quarta-feira, 26 de maio de 2021

Clichês de filmes de faroeste

 

Eis alguns clichês, entre os mais clássicos e inesquecíveis − para a próxima vez que você sintonizar um faroeste no seu canal de filmes cult na TV. 

● O mocinho é sempre ambidestro − saca dos dois revólveres. Tem de ser, para poder enfrentar sozinho os quatro ou cinco bandidos que o esperam na cidade deserta. 

● O mocinho raramente bebe uísque. Se beber, deverá fazer uma careta ao tomar o copo de um só trago. 

● O garçom nunca lhe serve a bebida educadamente. Despacha-a sobre o balcão como se ela fosse uma bola de boliche. 

● A porta sempre range quando o bandido entra no saloon. Às vezes, um cachorro, até então dormindo num canto, recolhe o rabo e prefere se retirar. 

● Quando o bandido entra no saloon, o piano para de tocar. 

● Todo saloon é quase um cassino. Ninguém se senta ali para jantar ou conversar fiado. Todos jogam pôquer. 

● O trapaceiro no pôquer usa um bigode fininho e tem uma pequena arma com cabo de madrepérola no bolso do colete. 

● Aliás, quanto mais fino o bigode, maior probabilidade de o sujeito ser um trapaceiro. 

● Se, atrás do balcão, houver um belo espelho, pode-se garantir que ele será quebrado numa briga. 

● Nenhuma mesa ou cadeira no saloon suporta o peso de um homem que cai sobre ela depois de levar um soco. 

● Mas, não importa o grau de destruição no saloon, sua decoração já terá sido refeita na próxima sequência em que ele aparecer. 

● O mocinho fuma ocasionalmente. Mas dá apenas uma tragada e joga o cigarro fora, mesmo que tenha tido um certo trabalho para enrolá-lo. O fósforo é riscado em qualquer superfície de madeira ou na sola da bota do mocinho.

● Para libertar um prisioneiro que está para ser linchado, basta atar uma corda à grade da janela da cela e puxá-la com seu cavalo. A parede cairá imediatamente. 

● As balas miam ao ricochetear contra uma pedra. 

● Antes de dar tiros através da janela, é preciso quebrar o vidro com o cano do revólver. 

● Alguns revólveres dão cinquenta tiros antes de descarregar. 

● Ao ver que seu revólver está descarregado, o bandido joga-o fora. 

● Nenhum bandido sabe contar até seis. Sempre acha que o tambor do revólver do mocinho já se descarregou. 

● Não se conhece nenhum caso de mocinho que tenha esmagado os testículos ao pular de uma pedra ou de um segundo andar sobre um cavalo parado lá embaixo. 

● Quando a rua se esvazia em função de um duelo, sempre sobrará um mexicano dormindo na calçada. 

● Todo ferimento de bala é desinfetado com uísque. 

● O bebedouro dos cavalos serve tanto para curar uma carraspana quanto para aliviar os ferimentos provocados por uma briga. 

● Com todas aquelas brigas a socos, os queixos nos faroestes são inexpugnáveis. Os dentes também − não há memória de nenhum dentista nos filmes do gênero. 

● Embora os bandidos às vezes usem aquelas capas impermeáveis, nunca chove nas cidades do Velho Oeste. 

● O bandido usa chapéu preto; o mocinho, branco. Mas nenhum dos dois chapéus cai da cabeça numa briga. 

● O chefe da quadrilha é sempre um banqueiro ou alguém com uma profissão respeitável. Ninguém desconfia dele, mesmo quando os bandidos atacam uma diligência cuja hora de chegada só ele conhecia.

● Embora não hesite em mandar matar seus asseclas que não estão se portando a contento, o chefe da quadrilha nunca tem dificuldades para recrutar novos bandidos. 

● Se, ao fim de um duelo, o bandido é mostrado caminhando em direção à câmera, pode-se apostar que ele perdeu e vai cair morto. 

● O xerife costuma ser um bandido que se regenerou. Se não for isso, será um banana que precisará de ajuda do mocinho. 

● O cavalo do mocinho é sempre mais rápido e o único que não tem medo de saltar sobre o abismo. 

● Os índios falam um inglês primitivo (“Índio não vai assinar tratado, índio não confia homem branco”), mas todos pronunciam inglês perfeito. 

● Alguns índios têm olhos azuis. 

● O garimpeiro é sempre um homem barbudo. 

● Mocinhos e bandidos invariavelmente usam um lenço no pescoço. Mas apenas como enfeite − nunca se viu um deles o tirar para enxugar a testa. 

● Bandidos mascarados nunca são identificados pela população de uma cidade, embora usem roupas e montem cavalos facilmente reconhecíveis. 

● Às vezes, um bandido morto no começo do filme reaparece em outra sequência mais adiante. 

● Os bandidos mortos em combate nunca são enterrados, ao contrário de qualquer amigo do mocinho, que, quando morre, tem direito a cena de enterro com pastor, citação bíblica e testemunhas. 

● As únicas mulheres nos faroestes são a dona do saloon − sempre uma mulher com um passado sobre o qual não resta a menor dúvida − e a professorinha, geralmente um pastel e, aliás, filha do pastor. 

● Os bandidos respeitam as mulheres que eles capturam. Nem ao menos tentam roubar um beijo. 

● Já os mocinhos teriam direito a beijos, se quisessem, mas estão sempre muito ocupados. 

●Ao liquidar com os bandidos e pacificar a cidade, o mocinho não se casa com a moça mais bonita do lugar e se estabelece por ali. Prefere ir embora sozinho, para cuidar de um rancho em Montana, no Arizona, ou em qualquer buraco semelhante. 

E por aí vai. Alguns desses clichês foram recolhidos por Philippe Mignaval em Tous les clichês du cinema (Édition Fetjaine, Paris, 2012). Os outros, por mim mesmo (Ruy Castro), velho fã de Allan “Rocky” Lane. 

(...) 

(Do livro “Trêfego e peralta”, de Ruy castro, Companhia das Letras)

P.S. Imagens da internet.

 


2 comentários:

  1. Olá, amigo! Poderia citar algum filme que se baseia nisso que você falou? Adorei a postagem, tem a ver bastante com os faroestes italianos! Abraços!

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  2. Na verdade,os comentários se baseiam em clichês de filmes de "mochinho" em geral, que se utilizavam desses instrumentos para dar emoção aos espectadores dos cinemas dos anos 50, 60, 70...

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