sábado, 29 de maio de 2021

A música popular sai do armário

 Algumas músicas*

Porção mulher 

Gilberto Gil 

Um dia, vivi a ilusão de que ser homem bastaria,

que o mundo masculino tudo me daria

do que eu quisesse ter... 

Que nada, minha porção mulher

que até então se resguardara,

é a porção melhor que trago em mim agora,

é o que me faz viver... 

Quem dera, pudesse todo homem compreender,

ó mãe, quem dera,

ser o verão no apogeu da primavera,

e só por ela ser... 

Quem sabe o super-homem venha nos restituir a glória,

mudando como um Deus, o curso da história

por causa da mulher... 

Johnny Pirou

(Johnny B. Goode) 

Leo Jaime 

Era uma tarde de domingo e tinha muito sol.

Jogo do Flamengo e Fluminense legal.

Johnny viu anunciado no jornal

E foi para o Maracá assistir na geral,

Pela primeira vez sentiu a sensação de um gol 

Foi gol!

Foi gol! Gol do Mengão, foi gol!

Gol do Mengão, foi gol!

Gol do Mengão, foi gol!

Gol do Mengão, foi gol!

Johnny pirou... 

Johnny é executivo de uma multilegal

E mora em suíte presidencial,

Mas naquela tarde tudo, tudo mudou

Quando um negão sua cintura agarrou

E com uma voz muito grossa em seu ouvido gritou: 

Foi gol! Gol do Mengão, foi gol!

Gol do Mengão, foi gol!

Gol do Mengão, foi gol!

Gol do Mengão, foi gol!

Johnny pirou... 

De repente, o ponta pelo beque passou

E com muito charme para a área lançou.

O goleiro apaixonado nem sequer reparou

Quando entre suas pernas a bola entrou

E o negão, animadão, novamente

A Johnny agarrou e beijou. 

Foi gol! Gol do Mengão, foi gol!

Gol do Mengão, foi gol!

Gol do Mengão, foi gol!

Gol do Mengão, foi gol!

Johnny pirou no negão. 

Pirou, pirou no negão pirou...

Pirou, no negão pirou...

Pirou, no negão pirou...

Johnny pirou. 

Diga aí, companheiro 

Joyce 

Você meu pede meu batom, empresto.

Empresto a sobra pra passar nos cílios,

Mas você tem que me dizer, amor,

O que é que eu digo aos nossos filhos. 

Quer minha canga pra botar na praia

E mil purpurinas realçando o brilho.

Não tem problema, mas me diga, amor,

O que é quer digo aos nossos filhos. 

Agora sempre esse inferno,

A gente um casal tão moderno.

Você já não usa mais terno.

No inverno anda sem agasalho.

Não quer mais saber de trabalho,

Caiu na gandaia de boca,

Caiu de cabeça na dança

E sem falar nessas tranças,

Que você botou no cabelo,

Dizendo que é novo modelo...

Coberto com arco de fita,

Parece uma nega bonita.

Só uma coisa me agita:

O que eu vou falar pras crianças! 

Rocky Mary 

Paulinho Boca de Cantor e David Moraes 

Mamãe, aqui eu pirei por causa de Mary.

Mamãe, aquela angelical e fina flor do amor,

Também pirou, está pra lá de punk, mamãe.

Me viciou, viciou, viciou, em rock roll.

Me viciou, viciou, viciou, em rock roll. 

Certa vez me deu um toque

Com um sanfoneiro do norte

E o cabra não era mole.

Mary só voltou por sorte,

Quando eu puxei melhor o fole.

Mary só voltou por sorte,

Quando eu puxei melhor o fole. 

Mamãe, aqui eu pirei por causa de Mary.

Mamãe, aquela angelical e fina flor do amor

Também pirou, está pra lá de punk, mamãe.

Me viciou, viciou, viciou, em rock roll.

Me viciou, viciou, viciou, em rock roll. 

O que é que eu faço sem Mary,

Se mandou com uma dona

Cujo sapato e bem maior do que o meu.

Mamãe, não duvide.

Mary só volta pra mim,

Quando eu pirar pra lá de Lou Reed. 

Telma, eu não sou gay

(Tell me once again) 

Leo Jaime 

Diz que vai dar, meu bem,

Seu coração pra mim.

Eu deixei aquela vida de lado

E não sou mais um transviado. 

Telma, eu não sou gay.

O que falam de mim são calúnias, meu bem,

Eu parei... 

Não me maltrate assim, não posso mais sofrer.

Vamos ser um casal moderno,

Você de bobs e eu de terno. 

Telma, eu não sou gay.

O que falam de mim são calúnias, meu bem,

Eu parei... 

Eu sou introvertido até no futebol.

Isso tudo não faz sentido

E não é meu esse baby doll. 

Telma, eu não sou gay.

O que falam de mim são calúnias, meu bem,

Eu parei... 

Recitando 

Telma, ô Telminha, não faz assim comigo...

Não me puna por essas manchas no meu passado.

Já passou, esses rapazes são apenas meus amigos.

Agora eu sou somente seu, meu amor! 

Telma, eu não sou gay.

O que falam de mim são calúnias, meu bem,

Eu parei... 

***** 

Baseado na crônica “Homens (e mulheres) com H”, no livro: “Trêfego e Peralta”, de Ruy Castro, Companhia das Letras. 

*P.S.1: Todas as músicas estão na internet.

P.S.2: Outras músicas com o mesmo tema: “Masculino e Feminino”, de Pepeu Gomes; “Bárbara”, de Chico Buarque; “Minorias”, de Filó e Sérgio Natureza; “A nível de”, de Aldir Blanc e João Bosco; “Rock das aranhas”, de Raul Seixas; “Jane e Júlia”, do Brylho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário