David Coimbra*
Vários
amigos me mandaram o texto daquele cara que diz não quer viver em um mundo sem
bar. Sabiam que ia me identificar e, de fato, me identifiquei. Porque um mundo
sem bar seria um lugar triste de se viver. No bar, exercemos o melhor predicado
da nossa humanidade − o do congraçamento com outros integrantes da espécie. E o
mais importante: tendo por objetivo, tão somente, a busca do prazer de estarmos
juntos e não qualquer tipo de ganho material, como no trabalho, ou mesmo
espiritual, como num templo religioso. Nós não vamos ao bar em busca de prestígio,
fama ou fortuna. Nós vamos ao bar para ver outras pessoas e ouvi-las, e isso é
lindo, não há nada mais humano do que isso.
Quando
eu trabalhava no Diário Catarinense, nos anos 1980, o meu colega e amigo Nei
Manique colou na parede da redação uma tirinha do Hagar, o Horrível, que era
assim: Hagar, Eddie Sortudo e seu bando de vikings desciam correndo por uma praia
nórdica, espadas erguidas bem alto, gritando:
−
Ao mar! Ao mar! Ao mar!
Mas,
ao chegar ao fim da faixa de areia, botavam, cada um, uma ponta de pé na espuma
das ondas, experimentando a temperatura da água e, devido ao frio, estremeciam:
−
Brrrrr...
O
último quadrinho era o bando todo correndo na direção contrária, gritando:
−
Ao bar! Ao bar! Ao bar!
É
assim que é: quando o frio da existência nos alcança, é no bar que encontramos
calor e conforto.
Em
alguns países europeus, os bares já começaram a retomar certa atividade.
Rastejando feito vermes, rotos feitos guerreiros vencidos, humilhados feitos
amantes desprezados, mas começam. O problema é que, como ainda não há vacina,
não há 100% de segurança sanitária. Aí, houve bares que encontraram uma saída
que me produziu arrepios de pavor: eles instalaram paredes de vidro não apenas
entre as mesas, mas também no meio de cada mesa, separando os comensais como se
eles estivessem no parlatório do presídio.
Fiquei
horrorizado.
Ah,
não! Isso eu não quero! Eu quero sentir o hálito de chocolate branco da morena
sinuosa sentada ao lado, quero ver os perdigotos que o amigo lança enquanto
defende o seu clube de futebol ou o seu maldito candidato político, quero poder
capturar a batatinha frita do prato do outro e, mas do que tudo, quero poder
chocar os copos de chope cremoso e dourado e gelado num brinde à vida! Quero
brindar à vida, e quero já! Ao bar! Ao bar! Ao bar!
(*No jornal Zero Hora, maio de 2020)
Hagar ao mar!
Mas no bar é muito melhor!
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