(Paródia, 2010)
Jô Soares
Novamente em 2010, Jô Soares criou uma paródia para outro clássico do jazz norte-americano. Dessa vez a vítima da “cantada” de Jô foi a música “Saturday Night Fish Fry”, interpretada por Louis Jordan, que virou “Rabada com Agrião”. Bira, contrabaixista do “Sexteto” que se tornou uma personagem do programa de entrevistas apresentado por Jô na Rede Globo é citado na letra, assim como alusões históricas a episódios da Bíblia Judaica, como o acontecido com as cidades de Sodoma e Gomorra. Desta forma, Jô Soares entrelaça o clássico ao atual, e deixa entrever uma das principais características de suas “cantadas” em qualquer área artística. A capacidade de lançar um olhar arguto e charmoso sobre a vida. E o olhar, como se sabe, na conquista, é fundamental.
Não dá pra acreditar no que
aconteceu
Comigo e com o Bira que é um
amigo meu.
Nós fomos convidados pra
ouvir um som,
Numa festa da pesada que era
muito bom.
Pra entrar você levava uma
bebida qualquer,
E na casa já estava sobrando
mulher.
No que diz respeito à
alimentação,
O jantar era rabada feita com agrião.
Que rabada,
Que roubada,
Nem nas baladas de Sodoma e
de Gomorra aconteceu algo igual.
Que rabada,
Que roubada,
É bom não bobear e olhar pra trás ou vira estátua de sal.
Era sábado à noite, eu tava
de bobeira,
E o Bira também tá sempre a fim
de besteira.
Por isso a gente foi correndo
pro endereço,
Que era pra pegar a zorra no
começo.
A gata que atendeu quando eu
cheguei no lugar,
Me disse num miado: “Oi amor,
pode entrar”.
No tempo que se leva pra dar
meia piscada,
A gente já se achava no calor da rabada.
Que rabada,
Que roubada,
Nem nas baladas de Sodoma e
de Gomorra aconteceu algo igual.
Que rabada,
Que roubada,
É bom não bobear e olhar pra trás ou vira estátua de sal.
O som colaborava pra essa
animação,
A banda improvisando com
empolgação.
A roupa das moças era bem
transada,
Tinha minissaia e tinha mini
sem nada.
A turma já estava bastante
chapada,
Não me parecia que era só da
rabada.
Por que tem uma coisa que eu
achei bisonha,
O cheiro do agrião era igual à maconha.
Que rabada,
Que roubada,
Nem nas baladas de Sodoma e
de Gomorra aconteceu algo igual.
Que rabada,
Que roubada,
É bom não bobear e olhar pra trás ou vira estátua de sal.
A noite prosseguia sem a farra
parar,
Parecia que a rabada nunca ia
terminar.
A bebida rolava de tudo que é
jeito,
De uísque à cachaça que
ninguém é perfeito.
Não de pra agradecer quem nos
tinha chamado,
Porque o dono da casa já
estava apagado.
Foi quando no bar eu dei um
flagra.
No Alex preparando um coquetel de Viagra.
Que rabada,
Que roubada,
Nem nas baladas de Sodoma e
de Gomorra aconteceu algo igual.
Que rabada,
Que roubada,
É bom não bobear e olhar pra trás ou vira estátua de sal.
Só que quando, de repente,
Quando eu já pensava
Que por nada desse mundo a
orgia acabava,
Vem saindo do quarto já
baratinada,
A mulher do Bira totalmente
pelada.
Aquela visão me deixou
assustado,
Porque eu sei como é o Bira
zangado.
Pra ainda piorar a situação.
Nesse momento teve um apagão.
Que rabada,
Que roubada,
Nem nas baladas de Sodoma e
de Gomorra aconteceu algo igual.
Que rabada,
Que roubada,
É bom não bobear e olhar pra trás ou vira estátua de sal.
Mesmo sem roupa e esquecendo
a cautela,
A mulher do Bira pulou pela
janela.
Cego de ciúme e na escuridão,
O Bira deu um tiro com seu
“três oitão”.
A galera gritava, tropeçava e
corria,
Apesar de não saber o que
acontecia.
No meio disso tudo informando
a noticia,
Uma bicha esganiçada berrou: “Políííícia!”.
Que rabada,
Que roubada,
Nem nas baladas de Sodoma e
de Gomorra aconteceu algo igual.
Que rabada,
Que roubada,
É bom não bobear e olhar pra trás ou vira estátua de sal.
Foi todo mundo em cana, não
deu pra se mandar,
Só a mulher do Bira conseguiu
escapar.
Tentei me esconder no buraco
da escada,
Mas fiquei ali preso com a
bunda entalada.
E para se livrar do que
ocorreu,
O Bira ainda jurou que o 38
era meu.
E desde este dia eu taco um
bofetão
Em quem me oferecer rabada com aquele agrião.
Que rabada,
Que roubada,
Nem nas baladas de Sodoma e
de Gomorra aconteceu algo igual.
Que rabada,
Que roubada,
É bom não bobear e olhar pra trás ou vira estátua de sal.
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P.S. O vídeo dessa interpretação está na internet com Jô Soares e Sexteto Onze Meia.
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