sábado, 2 de maio de 2020

Os olhos da alma


É possível VER com Dom Juan e Carlos Castañeda*

(Seleção de textos de Fernando do Valle)**


“Para mim, não há vitória, nem derrota, nem vazio. Tudo está cheio até a borda; tudo é igual, e minha luta valeu a pena. A fim de se tornar um homem de conhecimento, a pessoa tem de ser um guerreiro, não uma criança choramingas. É preciso lutar sem desistir, sem reclamar, sem hesitar, até VER, só para compreender então que nada importa”

(Dom Juan em trecho de Estranha Realidade, página 86).

“Sempre que você olha para as coisas, não as vê. Apenas olha para elas, suponho que para se certificar de que há alguma coisa ali. Como não está preocupado em ver, as coisas parecem as mesmas cada vez que olha para elas. Mas quando aprende a VER, por outro lado, uma coisa nunca é a mesma cada vez que você a vê, e no entanto é a mesma”

(Dom Juan em trecho de Estranha Realidade, página 38).

“Talvez algum dia você aprenda a VER, e então saberá se as coisas importam ou não. Para mim nada importa, mas talvez para você tudo importará. Você já devia saber que um homem de conhecimento vive pelos seus atos, não por pensar nos atos, e não por pensar no que vai pensar depois que acabar de agir. Um homem de conhecimento escolhe um caminho de coração e o segue; e depois olha e se regozija e ri; e então ele vê e sabe. Sabe que sua vida terminará muito depressa; sabe que ele, como todos os outros, não vai a parte alguma; sabe, porque vê, que nada é mais importante do que qualquer outra coisa”

(Trecho de Estranha Realidade, página 83).

“Eu não disse “sem valor”. Falei “sem importância”. Tudo é igual, e dessa forma sem importância. Por exemplo, não há meio de eu dizer que meus atos sejam mais importantes do que os seus, ou que uma coisa seja mais essencial do que outra; e, portanto, todas as coisas são iguais, e sendo iguais são sem importância”

(Dom Juan em trecho de Estranha Realidade, página 81).

“Não odeio ninguém. Aprendi que os inúmeros caminhos que a gente atravessa na vida são todos iguais. Os opressores e os oprimidos se encontram, no fim, a única coisa que prevalece é que a vida foi muito curta para ambos”

(Dom Juan em trecho de Estranha Realidade, página 138).

“Somente a ideia da morte torna o homem suficientemente desprendido para ser capaz de se entregar a qualquer coisa. Um homem assim, porém, não tem anseios, pois adquiriu um amor calado pela vida e por todas as coisas da vida. Sabe que a morte o acompanha e não lhe dará tempo de se agarrar a nada, de modo que ele experimenta, sem ansiar, tudo de todas as coisas”

(Dom Juan em trecho de Estranha Realidade, página 146).

** Fernando do Valle é blogueiro e jornalista.


* Carlos César Salvador Arana Castañeda, mais conhecido simplesmente como Carlos Castaneda (Cajamarca, 25 de dezembro de 1925 − Los Angeles, 27 de abril de 1998), foi um escritor e antropólogo formado pela Universidade da Califórnia; notabilizou-se após a publicação, em 1968, de sua dissertação de mestrado intitulada The Teachings of Don Juan − a Yaqui way of knowledge, lançada no Brasil como “A Erva do Diabo”.



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