O já célebre cabo Elpídio mata “Camisa Preta”,
traiçoeiramente.
Os precedentes do fato
O caso sensacional do dia é o
assassinato do “Camisa Preta” ocorrido nesta madrugada na rua Visconde do Rio
Branco, esquina com rua do Núncio, especialmente pelas graves circunstâncias em
que está sendo apurado esse crime.
Foi naquela esquina que o cabo de
policia Elpídio Ribeiro da Rocha, ordenança de palácio, assassinou o célebre
facínora Alfredo Francisco Soares, o conhecido e temido “Camisa Preta”.
Os dois andavam para se encontrar
e eliminar um ou outro.
Todos os jornais deixam
transparecer que o policial agiu em legitima defesa, eliminando o seu
adversário do número dos vivos.
Tal, porém, não se deu como vão
ver os leitores.
Trata-se no caso de uma luta
entre dois facínoras, ambos perigosos.
Se a sociedade ficou livre de um,
a justiça deve punir o outro, pois que é tão perigoso ou pior do que o
primeiro.
As nossas notas são em tudo
diferente das dos nossos colegas e por isso tratemos dos precedentes dos dois
facínoras.
“Camisa Preta” e os seus feitos − a sua vida de
desordeiro
Alfredo Francisco Soares, o
“Camisa Preta” era o mais temido e corajoso dos capangas eleitorais.
A sua vida de desordeiro se acentuou, o seu nome se firmou
depois dos últimos crimes políticos.
Alfredo já tina 8 entradas na
Casa de Detenção por desordem, assassinato e tentativa de assassinato.
Os outros desordeiros viram que
tinham um terrível adversário, um homem que não temia a morte.
Resolveram, por isso, eliminá-lo
do mundo dos vivos.
Formaram um grupo e resolveram
atacar “Camisa Preta”.
Ele estava num hotel do largo do
Rocio quando foi atacado.
Mais de vinte tiros ecoaram.
Quando a última cápsula dos
revólveres dos atacantes foi deflagrada, “Camisa Preta”, que todos julgavam
estar morto, pôs a mão na mesa e disse:
− Agora deixa acabar a fumaça
para eu entrar com o meu jogo.
Excusado é dizer que o bando
atacante ouvindo isso não esperou pela revanche: fugiu.
O nome de “Camisa Preta” era
respeitado e mais temível se tornou.
Depois desses fatos ele ainda
teve mais duas entradas na Detenção, por desordem e ferimentos leves.
Na eleição do Conselho Municipal,
que foi dissolvido pelo marechal Hermes, “Camisa Preta” matou um guarda-noturno
que tentou arrebatar a uma urna da seção da Biblioteca Nacional.
Foi a júri e este com a
benevolência indesculpável, o absolveu.
“Camisa Preta”, dois depois de
ter sido absolvido, fez uma formidável desordem na rua Barão de São Félix.
Mais de 20 praças de polícia
tiveram que lutar com ele. Houve um cerrado tiroteio, saindo feridos quatro
soldados, e “Camisa Preta”, que foi removido para a Detenção em gravíssimo
estado.
Foi a novo júri e mais uma vez
foi absolvido.
Escapou da morte e da prisão.
Quando foi solto continuou na sua
vida de aventuras perigosas.
Fazia, então, ponto na Lapa e
proximidades, extorquindo dinheiro a negociantes diversos.
Tinha uma grande, uma grandíssima
raiva da polícia e andava sempre em luta com ela.
Nunca recebia voz de prisão que não
reagisse e não travasse luta.
A última vez que foi ferido na
perna foi o largo da Lapa.
Um guarda civil feriu-o com um
tiro.
“Camisa Preta” ficou bom e
continuou a frequentar botequins “cabarets”, da Lapa.
(...)
A luta – A morte do célebre “Camisa Preta”
“Camisa Preta” estava hoje pouco
ante da 1 hora da madrugada, na rua Visconde de Rio Branco próximo da esquina
da rua do Núncio.
Conversava com o negociante
Antônio Júlio Xavier quando da rua do Núncio chegaram o cabo Elpídio e o preto
Manoel Tibúrcio Garcia.
O cabo ao avistar o adversário,
disse:
− Um de nós de nós tem de morrer
hoje.
Travaram discussão.
O negociante interveio e quis
apaziguá-los.
“Camisa Preta” encostado à parede
com as mãos nos bolsos, provavelmente segurando o revólver.
O negociante conseguiu evitar a
luta, mas o cabo Elpídio disse-lhe:
− Eu só não atirarei no ‘Camisa’ se ele tirar as mãos do
bolso.
“Camisa” para evitar a luta,
tirou as mãos dos bolsos e ergueu dizendo:
− Não quero brigar.
O outro facínora, o cabo Elpídio,
aproveitou a ocasião e puxando do revólver deu-lhe um tiro no occipital.
“Camisa” caiu para nunca mais se
erguer.
O cabo bandido, temendo que ela
ainda se levantasse, detonou mais cinco tiros contra ele ferindo-o mais uma vez
na cabeça, um na mão esquerda, um no ombro e um no ventre.
Nessa ocasião chegaram os
policiais que efetuaram a prisão do cabo facínora e seu companheiro, o preto
Manoel Tibúrcio Garcia.
O cabo, protegido, querendo se
livra da prisão, passou o revólver para o seu companheiro.
A polícia, mais uma vez, está
protegendo o facínora policial e todo o processo está sendo feito de modo a
facilitar a sua defesa. A boas mãos está entregue a nossa segurança.
No necrotério − A aglomeração − As prisões
Aconteceu hoje no necrotério o que
sempre acontece em casos como o que narramos.
A aglomeração foi enorme desde as
primeiras horas da manhã. Ninguém podia entrar no necrotério, tal era a
aglomeração de gente.
Desordeiros, facínoras, mulheres
da vida, curiosos, todos queriam ver o facínora que maior nome teve no Rio de
Janeiro.
A polícia aproveitou a ocasião
para fazer uma boa caçada e encheu o xadrez de indivíduos perigosos que iam ver
o companheiro morto.
“Camisa Preta” foi autopsiado às
10 e meia horas da manhã pelo doutor Rodrigues Caó que verificou que qualquer
um dos tiros que ele recebeu ser bastante para matá-lo, com exceção do da mão
esquerda.
“Camisa Preta” tinha uma tatuagem
na mão esquerda e peito escrita a palavra Adelaide e as iniciais J. A. G., e no
braço direito uma sereia pintada.
(Do jornal A Noite,
12 de julho de 1912)
Rixa
Considerando as informações do
Jornal Gazeta de Notícias, a rixa entre o cabo Elpídio e Miguel * começara um ano
antes, quando Elpídio matara outro malandro, um conhecido como Leão do Norte,
que seria muito amigo de Camisa Preta, que jurou vingança pela morte.
Assim, não muito antes da morte
de Miguel (Alfredo), tanto este como o Cabo já haviam se encontrado antes de forma
violenta. Do encontro, os dois foram parar numa delegacia. Miguel fora baleado
na perna e passou um ano ‘sumido’.
Tempos depois, o cabo Elpídio morria num incêndio após
salvar uma criança das chamas.
(Do blog Umbanda
Sagrada Brasileira)
*Nome errado de Alfredo, no blog da Umbanda Sagrada Brasileira.
História da lapa,
de Jorge de Castro e Wilson Batista
Lapa dos capoeiras,
Miguelzinho, Camisa Preta,
Meia-Noite e Edgar.
Lapa, minha Lapa Boêmia,
A lua só vai pra casa
Depois do sol raiar.
Falta uma torre na igreja,
Vou lhe contar, meu irmão,
Foi na briga de Floriano,
Foi um tiro de canhão.
E nesse dia a Lapa vadia
Teve sua glória
Deixou o nome na história.
Miguel* Camisa Preta é um
malandro muito fino que gosta de ser tratado com coisas de boa qualidade. Suas
véstias são camisa de linho preta e calça de linho branca. Usa também chapéu de
panamá, de cor crua de panamá e de faixa na cor preta, em homenagem ao seu time
de futebol, o Vasco da Gama; às vezes, bengala. Fuma cigarro Hollywood de
filtro amarelo e bebe cerveja Brahma; esteja quente ou gelada, tem que ser
Brahma.
Segue aqui uma oração
principalmente às pessoas que andam na noite, que passam por lugares perigosos
e também aquelas que querem se livrar de algum vício ou inimigo que te façam ou
queiram te fazer mal.
Oração ao Camisa Preta
Miguel* Camisa Preta, boêmio das noites de seresta,
Anda comigo nessa noite, em todas as outras e também nos
dias,
Pois, por onde passo,
Pode ser que haja alguém que queira algo que eu tenho,
E tudo o que tenho consegui com meu esforço.
Peço perdão se não sou tão bom ainda quanto deveria ser.
Mas, em sua companhia, espero melhorar a minha vida.
Diga a ogum, seu mestre, que abra os meus caminhos.
Que através de você eu possa me libertar de qualquer vício.
Que eu seja malandro sim,
Para me esquivar de assaltos, de balas perdidas
E que, por mais que às vezes seja necessário passar por um
lugar,
Que você me desvie do mesmo se neste houver perigo.
Que você esteja sempre ligado á mim como meu guia!
Camisa Preta amigo, me guia, me auxilia!
Amém!
*Miguel (Miguelzinho) era um;
Camisa Preta era outro malandro da Lapa.
Camisa Preta era o apelido de Alfredo Francisco Soares, que não tinha a ver com o Miguel (Miguelzinho).
O que causou a confusão foi a
música de Wilson Batista cantada pelo Nelson Gonçalves que diz:
Lapa dos capoeiras,
Miguelzinho, Camisa Preta,
Meia-Noite e Edgar.
1) Miguelzinho, (vírgula) 2)
Camisa Preta, (vírgula) 3) Meia-Noite e 4) Edgar: quatro malandros da antiga Lapa, do Rio
de janeiro. O nome de “Camisa preta” era Alfredo Francisco Soares, e não Miguel
dos cultos umbandistas. A vírgula colocada depois do nome Miguelzinho passou despercebida por muita gente. Dando a impressão que Miguelzinho Camisa Preta fosse uma só pessoa.
Interessantíssima essa história, que eu já conhecia por narrativas familiares: meu bisavô presenciou as correrias provocadas por Camisa Preta no centro do Rio.
ResponderExcluirEle merecia uma série no Netflix eu amo as histórias dele
ExcluirObrigado, Marta Lúcia, pelo comentário, continue a prestigiar o nosso Almanaque.
ResponderExcluirAmei conhecer a história do meu amigo boêmio,Obgadu 🙏
ResponderExcluirNome dele a umbanda não é Miguel não ele é ze pelintra camisa preta Miguel só existe um Miguel das almas
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