quinta-feira, 28 de maio de 2020

Um trágico acidente aéreo

Gabriel Rodrigues da Silveira


Em 30 de julho 2020, estará fazendo 70 anos da tragédia histórica ocorrida em São Francisco de Assis − RS. Acidente aéreo que vitimou 9 tripulantes, no cerro dos Cortelini, entre as vitimas estava o Senador Salgado Filho.

Passadas 48 horas da maior tragédia da aviação no Rio Grande do Sul, a queda do Constellation da Panair, no morro do chapéu em 28 de julho 1950. Dois dias depois acontece outro acidente aéreo no Rio Grande do Sul.

O Senador Joaquim Pedro Salgado Filho, ex-ministro da Aeronáutica ainda estava sob o impacto da tragédia do Panair, principalmente porque ele tinha lugar marcado no voo PB 099, mas cedeu a um amigo que tinha pressa em chegar ao Rio Grande do Sul. Sorte de um, azar de outro.

Mesmo com o tempo desfavorável, o Senador Salgado Filho mantivera sua agenda no interior do estado. Tinha um encontro com o Sr. Getúlio Vargas na longínqua cidade de São Borja, onde o ex-presidente residia na Fazenda do Itu.

O deslocamento seria em um bimotor Lodestar da SAVAG (Sociedade Anônima Viação Aérea Gaúcha), prefixo PP-SAA batizado de “São Pedro do Rio Grande”. O piloto não seria ninguém menos que o proprietário da SAVAG, o Sr. Gustavo Cramer (ex-comandante da Panair).

A SAVAG foi fundada em 1946, e possuía uma frota de dois Lockheed Lodestar (PP-SAA e SAB), que voavam para diversas cidades gaúchas, buscando enfrentamento com a poderosa VARIG. Em 1949 a companhia perdera o Lodestar PP-SAC em acidente na cidade de Pelotas/RS.

Conforme Silva (2006) o Comandante Cramer estava ciente das condições meteorológicas desfavoráveis, e mesmo assim apresentou um plano de voo IFR em rota direta para São Borja, a 4.500 pés de altitude. O plano de voo previa descida por instrumentos, tendo como referência a Radio Difusora de São Borja (AM). Este procedimento atualmente é proibido, porém nos tempos do “arco-e-flexa” da aviação (anos 40 e 50), era muito comum usar rádios comerciais (broadcasting) como balizador de procedimentos, devido à ausência de rádio-auxílios à navegação aérea.

O PP-SAA decolou do Aeroporto Federal de Porto Alegre, São João, às 11 horas com 10 pessoas a bordo. O voo prosseguiu por mais de uma hora dentro de um colchão de nuvens, sem contato visual com o terreno. O Comandante Cramer solicitou ao Centro de Controle, descer para condições VFR (visuais), o que foi negado pelo controlador (Silva, 2006).

Não querendo frustrar o Senador Salgado Filho por não conseguir localizar a Fazenda Itu, provavelmente o experiente Comandante Cramer decidiu por conta e risco descer em busca de contato visual com o terreno.

Por volta das 13 horas, um morador da região rural de São Francisco de Assis ouviu o ronco de um avião passando baixo sobre sua fazenda, seguido de uma forte explosão. Era o PP-SAA que voava muito baixo e bateu contra uma pequena elevação chamada Cerro Cortelini. Nenhum dos dez ocupantes do bimotor sobreviveu.

Era o fim de uma carreira de sucesso na aviação e de um provável Governador do Rio Grande do Sul, tendo em vista que o encontro de Salgado Filho com Getúlio Vargas visava os detalhes para a candidatura do senador ao governo do estado.

O relatório final do acidente informou que o Lodestar da SAVAG voava nivelado, motores operando normalmente, na direção magnética 310 graus, flaps e trens recolhidos. Devido à visibilidade reduzida por chuva fina e nebulosidade baixa, o comandante Cramer não pode pressentir o choque contra uma árvore, que decepou a asa esquerda do bimotor e levou a queda do avião.

Hoje, Gustavo Cramer e Salgado Filho são lembrados como nomes dos aeroportos de Bagé/RS e Porto Alegre/RS, respectivamente.

Curiosidade: Durante o primeiro governo Vargas, ele foi ministro do Trabalho e transformou as relações entre patrões e empregados, possibilitou maior participação da mulher no emprego, diminuiu a jornada de trabalho para oito horas diárias (antes eram 16 horas), regulamentou sindicatos e concedeu outros benefícios ao trabalhador, como férias, pensões e aposentadorias. Como ministro interino da Educação, trabalhou pela qualidade do ensino no País, e foi ministro do então Supremo Tribunal Militar (STM). Ele foi o primeiro ministro da Aeronáutica, criada em janeiro de 1941, ele procurou organizar o então Ministério da Aeronáutica e a Força Aérea Brasileira e reestruturar a aviação civil num período de grande tensão na geopolítica mundial em razão da Segunda Guerra.

Fontes de pesquisa (livros):

O rastro da bruxa – história da aviação brasileira no século XX através de seus acidentes: 1928-1996. Comandante Carlos Germano da Silva, EDIPUCRS. Porto Alegre/RS. 2006.

Acidente no Morro do Chapéu − A queda do Constellation da Panair em Sapucaia do Sul. Abrão Aspis, Livraria Palmarica. Gravatal/SC. 2007.

(Do blog Fotos Antigas do Rio Grande do Sul)


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