Gabriel Rodrigues da Silveira
Em
30 de julho 2020, estará fazendo 70 anos da tragédia histórica ocorrida em São Francisco de
Assis − RS. Acidente aéreo que vitimou 9 tripulantes, no cerro dos Cortelini,
entre as vitimas estava o Senador Salgado Filho.
Passadas
48 horas da maior tragédia da aviação no Rio Grande do Sul, a queda do
Constellation da Panair, no morro do chapéu em 28 de julho 1950. Dois dias
depois acontece outro acidente aéreo no Rio Grande do Sul.
O
Senador Joaquim Pedro Salgado Filho, ex-ministro da Aeronáutica ainda estava
sob o impacto da tragédia do Panair, principalmente porque ele tinha lugar
marcado no voo PB 099, mas cedeu a um amigo que tinha pressa em chegar ao Rio
Grande do Sul. Sorte de um, azar de outro.
Mesmo
com o tempo desfavorável, o Senador Salgado Filho mantivera sua agenda no
interior do estado. Tinha um encontro com o Sr. Getúlio Vargas na longínqua
cidade de São Borja, onde o ex-presidente residia na Fazenda do Itu.
O
deslocamento seria em um bimotor Lodestar da SAVAG (Sociedade Anônima Viação
Aérea Gaúcha), prefixo PP-SAA batizado de “São Pedro do Rio Grande”. O piloto
não seria ninguém menos que o proprietário da SAVAG, o Sr. Gustavo Cramer
(ex-comandante da Panair).
A
SAVAG foi fundada em 1946, e possuía uma frota de dois Lockheed Lodestar
(PP-SAA e SAB), que voavam para diversas cidades gaúchas, buscando
enfrentamento com a poderosa VARIG. Em 1949 a companhia perdera o Lodestar PP-SAC em
acidente na cidade de Pelotas/RS.
Conforme
Silva (2006) o Comandante Cramer estava ciente das condições meteorológicas
desfavoráveis, e mesmo assim apresentou um plano de voo IFR em rota direta para
São Borja, a 4.500 pés
de altitude. O plano de voo previa descida por instrumentos, tendo como
referência a Radio Difusora de São Borja (AM). Este procedimento atualmente é
proibido, porém nos tempos do “arco-e-flexa” da aviação (anos 40 e 50), era
muito comum usar rádios comerciais (broadcasting) como balizador de
procedimentos, devido à ausência de rádio-auxílios à navegação aérea.
O
PP-SAA decolou do Aeroporto Federal de Porto Alegre, São João, às 11 horas com
10 pessoas a bordo. O voo prosseguiu por mais de uma hora dentro de um colchão
de nuvens, sem contato visual com o terreno. O Comandante Cramer solicitou ao
Centro de Controle, descer para condições VFR (visuais), o que foi negado pelo
controlador (Silva, 2006).
Não
querendo frustrar o Senador Salgado Filho por não conseguir localizar a Fazenda
Itu, provavelmente o experiente Comandante Cramer decidiu por conta e risco
descer em busca de contato visual com o terreno.
Por
volta das 13 horas, um morador da região rural de São Francisco de Assis ouviu
o ronco de um avião passando baixo sobre sua fazenda, seguido de uma forte
explosão. Era o PP-SAA que voava muito baixo e bateu contra uma pequena
elevação chamada Cerro Cortelini. Nenhum dos dez ocupantes do bimotor
sobreviveu.
Era
o fim de uma carreira de sucesso na aviação e de um provável Governador do Rio
Grande do Sul, tendo em vista que o encontro de Salgado Filho com Getúlio Vargas
visava os detalhes para a candidatura do senador ao governo do estado.
O
relatório final do acidente informou que o Lodestar da SAVAG voava nivelado,
motores operando normalmente, na direção magnética 310 graus, flaps e trens
recolhidos. Devido à visibilidade reduzida por chuva fina e nebulosidade baixa,
o comandante Cramer não pode pressentir o choque contra uma árvore, que decepou
a asa esquerda do bimotor e levou a queda do avião.
Hoje,
Gustavo Cramer e Salgado Filho são lembrados como nomes dos aeroportos de
Bagé/RS e Porto Alegre/RS, respectivamente.
Curiosidade:
Durante o primeiro governo Vargas, ele foi ministro do Trabalho e transformou
as relações entre patrões e empregados, possibilitou maior participação da
mulher no emprego, diminuiu a jornada de trabalho para oito horas diárias
(antes eram 16 horas), regulamentou sindicatos e concedeu outros benefícios ao
trabalhador, como férias, pensões e aposentadorias. Como ministro interino da
Educação, trabalhou pela qualidade do ensino no País, e foi ministro do então
Supremo Tribunal Militar (STM). Ele foi o primeiro ministro da Aeronáutica,
criada em janeiro de 1941, ele procurou organizar o então Ministério da
Aeronáutica e a Força Aérea Brasileira e reestruturar a aviação civil num
período de grande tensão na geopolítica mundial em razão da Segunda Guerra.
Fontes de pesquisa (livros):
O
rastro da bruxa – história da aviação brasileira no século XX através de seus
acidentes: 1928-1996. Comandante Carlos Germano da Silva, EDIPUCRS. Porto
Alegre/RS. 2006.
Acidente
no Morro do Chapéu − A queda do Constellation da Panair em Sapucaia do Sul.
Abrão Aspis, Livraria Palmarica. Gravatal/SC. 2007.
(Do blog Fotos Antigas do Rio Grande do Sul)
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