segunda-feira, 24 de maio de 2021

Um conto de várias cidades

 

O pelotense Paulo Francisco Nunes tem 98 anos de idade. Bancário aposentado, lúcido e ativo, ele também é um leitor voraz. Durante o isolamento provocado pela pandemia, inspirou-se em nomes de cidades gaúchas (os quais viu publicados em uma reportagem de jornal) para escrever o curioso texto que reproduzimos a seguir. 

Nascia a “Alvorada” quando os “Dois Irmãos”, remando em suas “Canoas”, no “Guaíba”, chegaram a “Porto Alegre”. Após vestirem-se adequadamente, hospedaram-se em uma pousada na Rua “Barros Cassal”, onde, após um bom café da manhã, saíram a caminhar. Ao passarem por uma “Igrejinha”, resolveram entrar. O templo estava quase vazio. Apenas “Três Coroas” estavam rezando. Cada rapaz retirou do bolso seu “Rosário”. Ajoelharam-se ante uma “Cruz Alta” e fizeram preces para o “Bom Jesus” e “Santa Maria”. Ao saírem, passaram por um “Portão” e viram um homem, alterado pela bebida, um tanto “Alegrete”, munido de uma “Taquara”, tentando bater na “Canela” de um senhor chamado “Antônio Prado”, que gritava: “Não-Me-Toque”! Atendeu à ocorrência uma viatura da Brigada com dois soldados e o “Tenente Portela”, que conduziu o bebum para a delegacia. 

Reiniciaram a caminhada e logo após detiveram-se ante a vitrina da joalheria “Ametista do Sul”. Chamou-lhes a atenção uma “Joia” com uma grande e bela “Esmeralda”. “Três Passos’ adiante chegaram em um grande parque, onde se destacava um monumento a “Bento Gonçalves”, herói da Revolução “Farroupilha”. Neste movimento, os gaúchos lutaram contra o Exército Imperial, comando pelo, então, Barão de “Caxias”. Essa guerra entre brasileiros enlutou o Estado e o País durante 10 anos. Por fim, houve o “Triunfo” do bom senso e a paz foi selada em Ponche Verde, localidade do município de “Dom Pedrito”. 

Chegando ao Centro, procuraram o museu “Júlio de Castilhos”, onde, após demorada visita, puderam apreciar o acervo histórico lá existente. Como estavam perto do Palácio “Piratini”, sede do Executivo gaúcho, deslocaram-se até a sua frente, onde puderam apreciar a sobriedade e beleza de sua fachada. No dia seguinte resolveram visitar seu “Tio Hugo”, casada com tia “Ernestina”. Ele se aposentara como “Capitão” do Exército. Homem “Sério”, mas cordial e “Gentil”. Vivia em perfeita “Harmonia” com todos. Moravam em um “Sobradinho”, numa “Coxilha” em “Campo Novo”. O casal recebeu os sobrinhos com muita “Alegria”. Apesar de ser “Colorado”, o tio soube manter uma conversa amena com os rapazes, que eram gremistas. O almoço, um gostoso churrasco, foi acompanhado por um bom vinho de “Garibaldi”. O dia amanhecera quente e, à medida que as horas passavam, o “Mormaço” aumentava. Depois do almoço, o calor e o vinho começaram a agir e o sono veio como consequência. A tia abriu um sofá-cama e entregou a cada sobrinho um “Travesseiro”. A sesta foi até as 15 horas. 

A TV foi ligada e os jovens pediram para assistir a partida do Grêmio contra Esporte Clube “Pelotas”, pelo campeonato Gaúcho. Enquanto os rapazes assistiam ao jogo, os tios foram tomar chimarrão com seus vizinhos e amigos, o médico “Doutor Ricardo” e sua esposa “Dona Francisca”. Ela, excelente pianista, apreciava música clássica. O Guarani, de “Carlos Gomes”, era sua predileta. À noite, como reconhecimento à carinhosa acolhida, os sobrinhos encomendaram uma pizza. 

Há muito tempo os irmãos planejavam uma visita à Região Missioneira e o momento de concretizar a ideia chegara. Alugaram um carro e partiram. Tudo era objeto de sua observação. A estrada não poderia estar melhor! Eles a compararam a um piso “Lajeado”. Cerca de uma hora após o início da viagem na paisagem de campos verdejantes, um “Gramado” onde algumas reses de uma “Vacaria” pastavam. Ao longo do caminho foram se sucedendo elevações de todo tipo: um “Morro Redondo”, logo após, um “Montenegro” e, logo em seguida, dois Morretes que se assemelhavam a duas “Torres” e, mais adiante, umas “Pedras Altas” por entre as quais a água de uma “Cachoeirinha” ziguezagueava. Chegaram a “Santo Ângelo” ao anoitecer e uma linda “Estrela” brilhava no firmamento. No dia seguinte, “Sete de Setembro”, feriado nacional em que se comemora nossa “Independência”, a cidade aproveitou o belo dia de sol, lotando a praça “Getúlio Vargas”. 

O prefeito plantou uma “Arvorezinha” pela campanha pela arborização da cidade que, com o decorrer do tempo, vai perdendo várias árvores “Derrubadas” por velhice, por causarem problemas na rede elétrica ou por alargamento de ruas e avenidas. Os irmãos cumprimentaram o prefeito e este se disse “Encantado” com a presença deles e desejou-lhes uma “Feliz” permanência na cidade. 

No dia seguinte foram para “São Miguel das Missões”, onde estão as principais ruínas. Havia um surpreendente número de turistas visitando a cidade. O irmão mais velho comunicava-se com muita facilidade, logo fez contato com uma jovem de nome “Áurea”, proveniente de “Bagé”. O pai dessa jovem era proprietário de uma “Estância Velha”, que outrora pertencera ao “Barão de Cotegipe”. Naquela época, como não existiam frigoríficos, nem geladeira, a carne fresca era salgada e transformada em charque. Era dado o nome de “Charqueadas” a estes locais. Elas eram muito comuns e foram o “Esteio” da economia do “Rio Grande” daquela época. Na estância do pai dessa jovem havia um “Barracão” que havia servido para a transformação da carne. 

Voltando à Região Missioneira, onde os dois irmãos permaneciam, sua atenção estava voltada para as Ruínas da Catedral e arredores. Chamara sua atenção uma palmeira muito velha, plantada pelos missionários jesuítas. Era conhecida como “Palmeira das Missões”. 

Havia ainda muita coisa que gostariam de ver, mas uma pandemia causada por um vírus surgido na China obrigou as autoridades do país a decretarem lockdown, ou seja, a paralisação quase total das atividades econômicas e sociais, bem como o isolamento social ou quarentena para grande parte da população, como medida preventiva contra a disseminação da doença. 

Ante essa situação, os irmãos irão se tornar “Caseiros” e tomarão muito chá de “Cidreira” para suportar a quarentena, desejando aos leitores muito “Progresso”! 

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(Ricardo Chaves no Almanaque Gaúcho de Zero Hora, maio de 2021) 

Colaborou: Bruna Variani Chikoski


2 comentários:

  1. Muito criativo.

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  2. Linda,criativa e intrutiva,sempre gostei de história e geografia,fazia parte de meu trabalho como telefonista da Crt os contatos entre estas cidades e mto mais,Parabéns...

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