Célia Maria Leite
Costa
Dois golpes que os paraquedistas militares legalistas
detiveram
A Revolta de Jacareacanga (PA)
(11.02.1956 a
29.02.1956)
(19 dias)
Entre outubro de 1955 e janeiro de
1956, os militares antigetulistas, ligados à UDN
e liderados pelos ministros Eduardo Gomes,
da Aeronáutica, e Amorim do
Vale, da Marinha, sofreram sérias derrotas. A primeira foi quando
viram Juscelino
Kubitschek e João Goulart,
apoiados pela aliança PSD-PTB,
serem eleitos presidente e vice-presidente da República em 3 de outubro de 1955. A segunda, quando o
Movimento de 11 de Novembro, liderado pelo ministro da Guerra, general Henrique
Teixeira Lott, depôs o presidente em exercício Carlos Luz,
substituiu Eduardo Gomes por Vasco Alves
Seco, Amorim do Vale por Antônio Alves
Câmara, e garantiu as condições necessárias à posse dos eleitos. A
terceira, quando os eleitos efetivamente foram empossados, em 31 de janeiro de
1956.
Poucos dias após a posse do novo
governo, na noite de 10 de fevereiro de 1956, oficiais da Aeronáutica
insatisfeitos, liderados pelo major Haroldo
Veloso e pelo capitão José Chaves
Lameirão, partiram do Campo de Afonsos, no Rio de Janeiro,
instalaram-se na base aérea de Jacareacanga, no sul do Pará, e ali organizaram
o seu quartel-general. Esses militares temiam uma represália do grupo militar
vitorioso no dia 11 de Novembro e, por essa razão, não concordavam com a
permanência, no governo JK, do ministro Vasco Alves Seco na pasta da
Aeronáutica.
Dez dias depois do início da
rebelião, os rebeldes já controlavam as localidades de Cachimbo, Belterra,
Itaituba e Aragarças, além da cidade de Santarém, contando inclusive com o
apoio das populações locais. Haviam recebido também a adesão de mais um oficial
da Aeronáutica, o major Paulo Victor da Silva, que fora enviado de Belém para
combatê-los.
Apesar de ter sido uma rebelião de
pequena monta, o governo encontrou dificuldades para reprimi-la devido à reação
de oficiais, sobretudo da Aeronáutica, que se recusavam a participar da
repressão aos rebelados. Após 19 dias a rebelião, foi afinal controlada pelas
tropas legalistas, com a
prisão de seu principal líder, o major Haroldo Veloso. Os
outros líderes conseguiram escapar e se asilar na Bolívia. Todos os rebelados
foram beneficiados pela “anistia ampla e irrestrita”, concedida logo depois
pelo Congresso, por solicitação do próprio presidente JK.
A Revolta de Aragarças (GO)
(36 horas)
Apesar da anistia concedida por JK aos militares envolvidos na Revolta de Jacareacanga em fevereiro de 1956, o
clima de insatisfação e de conspiração contra o governo continuou, sobretudo na
Aeronáutica.
A Revolta de Aragarças, que eclodiu
em 2 de dezembro de 1959, começou a ser articulada em 1957. A nova conspiração teve
a participação do ex-líder de Jacareacanga, tenente-coronel aviador Haroldo
Veloso, e de dezenas de outros militares e civis, entre os quais o
tenente-coronel João Paulo
Moreira Burnier, que foi o seu principal líder. O objetivo era
iniciar um “movimento revolucionário” para afastar do poder o grupo que o
controlava, cujos elementos seriam, segundo os líderes da conspiração,
corruptos e comprometidos com o comunismo internacional.
Partindo do Rio de Janeiro, com três
aviões Douglas C-47 e um avião comercial da Panair sequestrado, e de Belo
Horizonte, com um Beechcraft particular, os rebeldes rumaram para Aragarças, em Goiás. Pretendiam
bombardear os palácios Laranjeiras e do Catete, no Rio, e ocupar também as
bases de Santarém e Jacareacanga, no Pará, entre outras. Na realidade, nem o
bombardeio aos palácios, nem a ocupação das bases chegaram a ocorrer, e a
rebelião ficou restrita a Aragarças. A revolta durou apenas 36 horas. Seus
líderes fugiram nos aviões para o Paraguai, Bolívia e Argentina, e só
retornaram ao Brasil anistiados no governo Jânio Quadros.
Foto do avião
sequestrado
Revoltosos presos por
tropa de paraquedistas legalistas*
*Rendição de presos em Aragarças. Foto
histórica de Campanella Neto, que deu ao fotógrafo o Prêmio Esso de fotografia,
em 1960.
A história foto acima
Sequestrado com outros passageiros e
a tripulação de um Constellation da Panair pelo major revoltoso Eber Teixeira Pinto,
Campanella desceu em um campo de pouso da FAB em Aragarças, no interior de
Goiás, QG dos revoltosos. O grupo, entre ele o senador Remi Archer, foi
confinado em um hotel fazenda perto do campo, sempre vigiado por sentinelas.
“Campanella conseguiu driblar a
vigilância dos soldados e enviar três telegramas de uma cidade vizinha, para
seu editor-chefe, Joel Silveira, para o presidente do Senado e para o marechal
Lott, então ministro da Guerra – no avião também viajava o corpo embalsamado de
um tenente da Aeronáutica, sobrinho de Lott, acompanhado da viúva.”
A notícia chegou aos revoltosos pelo
Repórter Esso: “Heron Domingues entra com seu vozeirão para anunciar a primeira
notícia do dia: ‘Telegramas enviados pelo jornalista Campanella Neto
denunciaram que Aragarças é o esconderijo dos revoltosos...”. Campanella “não
conversou... olhou pro lado e saiu de fininho, e, depois, correu para o mato
para se esconder. De lá, foi vendo um a um dos aviões decolando rumo ao exílio,
um deles levando como reféns os políticos”.
Segundo o Paparazzi, para Campanella,
“a importância da leitura diária dos jornais foi a ferramenta do furo
jornalístico”. Em reconhecimento, ganhou, pelo conjunto de sua obra sobre
Aragarças, o Prêmio Esso de Fotografia hors concours de 1959.
Fica evidente a intenção do
jornalista de interferir nos acontecimentos (enquanto registrava), evidenciando
o valor histórico dessa intermediação: “Depois da fuga dos revoltosos, após a
notícia no Repórter Esso, o céu amanheceu coalhado de aviões e paraquedistas
das tropas do governo. Campanella começou a fotografar rápido e quase ficou sem
o filme de novo, mas, quando disse quem era, foi tratado como herói nacional.
Em uma operação de guerra, camuflaram galões ao longo da pista de pouso
esperando algum desavisado. E ele apareceu. Era o C-47 que tinha levado o corpo
do oficial e voltava carregado de armamento.”
É o ápice da história, um final digno
de filme de aventuras: “Campanella estava ao lado do comandante na pista quando
o piloto recebeu voz de prisão. ‘Ele começou a atirar, deu um cavalo-de-pau,
tentou arremeter de novo, bateu nos galões atirados para impedir a fuga e o
avião começou a pegar fogo e a explodir munição. Era o Vietnã!’, conta ainda
com os olhos brilhando Campanella.”
Finalmente, “fez a reportagem
exclusiva da prisão dos revoltosos e pousou em Brasília para entrevistas. Desta
vez do outro lado: ele era o personagem principal da história.”
Campanella Neto, mineiro de
Pouso Alegre, após o golpe de 64, associaram-se ao Jornal do Brasil, como
Studio JB. A partir de 1967 (por mais 20 anos) assumiu o sub-editoria do JB.
Aposentado aos 55 anos, continuou como free-lancer para diversas instituições
até parar. Faleceu em 2004.
Obs.: O local onde estava os
revoltosos era impossível a qualquer tropa comum chegar lá; a não ser, é claro,
que chegassem de avião e lá saltassem, como fizeram os paraquedistas do
Exército.
Paraquedista atacando...
Sequestrado pelos oficiais
rebelados,
o avião C-47 da FAB
foi incendiado próximo ao campo de pouso,
em Aragarças.
em Aragarças.
Tropas de
paraquedistas voltam de Aragarças,
depois de debelar a
revolta e prender oficiais da FAB sublevados.
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