sábado, 1 de fevereiro de 2020

Declaração de princípios com fim

Carlos Magno Gibrail


Sou contra o Tiririca na política, na televisão e no mensalão. Sou contra o Timão ter estádio aprovado sem projeto, o Ricardão ser imperador numa democracia, o Orlando Silva não ser cantor e ser um enganador, a Odebrecht ser entidade beneficente não transparente enquanto a Santa Casa tão carente passa a ser inadimplente.

Sou contra a democracia que, pela liberdade, obriga o voto; o candidato que, pela lei, pode negar o nome do patrocinador; o senador que, pela ordem da casa, pode criar ato secreto; o deputado que, no final de mandato, pode gastar o dinheiro do povo para arrecadar voto; o vereador que, não sabe ler, falar, escrever, mas votar pela educação e pela alimentação das crianças das cidades.

Sou contra a ficha limpa, que não é obrigatória, numa sociedade de notória impunidade. Sou contra todas as entidades do futebol, que praticam a autocracia e a oligarquia na direção, na organização, na arbitragem, mas, acima de tudo, são monárquicas no comando único e quase perene dos dirigentes máximos.

Sou contra a democracia que permite que, através do Congresso, sejam aprovadas leis para legalizar desmatamentos objetivando beneficiar grupos econômicos.

Sou contra o mata-mata, quando se pode fazer campeonato de pontos corridos; de gol valer mais em virtude de mando de jogo; de árbitros amadores, mas deuses, porque tem poderes absolutos para salvar, para matar e para roubar, como nos velhos tempos dos gladiadores.

Sou contra os advogados que se metem nas outras profissões desregulamentando-as, ou que tratam de conservar o corporativismo, ou que pretendem tratar dos próprios benefícios no poder judiciário promovendo aumentos salariais e mantendo férias e outros direitos restritos aos seus pares, ou exigindo quotas para negros em desfiles de moda, mas não se preocupam em dar o exemplo e fazer primeiro nos organismos jurídicos.

Sou contra a democracia que permite a censura à imprensa, principalmente pedida por famílias notórias de coronéis da oligarquia dos primórdios da nação, mas de atuação efetiva nos tempos modernos do Brasil oitava potência econômica mundial.

Sou contra a democracia que permite gasto livre nas eleições e, acima de tudo, sem identificar doador e candidato.

Sou contra a democracia que permite que as entidades criadas para controlar as prestadoras de serviços básicos como: saúde, energia, comunicações etc. passem a ter diretores vindos dos próprios setores, ou seja, raposas no galinheiro.

Sou contra o poder externo interferir no bom andamento da política, dos esportes, da imprensa; empresas privadas agindo em lobbies, TVs interferindo em esportes, governantes se intrometendo na imprensa, afastando jornalistas por críticas feitas.

Sou contra a democracia que não é democrática, apenas e tão somente autocrática e coercitiva, e a sociedade comportamentalista não cognitivista.

Sou contra, finalmente, mas momentaneamente, porque a lista não tem final, apenas fim. O Carlos Heitor Cony se ele me processar pelo plágio da sua forma aqui apresentada e furtada de seu artigo recente na Folha de São Paulo.


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