Um conto de várias cidades

 

O pelotense Paulo Francisco Nunes tem 98 anos de idade. Bancário aposentado, lúcido e ativo, ele também é um leitor voraz. Durante o isolamento provocado pela pandemia, inspirou-se em nomes de cidades gaúchas (os quais viu publicados em uma reportagem de jornal) para escrever o curioso texto que reproduzimos a seguir. 

Nascia a “Alvorada” quando os “Dois Irmãos”, remando em suas “Canoas”, no “Guaíba”, chegaram a “Porto Alegre”. Após vestirem-se adequadamente, hospedaram-se em uma pousada na Rua “Barros Cassal”, onde, após um bom café da manhã, saíram a caminhar. Ao passarem por uma “Igrejinha”, resolveram entrar. O templo estava quase vazio. Apenas “Três Coroas” estavam rezando. Cada rapaz retirou do bolso seu “Rosário”. Ajoelharam-se ante uma “Cruz Alta” e fizeram preces para o “Bom Jesus” e “Santa Maria”. Ao saírem, passaram por um “Portão” e viram um homem, alterado pela bebida, um tanto “Alegrete”, munido de uma “Taquara”, tentando bater na “Canela” de um senhor chamado “Antônio Prado”, que gritava: “Não-Me-Toque”! Atendeu à ocorrência uma viatura da Brigada com dois soldados e o “Tenente Portela”, que conduziu o bebum para a delegacia. 

Reiniciaram a caminhada e logo após detiveram-se ante a vitrina da joalheria “Ametista do Sul”. Chamou-lhes a atenção uma “Joia” com uma grande e bela “Esmeralda”. “Três Passos’ adiante chegaram em um grande parque, onde se destacava um monumento a “Bento Gonçalves”, herói da Revolução “Farroupilha”. Neste movimento, os gaúchos lutaram contra o Exército Imperial, comando pelo, então, Barão de “Caxias”. Essa guerra entre brasileiros enlutou o Estado e o País durante 10 anos. Por fim, houve o “Triunfo” do bom senso e a paz foi selada em Ponche Verde, localidade do município de “Dom Pedrito”. 

Chegando ao Centro, procuraram o museu “Júlio de Castilhos”, onde, após demorada visita, puderam apreciar o acervo histórico lá existente. Como estavam perto do Palácio “Piratini”, sede do Executivo gaúcho, deslocaram-se até a sua frente, onde puderam apreciar a sobriedade e beleza de sua fachada. No dia seguinte resolveram visitar seu “Tio Hugo”, casada com tia “Ernestina”. Ele se aposentara como “Capitão” do Exército. Homem “Sério”, mas cordial e “Gentil”. Vivia em perfeita “Harmonia” com todos. Moravam em um “Sobradinho”, numa “Coxilha” em “Campo Novo”. O casal recebeu os sobrinhos com muita “Alegria”. Apesar de ser “Colorado”, o tio soube manter uma conversa amena com os rapazes, que eram gremistas. O almoço, um gostoso churrasco, foi acompanhado por um bom vinho de “Garibaldi”. O dia amanhecera quente e, à medida que as horas passavam, o “Mormaço” aumentava. Depois do almoço, o calor e o vinho começaram a agir e o sono veio como consequência. A tia abriu um sofá-cama e entregou a cada sobrinho um “Travesseiro”. A sesta foi até as 15 horas. 

A TV foi ligada e os jovens pediram para assistir a partida do Grêmio contra Esporte Clube “Pelotas”, pelo campeonato Gaúcho. Enquanto os rapazes assistiam ao jogo, os tios foram tomar chimarrão com seus vizinhos e amigos, o médico “Doutor Ricardo” e sua esposa “Dona Francisca”. Ela, excelente pianista, apreciava música clássica. O Guarani, de “Carlos Gomes”, era sua predileta. À noite, como reconhecimento à carinhosa acolhida, os sobrinhos encomendaram uma pizza. 

Há muito tempo os irmãos planejavam uma visita à Região Missioneira e o momento de concretizar a ideia chegara. Alugaram um carro e partiram. Tudo era objeto de sua observação. A estrada não poderia estar melhor! Eles a compararam a um piso “Lajeado”. Cerca de uma hora após o início da viagem na paisagem de campos verdejantes, um “Gramado” onde algumas reses de uma “Vacaria” pastavam. Ao longo do caminho foram se sucedendo elevações de todo tipo: um “Morro Redondo”, logo após, um “Montenegro” e, logo em seguida, dois Morretes que se assemelhavam a duas “Torres” e, mais adiante, umas “Pedras Altas” por entre as quais a água de uma “Cachoeirinha” ziguezagueava. Chegaram a “Santo Ângelo” ao anoitecer e uma linda “Estrela” brilhava no firmamento. No dia seguinte, “Sete de Setembro”, feriado nacional em que se comemora nossa “Independência”, a cidade aproveitou o belo dia de sol, lotando a praça “Getúlio Vargas”. 

O prefeito plantou uma “Arvorezinha” pela campanha pela arborização da cidade que, com o decorrer do tempo, vai perdendo várias árvores “Derrubadas” por velhice, por causarem problemas na rede elétrica ou por alargamento de ruas e avenidas. Os irmãos cumprimentaram o prefeito e este se disse “Encantado” com a presença deles e desejou-lhes uma “Feliz” permanência na cidade. 

No dia seguinte foram para “São Miguel das Missões”, onde estão as principais ruínas. Havia um surpreendente número de turistas visitando a cidade. O irmão mais velho comunicava-se com muita facilidade, logo fez contato com uma jovem de nome “Áurea”, proveniente de “Bagé”. O pai dessa jovem era proprietário de uma “Estância Velha”, que outrora pertencera ao “Barão de Cotegipe”. Naquela época, como não existiam frigoríficos, nem geladeira, a carne fresca era salgada e transformada em charque. Era dado o nome de “Charqueadas” a estes locais. Elas eram muito comuns e foram o “Esteio” da economia do “Rio Grande” daquela época. Na estância do pai dessa jovem havia um “Barracão” que havia servido para a transformação da carne. 

Voltando à Região Missioneira, onde os dois irmãos permaneciam, sua atenção estava voltada para as Ruínas da Catedral e arredores. Chamara sua atenção uma palmeira muito velha, plantada pelos missionários jesuítas. Era conhecida como “Palmeira das Missões”. 

Havia ainda muita coisa que gostariam de ver, mas uma pandemia causada por um vírus surgido na China obrigou as autoridades do país a decretarem lockdown, ou seja, a paralisação quase total das atividades econômicas e sociais, bem como o isolamento social ou quarentena para grande parte da população, como medida preventiva contra a disseminação da doença. 

Ante essa situação, os irmãos irão se tornar “Caseiros” e tomarão muito chá de “Cidreira” para suportar a quarentena, desejando aos leitores muito “Progresso”! 

****** 

(Ricardo Chaves no Almanaque Gaúcho de Zero Hora, maio de 2021) 

Colaborou: Bruna Variani Chikoski


domingo, 23 de maio de 2021

Vai tomate cru

 Por Fraga

Os mal-humorados estão com tudo e não estão prosa. 

A gente sabe disso não por ouvir contar, mas por ouvir direto: xingamentos viraram instâncias do diálogo neste Brasil malcriado e mal-educado. Afora a justa indignação, todos se ofendem à toa. 

Antigamente é que se xingava cordialmente. 

Para xingar um amigo num momento de raiva ou um colega por estranhamento ou até em rusgas conjugais, comum era a gente apelar à agricultura. 

A gente mandava a pessoa plantar batatas e ela ia. Quer dizer, os furiosos da ocasião se contentavam em sugerir o plantio, e a ofensa máxima estava feita. Podia-se variar de leguminosa: vá às favas! Pronto, era o que bastava pra encerrar pendengas. Imagina as safras orais! 

Recorrer à botânica servia desde a infância: os principiantes mandavam você ir catar coquinho até que, mais crescidos e mais sádicos, gritavam pro desafeto sentar num cacto. Enfim, discussões acabavam, simples assim, na lavoura ou no jardim botânico. 

Num passado meio inocente, o reino animal também contribuía nos conflitos: o mais usado xingamento, até os anos 60, acho, era mandar alguém ir pentear macacos. Tarefa inglória, impraticável, humilhante. Ou mandar o sujeito amolar um bode. Complicada e malcheirosa tarefa, com o risco da recíproca. 

Até que nos anos 70 o grande Ivan Lessa inovou o xingão no Pasquim, com vá se roçar nas ostras. Tarefa dolorosa, somente realizável à beira-mar e a exigir mergulhos em apneia. 

Dores menores mas ainda ofensivas era mandar vá se lixar ou vá se ralar. 

Significavam que o insultador estava pouco se lixando pra você e sua pele macia. Insultos desse tipo eram capazes de fazer as pessoas ficarem de mal, veja só. 

Entre pessoas com certa religiosidade, mortal era berrar pra ir pros quintos dos infernos. Ou então: vá pro diabo que te carregue! Claro, não deviam funcionar com ateus. 

A fúria do momento podia recorrer às intempéries, mesmo em dias límpidos. O xingão favorito, sempre com próclise: Vá pro raio que o parta! 

A culinária oferecia branda ofensa: vá fritar bolinhos. Pro machismo da gurizada, humilhava. Ainda na cozinha, de novo Ivan Lessa, que mandava leitores e inimigos entubar uma brachola. Quer dizer, misturava culinária e sexo anal. 

Com a química, ofensa intragável: vá lamber sabão. Soda cáustica era castigo moral e físico. É, o produto evoluiu, mas ninguém manda ninguém lamber detergente. 

E assim, sem as selvagerias do Brasil polarizado, os ofendidos iam cada um pro seu lado, até passar a cólera ocasional. 

Não é saudosismo. É exaustão com a pior baixaria, com a impaciência reinante, com o modelo grosseiro do deprimente da república. 

***** 

José Guaraci Fraga é escritor, humorista, publicitário. Escreve mensalmente para o jornal Extra Classe.

 

sábado, 22 de maio de 2021

A resposta certa

 

Num salão paroquial, num curso de preparação de noivas para o casamento, o instrutor faz a seguinte pergunta: 

− O que a noiva disse ao noivo na primeira noite de núpcias? 

Uma moça respondeu: 

− Enfim, sós! 

O instrutor: 

− Não. 

Outra moça: 

− Finalmente, juntos. 

− Também não. 

Outra noiva: 

− Teremos, agora, um momento só nosso de amor. 

− Não foi essa a resposta. 

Noiva radiante: 

 Este é o dia mais feliz da minha vida. 

 Não. 

Uma moça, finalmente, reclama: 

− Essa está dura! 

O instrutor, satisfeito com a resposta, exulta: 

− Isso!

sexta-feira, 21 de maio de 2021

Curiosidades orientais em nosso idioma

 

Decassegui: é o nome dado aos brasileiros que vão trabalhar no Japão. 

Issei: japonês que emigra para a América. 

Nissei: filho de pais japoneses, nascido na América. 

Sansei: filho de nissei, nascido e criado na América. 

Bonsai é planta em bandeja. Árvores e arbustos plantados em pequenas bandejas que os mantêm, com podas constantes, num tamanho mínimo. Uma prática milenar na China e no Japão, sendo que neste país há o bonsai mais antigo do mundo, com cerca de 1500 anos. A curiosidade maior é que os frutos dessas árvores minúsculas são de tamanho normal. 

Hashi: os dois pauzinhos com que os orientais levam a comida à boca. 

Saquê: bebida alcoólica japonesa, feita a partir do arroz e submetida a processo de fermentação. 

Shoyu: molho à base de soja, muito utilizado nas culinárias japonesa e chinesa. 

Sushi: comida japonesa que consiste em bolinhos de arroz com peixe cru, ovas etc., temperados com saquê e vinagre e enrolados por uma folha de alga. Em português, sushi significa “azedo”. 

Yakisoba: macarrão com verduras bastante típico na culinária oriental.

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Hábito Nacional

 Luís Fernando Veríssimo

Por uma destas coincidências fatais, várias personalidades brasileiras, entre civis e militares, estão no avião que começa a cair. Não há possibilidade de se salvarem. O avião se espatifará – e, levando-se em consideração o caráter dos seus passageiros, “espatifar” é o termo apropriado – no chão. Nos poucos instantes que lhes restam de vida, todos rezam, confessam seus pecados, em versões resumidas, e entregam sua alma à providência divina. O avião se espatifa no chão. São Pedro os recebe de cara amarrada. 

O porta-voz do grupo se adianta e, já esperando o pior, começa a explicar quem são e de onde vêm. São Pedro interrompe com um gesto irritado. 

– Eu sei, eu sei. 

Aponta para uns formulários em cima de sua mesa e diz: 

– Recebemos suas confissões e seus pedidos de clemência e entrada no céu. 

O Porta-voz engole em seco e pergunta: 

– E… então? 

São Pedro não responde. Olha em torno, examinando a cara dos suplicantes. Aponta para cada um e pede que se identifiquem pelo crime: 

– Torturador. 

– Minha financeira estourou. Enganei milhares. 

– Corrupto. Menti para o povo. 

– Sabe a bomba, aquela? Fui o responsável. 

– Roubei. 

– Me locupletei. 

– Matei; 

Etcétera. São Pedro sacode a cabeça. Diz: 

– Seus requerimentos passaram pela Comissão de Perdão e foram rejeitados por unanimidade. Passaram pelo Painel de Admissões, uma mera formalidade, e foram rejeitados por unanimidade. Mas como nós, mais que ninguém, temos que ser justos, para dar o exemplo, examinamos os requerimentos também na Câmara Alta, da qual eu faço parte. Uma maioria esmagadora votou contra. Houve só um voto a favor. Infelizmente, era o voto mais importante. 

– Você quer dizer… 

– É. Ele. Neste caso, anulam-se todos os pareceres em contrário e prevalece a vontade soberana d’Ele. Isto aqui ainda é o Reino dos Céus. 

– E nós podemos entrar? 

São Pedro suspira. 

– Podem. Se dependesse de mim, iam direto para o Inferno. Mas… 

Todos entram pelo Portão do Paraíso, dando risadas e se congratulando. 

Um querubim que assistia à cena vem pedir explicações a São Pedro. 

– Mas como é que o Todo-Poderoso não castiga essa gente? 

E São Pedro, desanimado: 

– Sabe como é, Brasileiro... 

***** 

Este texto está no livro “Comédias para se Ler na Escola”, que é um livro de contos cômicos do escritor Luis Fernando Veríssimo publicado em 2001 pela Editora Objetiva. Com introdução de Ana Maria Machado, o livro é dividido em seis tópicos, e subdividido em suas respectivas crônicas/contos. 

“A diferença entre o Brasil e a República Checa é que a República Checa tem o governo em Praga e o Brasil tem essa praga no governo.” 

Luis Fernando Veríssimo

Luis Fernando Veríssimo por Sávio


 


quarta-feira, 19 de maio de 2021

Serestas e Seresteiros

 O texto do avô da Carolina 

Esse texto foi escrito a pedido da minha neta e afilhada, Carolina, quando era estudante em Santa Catarina, por exigência da sua Professora. Alguém da família deveria escrever uma pequena história, para ser lida em aula, e o avô da Carolina foi o escolhido para essa missão...

Há muitos anos, na cidade de São Francisco de Paula, como de resto em todo o País, vivia-se uma época romântica. A música popular brasileira primava pela melodia e pela sonoridade, portanto muito diferente da que se ouve hoje em dia. Ouviam-se, em todo o País, pelas ondas médias e curtas da Rádio Nacional, as belas vozes de Orlando Silva, “O Cantor das Multidões”, de Francisco Alves, “O Rei da Voz” e de Sílvio Caldas, “O Caboclinho Querido”. Suas interpretações eram muito apreciadas e muito aplaudidas. 

Havia, também, excelentes cantoras, entre as mais famosas, salientavam-se as irmãs: Linda e Dircinha Batista; Nora Ney, Emilinha Borba e Aracy de Almeida. Naquela cidade serrana, onde nasceu e também foi músico da Banda Municipal, o famoso Médico e Cientista Dr. Eliseu Paglioli. Nós, embora muito jovem, tipógrafo por profissão, figurávamos, modéstia à parte, entre os notívagos daqueles remotos tempos. E, acompanhando-nos ao violão-tenor, convertemo-nos em “Seresteiro”. Para quem não sabe, dizemos que as Serenatas ocorriam, à noite; de preferência naquelas enluaradas. 

Quase sempre, atendendo a pedidos femininos, junto com poucos e escolhidos amigos, por volta da meia-noite, orientávamos nossos passos para os endereços, antecipadamente, designados, aonde chegávamos, pé-ante-pé, silenciosamente. Então, com o violão rigorosamente afinado, enquanto um amigo e acompanhante soprava, por sob a porta, um pequeno pedaço de papel, contendo o nome da homenageada, com acordes, quase sempre em tom menor, iniciávamos a Serenata, mais ou menos assim: Com um rápido sinal de luz, provindo do interior da casa visitada, sentia-nos gratificados, pois aquele era o código discreto, silencioso e luminoso da homenageada. Traduzia-se como se ela dissesse: “Estou emocionada. Adorei essa Serenata maravilhosa. Muitíssimo obrigada por terem escolhido meu endereço”. 

Mas, também, naqueles saudosos tempos, às vezes, coisas imprevisíveis aconteciam. Certa vez, numa incomparável noite de lua cheia, dirigimo-nos para o bairro chamado “Rincão”, zona leste daquela cidade serrana, há poucas quadras do belo Lago São Bernardo, para mais uma Serenata. Silenciosa, e, vagarosamente, aproximamo-nos da porta da casa. Pela frincha de uma janela lateral, estranhamos a existência de uma fraca luz, no interior da residência. Sem desconfiar de nada, apoiamos o pé esquerdo na soleira da porta e o violão junto ao peito. E, no exato momento em que iniciávamos os acordes de mais uma das solicitadas Serenatas, alguém abriu a janela da sala e gritou: 

- Para! Para! Para!        

E a gente perguntou:         

- Por quê? Por quê? Tem gente doente?

E a resposta veio incontinenti: 

- Não! Não tem doente! Tem velório! 

Nós não sabíamos que, às primeiras horas da tarde daquele dia, vítima de enfarto, havia morrido, repentinamente, um membro da família, que ali, morava. E, naquele exato momento, estava sendo velado... 

Completamente frustrado pelo ocorrido! Perdemos a voz! Emudecemos, paradoxal e literalmente falando! Desafinamos o violão e nos retiremos em silêncio... 

Jair Teixeira 

Porto Alegre, 1° de março de 2010.

terça-feira, 18 de maio de 2021

Pequenos textos de humor

 

Não se meta 

A mulher está na cozinha fritando um ovo quando o marido chega e começa a gritar:

– Cuidado! Cuidado! Joga mais óleo! Joga mais óleo! Vai grudar no fundo! Cuidado! Vira, vira, anda! O sal! Não esquece o sal!

A mulher, irritada com os berros, pergunta:

− Por que você está fazendo isto?! Você acha que eu não sei fritar um ovo?

E o marido responde:

– Isto é só para você ter uma ideia do que eu sinto quando dirijo e você está do meu lado… 

A oferta 

Recentemente cancelei o serviço de TV a cabo por estar insatisfeita com a empresa. Após o cancelamento, recebi dezenas de ligações deles tentando me convencer a voltar a ser cliente. A última foi num sábado antes das oito da manhã e, claro, eu estava dormindo.

− Senhora, podemos lhe dar seis meses de isenção de mensalidade!

− Realmente não tenho interesse.

− A senhora pode, então, oferecer a promoção a um amigo!

Respirei fundo e, já irritada, disse:

− Sinceramente, só recomendaria essa oferta a um inimigo.

− Sem problema! A senhora pode me passar o nome e o telefone de seu inimigo? 

Buracos 

Naquela cidadezinha do interior, todos sabiam que as mulheres que traíam o marido, ao se confessarem, diziam que tinham “caído no buraco”.

Um dia o velho padre morre e chega um substituto. Sem saber de nada, este diz a todas que cair no buraco não é pecado e vai reclamar com o prefeito:

– Prefeito, o senhor precisa cuidar melhor das ruas. Elas estão cheias de buracos. O prefeito, que sabia da história, cai na gargalhada.

– E o senhor ri? – pergunta o padre.

– Só essa semana sua mulher já caiu cinco vezes! 

Dúvida cruel 

No ano passado, no aniversário de minha namorada, dei-lhe um colar de pérolas, e ela me disse que não tinha palavras para agradecer. E este ano, o que devo dar? − Um dicionário. 

A desconhecida 

De noite, enquanto Lourenço lê o jornal, a esposa comenta:

− Você já percebeu como vive o casal que mora aí em frente? Parecem dois pombinhos apaixonados! Todos os dias, quando ele chega em casa, traz flores para ela, abraça-a e os dois ficam se beijando apaixonadamente. Por que você não faz isso?

E o maridão:

− Mas, querida, eu mal conheço essa mulher! 

Imbróglio no baile 

A moça se prepara para ir ao baile no interior da cidade. Colocou seu melhor vestido, arrumou-se, perfumou-se e lá foi, toda alegre. Estava sentada à frente de uma das mesas, a orquestra tocava, quando um rapaz suarento veio tirá-la para dançar. Ela, para não arrumar confusão, aceitou dançar com ele. A certa altura ele suava demais, e o cheiro estava insuportável. Ela, então, afastou-se um pouco dele, mas ele a puxava para perto. Delicadamente, a moça resolveu falar com ele:

− Você sua, hein!

Ao que ele respondeu:

− Eu também vou ser seu, princesa

Promoção 

A moça entra em uma loja e pergunta para a dona:

− Esta calça está na promoção?

E a dona responde:

− Não. Esta calça é para mocinha mesmo. 

Quem pega? 

Naquela noite, o fotógrafo foi cobrir uma partida de futebol na qual jogava o seu time predileto. É claro que acabou mais torcendo do que trabalhando. Tanto que, na hora que seu time fez o gol, foi tanta emoção que acabou não fotografando o lance. No jornal, o editor estranha que o lance mais importante da partida não tinha sido registrado.

− Ué, mas você não pegou o gol!

− Ora, se o goleiro, que era obrigado a pegar, não pegou, imagine eu, um simples fotógrafo... 

Como é mesmo? 

Um engenheiro pergunta ao pedreiro:

− Sabe como é uma construção pacífica?

O pedreiro responde:

− Aquela que não usa cimento armado. 

O injustiçado 

Em uma agência caça-talentos, o entrevistador pergunta:

− E aí, qual é o seu número?

O rapaz responde todo entusiasmado:

− Eu imito passarinhos!

Com desdém, o entrevistador logo diz:

− Meu filho, isso todo mundo faz!

Entristecido, o rapaz dirige-se até a janela e sai voando... 

Quem faz a comida melhor? 

Mãe falando para a filha:

− Quando recém-casados, seu marido pedirá à mãe dele que lhe dê a receita do prato que ele mais gosta... Ela fará isso, mas, convenientemente, esquecerá de anotar um dos ingredientes principais... Então, o filho dela dirá pra você: “Está bom, mas não está como a mamãe fazia”.

Pequenas histórias 

A dona de casa pede para o menino:

− Filho, vá ver se o açougueiro tem pé de porco.

O garoto sai e volta meia hora depois:

− Não consegui ver, mãe. Ele não estava descalço.

 

O menino está fazendo a lição de casa de português, quando tem uma dúvida e pergunta para o pai:

− Papai, tô com uma dúvida na minha lição.

− Fala, filho.

− Burrice, se acentua?

− Com os anos, sim.

 

Um ladrão conseguiu fugir de sua cela da delegacia. O delegado logo ordenou:

− Bloqueiem todas as saídas!

Depois de uns 10 minutos, chega um funcionário com a notícia:

− Não conseguimos capturar o bandido, delegado. Ele fugiu.

− Mas eu não falei para trancar todas as saídas? – perguntou o delegado.

− Sim senhor, mas aí ele fugiu pela entrada.

 

O casal vem pela estrada sem dizer uma palavra. Brigaram, nenhum dos dois quer dar o braço a torcer. Ao passar por uma fazenda em que há mulas e porcos, o marido pergunta, sarcasticamente:

− Parentes seus?

− Sim, responde ela, cunhados.