segunda-feira, 17 de maio de 2021

Rabada com agrião

 (Paródia, 2010) 

Jô Soares

Novamente em 2010, Jô Soares criou uma paródia para outro clássico do jazz norte-americano. Dessa vez a vítima da “cantada” de Jô foi a música “Saturday Night Fish Fry”, interpretada por Louis Jordan, que virou “Rabada com Agrião”. Bira, contrabaixista do “Sexteto” que se tornou uma personagem do programa de entrevistas apresentado por Jô na Rede Globo é citado na letra, assim como alusões históricas a episódios da Bíblia Judaica, como o acontecido com as cidades de Sodoma e Gomorra. Desta forma, Jô Soares entrelaça o clássico ao atual, e deixa entrever uma das principais características de suas “cantadas” em qualquer área artística. A capacidade de lançar um olhar arguto e charmoso sobre a vida. E o olhar, como se sabe, na conquista, é fundamental. 

Não dá pra acreditar no que aconteceu

Comigo e com o Bira que é um amigo meu.

Nós fomos convidados pra ouvir um som,

Numa festa da pesada que era muito bom.

Pra entrar você levava uma bebida qualquer,

E na casa já estava sobrando mulher.

No que diz respeito à alimentação,

O jantar era rabada feita com agrião. 

Que rabada,

Que roubada,

Nem nas baladas de Sodoma e de Gomorra aconteceu algo igual.

Que rabada,

Que roubada,

É bom não bobear e olhar pra trás ou vira estátua de sal. 

Era sábado à noite, eu tava de bobeira,

E o Bira também tá sempre a fim de besteira.

Por isso a gente foi correndo pro endereço,

Que era pra pegar a zorra no começo.

A gata que atendeu quando eu cheguei no lugar,

Me disse num miado: “Oi amor, pode entrar”.

No tempo que se leva pra dar meia piscada,

A gente já se achava no calor da rabada. 

Que rabada,

Que roubada,

Nem nas baladas de Sodoma e de Gomorra aconteceu algo igual.

Que rabada,

Que roubada,

É bom não bobear e olhar pra trás ou vira estátua de sal.  

O som colaborava pra essa animação,

A banda improvisando com empolgação.

A roupa das moças era bem transada,

Tinha minissaia e tinha mini sem nada.

A turma já estava bastante chapada,

Não me parecia que era só da rabada.

Por que tem uma coisa que eu achei bisonha,

O cheiro do agrião era igual à maconha. 

Que rabada,

Que roubada,

Nem nas baladas de Sodoma e de Gomorra aconteceu algo igual.

Que rabada,

Que roubada,

É bom não bobear e olhar pra trás ou vira estátua de sal. 

A noite prosseguia sem a farra parar,

Parecia que a rabada nunca ia terminar.

A bebida rolava de tudo que é jeito,

De uísque à cachaça que ninguém é perfeito.

Não de pra agradecer quem nos tinha chamado,

Porque o dono da casa já estava apagado.

Foi quando no bar eu dei um flagra.

No Alex preparando um coquetel de Viagra. 

Que rabada,

Que roubada,

Nem nas baladas de Sodoma e de Gomorra aconteceu algo igual.

Que rabada,

Que roubada,

É bom não bobear e olhar pra trás ou vira estátua de sal. 

Só que quando, de repente,

Quando eu já pensava

Que por nada desse mundo a orgia acabava,

Vem saindo do quarto já baratinada,

A mulher do Bira totalmente pelada.

Aquela visão me deixou assustado,

Porque eu sei como é o Bira zangado.

Pra ainda piorar a situação.

Nesse momento teve um apagão. 

Que rabada,

Que roubada,

Nem nas baladas de Sodoma e de Gomorra aconteceu algo igual.

Que rabada,

Que roubada,

É bom não bobear e olhar pra trás ou vira estátua de sal. 

Mesmo sem roupa e esquecendo a cautela,

A mulher do Bira pulou pela janela.

Cego de ciúme e na escuridão,

O Bira deu um tiro com seu “três oitão”.

A galera gritava, tropeçava e corria,

Apesar de não saber o que acontecia.

No meio disso tudo informando a noticia,

Uma bicha esganiçada berrou: “Políííícia!”. 

Que rabada,

Que roubada,

Nem nas baladas de Sodoma e de Gomorra aconteceu algo igual.

Que rabada,

Que roubada,

É bom não bobear e olhar pra trás ou vira estátua de sal. 

Foi todo mundo em cana, não deu pra se mandar,

Só a mulher do Bira conseguiu escapar.

Tentei me esconder no buraco da escada,

Mas fiquei ali preso com a bunda entalada.

E para se livrar do que ocorreu,

O Bira ainda jurou que o 38 era meu.

E desde este dia eu taco um bofetão

Em quem me oferecer rabada com aquele agrião. 

Que rabada,

Que roubada,

Nem nas baladas de Sodoma e de Gomorra aconteceu algo igual.

Que rabada,

Que roubada,

É bom não bobear e olhar pra trás ou vira estátua de sal.

***** 

P.S. O vídeo dessa interpretação está na internet com Jô Soares e Sexteto Onze Meia.

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