sábado, 29 de fevereiro de 2020

O Rio diferente


Leonardo Pataca, por Belmonte.

O que se passou ontem à tarde com o cronista* parece coisa de difícil explicação. Ia ele pela Rua do Ouvidor quando reparou que a rua não era a mesma. À esquina de Quitanda havia um ajuntamento diverso das habituais reuniões de curiosos em torno de um camelô. Sujeitos sentados em cadeiras de couro, na calçada, conversavam, com alarido uns com outros, enquanto um deles, extremamente gordo, se deixava ficar de pernas estendidas, queixo grudado ao bengalão. Suas vestes eram tão estranhas que requeriam exame. Foi quando, percebendo pasmo do cronista, alguém se aproximou:

− Pois não conhece? É o Leonardo Pataca. O nosso meirinho mais velho, e por sinal que maluco por um rabo de saia...

Nisto, um rumor maior se fez ouvir, e uma velha traquitana, puxada por um matungo, perdendo uma das rodas, foi enguiçar no meio da rua. Dela saiu um senhor todo de preto − casaca e calções de seda, sapatos de entrada baixa com fivela de prata, espadim e chapéu de pasta. O mesmo informante explicou:

− É o senhor José Manuel, que seguia cheio de nove-horas para um casamento na Sé, e agora tem de ir no calcante.

A essa altura nada mais era estranho, e foi mesmo com uma sensação de bem-estar que o cronista viu aproximar-se um grupo de pretos de água, o que demonstrava na cidade um certo interesse prático pela solução do seu imortal problema. Enfim, tinha-se tomado uma providência: havia homens que iam apanhar água não se sabe aonde, para vendê-la a quem dela precisasse.

O cronista foi andando e viu já agora figuras tão integradas na paisagem urbana que era como se conhecesse de sempre. Na Rua dos Ourives, passou a Maria Regalada*, seguida a pequena distância pelo capitão Buonaparte; também era fácil de identificar, pelas chufas dos moleques, a Maria Doida. Já o músico Policarpo, esse, à porta da barbearia, se esforçava por tirar no oficleide* o verdadeiro lundu “Dizem que sou borboleta”. Passaram mascates e carregadores de café, e como era ágil o ritmo desses últimos! Gente sobraçando esteiras e tabuleiros de comida rumava para o Campo de Santana, onde ia festejar-se o Divino. De repente, como um rastilho, o sussurro atravessou os grupos, fez cerrar as portas, provocou uma louca debandada. Alguém dissera:

− Foge, gente, que o Vidigal vem aí!

Vidigal, Rio de Janeiro, 1942, por Belmonte.

O Vidigal apareceu logo depois, alto e terrível, precedido de uma guarda de granadeiros com chibatas. Haviam soado as ave-marias, e ele percorria as ruas para recolher quem estivesse praticando ou pensando algum malfeito. A cidade se esvaziou num instante. Vidigal era um homem de descer a lenha sem piedade; ele prendia, ele julgava, ele punia. E seu nome espalhava um terror sagrado. O próprio cronista, homem pacato...

Quem quiser sentir essas e outras emoções, basta ir ali no saguão da Biblioteca Nacional e ver a bela exposição de gravuras, livros e autógrafos com que Eugênio Gomes assinala o centenário da publicação de Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida. Através da iconografia habilmente escolhida, reconstituiu-se o “tempo do rei”, em que se passou a história, e o tempo do escritor, de que nos falam outras litografias. Romance tão vivo que nos transporta para um Rio diferente e nele nos sentimos viver. De resto, nem tudo é visão do passado. Vidigal, por exemplo, ainda existe.

C.D.A.

(Do livro “A Biblioteca Nacional na crônica da cidade”, 
de Iuri Lapa e Lia Jordão)

*Cronista: o autor da crônica que se assina: C.D.A. (Carlos Drummond de Andrade) que volta ao século XIX, no tempo do livro Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antonio de Almeida.  Surgiu como um romance de folhetim, ou seja, em capítulos, publicados semanalmente no jornal Correio Mercantil, do Rio de Janeiro, entre junho de 1852 e julho de 1853. Os folhetins não indicavam quem era o autor. A história saiu em livro em 1854 (primeiro volume) e 1855 (segundo volume), com autoria creditada a “Um Brasileiro”. O nome de Manuel Antônio de Almeida aparecerá apenas na terceira edição, já póstuma, em 1863.

*Maria Regalada: uma das personagens secundárias do romance “Memórias de Um Sargento de Milícias”.

*Chufas: gracejos impertinentes.

*Oficleide: ou oficlide, também conhecido popularmente como figle é um instrumento musical de sopro da família dos metais. 


sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Companhia Fidelidade Lisboeta de Seguros Gerais

Filial de Cascais – Comarca de Sintra
Aviso de sinistro de acidentes pessoais


Segurado:

CONSTRUTORA ALENTEJANA RESP. − LTDA./
Apólice n° 012.3-45/001/Prazo de validade real: 30 de outubro de 1987/

Elemento sinistrado:

Manoel João Torres Borges/
Data do acidente: 20 de setembro de 1987/
Horário local: 14:30/

Idade:

34 anos/casado/nacionalidade portuguesa/branco/80 quilos, contratado em horário integral.

Exmos. Senhores:

Em resposta ao vosso pedido de informações adicionais, declaro:

No quesito 3, mencionei “tentando fazer o trabalho sozinho” como causa de meu acidente. Como em vossa carta é solicitada uma explicação mais pormenorizada, espero que os detalhes abaixo sejam efectivamente suficientes.

Sou assentador de tijolos e, no dia do acidente, estava eu trabalhando sozinho no telhado dum edifício novo de seis andares. Quando acabei meu trabalho, percebi que havia sobrado 250 quilos de tijolos intactos. Ao invés de usar a escada dos trabalhadores e levá-los nas mãos para baixo, decidi-me por colocá-los dentro dum barril e com a ajuda de uma roldana que, inclusive, estava fixada num dos lados do edifício, iniciei ao que me propunha.

Desci até o rés-do-chão e atei o barril com uma corda, fui para o telhado e puxei-o para cima e deitei-lhes os tijolos adentro. Voltei para baixo e desatei a corda segurando-a com força de modo que os 250 quilos de tijolos descessem devagarinho (notem que no devido quesito menciono que o meu peso é de 80 quilos).

Devido a minha enorme surpresa por ter saltado repentinamente do chão, perdi minha presença de espírito e esqueci-me de largar a corda. É desnecessário dizer que fui içado para o alto e com grande velocidade. Nas proximidades do terceiro andar, embati-me contra o barril que vinha a descer. Isso explica a fractura de crânio e a quebra de uma das clavículas.

Continuei a subir, porém com uma velocidade ligeiramente menor e somente fui parar, lá no alto, quando os nós de meus dedos ficaram entalados nas roldanas. Felizmente eu já tinha recuperado minha presença de espírito e, apesar das dores, consegui agarrar-me à corda. Mais ou menos ao mesmo tempo, o barril com os tijolos caiu no chão, quando o fundo partiu-se. Sem os referidos tijolos, o barril pesava somente 25 quilos (confiram, por favor, meu peso no quesito 1) e como podem imaginar Vossas Senhorias, comecei a descer rapidamente. Quando eu estava próximo do terceiro andar, encontro novamente o barril vazio que vinha a subir e isso justifica a natureza dos tornozelos partidos e das lacerações nas pernas e inclusive nas partes inferiores do corpo. O encontro com o barril fez com que diminuísse a velocidade de minha descida, o que de facto minimizou os meus sofrimentos provocados pela queda em cima dos tijolos, no momento em que, felizmente, só fracturei três vértebras.

Profundamente constrangido pelo prejuízo que acabei provocando para Vossas Senhorias. lamento informar que quando me encontrava deitado no chão, por cima dos tijolos, acometido de dores e incapacitado de levantar-me, perdi novamente minha presença de espírito e larguei a corda, sem perceber que o barril estava lá no alto, sobre minha pessoa. Portanto, ele pesava mais que a corda (vide parágrafo 5), ele desceu rapidamente e caiu em cima de mim, ocasião em que me partiu as duas pernas. Pronto.

Na certeza de que tenha dado as informações esclarecedoras, com apreço, subscrevo-me.
______________________
Manoel João Torres Borges

Discurso aos Discursadores

Petrarca Maranhão

 (Estes versos foram feitos, em 1956,
para o presidente Juscelino Kubitschek,
mas poderiam ter sido feitos para o atual.)


Fala, fala o Presidente,
Fala com garbo, eloquente,
Com calor, com vibração.
Mas... a vida não melhora,
Sofre o pobre, o povo chora,
Verbo não é solução.

Procure Sua Excelência,
Pondo a mão na consciência,
Dar-nos mais do que esperança.
Não seja um “amigo-urso”
Que apenas nos faz discurso.
Parola não enche pança!

Res non verba é este o ponto
Que interessa ao povo pronto
Verba, sim, esta a questão.
Já descrente o povo zomba,
Basta, senhor, de maromba,
Chega de tapeação.

Ou, então, o que é que há,
O que falta ao câmbio vil,
Pra, afinal, sem mais tardar
O Bolsonaro* começar
A governar o Brasil.

O povo já está cansado,
Nervoso, desesperado,
De tudo o que já ouviu.
Ele só quer – ora essa!
Não mais saber de promessa
De quem disse... e não cumpriu!

*****

(* no verso original o nome era Jota-Jota = Juscelino e Jango)

(Da revista “Careta”, setembro de 1956)

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Histórias de barbeiros



O barbeiro incrédulo

Um homem foi ao barbeiro.
E, enquanto tinha seus cabelos cortados, conversava com ele.
Falava da vida e de Deus.
Dai a pouco, o barbeiro, incrédulo, não aguentou e falou:
- Deixa disso, meu caro, Deus não existe!
- Por quê?
- Ora, se Deus existisse não haveria tantos miseráveis, passando fome!
- Olhe em volta e veja quanta tristeza. É só andar pelas ruas e enxergar!
- Bem, esta é a sua maneira de pensar, não é?
- Sim, claro!
O freguês pagou o corte e foi saindo, quando avistou um maltrapilho imundo, com longos e feios cabelos, barba desgrenhada, suja, abaixo do pescoço.
Não aguentou, deu meia volta e interpelou o barbeiro:
- Sabe de uma coisa?
- Não acredito em barbeiros!
- Como?
- Sim, se existissem barbeiros, não haveria pessoas de cabelos e barbas compridas!
- Ora, eles estão assim porque querem. Se desejassem mudar, viriam até mim!
- Agora, você entendeu...
  
(Texto de Autor Desconhecido)

Agora, uma história cômica de barbeiro...

O sujeito chega no barbeiro e pergunta:
- Em quanto tempo o senhor pode me atender?
- Duas horas - responde o barbeiro
Ele vai-se embora e só volta no dia seguinte, fazendo a mesma pergunta.
O barbeiro olha o caderno e diz:
- Duas horas e meia
Ele vai embora e volta no dia seguinte, com a mesma pergunta.
- Uma hora e meia - responde o barbeiro.
Como esta história repete-se todos os dias, o barbeiro começa a ficar curioso e pede para um ajudante seguir o sujeito para ver qual é a dele.
O ajudante volta quinze minutos depois, sem conseguir segurar o riso.
O barbeiro pergunta:
- E ai, para onde é que ele foi?
O ajudante responde:
- Pra a sua casa!



Histórias do futebol brasileiro

Como surgiu: Os Cartolas


Como surgiu: Os Cartolas

Em 1917, o Dublin, time de futebol do Uruguai, realizou uma temporada no Rio de Janeiro. Em um de seus jogos, no estádio de General Severiano, campo do Botafogo, dois dos dirigentes do Dublin, apareceu correndo na frente dos jogadores uruguaios até o centro do campo. O fato causou sensação, porque os dirigentes usavam altas e luxuosas cartolas.

Foi a partir daí, que, no Brasil, os dirigentes dos clubes passaram a ser chamados de CARTOLAS.

Carpegiani x Rubens Minelli

Apesar da notória ascendência sobre os companheiros, com quem sempre discutia questões táticas da equipe, Paulo César Carpegiani nunca teve problemas de relacionamento com técnicos. É verdade que quase aconteceu uma briga com Rubens Minelli no começo de sua carreira. Houve um incidente digno das melhores comédias de Peter Sellers.

No final de um treino no Beira Rio, açulado por Escurinho, Carpegiani lançou um balde de água em alguém que ocupava o WC do vestiário. Pois esse alguém era ninguém menos que Rubens Minelli que, de calça da mão, saiu lá de dentro aos berros:

- Suspendo o contrato do moleque que fez isso! Se não descobrir que foi, castigo o time todo.

Não passou um minuto, Carpegiani se apresentou:

- Fui eu, seu Minelli. Pensei que era o João Ribeiro lá no banheiro. Pode me suspender.

Claro que não houve suspensão e os dois se tornaram bons amigos. Mas, um novo incidente, desta vez na final do Brasileiro de 1976, voltaria a esfriar o relacionamento entre eles. Tudo começou quando Carpegiani aliou-se a Figueiroa, Lula e Valdomiro para exigir a escalação de Escurinho em lugar de Caçapava. Minelli irritou-se:

- Vocês querem mandar em tudo. Disseram a imprensa que Escurinho jogaria. E eu, como é que fico?

Minelli acabou escalando Caçapava, o Internacional ganhou do Fluminense em pleno Maracanã, sagrando-se, após jogar duas partidas com o Vasco, bi-campeão brasileiro.

Revista Placar



terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Uma luta entre facínoras

O já célebre cabo Elpídio mata “Camisa Preta”, traiçoeiramente.


Os precedentes do fato

O caso sensacional do dia é o assassinato do “Camisa Preta” ocorrido nesta madrugada na rua Visconde do Rio Branco, esquina com rua do Núncio, especialmente pelas graves circunstâncias em que está sendo apurado esse crime.

Foi naquela esquina que o cabo de policia Elpídio Ribeiro da Rocha, ordenança de palácio, assassinou o célebre facínora Alfredo Francisco Soares, o conhecido e temido “Camisa Preta”.

Os dois andavam para se encontrar e eliminar um ou outro.

Todos os jornais deixam transparecer que o policial agiu em legitima defesa, eliminando o seu adversário do número dos vivos.

Tal, porém, não se deu como vão ver os leitores.

Trata-se no caso de uma luta entre dois facínoras, ambos perigosos.

Se a sociedade ficou livre de um, a justiça deve punir o outro, pois que é tão perigoso ou pior do que o primeiro.

As nossas notas são em tudo diferente das dos nossos colegas e por isso tratemos dos precedentes dos dois facínoras.

“Camisa Preta” e os seus feitos − a sua vida de desordeiro

Alfredo Francisco Soares, o “Camisa Preta” era o mais temido e corajoso dos capangas eleitorais.

A sua vida de desordeiro se acentuou, o seu nome se firmou depois dos últimos crimes políticos.

Alfredo já tina 8 entradas na Casa de Detenção por desordem, assassinato e tentativa de assassinato.

Os outros desordeiros viram que tinham um terrível adversário, um homem que não temia a morte.

Resolveram, por isso, eliminá-lo do mundo dos vivos.

Formaram um grupo e resolveram atacar “Camisa Preta”.

Ele estava num hotel do largo do Rocio quando foi atacado.

Mais de vinte tiros ecoaram.

Quando a última cápsula dos revólveres dos atacantes foi deflagrada, “Camisa Preta”, que todos julgavam estar morto, pôs a mão na mesa e disse:

− Agora deixa acabar a fumaça para eu entrar com o meu jogo.

Excusado é dizer que o bando atacante ouvindo isso não esperou pela revanche: fugiu.

O nome de “Camisa Preta” era respeitado e mais temível se tornou.

Depois desses fatos ele ainda teve mais duas entradas na Detenção, por desordem e ferimentos leves.

Na eleição do Conselho Municipal, que foi dissolvido pelo marechal Hermes, “Camisa Preta” matou um guarda-noturno que tentou arrebatar a uma urna da seção da Biblioteca Nacional.

Foi a júri e este com a benevolência indesculpável, o absolveu.

Camisa Preta”, dois depois de ter sido absolvido, fez uma formidável desordem na rua Barão de São Félix.

Mais de 20 praças de polícia tiveram que lutar com ele. Houve um cerrado tiroteio, saindo feridos quatro soldados, e “Camisa Preta”, que foi removido para a Detenção em gravíssimo estado.

Foi a novo júri e mais uma vez foi absolvido.

Escapou da morte e da prisão.

Quando foi solto continuou na sua vida de aventuras perigosas.

Fazia, então, ponto na Lapa e proximidades, extorquindo dinheiro a negociantes diversos.

Tinha uma grande, uma grandíssima raiva da polícia e andava sempre em luta com ela.

Nunca recebia voz de prisão que não reagisse e não travasse luta.

A última vez que foi ferido na perna foi o largo da Lapa.

Um guarda civil feriu-o com um tiro.

Camisa Preta” ficou bom e continuou a frequentar botequins “cabarets”, da Lapa.

(...)

A luta – A morte do célebre “Camisa Preta”

Camisa Preta” estava hoje pouco ante da 1 hora da madrugada, na rua Visconde de Rio Branco próximo da esquina da rua do Núncio.

Conversava com o negociante Antônio Júlio Xavier quando da rua do Núncio chegaram o cabo Elpídio e o preto Manoel Tibúrcio Garcia.

O cabo ao avistar o adversário, disse:

− Um de nós de nós tem de morrer hoje.

Travaram discussão.

O negociante interveio e quis apaziguá-los.

Camisa Preta” encostado à parede com as mãos nos bolsos, provavelmente segurando o revólver.

O negociante conseguiu evitar a luta, mas o cabo Elpídio disse-lhe:

− Eu só não atirarei no ‘Camisa’ se ele tirar as mãos do bolso.

Camisa” para evitar a luta, tirou as mãos dos bolsos e ergueu dizendo:

− Não quero brigar.

O outro facínora, o cabo Elpídio, aproveitou a ocasião e puxando do revólver deu-lhe um tiro no occipital.

Camisa” caiu para nunca mais se erguer.

O cabo bandido, temendo que ela ainda se levantasse, detonou mais cinco tiros contra ele ferindo-o mais uma vez na cabeça, um na mão esquerda, um no ombro e um no ventre.

Nessa ocasião chegaram os policiais que efetuaram a prisão do cabo facínora e seu companheiro, o preto Manoel Tibúrcio Garcia.

O cabo, protegido, querendo se livra da prisão, passou o revólver para o seu companheiro.

A polícia, mais uma vez, está protegendo o facínora policial e todo o processo está sendo feito de modo a facilitar a sua defesa. A boas mãos está entregue a nossa segurança.

No necrotério − A aglomeração − As prisões

Aconteceu hoje no necrotério o que sempre acontece em casos como o que narramos.

A aglomeração foi enorme desde as primeiras horas da manhã. Ninguém podia entrar no necrotério, tal era a aglomeração de gente.

Desordeiros, facínoras, mulheres da vida, curiosos, todos queriam ver o facínora que maior nome teve no Rio de Janeiro.

A polícia aproveitou a ocasião para fazer uma boa caçada e encheu o xadrez de indivíduos perigosos que iam ver o companheiro morto.

Camisa Preta” foi autopsiado às 10 e meia horas da manhã pelo doutor Rodrigues Caó que verificou que qualquer um dos tiros que ele recebeu ser bastante para matá-lo, com exceção do da mão esquerda.

Camisa Preta” tinha uma tatuagem na mão esquerda e peito escrita a palavra Adelaide e as iniciais J. A. G., e no braço direito uma sereia pintada.

(Do jornal A Noite, 12 de julho de 1912)


Rixa

Considerando as informações do Jornal Gazeta de Notícias, a rixa entre o cabo Elpídio e Miguel * começara um ano antes, quando Elpídio matara outro malandro, um conhecido como Leão do Norte, que seria muito amigo de Camisa Preta, que jurou vingança pela morte.

Assim, não muito antes da morte de Miguel (Alfredo), tanto este como o Cabo já haviam se encontrado antes de forma violenta. Do encontro, os dois foram parar numa delegacia. Miguel fora baleado na perna e passou um ano ‘sumido’.

Tempos depois, o cabo Elpídio morria num incêndio após salvar uma criança das chamas.

(Do blog Umbanda Sagrada Brasileira)

*Nome errado de Alfredo, no blog da Umbanda Sagrada Brasileira.

História da lapa,

de Jorge de Castro e Wilson Batista

Lapa dos capoeiras,
Miguelzinho, Camisa Preta,
Meia-Noite e Edgar.
Lapa, minha Lapa Boêmia,
A lua só vai pra casa
Depois do sol raiar.

Falta uma torre na igreja,
Vou lhe contar, meu irmão,
Foi na briga de Floriano,
Foi um tiro de canhão.
E nesse dia a Lapa vadia
Teve sua glória
Deixou o nome na história.

Miguel* Camisa Preta é um malandro muito fino que gosta de ser tratado com coisas de boa qualidade. Suas véstias são camisa de linho preta e calça de linho branca. Usa também chapéu de panamá, de cor crua de panamá e de faixa na cor preta, em homenagem ao seu time de futebol, o Vasco da Gama; às vezes, bengala. Fuma cigarro Hollywood de filtro amarelo e bebe cerveja Brahma; esteja quente ou gelada, tem que ser Brahma.

Segue aqui uma oração principalmente às pessoas que andam na noite, que passam por lugares perigosos e também aquelas que querem se livrar de algum vício ou inimigo que te façam ou queiram te fazer mal.
  
Oração ao Camisa Preta

Miguel* Camisa Preta, boêmio das noites de seresta,
Anda comigo nessa noite, em todas as outras e também nos dias,
Pois, por onde passo,
Pode ser que haja alguém que queira algo que eu tenho,
E tudo o que tenho consegui com meu esforço.

Peço perdão se não sou tão bom ainda quanto deveria ser.
Mas, em sua companhia, espero melhorar a minha vida.
Diga a ogum, seu mestre, que abra os meus caminhos.
Que através de você eu possa me libertar de qualquer vício.
Que eu seja malandro sim,
Para me esquivar de assaltos, de balas perdidas
E que, por mais que às vezes seja necessário passar por um lugar,
Que você me desvie do mesmo se neste houver perigo.
Que você esteja sempre ligado á mim como meu guia!
Camisa Preta amigo, me guia, me auxilia!
Amém!

*Miguel (Miguelzinho) era um; Camisa Preta era outro malandro da Lapa.

Camisa Preta era o apelido de Alfredo Francisco Soares, que não tinha a ver com o Miguel (Miguelzinho).

O que causou a confusão foi a música de Wilson Batista cantada pelo Nelson Gonçalves que diz:

Lapa dos capoeiras,
Miguelzinho, Camisa Preta,
Meia-Noite e Edgar.

1) Miguelzinho, (vírgula) 2) Camisa Preta, (vírgula) 3) Meia-Noite e 4) Edgar: quatro malandros da antiga Lapa, do Rio de janeiro. O nome de “Camisa preta” era Alfredo Francisco Soares, e não Miguel dos cultos umbandistas. A vírgula colocada depois do nome Miguelzinho passou despercebida por  muita gente. Dando a impressão que Miguelzinho Camisa Preta fosse uma só pessoa.

Mestre Nascimento Grande

José Nascimento da Silva

Pernambuco 1842 – 1936


O Lendário Nascimento Grande de capa e bengala

Nascimento Grande nasceu em 1842 e dançou, em 1936. Reputado como o maior capoeirista de Pernambuco de todos os tempos, O Capoeira, como era conhecido, foi manchete nos principais jornais do Recife. Negro, dois metros de altura, longo bigode, gentil, educadíssimo, olhar de Bruce Lee, maneiro, veloz, incompatível com a sua estatura física e peso – 120 quilos. A imprensa da época depois de reunir todos os prós e contra do Capoeira, concedeu-lhe o título de Herói Popular, baseado no fato dele só ter lutado durante toda a sua vida única e exclusivamente para se defender.

Nascimento enfrentava um pelotão de polícia, brigava, usava as pernas, saltava de banda, quebrava telhados, escalava muros, quando era depois, procurava o soldado mais fraco da corporação e se entregava. Exemplo de honestidade, integridade, valentia e nobreza de sentimento.

Nascimento Grande ganhou a simpatia de todas as classes sociais, além do meio cultural e literário, não só do Recife, mas de outros Estados: Gilberto Freyre, José Lins do Rego, Ah, bom! Câmara Cascudo, José Mariano, pai do poeta Olegário, Gilberto Amado.

Eles não só tinham estima pelo Capoeira, como conheceram-no pessoalmente. Gilberto Freyre chegou a reclamar do governo uma homenagem ao saber do falecimento de Nascimento Grande, aos 94 anos de idade, em Jacarepaguá, Estado do Rio de Janeiro, em 1936.

Esse operário do Porto do Recife, na função de estivador, era também conhecido como portador de uma força descomunal. Poderia ser o João Valentão da música de Dorival Caymmi. Claro, ele tinha seus momentos. Costumava parar em uma Igreja para uma oração. Consultava Pai de Santo, e costumava dizer para os amigos:

− Siga ligeiro pra casa/ Vá procurar “Pai João” / Vá fazer o que lhe digo / Mas também não tema não / Compre maconha e jurema / Faça uma defumação.

A fama de Nascimento Grande despertou curiosidade entre os valentões mais famosos do Brasil. Sua coroa era cobiçada por ninguém menos que: – Pirajé (Pará); Manuezinho Camisa Preta (R.J); Pajeú (Sertão pernambucano); e João Sabe Tudo. Esse era nó cego, e vivia a desafiar o Capoeira, convocando-o para briga com local e hora marcada. O pior é que eram amigos, promoviam festas juntos no Hotel Sobrado Grande, localizado na Rua Camboa do Carmo, bairro de Santo Antônio, Recife.

A maior e mais violenta briga dos dois, foi marcada com antecedência em frente à Igreja do Carmo. Cacete comeu até certas horas. Já parecendo dois galos de brigas, ao terminar a luta, Nascimento Grande colocou o seu parceiro nas costas e o levou para o hospital banhado de sangue.

Conta José Mariano (Jornal do Commercio – Recife, 20/02/36), que aos 93 o Capoeira foi até a feira livre de Paraguaçu, e lá comprou um abacaxi a um Português dono de barraca. Verificando a idade muito avançada do Capoeira, o Portuga colocou um abacaxi com um pedaço podre, enrolou e entregou-lhe na mão. Em casa, quando Nascimento verificou a sacanagem, voltou com a “inflorescência” na mão e foi reclamar do Portuga, que não lhe deu a devida atenção. Desafiou o velho. A mancada foi do Portuga, né véi? Nascimento foi na goela dele, do jeito que os capoeiristas do Recife da época faziam com os “marinheiros”. O Portuga só não morreu porque ficou respirando pelo bigode.

O poeta popular também se pronunciou em verso Sete Linhas sobre o Capoeira, como foi o caso de João Martins de Ataíde, segundo Câmara Cascudo:

Nascimento ficou velho
Seu cabelo embranqueceu,
Mas no seu rosto enrugado,
Um homem nunca bateu.
Sendo, assim, tão iracundo,
Com honras viveu no mundo,
Honrado também morreu.

“Hércules é um mito, Nascimento Grande existiu de verdade. Suas façanhas estão narradas nos jornais do Recife”.

Ofereço esta matéria ao autor da frase supra – Bernardo Alves, pesquisador autodidata, sério, honrado, competente zeloso e incisivo, de saudosa memória.

(Do blog Projeto Educando Com Ginga)


Recife Sangrento

Ary Lobo

Eu vou falar é do Recife sangrento,
a verdade é sagrada e não se esconde.

Valente entre os mais valentes,
Foi o Nascimento Grande. (bis)

Cada rua em Recife tinha um brabo,
Cada bairro existia um valentão,
A coragem era a Lei da Razão,
Testemunho de tal civilidade.
A peixeira era a identidade,
Documento de todo cidadão,
A verdade é sagrada e não se esconde.

Valente entre os mais valentes,
Foi o Nascimento Grande. (bis)

Zé Lero-Lero, que dopou pião dolero
Compadre do jongondrongo.
Lembra a Zefa do Biombo,
Que brigava de punhal,
Corre hoje de preá e nunca aceitou conselho.
Também Juvino dos coelhos,
Que morreu no seu ramal,
A verdade é sagrada e não se esconde.

A descrição que Luís da Câmara Cascudo, o mestre Cascudo faz de Nascimento Grande é fenomenal:

“De alta estatura, corpulento, chegando aos 130 quilos, morenão, bigodes longos, muito cortês e maneiroso, usava invariável chapelão desabado, capa de borracha dobrada no braço e a célebre bengala de quinze quilos, manejada como se pesasse quinze gramas e que ele chamava a volta. Uma bengalada derribava um homem, duas desacordavam e três matavam.”

Mas quem foi essa figura extraordinária? Chamava-se José Antônio do Nascimento e era o mais afamado valente do Recife na entrada do século XX. Trabalhava na estiva e, segundo relatos, carregava cargas absolutamente insanas, daquelas de enrubescer os maiores fortões. Era um Hércules, o Nascimento Grande.

Nunca provocou uma porrada. De conduta ilibada e honestidade comovente, só saía no cacete em legítima defesa. Como era uma fortaleza, costumava ser desafiado por malandros de todos os tipos e Mestres de capoeira, que sabiam da fama reservada a alguém que conseguisse meter-lhe a porrada. Nunca aconteceu. Alguns diziam que ele tinha o corpo fechado, pois foi atacado por diversas vezes por disparos de arma de fogo a queima roupa e nunca foi ferido. Tudo graças a um amuleto com um “Santo Lenço” que ele carregava.

Existem inúmeras histórias desse gigante, como esse ataque que sofreu, em Vitória de Santo Antão, de um cabra chamado Corre-Hoje. Antonio Padroeiro (seu nome verdadeiro) atacou Nascimento Grande auxiliado por sete comparsas. Nascimento Grande bateu nos sete e matou o Corre-Hoje. Diante do pânico dos que assistiam à cena, que incluiu os inevitáveis desmaios das mulheres, Nascimento Grande colocou o corpo do meliante em um banco, acendeu velas votivas e velou, rezando contrito, a alma do morto até a chegada da polícia. Exigiu que Corre-Hoje tivesse um velório cristão.

Era o defensor das putas do Recife Velho. Mandava dizer que quem maltratasse as moças se veria com ele e com sua inclemente bengala. Não havia cafetão ou cliente que se metesse a engraçado com as quengas quando o Grande estava na zona. Constantemente se apaixonava pelas meninas e afirmava que o amor de uma puta era o mais sincero dos sentimentos. Repetia sempre uma máxima: “sortudo é o homem pelo qual uma puta se apaixona. Maldito é o que tem os amores de uma virtuosa.”

Em certa feita foi provocado por um valente do bairro de São José chamado Pajéu, metido a capoeirista e dado a bater em mulher – coisa que causava asco no nosso personagem. Pois o tal do Pajéu apanhou mais que boi ladrão. Um dia, Pajéu atacou Nascimento Grande com uma “peixeira” e foi desarmado por Nascimento Grande que obrigou o cabra a colocar uma saia de mulher e desfilar pelas ruas do Recife Velho. As putas, que amavam nosso personagem e execravam o tal de Pajéu, aplaudiram em delírio a desmoralização do bocó.

Foi ele quem matou, em viagem ao Rio de Janeiro, o legendário capoeirista Camisa Preta*, que o desafiara para um combate de morte. Essa batalha transformou o Largo da Carioca na península do Peloponeso.

*Cremos que esse confronto nunca existiu. Leia, Neste Almanaque, Uma luta entre facínoras, sobre a morte de “Camisa Preta.

Mas a maior luta de Nascimento Grande foi contra João Sabe Tudo, que era seu mais feroz adversário e um dos valentões mais temidos de Recife. Os dois evitam se encontrar, só que em um Domingo de manhã se esbarraram perto da ponte do Largo da Paz, não houve tempo pra discussões e a briga começou. João Sabe Tudo de “peixeira” na mão e Nascimento Grande com a bengala. Golpes zuniam no ar. Foi se formando a multidão, com grupos de curiosos que aplaudiam ora um ora outro combatente. A Cada rasteira, negaça os aplausos choviam. E os dois valentões avançavam um contra o outro, ou recuavam estrategicamente, ambos ligeiros e valentes. Mas as horas do dia foram passando e a batalha continuava, cada vez mais violenta, sem vencido sem vencedor. E os dois lutadores, em fugas, avanços e negaças, foram descendo a Rua Imperial. A multidão acompanhando. Atingiram a Praça Sérgio Loreto. Avançaram mais e de repente chegaram a Matriz de São José. E entraram na Igreja, e a multidão barulhenta atrás deles. É quando aparece o Vigário da Matriz, indignado. Grita para os dois valentões. Ambos feridos e extenuados e os obrigam a parar. Faz mais ainda, intima que respeitem a casa de Deus e exige que apertem as mãos. Os dois inimigos, embora desconcertados, obedecem. Foi essa a última luta de Nascimento Grande e João Sabe Tudo, os maiores valentões do Recife Antigo.

Com o coração do tamanho do Capibaribe, Nascimento Grande fez grandes amigos por onde andou. Honestíssimo − mesmo os inimigos reconheciam isso −, chorava feito manteiga derretida com as coisas mais corriqueiras da vida. Morreu, com mais de cem anos, no Rio de Janeiro, onde passou parte da velhice...


Charadas II

Um teste envolvendo interpretação de texto!


Conseguiu descobrir?

Vamos para explicação:

Bom, temos que raciocinar com muita calma.

Analisar uma a uma...

Esse tipo de teste é ótimo para melhorar o desempenho.

Raciocínio lógico é muito cobrado em concursos público hoje em dia.

Olhe novamente a charada, com a seguinte dica: “O que você não consegue fazer sozinho.”

Exato, jogar xadrez.

Claro, não vamos considerar que a Clara esteja jogando sozinha ou em um computador.

Então ela precisa de uma parceira.

Resposta: → A quarta moça está jogando xadrez.

Um teste envolvendo interpretação de texto!


Vamos para explicação:

Cuidado com esse teste, leia com calma. 

Muitas pessoas acabam por fazer confusão e contando mais folhas do que deveriam.

Notem que normalmente em livros cada folha tem 2 duas páginas, frente e verso.

Lembre que página se refere à face do papel.

No caso, 1 e 2 é uma folha.

3 e 4 e outra folha;

E assim por diante.

Nesse caso, como ele arrancou a:

Página 7 e 8 (frente e verso) → 1 folha

Páginas 100 e 101 são duas folhas distintas → 2 folhas

100 e 101 não podem ser frente e verso, pois consideramos 7 e 8 frente e verso, ou seja, nesse livro a frente é um número ímpar e o verso é par.

Páginas 222 e 223 (folhas distintas) → 2 folhas

Resposta: → 5 folhas.

Um teste de matemática:


Decifrando por partes:

“Quando eu tinha 10 anos meu irmão mais novo tinha a metade da minha idade.”

Ou seja, quando eu tinha 10 anos, meu irmão tinha 5 anos de idade, que é a metade de 10.

“Agora tenho 30 anos. Quantos anos meu irmão tem?”

Não é a metade de 30. Se quando eu tinha 10 anos, meu irmão tinha 5, isso significa que sou 5 anos mais velho que meu irmão.

Seguindo este raciocínio, se tenho 30 anos, meu irmão tem 25 anos.

Resposta: 25 anos


Um teste de lógica!


Qual é a resposta correta?

Vamos para explicação:
  
Muitas pessoas têm feito confusão nesse tipo de desafio.

Não é por menos, mas a maioria já sai fazendo cálculo...

Mas essa é pergunta de lógica.

Sugerimos ler com muita calma.

5 pessoas morrem... 2 fogem...

Uma se afoga...

Mas isso é para fazer confusão!

Leia o começo da questão: “Em uma prisão totalmente fechada há 10 pessoas”.

Ou seja, Há 10 pessoas independente do que aconteceu...

(Do blog Matemática Genial)

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Carnaval em tempos de nova política

Em desfile engajado, 
Mangueira critica fundamentalismo bolsonarista.

Atual campeã, Mangueira mostrou um Jesus Negro na avenida e criticou os falsos profetas (J. Messias B.), de arma na mão.


O Cristo negro e favelado da Mangueira, com marcas de tiro pelo corpo.

G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (RJ)

Samba-Enredo 2020 − A Verdade Vos Fará Livre

Compositores Manu da Cuíca e Luiz Carlos Máximo

Mangueira, samba, teu samba é uma reza
Pela força que ele tem.
Mangueira, vão te inventar mil pecados,
Mas eu estou do seu lado
E do lado do samba também. (bis)

Eu sou da Estação Primeira de Nazaré.
Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher.
Moleque pelintra do buraco quente,
Meu nome é Jesus da Gente.
Nasci de peito aberto, de punho cerrado.
Meu pai carpinteiro desempregado;
Minha mãe é Maria das Dores Brasil.
Enxugo o suor de quem desce e sobe ladeira,
Me encontro no amor que não encontra fronteiras.
Procura por mim nas fileiras contra a opressão
E no olhar da porta-bandeira pro seu pavilhão.

Eu tô que tô dependurado
Em cordéis e corcovados,
Mas será que todo povo entendeu o meu recado?
Porque de novo cravejaram o meu corpo
Os profetas da intolerância,
Sem saber que a esperança
Brilha mais que na escuridão.
Favela, pega a visão,
Não tem futuro sem partilha,
Nem Messias de arma na mão.
Favela, pega a visão.
Eu faço fé na minha gente
Que é semente do seu chão.
Do céu deu pra ouvir
O desabafo sincopado da cidade,
Quarei tambor, da cruz fiz esplendor
E num domingo verde e rosa
Ressurgi pro cordão da liberdade.
Mangueira, samba que o teu samba é uma reza.
Se alguém por acaso despreza,
Teme a força que ele tem.
Mangueira, vão te inventar mil pecados,
Mas eu estou do seu lado
E do lado do samba também.

O que é o Homem?



O homem, essa enfermidade, essa sombra, esse átomo, esse grão de areia, essa gota de água, essa lágrima caída dos olhos do destino.

O homem que vive na perturbação e na dúvida, sabendo pouco do dia de ontem e nada do de amanhã, vendo no caminho o necessário para pousar os pés e o resto em trevas: trêmulo, se olha para diante; triste, se olha para trás, o homem, envolto nessas obscuridades - o tempo, o espaço, o ser, - e nelas perdido, tem em si um abismo - sua alma - e fora de si o céu.

O homem, que em certas horas se curva com uma espécie de horror sagrado a todos os esforços da natureza, ao ruído do mar, ao irradiar das estrelas.

O homem, que não pode levantar a cabeça de dia sem que a luz o cegue; de noite sem que o perturbe o infinito, o homem que nada conhece, nada vê, nada entende; que pode ser levado amanhã, hoje, agora mesmo pela onda que passa, pelo vento que soa.

O homem, esse ser tímido inseto, miserável servo do acaso, o ludíbrio do minuto que passa.

O homem, humilde verme da terra, quer destruir as obras de Deus e impugnar a religião que regou com seu sangue, que Ele selou com a sua morte e à qual prometeu a sua assistência!

Miséria das misérias!

Victor Hugo


Victor-Marie Hugo (Besançon, 26 de fevereiro de 1802  Paris, 22 de maio de 1885) foi um escritor e poeta francês de grande atuação política em seu país. É autor de Les Misérables e de Notre-Dame de Paris, entre diversas outras obras.

“Do atrito de duas pedras chispam faíscas; 
das faíscas vem o fogo; do fogo brota a luz.”

Victor Hugo

Pensamentos de Victor Hugo

“Não há nada como o sonho para criar o futuro; utopia hoje, carne e osso amanhã...”

“Sede como os pássaros que, ao pousarem um instante sobre ramos muito leves, sentem-nas ceder, mas cantam! Eles sabem que possuem asas.”

“Pode-se resistir a invasão dos exércitos, não a invasão das ideias.”

“Escuta tua consciência antes de agir, porque a consciência é Deus presente no homem.”

“Dante uma vez fez um Inferno com a poesia, e eu escrevo sobre o Inferno que é a vida real de nossa época.”

“Do céu ao inferno, do limbo a Deus. A matéria é o ponto de partida, e o ponto de chegada é a alma.”

“O tempo não só cura, mas também reconcilia.”

“Inocente é aquele que não foi apanhado em flagrante.”

“O homem é forte pela razão; a mulher invencível pela lágrima. A razão convence; a lágrima comove.”

“O homem é um oceano; a mulher um lago. O oceano tem pérola que o embeleza; o lago tem a poesia que o deslumbra.”

“O século é grande e forte.”

“Toda a minha alma lhe pertence. Se minha inteira existência não fosse sua, a harmonia do meu ser ter-se-ia perdido e eu teria morrido.” (em carta a Adèle Foucher)

“Deus é o invisível evidente.”

“Nada neste mundo é tão poderoso como uma ideia cuja oportunidade chegou.”