domingo, 31 de maio de 2020

O inventor do computador

Alan Turing

Por Denis Russo Burgierman


O inventor do computador salvou o mundo do nazismo. Sua recompensa foi uma cela de prisão, condenado por homossexualismo.

O que dizer de um homem que criou a teoria da computação e, não satisfeito, arregaçou as mangas e assumiu um papel central na construção dos primeiros computadores? De um matemático que venceu com cálculos as bombas de Hitler? No mínimo, que merecia uma estátua no vale do Silício, um enterro com glórias de herói. Mas esse homem morreu esquecido. Sua história só é conhecida graças à biografia monumental,* escrita em 1983 pelo matemático Andrew Hodges. Mas estou me adiantando. Comecemos do começo.

Alan Turing nasceu em 1912, em Londres. Era um garoto tímido, sem muito talento para o convívio social e sem muito cuidado com a aparência. Na escola, destacava-se apenas por ser esquisito − introvertido, irônico, pouco disposto a respeitar regras. Um cara tão estranho que, no futebol, gostava de ser bandeirinha.

Aos 16 anos, conheceu um garoto muito inteligente chamado Christopher Morcom. Naquele momento, ele descobriu um fato que mudou sua vida: ele era gay. Chris morreu em 1930 de pneumonia bovina. Essa primeira paixão marcaria Alan para sempre. Foi em parte devido à vontade de continuar o legado intelectual do amigo que ele se aplicou na faculdade de Matemática e tornou-se conhecido dos professores de Cambridge por seu raciocínio brilhante.

Em 1937, publicou um artigo, “Sobre as Máquinas Computáveis”, que teve uma importância enorme para a matemática pura: nele, provava que existiam cálculos impossíveis de serem feitos. Mas também trazia uma aplicação prática que ninguém, na época, percebeu. Turing imaginara uma máquina capaz de fazer todos os cálculos possíveis, desde que lhe dessem as instruções adequadas. O artigo não fazia menção a chips ou processadores. Mas a descrição era exatamente daquilo que mudaria o mundo com o nome de computador.

Por falar em mudar o mundo, naquele momento surgia Adolf Hitler. Um de seus trunfos era uma máquina chamada Enigma − um sistema de engrenagens capaz de embaralhar as letras das mensagens antes da transmissão por telégrafo. Os alemães consideravam esse código indecifrável. Caberia a Turing, convocado em 1939 pelo exército britânico, decifrá-lo.

Um ano depois, a guerra parecia fácil para Hitler. Os submarinos alemães afundavam 200 000 toneladas de embarcações todo mês e o único jeito de descobrir a posição dos submarinos era decifrar suas mensagens.

Turing tirou a cabeça das máquinas teóricas e sujou as mãos na graxa de engenhocas reais. Uma delas, o Colossus, é tataravô do PC. No começo, elas demoravam semanas para tornar uma mensagem compreensível. Mas, em 1942, os ingleses já decodificavam 50 000 mensagens por mês, uma por minuto. Os submarinos alemães eram abatidos como moscas. O preconceituoso Hitler, cuja equipe olímpica fora derrotada em 1936 pelo atleta negro americano Jessé Owens, perdia a guerra para um intelectual gay.

O ditador nunca soube disso. Aliás, nem a mãe de Turing. Sua participação na guerra permaneceu secreta durante décadas. Tanto que, quando a polícia o prendeu, em 1952, por grande indecência − em outras palavras, homossexualismo −, ninguém o defendeu dizendo que se tratava de um herói de guerra. Para enfrentar o julgamento, teve que se afastar de suas pesquisas sobre inteligência artificial − Turing é inventor de um teste até hoje usado para decidir se uma máquina pensa. Foi condenado a um tratamento com hormônios que arruinou sei físico.

Em 7 de junho de 1954, atormentado, o matemático deitou-se na cama e mordeu uma maçã. Na manhã seguinte, não acordou. Ela havia sido mergulhada numa jarra de cianureto.

(Do “Almanaque Super Interessante de 2003)

* Também foi feito uma película sobre a história de Alan Turing no filme “O jogo da imitação”, onde o matemático britânico, protagonista do filme, foi decisivo para a derrota do nazismo e precursor dos computadores e da inteligência artificial.


sábado, 30 de maio de 2020

Quem é o padroeiro dos dançantes gaúchos?



São Paschoal Bailão nasceu na cidade espanhola de Valença, nas Festas de Pentecostes, a 17 de maio no ano de 1540.

Segundo o livro “Mais um toque e outras marcas dos antigamentes“, de Paixão Côrtes, lançado no de 2002, São Paschoal Bailão é o Padroeiro dos Dançantes Gaúchos.

Confira abaixo o texto na íntegra:

“Filho de pobres camponeses, trabalhou a pé desde pequeno como pastor, na guarda do gado no campo.

Sua vivência diária com a natureza e com o Criador fez-lhe encontrar o rumo de uma profunda religiosidade, levando-o aos Frades Menores, da Ordem Franciscana, quando trocou o cajado pelo burel.

Sua presença sempre alegre e festeira se fazia acompanhar de fervorosa oração rezada, encontrando sempre um caminho para solução dos problemas humanos.

Paschoal Bailão foi canonizado pelo Papa Alexandre VIII. Morreu aos 52 anos.

Seus milagres se espalharam pela Península Ibérica, chegando sua fé religiosa às plagas campestres rio-grandenses de antanho.

Acender vela a São Paschoal Bailão antes de um baile era devoção que uma prenda confiava ao Santo para lhe escolher um bom par, e então dançar a noite inteira.

Contam-nos, velhos avoengos por nós investigados, que dar uma “afigurada de um Chotes” numa encruzilhada de campo, mesmo dançando solito era a medida certa para que o Santo encontrasse uma perdida peça de uso pessoal: prendas de arreios, ou mesmo descobrisse o paradeiro de algum gado desgarrado.

Em nossas pesquisas de campo sobre danças, registramos no tema São Gonçalo do Amarante – descrito em nosso livro “Folclore Gaúcho – Festas, Bailes, Música e Religiosidade Rural“, que no arremate deste tema coreográfico, cada par enlaçado dançava, e ainda se dança, uma polquinha a São Paschoal Bailão.

O par em movimentos dançares, afora as genuflexões que faz diante do altar e dos santos, espera a benção de Paschoal Bailão para um feliz casamento.

Salve! Salve São Paschoal Bailão e dê-le dança!”

(Do blog Estância Virtual)

Roda dos Expostos

(Enjeitados)

Marcos Silva Torres


A roda dos expostos ou roda dos enjeitados consistia num mecanismo utilizado para abandonar (expor na linguagem da época) recém-nascidos que ficavam ao cuidado de instituições de caridade.


O mecanismo, em forma de tambor ou portinhola giratória, embutido numa parede, era construído de tal forma que aquele que expunha a criança não era visto por aquele que a recebia. A mãe, enquanto dava meia-volta no cilindro, girando a criança para o seu interior, puxava a campainha e se afastava rápido para fugir ao flagrante.


Esse modelo de acolhimento ganhou inúmeros adeptos por toda a Europa e a Santa Casa de Porto Alegre, até a década de 1940, manteve uma roda dos expostos, que atualmente pode ser visitada no Cento Histórico-Cultural da instituição.

(Do blog Fotos Antigas do Rio Grande do Sul)


sexta-feira, 29 de maio de 2020

Tragédia no Morro do Chapéu

Pesquisa: Gabriel Rodrigues da Silveira


A foto acima foi postada por Panair do Brasil em 29/01/2008 − Lockheed L.049-46-26 Constellation Panair do Brasil. Lockheed L.049-46-26 Constellation, registro PP-PCG (cn 2062). Ex Pan Am, matrícula NC88862, destruído em Sapucaia do Sul, Rio Grande do Sul − Brasil, em 28/07/1950.

O maior acidente aeronáutico do Rio Grande do Sul, até hoje, aconteceu no dia 28 de junho de 1950, ás 19 horas e 49 minutos com um Constellation da Panair do Brasil que chocou-se contra o Morro do Chapéu em Sapucaia do Sul, com 44 passageiros e sete tripulantes. Todos morreram...

O voo Panair do Brasil 099 decolou da Base Aérea do Galeão, no Rio de janeiro, às 15h47min, com 6 horas de atraso em relação ao horário de embarque oficial. O atraso ocorreu por conta de defeito em um de seus motores que necessitou ser substituído e testado num voo de inspeção. Deveria pousar no Base Aérea de Gravataí nos arredores de Porto Alegre às 18h40min.

O Constellation prefixo PP-PCG transportava 44 passageiros (muitos dos quais em férias no Rio de Janeiro por conta da Copa do Mundo de 1950) e 7 tripulantes, sendo pilotado pelo comandante Eduardo Martins de Oliveira (que estava prestes à completar 10 mil horas de voo em sua carreira), conhecido como Comandante Edu, um dos fundadores e porta-estandarte do famoso Clube dos Cafajestes.

Segundo os boletins meteorológicos, havia uma frente fria estacionária entre Porto Alegre e Florianópolis, causando grandes turbulências e chuva leve na capital gaúcha. Após algum atraso (causado pelas condições climáticas desfavoráveis) o Constellation iniciou aos procedimentos de aproximação para pouso na Base Aérea de Gravataí às 19h45min, porém abortou o pouso, arremetendo logo em seguida.

Durante a segunda tentativa de aterrissagem, perdeu contato com a torre e arremeteu novamente. Durante a terceira tentativa de aterrissagem, acabou chocando-se contra a região dos Morros do Chapéu e das Cabras por volta das 19h25min, explodindo logo em seguida. Com a explosão, foi deflagrado um incêndio na área, debelado apenas duas horas mais tarde.

Por conta da área ser de difícil acesso, as equipes de resgate levaram 2 horas até chegarem aos destroços onde foi constatada a morte de todos os tripulantes e passageiros. Os trabalhos de remoção dos corpos e limpeza da área, comandados pelo então Coronel Olímpio Mourão Filho levaram vários dias, por conta da área dos destroços ser de aproximadamente 2 quilômetros.

Em 1937 foi iniciada a construção do Aeródromo de São João. Suas obras previam pistas de até 3 quilômetros de extensão e uma estação de embarque. Por conta da Segunda Guerra Mundial, suas obras seriam paralisadas e todos os materiais desviados para obras de melhorias na Base Aérea de Gravataí.

Por conta disso, o Aeródromo de São João possuía equipamentos para permitir pouso por instrumentos, porém possuía 3 pistas de terra batida e não comportava aeronaves de grande porte como os Constelation, obrigando muitos voos a utilizarem as pistas maiores e pavimentadas da Base Aérea de Gravataí, que por sua vez somente operava pousos e decolagens com condições visuais.

O acidente causou grande comoção na sociedade gaúcha, sendo considerado à época o pior acidente aéreo do Brasil.

A comoção gerada foi tamanha que o Aeródromo de São João seria rebatizado Aeroporto Salgado Filho e, foram reiniciadas as obras de melhorias paralisadas na 2ª Guerra. Com isso o Aeroporto Salgado Filho foi dotado de um novo terminal de passageiros e de pistas maiores, acabando com as dificuldades de operação de grandes aeronaves.

Por conta do acidente, os compositores Fernando Lobo e Paulo Soledade, escreveram a canção “Zum-zum, ta faltando um” em homenagem ao Comandante Edu, interpretada por Dalva de Oliveira no carnaval de 1951.

Fonte: Desastre aéreo

(Do blog Fotos antigas do Rio Grande do Sul)

Comandante Edu

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Em busca do inimigo

Texto de David Coimbra*


Em 1980, no galopar do governo Figueiredo, os aparelhos repressivos da ditadura não tinham mais a quem reprimir. A guerrilha urbana havia sido derrotada, e a anistia fora decretada. Gabeira, que participara do sequestro do embaixador americano, agora usava tanga de crochê na praia e pregava a “política do corpo”. Brizola, o brasileiro que mais tempo ficou no exílio (15 anos), desembarcou de um pequeno avião em Foz do Iguaçu ansioso para retornar o comando do seu PTB, o que lhe seria tirado por uma astúcia de Golbery.

Então, não havia mais a quem prender nem a quem torturar. Mas a “tigrada”, como eram chamados os torturadores, continuavam na ativa. E agora? Como legitimar o emprego, se não existia trabalho? Elio Gaspari descreve essa situação constrangedora no quinto e último volume de sua obra sobre o regime militar, A Ditadura Acabada: “... era necessário justificar a existência da máquina repressiva. Ela encolhera, talvez à metade, mas ainda assim faltava-lhe serviço. (...) O veterano Doutor Diogo, controlador de  informantes do DOI do I Exército, reconheceria: ʽHavia uma apatia... iam ao cinema ou iam para casaʼ. No DOI de São Paulo, a mesma coisa: ʽAquilo passou a ser um marasmoʼ”.

Tratava-se de um drama de mercado: se o seu trabalho é combater inimigos, você deixa de ter trabalho quando deixa de ter inimigos. Logo, deixa de ter importância.

A saída dos repressores foi abrir novos campos de atuação, criando novos inimigos. Foi aí que começaram a explodir bombas em bancas de revista, escritórios de advocacia e jornais. Finalmente, uma carta-bomba foi enviada à sede da OAB, matando a secretária que abriu o pacote, e outra amputou o braço do assessor de um vereador na Câmara do Rio. Encontrar inimigos era preciso. Em busca deles, os repressores chamavam até o general Golbery de comunista.

Essa é a lógica de quem se justifica pelo conflito. É a lógica bolsonarista. Bolsonaro foi eleito como contraponto às esquerdas, à “velha política” e à corrupção. O voto em Bolsonaro não foi de construção, foi de destruição. O leitor o identificou como oposto “a tudo isso que está aí” porque ele realmente é oposto a tudo isso que está aí. Esse sempre foi o seu comportamento, seja no Exército, seja na Câmara de Deputados. Bolsonaro sempre foi do contra. Ele gosta do enfrentamento e o procura onde estiver.

Observe o ritual diário que Bolsonaro promove na saída do Palácio da Alvorada, quando fala a jornalistas em um brete precário, no qual profissionais da imprensa e apoiadores do presidente se misturam. Por que ele faz isso? Se ele não gosta da imprensa, por que fala todos os dias com repórteres? É porque identifica nos jornalistas os seus inimigos, e Bolsonaro necessita de inimigos para se legitimar. Assim, diante do Alvorada, ele criou o campo de batalha ideal: fala quanto quiser e do que quiser, não interessa forma ou conteúdo, o que interessa é que o aplauso está assegurado.

Alguns veículos desistiram de cobrir esse evento. Todos deveriam fazer o mesmo. Bolsonaro não está lá para ser questionado ou para informar. Ele está lá apenas para brigar.

*Colunista de Zero Hora, crônica postado em 28 de maio de 2020.



Um trágico acidente aéreo

Gabriel Rodrigues da Silveira


Em 30 de julho 2020, estará fazendo 70 anos da tragédia histórica ocorrida em São Francisco de Assis − RS. Acidente aéreo que vitimou 9 tripulantes, no cerro dos Cortelini, entre as vitimas estava o Senador Salgado Filho.

Passadas 48 horas da maior tragédia da aviação no Rio Grande do Sul, a queda do Constellation da Panair, no morro do chapéu em 28 de julho 1950. Dois dias depois acontece outro acidente aéreo no Rio Grande do Sul.

O Senador Joaquim Pedro Salgado Filho, ex-ministro da Aeronáutica ainda estava sob o impacto da tragédia do Panair, principalmente porque ele tinha lugar marcado no voo PB 099, mas cedeu a um amigo que tinha pressa em chegar ao Rio Grande do Sul. Sorte de um, azar de outro.

Mesmo com o tempo desfavorável, o Senador Salgado Filho mantivera sua agenda no interior do estado. Tinha um encontro com o Sr. Getúlio Vargas na longínqua cidade de São Borja, onde o ex-presidente residia na Fazenda do Itu.

O deslocamento seria em um bimotor Lodestar da SAVAG (Sociedade Anônima Viação Aérea Gaúcha), prefixo PP-SAA batizado de “São Pedro do Rio Grande”. O piloto não seria ninguém menos que o proprietário da SAVAG, o Sr. Gustavo Cramer (ex-comandante da Panair).

A SAVAG foi fundada em 1946, e possuía uma frota de dois Lockheed Lodestar (PP-SAA e SAB), que voavam para diversas cidades gaúchas, buscando enfrentamento com a poderosa VARIG. Em 1949 a companhia perdera o Lodestar PP-SAC em acidente na cidade de Pelotas/RS.

Conforme Silva (2006) o Comandante Cramer estava ciente das condições meteorológicas desfavoráveis, e mesmo assim apresentou um plano de voo IFR em rota direta para São Borja, a 4.500 pés de altitude. O plano de voo previa descida por instrumentos, tendo como referência a Radio Difusora de São Borja (AM). Este procedimento atualmente é proibido, porém nos tempos do “arco-e-flexa” da aviação (anos 40 e 50), era muito comum usar rádios comerciais (broadcasting) como balizador de procedimentos, devido à ausência de rádio-auxílios à navegação aérea.

O PP-SAA decolou do Aeroporto Federal de Porto Alegre, São João, às 11 horas com 10 pessoas a bordo. O voo prosseguiu por mais de uma hora dentro de um colchão de nuvens, sem contato visual com o terreno. O Comandante Cramer solicitou ao Centro de Controle, descer para condições VFR (visuais), o que foi negado pelo controlador (Silva, 2006).

Não querendo frustrar o Senador Salgado Filho por não conseguir localizar a Fazenda Itu, provavelmente o experiente Comandante Cramer decidiu por conta e risco descer em busca de contato visual com o terreno.

Por volta das 13 horas, um morador da região rural de São Francisco de Assis ouviu o ronco de um avião passando baixo sobre sua fazenda, seguido de uma forte explosão. Era o PP-SAA que voava muito baixo e bateu contra uma pequena elevação chamada Cerro Cortelini. Nenhum dos dez ocupantes do bimotor sobreviveu.

Era o fim de uma carreira de sucesso na aviação e de um provável Governador do Rio Grande do Sul, tendo em vista que o encontro de Salgado Filho com Getúlio Vargas visava os detalhes para a candidatura do senador ao governo do estado.

O relatório final do acidente informou que o Lodestar da SAVAG voava nivelado, motores operando normalmente, na direção magnética 310 graus, flaps e trens recolhidos. Devido à visibilidade reduzida por chuva fina e nebulosidade baixa, o comandante Cramer não pode pressentir o choque contra uma árvore, que decepou a asa esquerda do bimotor e levou a queda do avião.

Hoje, Gustavo Cramer e Salgado Filho são lembrados como nomes dos aeroportos de Bagé/RS e Porto Alegre/RS, respectivamente.

Curiosidade: Durante o primeiro governo Vargas, ele foi ministro do Trabalho e transformou as relações entre patrões e empregados, possibilitou maior participação da mulher no emprego, diminuiu a jornada de trabalho para oito horas diárias (antes eram 16 horas), regulamentou sindicatos e concedeu outros benefícios ao trabalhador, como férias, pensões e aposentadorias. Como ministro interino da Educação, trabalhou pela qualidade do ensino no País, e foi ministro do então Supremo Tribunal Militar (STM). Ele foi o primeiro ministro da Aeronáutica, criada em janeiro de 1941, ele procurou organizar o então Ministério da Aeronáutica e a Força Aérea Brasileira e reestruturar a aviação civil num período de grande tensão na geopolítica mundial em razão da Segunda Guerra.

Fontes de pesquisa (livros):

O rastro da bruxa – história da aviação brasileira no século XX através de seus acidentes: 1928-1996. Comandante Carlos Germano da Silva, EDIPUCRS. Porto Alegre/RS. 2006.

Acidente no Morro do Chapéu − A queda do Constellation da Panair em Sapucaia do Sul. Abrão Aspis, Livraria Palmarica. Gravatal/SC. 2007.

(Do blog Fotos Antigas do Rio Grande do Sul)


quarta-feira, 27 de maio de 2020

Receita de marchinha



Carnaval por Liberati

Qual o segredo de uma boa marchinha? Essa é uma pergunta que as pessoas sempre me fazem. É difícil saber. O sucesso é algo muito complicado e depende de uma porção de fatores. Antes de mais nada, vale observar umas marchinhas de sucesso. Por exemplo: “Mamãe, eu quero”, esse estouro do Vicente Paiva e do Jararaca:

Mamãe, eu quero,
Mamãe, eu quero,
Mamãe, eu quero mamar.
Me da chupeta,
Me dá chupeta,
Me dá chupeta,
Pro bebê não chorar.

Em primeiro lugar, ela é de fácil assimilação e a melodia não se parece com nenhuma outra. Isso, eu acho fundamental. Outra coisa muito importante é a divisão das frases. Repare que tem respiração entre uma frase e outra. É aí que está o segredo. É para o público poder cantar sem precisar correr. Porque a marchinha num baile, ou num bloco, deve ser cantada de forma fácil e ninguém pode se atrapalhar.  Já imaginou uma música com uma frase em cima de outra? O folião não conseguiria nem respirar e isso não pode! A marchinha tem que propiciar certo descanso na maneira de ser cantada. Embora curta, ela deve ter espacinho entre uma frase e outra. Precisa ter também um tema divertido. Existem marchinhas românticas, por exemplo, mas elas não pegam com facilidade. A marchinha, em geral, é irônica, satírica e divertida. E as marchinhas se eternizam quando são bem- feitas, até com temas de quarenta, cinquenta anos atrás. Por exemplo: “Mamãe, eu quero” deve ter sido uma frase engraçada lá pelos anos 1930. Mas essa marcha é tão forte que ainda é cantada até hoje aos altos brados e em todos os bailes e blocos de carnaval. E por que ela ficou? Ela possui todos os fatores que se combinam: melodia fácil e original, boa respiração, é irônica, tem bom tema e se adapta bem ao dois por quatro, que é a batida de todas as marchinhas de carnaval. Você não pode fazer uma marchinha com notas muito longas. Tem que ser uma coisa balançada e gostosa. E o resultado é esse aí: as marchinhas estão mais vivas do que nunca!

Sempre procurei fazer minhas marchinhas assim. Não tenho regra. O que eu disse não é regra. Quem sou eu para criar regras para as marchinhas de carnaval? Mas eu sempre procurei fazer marchas originais e sem grande dificuldade para o público aprender. Elas são irônicas e abordam temas que estão na boca do povo. Mas sempre procurei fugir de fazer música parecida com outra. Para falar em bom português: não sou, nem nunca fui adepto do plágio. Minhas músicas também têm respiração fácil. Pode reparar que as marchinhas que ficaram estão sempre dentro desse princípio. Tem uma respiraçãozinha entre uma frase e outra, como nessa do Benedito Lacerda e do Umberto Porto:

Ó, jardineira, por que estás tão triste?
Mas o que foi que te aconteceu?

E também nesse outro sucesso dor irmãos Ferreira:

Ei! Você aí!
Me dá um dinheiro aí,
Me dá um dinheiro aí.

Esse padrão se repete também na marchinha do Nássara e do Haroldo Lobo:

Allah-la ô, ô ô ô ô ô ô
Mas que calor, ô ô ô ô ô ô.

E digo mais: por causa dessa respiração, a pausa entre as frases, é que a marchinha pode ser curta. Com letra pequena, que é para todo mundo decorar fácil. E sendo curta, ela não pode ser rápida. E esse descanso natural permite que ela dure mais tempo. Se você cantar depressa o meu maior sucesso, “Cabeleira do Zezé”, a marcha acaba rapidinho. Pode tentar! Aí, ela vira quase uma tarantela. Não dá! E não fica balançada, que é o mais gostoso para brincar o carnaval. Outra coisa muito importante, que eu aprendi, é que justamente nesses espacinhos entre as frases é que a bateria coloca aquelas marcações que todo o mundo acompanha. Repara só:

Corta o cabelo dele! (PAM! PAM!)
Corta o cabelo dele! (PAM! PAM!)

E também dá para todo o mundo fazer graça e colocar coisas que, a princípio, não estavam na música:

A gangue só me chama de palhaço,
Palhaço, (É A MÃE!)
Palhaço. (É A MÃE!)

Uma vez me falaram que eu tinha colocado na letra de “Cabeleira do Zezé” a palavra “bicha”. Realmente, quando chega naquela hora do “Será que ele é... Será que ele é...”, ninguém resiste e tasca logo um “BICHA!”. Mas isso começou no programa do Sílvio Santos, quando a música era cantada pelo auditório e aquelas moças que ficam lá atrás dançando gritavam um sonoro “BICHA!”. E a coisa pegou... Mas essa “bicha” não é minha, não!

*****

(Do livro “Cabeleira do Zezé e outras histórias,
de João Roberto Kelly e André Weller)


terça-feira, 26 de maio de 2020

Sport Club Internacional, campeão da Copa Libertadores de 2006

Lembranças da Copa


A nossa libertação

Luciano Poter

A arquibancada da noite fria de agosto de 2006 foi o meu lugar nesse prélio (...). Lembro das lágrimas, ajoelhado, abraçando outros torcedores também chorões depois do fim em 2 a 2. Mas o problema é tentar enxergar esse Inter e São Paulo como uma partida de futebol. Essa é a casca apenas. Para os milhões de colorados espalhados pelo planeta, foi uma epifania de que não vivíamos para sofrer. Que era possível nesse esporte filho da mãe também ser feliz.

Foram anos amargurando resultados malditos e um rival que emendava duas décadas de sucessos. “Os humilhados foram exaltados”. Futebol serve para arrebentar com sinais, destruir com marasmos e tocar flauta naqueles sacanas que outrora estavam por cima da carne seca. Era a nossa vez. Aguentem!

Fernandão não apenas levantou a mais linda das taças. O capitão colorado avisou aos Deuses do esporte que um gigante havia acordado, saído da hibernação. Naquela noite, estraçalhamos com o complexo de vira-latas. Naquela noite, não dormimos. Não era apenas uma Libertadores. Era a nossa libertação.

(Em Zero Hora, maio de 2020)

Eu também estava lá...

Agosto de 2006, final da Copa Libertadores, Internacional, de Porto Alegre, e São Paulo, da capital do estado paulista. No primeiro jogo, o Inter tinha ganhado de 2x1. Agora, bastava um empate para ser campeão. O Inter teria, também, a chance de ganhar com qualquer escore. Só não poderia perder com mais de um gol contra. Se perdesse de 2x1, teria prorrogação e pênalti, mas se perdesse, digamos por 3x2, daria o São Paulo, pois o Inter teria marcado dois gols fora e sofrido três em casa.

Vou sozinho ao estádio, estou levemente resfriado. Noite fria e chuvosa, fila longa ao redor do Beira-Rio. A minha proteção é uma capa de nylon feita para iatistas, nela não passa um pingo de chuva. Puxo papo com alguém que está à minha frente na fila. Digo a ele: “Esta pode ser a noite mais feliz da minha vida... ou a mais triste”. O cara que saber por quê. Digo a ele: “numa partida, como essa que vamos assistir daqui a pouco, as chance de vitória ou derrota é de 50% para cada time. Não dá para ter certeza absoluta de sucesso”. O cara emudece e cai na real.

Já estou dentro do estádio, ao lado da social, acima da entrada, bem na linha de escanteio da goleira que fica para o Gigantinho.

O Beira-Rio recebe um público acima da sua capacidade total. Ninguém está sentado, não há o mínimo espaço para mais ninguém, há uma tensão terrível no ar. Já quase está começando o jogo, quando noto um jovem negro com seu filho de uns cinco anos, na mureta que dá para a coreia, setor quase rente ao campo, onde torcedores torcem em pé. Ele está com seu filho nos ombros, rosto quase rente ao concreto da mureta, deixando que pelo menos seu filho olhasse o jogo. Grito em sua direção, todos, ao seu redor, olham pra mim, aponto para quem estou gritando, então, ele olha em minha direção. Aponto que ao meu lado há lugares, espremidos, mas há lugares para ele e seu garoto. Ele sobe com seu filho, com alguma dificuldade os degraus, apertamos as mãos e vamos ao jogo.

O Internacional marca o seu primeiro gol, por Fernandão, bem na minha frente, delírio total. O São Paulo empata no começo do segundo tempo. Tinga marca o segundo gol, e, irresponsavelmente, pois já tinha cartão amarelo, tira a camisa e mostra uma camiseta branca por baixo, com uma inscrição religiosa. É expulso de campo pelo juiz argentino que apitava a partida. Agora, o Inter com grande desvantagem!

O Inter, apesar de estar vencendo por 2x1, tem um jogador a menos. Aos 39 minutos, quase no final do jogo, o São Paulo empata: 2x2. Faltam 6 minutos e, quem sabe, mais a prorrogação, num total de 10 minutos que serão os mais horripilantes minutos da minha vida.

Todos, a minha volta, estão com as mãos unidas, uns choram de medo, os dedos estão entrelaçados numa prece coletiva. Cada ataque do São Paulo é um filme de terror. O banco do São Paulo está quase na minha frente. Murici Ramalho, o treinador, coloca mais atacantes, está alucinado na beira do gramado, mandando seu time atacar cada vez mais. Ninguém olha mais o jogo, os olhos só estão voltados para o árbitro. Eu estou agarrado na minha pouca fé. Oro para Nossa Senhora Aparecida e à Santa Rita de Cássia, santas que possuem igrejas no meu bairro na Zona Sul.

Nisso, parece que depois de uma eternidade, o juiz encerra a partida. Saio imediatamente do estádio. Não vejo a entrega da taça, quero sair o mais rápido possível daquela agonia. Pego meu carro, paro defronte a Igreja de Nossa Senhora Aparecida, em Ipanema, para fazer as minhas preces de agradecimento.

Vou, depois, à Igreja de Santa Rita de Cássia, no Guarujá. Saio do carro, ajoelho na calçada, de olho em algum assaltante, e rezo com muito fervor em agradecimento.

Sim, poderia ter sido a noite mais triste da minha vida, mas acabou sendo a noite mais feliz e inesquecível das que eu já vivi nesta Terra abençoada por Deus!

Nilo da Silva Moraes


domingo, 24 de maio de 2020

O primeiro drive-in em Ipanema – Porto Alegre

O ano em que o cinema drive-in estreou em Porto Alegre


O Park Auto Cine foi inaugurado, na Zona Sul de Porto Alegre,
em novembro de 1970.

A edição de Zero Hora do dia 10 de novembro de 1970 anunciava uma “novidade” como opção de lazer para os moradores da Capital. Grande sucesso de comportamento nos Estados Unidos nas décadas de 1950 e 1960, quando atingiram o máximo de sua popularidade, os cines drive-in, com quase 20 anos de atraso, finalmente chegavam a Porto Alegre.

De acordo com a reportagem, “no máximo até o próximo final de semana”, será inaugurado, na esquina das avenidas Coronel Marcos e Arlindo Pasqualini, no bairro Ipanema, o Park Auto Cine, com capacidade para receber 254 carros, numa área de um hectare. Com uma tela que media 21m x 9m, preparada para suportar a pressão de ventos com força de impacto equivalente a 17 toneladas, construída em madeira laminada revestida de plástico e com pintura em PVA, o que assegurava plena nitidez.

O local foi concebido para que os veículos ficassem em rampas cuja inclinação, de 30 graus, garantia boa visibilidade para todos. A tela também tinha uma inclinação vertical de 13 graus. O som era fornecido por alto-falantes individuais com controle de volume que os motoristas apanhavam junto a balizas. Em outros cinemas drive-in, como um que posteriormente foi instalado na praia de Atlântida, no Litoral Norte, o som era sintonizado no rádio do carro numa determinada frequência preestabelecida.

A entrada era adquirida sem que se precisasse descer do carro, ao preço de três cruzeiros pelo estacionamento do veículo e mais quatro cruzeiros por pessoa. Também havia serviço de venda de lanches e bebidas, que podiam ser solicitados com uma breve piscadela de faróis, para alertar o garçom.

(...)

Uma das grandes vantagens salientadas no texto era a possibilidade de ir ao cinema usando trajes informais (como se estivesse em casa), como chinelos ou bermudas, o que as salas tradicionais não permitiam. Quanto aos sorrisos maliciosos que sempre surgem quando se fala em autocine, talvez pela influência da cultura importada, os empreendedores afirmavam que não havia esse tipo de preocupação: “Afinal, existem muitos outros lugares onde se pode estacionar sem pagar nada”. Só que, certamente, menos seguros, né?


Reportagem de Zero Hora anuncia a chegada do cine drive-in à Capital

(Do Almanaque Gaúcho de Zero Hora, 5 de fevereiro de 2020)

P.S. Os filmes, que eram projetados na tela, não eram lá essa coisas, mas quem estava ali para ver algum filme?



sábado, 23 de maio de 2020

O horror acima de todos

Antônio Prata*


Eis que, por razões que fogem à razão, num dia agourento de 2018 o pior aluno da escola foi alçado ao cargo de diretor. Zé Peidola, que estava havia 28 anos sem conseguir passar da quinta série, tinha este apelido por conta de sua ocupação favorita: liberar gases durante das aulas. Os amigos do fundão riam muito e diziam que o Zé Peidola era “mó zoeiro!”.

Após ser empossado, a primeira atitude do Zé Peidola foi demitir todos os professores e colocar em seus lugares os amigos do fundão. No lugar da Fátima, professora de física formada pela USP, entrou o Mosca, que era bom de Lego. Gilberto, de geografia, formado pela Unicamp, foi trocado pelo Horroroso, que já tinha viajado pra Disney e pra Bariloche. Chris, a professora de português, com dois livros de poesia publicados, foi trocada pelo Língua Presa porque Zé Peidola achou muito engraçado colocar alguém de língua presa para ensinar uma língua. No lugar do professor de artes não entrou ninguém, porque segundo Zé Peidola arte é coisa de viado. Mó zoeiro, o Zé Peidola!

O único adulto colocado como professor foi o Teles, pra ensinar matemática. Teles tinha feito faculdade nos Estados Unidos 50 anos antes e ainda era membro de uma antiga seita que ninguém mais seguia – nem nos Estados Unidos – segundo a qual a escola não tinha que dar nenhuma orientação, era pra deixar os alunos fazerem o que quisessem e eles se entenderiam.

Depois, Zé Peidola trocou a fruta do lanche por Cheetos sabor churrasco. A média para passar de ano foi de seis e meio para dois. Zé Peidola cortou todas as árvores do pátio e colocou no lugar televisões passando Silvio Santos. Na biblioteca, Zé Peidola instalou TVs passando Tom & Jerry e botou os livros para serem usados como papel higiênico. O laboratório ele e os amigos destruíram a marretadas, salvando só o clorofórmio pra fazer lança-perfume. Mó zoeira!

A escola, sob os desmandos de Zé Peidola, foi se desmilinguindo. Ninguém aprendia nada com aqueles professores. Os bons alunos passaram a sofrer bullying. Por medo, as alunas só iam ao banheiro em bando. Um dia o Zé Peidola viu uma aluna pedindo pras amigas irem ao banheiro com ela e disse que ela não precisava ter medo porque era feia e não merecia ser estuprada. Mó zoeira!

Então, no começo do segundo ano de Zé Peidola na direção, surgiu na escola uma epidemia. O médico consultor da escola sugeriu algumas medidas profiláticas. Zé Peidola disse que quem mandava ali era ele, demitiu o médico e botou um amigo no lugar.

Os alunos começaram a morrer. Zé Peidola disse, com visível raiva das vítimas, que só morria aluno com problema de saúde. (Ele pensou, satisfeito, mas não disse, que ia morrer muito preto e pobre, também). Morreu um. Morreram dez. Cem. Mil. Dez mil. Quinze mil. Zé Peidola pediu pro amigo médico receitar aos doentes Cheetos sabor churrasco – tinha visto no Twitter que curava a doença. O amigo recusou-se. Zé Peidola o demitiu também.

Chegou uma hora em que morriam mil por dia. Morriam sem ar. Afogados, com os pulmões inundados. Roxos. Sós. Eram enterrados sem velórios, em valas comuns. E os adultos – você se pergunta –, não faziam nada?! Nada. Aqui e ali, publicavam umas notas de repúdio e enquanto viam seus pais morrerem, seus irmãos morrerem, seus filhos morrerem, as paredes da escola ruírem e o teto desabar, diziam que não era o caso de tirar Zé Peidola da direção. Vinte mil. Trinta mil. Cinquenta mil. Cem mil? Mó zoeira!

(Folha de São Paulo, 16 de maio de 2020)


Antonio Prata nasceu em São Paulo, em 1977. Tem dez livros publicados, entre eles Meio intelectual, meio de esquerda (crônicas) e Felizes quase sempre (infantil, ilustrado por Laerte), ambos pela Editora 34. Escreve roteiros para televisão e cinema e mantém uma coluna no jornal Folha de S.Paulo, aos domingos.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

O cigarro é prejudicial à saúde?



Leia e tire suas conclusões

Se você reparar nos comerciais de cigarro, (quando existiam) vai ver que nas cenas mais emocionantes ele não aparece. Porque par curtir tudo o que a vida tem de mais gostoso, as pessoas precisam de fôlego, de pulmão saudável. Tem gente que se acha o máximo com um cigarro na mão. Nem imagina que, a cada tragada, ingere mais 4.700 substâncias tóxicas incluindo arsênico e monóxido de carbono, substâncias radioativas, além de corantes e agrotóxicos. E que em apenas sete segundos a nicotina atinge o cérebro e inicia um processo de dependência igualzinho ao da cocaína, da heroína e do álcool.

Cigarro é droga.

Não adianta nem tentar se enganar fumando cigarros light. O nível de alcatrão e nicotina vai continuar o mesmo porque sem perceber, você acaba fumando mais até satisfazer sua dependência.

Está tudo comprovado pela Organização Mundial da Saúde.

Pense nisso.

É uma questão de opção.

Viver com saúde é muito mais emocionante.

Texto extraído do folheto
“A vida é mais emocionante sem cigarro”,
Campanha do Ministério da Saúde


Do livro didático de Maria Helena Correa e Celso Pedro Luft:
 “A palavra é sua”, 7ª série, editora scipione

Tesourinha, um craque por um litro de leite.

Depoimento do jogador


“− Seguidamente, nós íamos bater bola no Ferroviário, que estava se preparando para ingressar na Primeira Divisão. Fiquei comprometido. Aí apareceu o Trololó e disse que ia me levar para o colorado. Eu tinha 18 anos. Ele me pegou pela mão. Quando me dei conta estava na sede do Internacional, que era na rua Capitão Montanha, onde hoje está sede do Banco do Estado. Lembro como se fosse hoje. O Rui Barbosa pegou uma ficha e me deu para assinar. Eu disse que assinaria só por um ano.

− Um ano? No Internacional, só por três anos.

Aí eu assinei.

− Quanto ganhou?

− Nada. Assinei e me levaram para os Eucaliptos, para treinar. Eu tremia que dava pena ao chegar no estádio. Mandaram o seu Alfredo, que era o roupeiro, me dar as botinas. Ele olhou para mim e disse: “Esse vai dar bom”. Nunca mais esqueci aquilo.

Calcei as chuteiras só por alguns minutos. Eu pensei que ia jogar nos filhotes. Só fiquei sabendo quando o seu Willy Teichmann, que era o presidente, me disse:

− Tu vais jogar no segundo time. Pedi para morrer. Tinha gente famosa e eu, magrinho, não teria vez. Apavorado, disse que ia embora. Ia voltar ao Ferroviário.

No dia do jogo, a turma da zona, com o Correio do Povo na mão apareceu na casa do Tesourinha:

− Tesoura, olha aqui. O Internacional e o Ferroviário estão te convidando para jogar hoje, no segundo time. Que beleza, negrão!

Comecei a tremer. E agora, jogar em qual? Só podia jogar no Internacional, onde eu tinha assinado a ficha. Joguei na ponta-esquerda. Ganhamos de 6x1. Joguei tão bem que o presidente me prometeu ajuda.

− Quanto, Tesourinha?

− Um litro de leite por dia! E o pior é que não me davam dinheiro. Me davam o leite mesmo. Eu vivia bem porque trabalhava na Brigada, onde era armeiro. Fiquei três anos sem ganhar nada mais do um litro de leite por dia.”

Do livro: “Meu Coração é Vermelho”,
de Ruy Carlos Ostermann. 


Tesourinha, o mito colorado.

17 de junho de 1979, uma noite de sábado para domingo, é uma data triste para o futebol gaúcho e brasileiro. Nesse dia, em Porto Alegre, falecia Osmar Fortes Barcelos, mais conhecido por Tesourinha. Um dos maiores pontas-direitas do futebol brasileiro encerrava a vida com apenas 57 anos, vítima de um câncer no estômago, deixando, atrás de si, uma lenda futebolística e um modelo a ser seguido. Mito do Internacional, carro-chefe do famoso Rolo Compressor que foi hexacampeão gaúcho, de 1940 a 1945, Tesourinha ganhou esse apelido pelo fato de seu pai integrar um famoso bloco carnavalesco da capital, Os Tesouras, formado em sua maioria por negros, e que marcou época nos anos 20, 30 e 40. Ele foi o primeiro jogador negro da história do Grêmio Porto-alegrense, onde também jogou, dando fim a um período de discriminação racial no hoje popular e democrático clube gaúcho.

Tesourinha foi campeão sul-americano pela Seleção Brasileira nos anos quarenta, formando ao lado de Heleno de Freitas, Zizinho, Jair e Ademir, e só não participou da malograda Copa do Mundo de 1950 no Brasil, aquela do Maracanaço, por ter estourado os meniscos quando jogava pelo Vasco, clube para o qual se transferiu no início daquele ano, naquela que foi considerada a maior transação do futebol brasileiro da época. Muitos consideram que sua ausência foi uma das causas da perda do título para o Uruguai.

Nascido em 3 de outubro de 1921, de família pobre, no bairro pobre da Ilhota, a primeira grande favela de Porto Alegre, era filho de um motorista e de uma dona de casa. Seu pai faleceu quando ele tinha apenas 12 anos. Começou a jogar futebol em criança, em um dos times da famosa Liga da Canela Preta, uma associação de jogadores de cor que se contrapunha ao racismo imperante no esporte de então. Em 1940 Tesourinha já estava no Internacional de Porto Alegre, onde ficaria por dez anos, formando o temível ataque colorado com Vilalba, Russinho, Ruy e Carlitos. Em 1946, ao final do campeonato sul-americano, atual Copa América, vencido pelo Brasil, Tesourinha foi escolhido pela crítica “o maior ponteiro da América”. Mais tarde ganhou o título de “Craque Melhoral”, distinção concedido por uma empresa de medicamentos ao melhor jogador brasileiro do ano.

Tesourinha foi comprado pelo Vasco no final de 1949, e o Vasco era o mais caro e vitorioso time da época, a base da seleção brasileira. Porém o problema no joelho fez com que pouco durasse em São Januário. Em 1952, já com seus trinta anos, foi contratado pelo Grêmio, Grêmio que no ano seguinte completaria 50 anos de glórias. O garoto pobre da Ilhota voltava à terrinha.

Mas Tesourinha era colorado de coração e foi no Inter onde jogou o fino. Em 1969, quando da inauguração do Gigante da Beira-Rio, foi homenageado pela nação colorada. Com lágrimas nos olhos, retirou, como merecido troféu, as redes das goleiras do velho Estádio dos Eucaliptos, palco das suas grandes atuações pelo Internacional. Defensor da classe esportiva e do futebol varzeano, onde se formou, Osmar Fortes Barcelos foi laureado postumamente com a Copa Tesourinha de Futebol Amador da Federação Gaúcha de Futebol e com um centro esportivo que leva seu nome. Ele sempre dizia, com orgulho: “Vim da várzea, me torneio ídolo e não posso negar meu apoio visando melhorar a estrutura desse futebol varzeano, de onde saem os grandes craques. É lá onde tudo começa”.

Logo após a sua morte, em uma crônica no velho Correio do Povo, o jornalista e colorado Valter Galvani fala da honra de ter conhecido Tesourinha, o craque fabuloso, e Osmar Fortes Barcelos, o homem afável de sorriso largo. Menino vindo do interior, lembrando da primeira vez que o viu jogar, Galvani escreveu a 24 de junho de 1979 a crônica “Tesoura, um Certo Sorriso”: “Eu diria que o vi em campo, naquela longínqua tarde de 1944, com o seu largo sorriso. Tesourinha foi um herói a seu modo, um herói modesto, simples e calmo, capaz de levar as plateias até o delírio. Nunca esqueci suas jogadas, mas jamais esquecerei o seu sorriso de bondade.”

Pesquisa e Texto: Vitor Minas

(No jornal “O Felizardo”, 
do Bairro Jardim Botânico de Porto Alegre)


 Tesourinha retira a rede no último jogo nos Eucaliptos.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Pandemia maluca

O que fazer quando chegar da rua:


− Pegue a correspondência.
− Espere o elevador chegar e veja se não tem ninguém.
− Passe álcool em gel nos botões do elevador.
− Suba e vá até sua porta.
− Tire a máscara.
− Desembace os óculos.
− Faça massagem nas orelhas.
− Passe álcool em gel nas orelhas e nas mãos.
− Passe álcool em gel nos óculos.
− Tire o sapato.
− Abra a porta.
− Passe álcool em gel na sola do sapato.
− Não deixe a porra do gato sair no corredor.
− Ponha a correspondência na mesa.
− Pegue o gato que saiu.
− Passe álcool nas patas do infeliz.
− Passe álcool nas meias porque você correu atrás do gato no corredor.
− Tire as meias.
− Tire a roupa.
− Não, pô! Só quando você estiver dentro de casa.
− Passe álcool no corpo.
− Passe álcool na roupa.
− Passe álcool no chão onde você deixou a roupa.
− Passe álcool na correspondência.
− Passe álcool na mesa onde você colocou a correspondência.
− Procure o gato.
− Puta que o pariu! Vá pegar de novo o gato no corredor.
− Espere! Coloque a roupa antes. Agora vai!
− Pegue o gato e passe álcool nas patas dele.
− Jogue a porra do gato para dentro do apartamento.
− Passe álcool na sola dos pés.
− Passe álcool na maçaneta do lado de fora.
− Passe álcool na maçaneta do lado de dentro.
− Passe álcool no molho de chaves.
− Passe álcool na sua carteira.
− Passe álcool no RG.
− Passe álcool no cartão da C&A.
− Passe álcool nas moedas.
− Passe álcool nas notas.
− Passe álcool nos cartões de crédito. Até nos vencidos que você guarda sabe-se lá por quê.
− Passe álcool na sua CNH.
− Passe álcool no vidro de álcool.
− Passe álcool nas mãos.
− Putz! Cadê a porra do gato?!

(Autor desconhecido)