sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Nas mesmas ruas



Cine Rian, Cinelândia − 1957

Às vezes, imagino como seria ser adulto e circular pelas ruas do Rio em 1957 e ver passar alguns de seus habitantes – talvez viajar de bonde, entrar num elevador ou tomar café em pé ao lado de um deles e ouvir o que diziam. Por que 1957? Nenhum motivo. Foi só um ano em que os citados a seguir estavam vivos, ativos, morando no Rio e, muitos, inconscientes da sua grandeza e, alguns, da própria imortalidade.

Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, José Lins do Rêgo, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Álvaro Moreyra, Aníbal Machado, Lúcio Cardoso, Vinicius de Moraes, Mário Faustino, Gilka Machado, Cecília Meireles, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Agrippino Grieco, Rachel de Queiroz, Marques Rebêlo, Otto Lara Resende, Augusto Frederico Schmidt, Ferreira Gullar.

Otto Maria Carpeaux, Raymundo de Castro Maya, Alceu de Amoroso Lima, Gustavo Corção, Sérgio Porto, Millôr Fernandes, Antônio Maria, Nélson Rodrigues, Silveira Sampaio, Antônio Callado, Procópio Ferreira, Bibi Ferreira, Maria Clara Machado, Henriette Morineau, Ziembinski, Tônia Carrero, Paulo Autran, Fernanda Montenegro, Eros Volusia, Oscarito, Grande Otelo, Humberto Mauro, João Saldanha, Didi, Garrincha.

Villas-Lobos, Pixinguinha, Aracy de Almeida, as irmãs Linda e Dircinha Baptista, Elizeth Cardoso, Dolores Durant, Dick Farney, Lúcio Alves, Ary Barroso, Dorival Caymmi, o jovem Antônio Carlos Jobim, Radamés Gnattali, Cláudio Santoro, Edino Krieger, Guerra Peixe, Ataulpho Alves, Lamartine Babo, Braguinha, Mário Reis, Carlos Galhardo, Sílvio Caldas, Orlando Silva, Humberto Teixeira, Luiz Gonzaga.

Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Affonso Eduardo Reidy, Burle Marx, os irmãos Roberto, Carmen Portinho, Mário Pedrosa, Oswaldo Goeldi, Lygia Clark, Hélio Oiticica, Portinari, Di Cavalcanti e muitos mais. Todos tentando construir o Brasil – para vocês ver como é difícil.


Copacabana − 1957

(Do livro “A arte de querer bem”, de Ruy Castro)

Pequenas grandes verdades



A amizade

Você conhece o relacionamento entre seus dois olhos?

Eles piscam juntos, eles se movem juntos, eles choram juntos, eles veem coisas juntos e eles dormem juntos. Embora eles nunca vejam um ao outro... A amizade deveria ser exatamente assim!

Cícero, 42 a.C.

Uma nação pode sobreviver aos idiotas e até aos gananciosos. Mas não pode sobreviver à traição gerada dentro de si mesma.

Um inimigo exterior não é tão perigoso, porque é conhecido e carrega suas bandeiras abertamente. Mas o traidor se move livremente dentro do governo, seus melífluos sussurros são ouvidos entre todos e ecoam no próprio vestíbulo do Estado. E esse traidor não parece ser um traidor; ele fala com familiaridade a suas vítimas, usa sua face e suas roupas e apela aos sentimentos que se alojam no coração de todas as pessoas. Ele arruína as raízes da sociedade; ele trabalha em segredo e oculto na noite para demolir as fundações da nação; ele infecta o corpo político a tal ponto que este sucumbe.

(Discurso de Cícero, tribuno romano, no ano de 42 a. C,
referindo-se à podridão existente no governo.)

Lei da forma

G. Spencer Brown

Trecho citado no livro “Em meu próprio caminho”, de Alan Watts

Chegar à verdade mais simples, como Newton sabia e fazia, requer anos de contemplação. Não de atividade. Não de raciocínio. Não de cálculo. Não de algum comportamento agitado. Não de leitura. Não de falar. Não de se esforçar. Não de pensar. Simplesmente ter em mente o que é que se precisa saber. E aqueles com a coragem de trilhar essa senda para a descoberta real não recebem praticamente nenhuma orientação a respeito, são ativamente desencorajados e têm de agir em segredo, fingindo, entretanto, estarem diligentemente engajados nas diversões frenéticas e se conformando com as opiniões mortalmente pessoais que estão sendo continuamente lançadas a seu respeito.


“Dá de ti. Dá de ti quanto puderes:
o talento, a energia, o coração.
Dá de ti para os homens e as mulheres
como as árvores dão e as fontes dão.
Não somente os sapatos que não queres
e a capa que não usas no verão.
Darás tudo o que fores e tiveres:
o talento, a energia, o coração.
Darás sem refletir, sem ser notado,
de modo que ninguém diga obrigado
nem te deva dinheiro ou gratidão.
E com que espanto notarás, um dia,
que viveste fazendo economia
de talento, energia e coração!”...

Giuseppe Ghiaroni

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Histórias didáticas



NÃO É COMIGO
  
Esta é uma história sobre quatro pessoas:

Todo Mundo, Alguém, Qualquer Um e Ninguém.

Havia um importante trabalho a ser feito e Todo Mundo tinha certeza que Alguém o faria.

Qualquer Um poderia tê-lo feito, mas Ninguém o fez. 

Alguém se zangou porque era um trabalho de Todo Mundo. Todo mundo pensou que Qualquer Um poderia fazê-lo, mas Ninguém imaginou que Todo Mundo deixasse de fazê-lo.

Ao final, Todo Mundo culpou Alguém quando Ninguém fez o que Qualquer Um e Todo Mundo deveriam ter feito.

A COLA


Bilhete a uma colega que pedira “cola” para uma prova difícil.

Querida amiga:

Eis, na sacola, a “cola” e a cola. Coloca quatro gotas de cola para colar a “cola” na classe da escola. A cola cola a “cola”. Cuidado com teu colar quando colar a “cola”, pode a cola colar o colar na “cola”. Caso o colar colar na “cola”, tira o colar e fica calada, esconde tudo, ou a professora vai ficar na tua cola! Após colar a “cola”, coloca a cola na sacola. Na saída, descola a grana para pagar a “cola”, a cola e a sacola.

Te convido para uma coca-cola na saída da escola.

Não te amo mais!

Estarei mentindo dizendo que...

Ainda te quero como sempre quis.

Tenho certeza que

Nada foi em vão.

Sinto dentro de mim que

Tu não significas nada.

Não poderei dizer mais que

Alimento um grande amor.

Sinto cada vez mais que

Já te esqueci!

E jamais usarei a frase:

Eu te amo!

Sinto, mas tenho que dizer a verdade:

É tarde demais.

(Tu sempre poderás mudar a tua história.
Lê agora esse poema de baixo para cima)

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

De Linda Pequena a Pastorinhas



João de Barro
(Braguinha)

“Num certo dia de 1934 eu ia passando pela Rua Gonçalves Dias quando resolvi entrar no Café Papagaio. Lá encontrei, de terno branco, sentado a uma das mesas, Noel Rosa. Costumávamos nos ver ali de vez em quando, pois o nosso editor ficava bem ao lado. Sentei-me com Noel e, no meio da conversa, perguntei-lhe:

- Noel, você já prestou atenção no ritmo das músicas daquele rancho que sai em Vila Isabel no Dia de Reis?

- Já. É interessante.

- Que tal se a gente fizesse para o carnaval uma música naquele ritmo?

- Boa ideia.

Ali mesmo, papel e lápis na mão, fizemos entre um cafezinho e outro a música e a letra de uma marcha que chamamos de Linda Pequena. Gravada pelo João Petra de Barros, não fez sucesso.

Em 1937, Noel morreu. No início do ano seguinte, houve um concurso de música de carnaval patrocinada pelo departamento de Imprensa e propaganda, o DIP, na Feira de Amostras. Eu e o Alberto Ribeiro inscrevemos uma marcha nossa, Touradas em Madrid, que acabou ficando com o primeiro lugar. Mas muita gente protestou, alegando que nossa música era, na verdade, um pasoboble. Como se marcha e pasodoble não fossem a mesma coisa. De qualquer modo, o DIP acolheu os protestos e anulou o resultado, marcando para duas semanas depois um novo concurso. Foi então que pensei em Linda Pequena, tão pouco lembrada que era praticamente inédita. Mudei um pouco a letra, que ficou assim:

As pastorinhas 
(Noel Rosa e João de Barro)

A estrela d'alva
No céu desponta
E a lua anda tonta
Com tamanho esplendor
E as pastorinhas (E as moreninhas)*
Pra consolo da lua
Vão cantando na rua
Lindos versos de amor.

Linda pastora
(Linda Pequena)*
Morena da cor de Madalena
(Pequena que tens a cor morena)*
Tu não tens pena
De mim
Que vivo tonto com o teu olhar.
Linda criança
Tu não me sais da lembrança
Meu coração não se cansa
De sempre e sempre te amar,

Mudei também o título, que passou a ser Pastorinhas. Inscrevi-a no novo concurso e tirei outra vez o primeiro lugar. Gravada pelo Sílvio Caldas, foi um sucesso. Pena que Noel já não estivesse aqui para ver.”

* Entre parênteses, as palavras da primeira versão de Linda Pequena, o primeiro título.

Pequenas histórias exemplares

O Dom de Beethoven

Philip Yancey


Muitas coisas se falam a respeito de Beethoven. O fato de ter composto extraordinárias sinfonias, mesmo após a total surdez, é sempre recordado. Exatamente por causa de sua surdez, ele era pouco sociável. Enquanto pôde, escondeu o fato de a audição estar comprometida. Evitava as pessoas porque a conversa se lhe tornara uma prática difícil e humilhante. Era o atestado público da sua deficiência auditiva.

Certo dia, um amigo de Beethoven foi surpreendido pela morte súbita de seu filho. Assim que soube, o músico correu para a casa dele, pleno de sofrimento. Beethoven não tinha palavras de conforto para oferecer. Não sabia o que dizer. Percebeu, contudo, que num canto da sala havia um piano. Durante 30 minutos, ele extravasou suas emoções da maneira mais eloquente que podia. Tocou piano. Ao contato dos seus dedos, as teclas acionadas emitiram lamentos e melodiosa harmonia de consolo. Assim que terminou, ele foi embora. Mais tarde, o amigo comentou que nenhuma outra visita havia sido tão significativa quanto aquela.  

Mais uma Chance

H. Stephen Glenn e Jane Nelson


Jonas Salk, o grande cientista descobridor da vacina conta a poliomielite, compreendeu o conceito de ser corajoso. Certa vez, alguém lhe perguntou:

- Depois de ter conseguido esta façanha extraordinária, que pôs fim a palavra poliomielite em nosso vocabulário, como o Senhor encara seus 200 fracassos anteriores?

Sua resposta (parafraseada) foi:

- Eu nunca tive 200 fracassos na vida. Minha família nunca os considerou fracassos. Eles serviram de experiências para que eu pudesse aprender mais. Acabo de realizar minha 201ª descoberta. Ela não teria sido possível se eu não tivesse aprendido com as 200 experiências anteriores.

As duas oportunidades


Winston Churchill também foi um homem de coragem. Ele não se intimidava diante de seus erros. Quando cometia um, ele o analisava cuidadosamente. Alguém lhe perguntou:

- Sir Winston, qual foi a sua experiência na escola que melhor preparou-o para liderar a Grã-Bretanha nas horas mais sombrias?

- Quando fui repetente no curso médio.

- O Senhor considerou isso um fracasso?

- Não - replicou Winston. - Tive duas oportunidades para acertar.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Chavões de momentos difíceis da sua vida:



“Estou matando cachorro a grito.”
“É uma época de vacas magras.”
“Estou chamando urubu de meu louro.”
“Estou chamando Jesus de Genésio.”
“Estou na maior pindaíba.”.
“Estou mais perdido que cego em tiroteio.”
“Estou mais perdido que cusco em procissão.”
“Estou mais perdido que gato em mudança.”
“Estou mais perdido que peido em bombacha.”
“Estou mais perdido que filho da puta em dia dos pais.”
“Meu mundo caiu.”
“Estou rindo pra não chorar.”
“Estou rapando tatu com a unha.”
“Estou vendendo o almoço para comprar a janta.”

Chavões dos rebaixados


“Essa torcida não merecia isso.”
“Com salários atrasados, não podia dar outro resultado.”
“Com essa diretoria incompetente, mereceu cair.”
“Se não tivesse trocado o técnico Zezinho, estaríamos salvos.”
“A queda fez bem ao time, que se reforçará para subir e voltará mais forte nos próximos anos.”
“Em qualquer divisão eu amo o meu time e nunca irei abandoná-lo.”
“Quem sabe agora essa diretoria acorda e investe nas categorias de base (ou não faz loucuras ou contrata melhor).”
“Ano que vem sobe, com certeza.”
“Com essa diretoria, esse time e esse técnico, o time ano que vem disputa a série C.”
“Este ano Deus não nos abençoou.”
  
Chavões da política


“Não sei de nada.”
“Este dinheiro não é meu.”
“Lutarei em prol do povo.”
“Conto com seu apoio.”
“Neste bolso nunca entrou dinheiro roubado!”

Chavões de Roteiros Pornô


A patroa precisa de um: encanador, mecânico, eletricista, jardineiro, ele chega na casa dela e os dois fazem sexo.

A empregada da casa precisa de um: encanador, mecânico, eletricista, jardineiro, ele chega na casa dela e os dois fazem sexo.

A secretária precisa de um: encanador, mecânico, eletricista, técnico em informática, ele chega no escritório e ela, o rapaz e o chefe fazem sexo.

A mocinha chama um: vendedor de pizza, xis, qualquer produto polishop, ele chega na casa dela e os dois fazem sexo.

Chavões de quem vive no passado
  
   
No meu tempo tudo era diferente.
Não se fazem mais: carros, estradas, roupas, músicas, comidas como antigamente.
Ah! Que saudade daquele tempo.
A vida era muito mais simples.
Aquilo sim é que era vida!
Não tinha essa loucura/violência/desemprego/crise/ falta de respeito de hoje em dia.
As coisas eram resolvidas no fio do bigode.
As pessoas se conheciam e se cumprimentavam na rua.
No meu tempo dava para deixar a porta da casa aberta a noite e andar a pé na madrugada.
No meu tempo tinha música de verdade, não esses barulhos que vocês escutam!

Chavões de quem viu a morte de perto
 e escapou para contar a história:


Achei que ia morrer.
Foi por pouco...
Eu vi um túnel branco na minha frente.
Parecia que eu estava dentro de um filme de terror.
Minha vida passou pela minha frente como se fosse um filme.
Milhares de coisas passaram pela minha cabeça.
Aprendi a valorizar mais a minha vida.
Agora estou repensando toda a minha vida.
E nessas horas que a gente dá valor às pequenas coisas.
Nasci de novo...
Bateu na trave...
Deus achou que não era a minha hora.
Eu só pensava em dar um último abraço nos meus filhos/amigos/mulher.

Chavões de velórios de amigos:


Nossa, ele foi tão novo!
Mas como foi?
Parece que ele sabia e se despediu de todo mundo!
Pelo menos não sofreu!
Pelo menos descansou!
Já cumpriu a missão dele aqui
Agora tem mais um anjo no céu!
Realmente, será uma grande perda para todos nós.
Ele aproveitou bem a vida!
Ele não queria ver você triste.
Eu estou tão desconsolado que não tenho palavras...
Agora ele está num mundo melhor...

Chavões para quem já morreu:


Passou desta para melhor
Foi para o andar de cima.
Não está mais entre nós.
Bateu a caçuleta.
Abotoou o paletó de madeira.

(Do livro “Homem Chavão”)

Meu cravo do 25 de Abril



No dia 25 de abril de 1974, eu estava em Lisboa, no meio dos tanques e dos soldados que acabavam de derrubar o regime salazarista. As tropas tinham ocupado a cidade de madrugada e ainda havia importantes redutos inimigos a dominar, mas, desde as nove horas da manhã, o povo já saía às ruas para comemorar. De repente, no Rossio, alguém me espetou um cravo vermelho à lapela.

Olhei em volta e só vi vermelho. Os cravos surgiam aos milhares, do nada ou das mãos de senhoras de lenço preto na cabeça, e coloriam o cinza dos casacos. Os soldados não protestavam quando eles eram enfiados em suas baionetas. Era a Revolução dos Cravos. Mais do que tiros, as flores libertavam Portugal de uma ditadura de 48 anos.

Morador de Lisboa desde janeiro de 1973, a trabalho numa revista, eu deveria ter me emocionado menos e sido mais objetivo naquele dia. Para tentar descobrir, por exemplo, como começara e de onde saíam aqueles cravos. Mas deixei passar e, só agora, 42 anos depois, alguém me sugeriu uma explicação.

Um restaurante do Chiado fazia aniversário. Na véspera, uma funcionária, Celeste Caeiro, fora instruída a levar flores para serem presenteadas aos clientes. Mas ao chegar ao trabalho pela manhã com uma braçada de cravos vermelhos, o patrão lhe disse que, com aquela agitação, não iriam abrir. Que ela fosse embora para casa e levasse os cravos. Celeste obedeceu. Na rua do Carmo, um tanque passou por ela e um soldado lhe pediu uma flor. Os outros soldados e civis ali presentes também ganharam cravos. Num instante, os estoques dos floristas acabaram, os jardins públicos fizeram a sua parte e Lisboa foi tomada pelos cravos.

Durante anos, guardei o meu dentro de um livro. Mas o livro se perdeu em alguma mudança de cidade, país ou continente, e fiquei sem o meu cravo do 25 de Abril.


Celeste Caeiro também conhecida por “Celeste dos Cravos”
(Imagem: Reprodução Ao Pé da Raia)

(Texto do livro “A arte de bem querer”, de Ruy Castro)




Recado

 Gonzaguinha

(1945-1991)

Se me der um beijo eu gosto,
Se me der um tapa eu brigo,
Se me der um grito não calo,
Se me mandar calar mais eu falo,
Mas se me der a mão,
Claro, aperto,
Se for franco,
Direto e aberto,
Tô contigo, amigo e não abro.

Vamos ver o diabo de perto,
Mas preste bem atenção, seu moço,
Não engulo a fruta e o caroço.
Minha vida é tutano, é osso.
Liberdade virou prisão.

Se é amor: deu e recebeu,
Se é suor: só o meu e o teu
Verbo “eu” pra mim já morreu.

Quem mandava em mim nem nasceu,
É viver e aprender.
Vá viver e entender, malandro,
Vai compreender,
Vá tratar de viver,
E se tentar me tolher é igual
Ao “fulano de tal” que taí...

Se é pra ir: vamos juntos.
Se não é já: não tô nem aqui.

A letra de “Recado”, composta e musicada por Gonzaguinha, em 1978, em pleno regime militar, é um ato de rebeldia do compositor, que dá um recado a todos os que queriam calar a sua voz (Se me mandar calar mais eu falo). Mas, se o interlocutor tolher a liberdade do compositor, ele será igual ao “fulano que está aí”, isto é, igual ao presidente-militar da época (Geisel: 1974-1979).*

Ele espera do seu interlocutor, com quem ele fala na música, que ambos sigam juntos na busca de novos tempos, com a mais liberdade, que se não for conseguida já, ele não está nem aqui.

Ele iria, ainda, esperar por sete anos...

*Já estava havendo, no Brasil, um certo liberalismo da censura para a produção artística.


Gonzaguinha, no Brasil de 1978: “Não tô nem aqui.”

O túmulo beijado


  
De 1895 a 1900, quando morreu, o irlandês Oscar Wilde passou por toda espécie de tormento que um ser humano poderia suportar. Meteu-se num imprudente processo por homossexualismo, ao ter um caso público com o filho de nobre inglês peso-pesado, e perdeu o caso. Na Inglaterra vitoriana, era crime ser gay. O tribunal condenou-o a dois anos de trabalhos forçados na penitenciária de Reading, onde ele foi cuspido e teve a cabeça raspada.

A ideia de ver um gigante como Wilde (1,90 m) humilhado e submetido a violências e privações por guardas boçais parece quase inacreditável. Mas aconteceu e, mesmo assim, ele conseguiu até escrever na prisão: o poema “A balada do cárcere de Reading” e a memória De profundis, em forma de longa carta para Bosie, o jovem amante responsável por sua desgraça.

Libertado em 1897, falido e em desgraça em Londres, Wilde partiu para o degredo em Paris. Lá, esmolou agressivamente nas ruas. Viu manchas vermelhas aparecerem em seus braços, peito e costas, seguidas por erupções em todo o corpo. Teve um abscesso purulento no ouvido (tratado com morfina e ópio) e meningite*. A 30 de novembro de 1900, seu corpo literalmente explodiu − liquefez-se. Ele tinha 46 anos.

Wilde foi enterrado no cemitério Père-Lachaise e, como sua reabilitação literária foi imediata, seu túmulo sempre atraiu romeiros. Mas, de alguns anos para cá, eles não se limitam a contemplá-lo. Beijam-no e escrevem mensagens de admiração e amor, a lápis e batom. A cada limpeza, a pedra se desgasta. Na semana passada (em 2012), para conter o processo, o túmulo ganhou uma redoma de vidro.

De cuspido por alguns a beijado por milhares − o que Wilde diria disso? Na verdade, sem saber, ele já disse: “A única diferença entre um santo e um pecador é que o santo tem um passado − e o pecador, um futuro.”


Túmulo Oscar Wilde, em Paris, cercado por redoma de vidro.

(Do livro “A arte de querer bem”, de Ruy Castro)

*Oscar Wilde morreu de um violento ataque de meningite, agravado pelo álcool e pela sífilis.


Wilde foi enterrado no Cemitério de Bagneux, fora de Paris, porém em 1950 foi movido para o Cemitério de Père Lachaise. Sua tumba é obra do escultor Sir Jacob Epstein, à requisição de Robert Ross, que também pediu um pequeno compartimento para seus próprios restos.

A Obra

No seu único romance, O Retrato de Dorian Gray, considerado por muitos críticos como uma obra-prima da literatura britânica, Oscar Wilde trata da arte, da vaidade e das manipulações humanas.

Já em várias de suas novelas, como por exemplo O Fantasma de Canterville, Wilde critica o patriotismo da sociedade.

Em seus contos infantis preocupou-se em deixar lições de moral através do uso de linguagem simples. O Filho da Estrela (ver em Ligações Externas), é exemplo disso.

No teatro, escreveu nove dramas, muitos ainda encenados até hoje.

Wilde destacou-se como poeta, principalmente na juventude. Rosa Mystica, Flores de Ouro são alguns trabalhos conhecidos nesse campo.

Wilde foi um mestre em criar frases marcadas por ironia, sarcasmo e cinismo.


segunda-feira, 27 de agosto de 2018

A Nau Catarineta



A lenda da Nau Catarineta foi recolhida no Rio Grande do Sul, por Kosseritz, Apolinário e Cezimbra Jacques. Augusto Meyer a estuda no seu “Guia”, mas, antes, o Monsenhor Mariano da Rocha escreveu um bom trabalho a respeito dela. Renato da Rocha examinou o assunto, esgotando-o e Luis da Câmara Cascudo a acolhe no seu Dicionário, apreciando suas diversas áreas. Foi ainda, considerada por esse último, como o poema anônimo de biografia mais alentada. O seu nome, “Nau Catarineta” é que possui origens controversas, pois poderia derivar da própria embarcação, ou ainda do Romance de Santa Catarina, de origem espanhola.

Ouçam, meus senhores todos,
Uma história de espantar!
Lá vem a nau catarineta
Que tem muito que contar.

Há mais de um ano e um dia
Que vagavam pelo mar:
Já não tinham o que comer,
Já não tinham o que manjar!

Deitam sortes à ventura
Quem se havia de matar:
Logo foi cair a sorte
No capitão-general!
− Tenham mão, meus marinheiros!
Prefiro ao mar me jogar!

Antes quero que me comam
Ferozes peixes do mar
Do que ver gente comendo
Carne do meu natural!

Esperemos um momento,
Talvez possamos chegar.
Assobe, assobe, gajeiro,
Naquele mastro real!

Vê se vês terras de Espanha,
E areias de Portugal!
− Não vejo terras de Espanha
E areias de Portugal!

Vejo sete espadas nuas
Que vêm para vos matar!
− Vai mais acima, gajeiro,
Sobe no tope real!
Vê se vês terras de Espanha,
Areias de Portugal!

− Alvíssaras, capitão,
Meu capitão-general!
Já vejo terras de Espanha,
Areias de Portugal!
Enxergo, mais, três donzelas,
Debaixo de um laranjal!

Uma, sentada a coser,
Outra na roca, a fiar,
A mais mocinha de todas
Está no meio, a chorar!

− Todas três são minhas filhas:
Ah quem me dera as beijar!
A mais mocinha de todas
Contigo a hei de casar!

− Eu não quero a vossa filha,
Que vos custou a criar!
− Dou-te o meu cavalo branco
Que nunca teve outro igual!
− Não quero o vosso cavalo,
Meu capitão-general!

− Dou-te a nau catarineta
Tão boa em seu navegar!
− Não quero a catarineta,
Que naus não sei manobrar!

− Que queres então, gajeiro?
Que alvíssaras hei de dar?
− Capitão, eu sou o diabo
E aqui vim pra vos tentar!

O que eu quero, é vossa alma
Para comigo a levar!
Só assim chegais a porto,
Só assim vos vou salvar!

− Renego de ti, demônio,
Que estavas a me tentar!
A minha alma, eu dou a Deus,
E o meu corpo eu dou ao mar!

E logo salta nas águas
O capitão-general!
Um anjo o tomou nos braços,
Não o deixou se afogar!
Dá um estouro o demônio,
Acalmam-se o vento e o mar,
E à noite a catarineta
Chegava ao porto do mar!

Em forma de epígrafe



Atribui-se ao termo epigrafe o sentido de, em poucas palavras, representar a síntese perfeita de um somatório de significados.

Por simbolizar a versatilidade e a pluralidade de significado das palavras no contexto do nosso idioma, escolheu-se um diálogo atribuído ao poético casal Eduardo e Alice Prado, ao caminharem por um bosque. Apontando para uma árvore onde um casal de passarinhos namorava, Eduardo disse para Alice:

− Alice vive do amor.

Demonstrando ser parceira à altura do poeta, Alice retrucou de imediato:

− Eduardo Prado também.

O casal acabara de transformar cacofonias em eufonias, provando que o idioma é feito dele e de suas circunstâncias.

Paulo Flávio Ledur

P.S. Para quem não entendeu a frase de Eduardo: Ali se vive do amor.
       Para quem não entendeu a frase de Alice: E do ar do prado também.

Cacofonia → é um vício de linguagem comum na língua portuguesa, quando uma palavra ou sílaba, em união com outras, formam expressões com sons desagradáveis ou ambíguas.

Eufonia → é o antônimo da cacofonia, ou seja, quando a junção de fonemas de uma ou mais palavras têm um som agradável aos ouvidos.


O eclipse



Versão militar

(Ruído na comunicação)

Disse o Capitão ao 1º Tenente:

“Amanhã haverá eclipse do sol, o que não acontece todos os dias. Mande formar a companhia às 7 horas, em uniforme de instrução. Poderão, assim, todos observarem o fenômeno e darei as devidas explicações. Se chover, nada se poderá ser observado e os homens formarão no alojamento para a chamada.”

O 1º Tenente ao 3º Sargento:

“Por ordem do Senhor Capitão, haverá eclipse do sol amanhã. O Capitão dará explicações às 7 horas, o que não acontece todos os dias. Se chover, não haverá lá fora a chamada. O eclipse será realizado no alojamento.”

O 3º Sargento ao Cabo:

“Amanhã, às 7 horas, virá ao quartel um eclipse do sol, em uniforme de passeio. O Tenente dará, no alojamento, as explicações, se não chover, o que não acontece todos os dias.”

O Cabo aos Soldados:

“Atenção, Companhia! Amanhã às 7 horas o Sargento vai fazer um eclipse do sol com uniforme de passeio e dará todas as explicações. Vocês deverão entrar formados no alojamento, o que não acontece todos os dias. Caso chova não haverá chamada.”

Entre os soldados:

“O Cabo disse que amanhã o sol, em uniforme de passeio, vai fazer um eclipse para o Capitão, que lhe pedirá todas as explicações. A coisa é capaz de dar uma encrenca, dessas que acontecem todos os dias. Deus queira que chova, senão vai sobra pra nós e é capaz de dar cadeia pra todo mundo!”


Morte trágica de alguns matemáticos



Tales de Mileto → Foi esmagado pela multidão ao sair de um espetáculo.

Archimedes → Foi assassinado por um soldado romano depois da queda de Siracusa.

Arquitas de Tarento (428 a.C – 347 a.C.) →  Pereceu num naufrágio nas costas da Apúlia.

Eratóstenes (276 a. C. – 194 a. a.C.) → Suicidou-se, deixando-se morrer de fome, fechado numa biblioteca.

Hipatia de Alexandria (370 d. C – 415 d. C.) → Lapidada por um grupo de fanáticos, durante um motim em Alexandria, formado por monjes e seguidores do bispo Cirilo. 

Boecio (480 d. C. – 524 d. C.) → Depois de supliciado, foi estrangulado na prisão.

Pitágora de Samos (570-71 a.C. – 531-32 a. C.) → É assassinado, em Taranto, durante uma evolução.

Evaristo Galois (1811 – 1832) → Foi assassinado em um duelo com pistolas.

Amoroso Costa (1835 – 1929)  → Morreu num desastre de avião.

Carlo Bourlet (1866 – 1913) → Morreu depois de um banquete, asfixiado por uma espinha de peixe.

domingo, 26 de agosto de 2018

Se eu pudesse...



Ah, se eu pudesse voltar ao passado...
Eu beijaria Maria, pois ela queria,
mas eu não sabia...
Eu tinha 9 anos.
Ela, eu não sei.
Mas sabia mais do que eu.

Se eu pudesse voltar ao passado...
leria mais, aprenderia mais
e não desperdiçaria meu tempo de infância
com ideias de adulto.

Se eu pudesse, apenas se eu pudesse,
mudaria os erros em acertos.
Mudaria em compreensão a ira em meu coração.
Saberia perdoar.
Saberia postergar maldades ou mesmo evitá-las.

E se pudesse, não prenderia aquele passarinho,
que acabou morrendo
por falta de cuidados ou de liberdade.

Se eu pudesse voltar ao passado,
seria para corrigir injustiças,
evitar acidentes,
prolongar amizades e amores
que me foram tão caros.

Pudesse eu voltar,
eu me aproveitaria de Marlene,
pois era isso que ela queria
(mas eu não sabia).
Coxas que acariciei tremendo,
(aos onze anos),
as de Marlene eram como peças de mármore
...macias...
Eu poderia ter Marlene,
mas não sabia bem o que fazer com ela.
Ela sabia o que fazer comigo.
E foi bom!

Ah, se eu pudesse voltar ao passado.
Veria, então, o que hoje não me agrada aos olhos.
Veria a confiança, a ingenuidade e a alegria
que enchiam o coração do povo brasileiro.
Seria muito bom.
Se eu pudesse voltar...
mas eu não posso...


                        Clarival Vilaça
                          (1944-2018)

Dicas de segurança ao chegar ou sair de casa



Quando chegar ou sair de casa, fique atento. Essas são as ocasiões mais propícias para roubos e sequestros. Se desconfiar, aguarde, dê uma volta no quarteirão e chame a Brigada Militar pelo fone 190.

Marque hora com as pessoas que farão serviços em sua casa; exija sempre identificação e nunca as deixe sozinhas. Guarde em local seguro as notas fiscais de série de seus bens (TV, som, vídeo, relógios).

Ao sair, certifique-se de que as portas e janelas voltadas para áreas externas estão trancadas, inclusive a garagem. Procure conhecer seus vizinhos, onde trabalham, telefones, hábitos, horários de saída e chegada.

As crianças devem ser orientadas para não abrir a porta para estranhos e nem trazê-los para casa sem autorização.

Dicas de segurança: assaltos e sequestros
         
Procure manter a calma diante de uma arma, mesmo que isso pareça difícil. O bandido está sempre mais nervoso do que a vítima, mas, em geral, não tem a intenção de matar.

Não reaja, nem tente fugir. Forneça o que exige o criminoso. Assim, o tempo do roubo será menor.

Não faça movimentos bruscos e procure alertar o assaltante dos gestos que pretende realizar, como pegar uma carteira, por exemplo.

Tenha consciência de que há possibilidade de existir outra pessoa dando cobertura ao crime.

Sd Angélica, Assessoria de Imprensa

12º Batalhão de Polícia Militar

Centro Integrado de Operações de Segurança Pública

Histórias Engraçadas de Tribunais



Em uma Vara Criminal no interior do Estado do Ceará, o Juiz vê duas moças esperando sentadas na Sala de Audiências do Fórum. Ao ver o primeiro processo da pauta do dia, que é sobre um crime de estupro, ele pergunta para as duas:
 − As senhoras foram arroladas no processo?
No que rapidamente uma responde:
− Doutor, eu sou apenas testemunha. A rolada foi nela!

No tribunal, um dos advogados para o outro:
− Você é um mentiroso!
O outro lhe responde:
− E você é um vigarista!
Batendo com o martelo, o juiz diz:
− Bom, agora que ambos os advogados foram apresentados, vamos prosseguir com o julgamento.

Após o depoimento da testemunha da defesa, o advogado de acusação lhe diz:
− Devo parabenizá-la pela sua inteligência!
− Obrigada! – diz a testemunha – Eu só não retribuo a gentileza, porque estou sob juramento…

Um homem está a ser julgado por violência doméstica. Pergunta o juiz à mulher do acusado:
− Diga-me francamente, quando é que o seu marido se tornou um déspota?
Responde a esposa:
− O meu marido, senhor doutor juiz, sempre foi carpinteiro…

No tribunal, pergunta o juiz ao réu:
− Porque é que o senhor matou a sua mulher com catorze facadas?!
O réu:
− Porque sou muito supersticioso…

Advogado: Doutor, antes de realizar a autópsia, o senhor tentou achar um pulso?
Testemunha:
− Não.
Advogado:
 − Verificou a pressão arterial?
Testemunha:
− Não.
Advogado:
 − Checou a respiração?
Testemunha:
− Não.
Advogado:
−Então, é possível que o paciente estivesse vivo quando o senhor começou a autópsia?
Testemunha:
−Não.
Advogado:
− Como pode ter tanta certeza, doutor?
Testemunha:
 − Porque seu cérebro estava em cima da minha mesa, dentro de uma jarra.
Advogado:
− Entendi, mas o paciente ainda poderia estar vivo?
Testemunha:
− Sim, é possível que ele pudesse estar vivo e praticando advocacia.

Advogado:
 − Ela teve três filhos, certo?
Testemunha:
− Sim.
Advogado:
− Quantos eram meninos?
Testemunha:
− Nenhum.
Advogado:
 − Havia alguma garota?
Testemunha:
− Meritíssimo, eu acho que preciso de um advogado diferente. Posso procurar outro?
  
Advogado:
− Como seu primeiro casamento foi encerrado?
Testemunha:
− Pela morte…
Advogado:
 − E por morte de quem foi encerrado?
Testemunha:
− Adivinhe.

Advogado:
− Doutor, quantas das suas autópsias o senhor realizou em pessoas mortas?
Testemunha:
− Todos elas. Os vivos ‘esperneiam’ demais.

Advogado:
− Você pode descrever o indivíduo?
Testemunha:
− Ele tinha uma altura média e tinha barba.
Advogado:
− Era um homem ou uma mulher?
Testemunha:
− A menos que o circo estivesse na cidade, eu diria que era homem.

Advogado:
− A senhora é sexualmente ativa?
Testemunha:
− Não, eu somente fico deitada.

Promotor:
− Quando ele foi, o senhor tinha ido e teve ela, se ela quisesse e pudesse, por enquanto, excluindo todas as restrições sobre ela para não ir, também foi, ele teria trazido o senhor, o que significa que o senhor e ela, com ele para a estação?
Outros advogados:
− Objeção. Essa pergunta deve ser retirada e dado um tiro nela

Promotor:
− Todas as suas respostas devem ser orais, Ok? Para qual escola você foi?
Testemunha:
− Orais…

Advogado:
− Então, a data da concepção (do bebê) foi 8 de agosto de 2000?
Testemunha:
 − Sim.
Advogado:
− E o que a senhora estava fazendo naquele momento?
Testemunha:
− Estava deitada.

Advogado:
− Doutor, o senhor disse que foi baleado na floresta?
Testemunha:
− Não, eu disse que fui baleado na região lombar.

Promotor:
− Alguma sugestão sobre o que impediu que isso fosse um julgamento de homicídio em vez de um julgamento de tentativa de homicídio?
Testemunha:
− A vítima viveu.