segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

O que é certo e o que é errado

 Leon Eliachar

P: É feio comer galinha com as mãos? 

R: Absolutamente. Ninguém pode negar que é muito mais prático, mais confortável, mais gostoso e mais higiênico. 

Feio mesmo, se não impossível, é comer galinha com os pés. 

P: Não se deve jogar cinza no chão? 

R: Não, não se deve. Mas se a gente não tivesse insistido nisso, jamais teriam inventado o aspirador de pó. E hoje, que já o inventaram, se não continuarmos jogando (a cinza) admitamos que ele (o aspirador) terá pouca utilidade. 

P: É feio atirar restos de prato pela janela? 

R: Tudo depende do ângulo em que nos colocamos: 

Se estamos do lado de dentro da janela, é óbvio que isso nos parecerá um gesto bastante natural. Só devemos ter cuidado de não botar a cabeça no parapeito, pra ver se os restos caíram na cabeça de alguém, porque assim a pessoa acabará localizando de qual andar foram atirados os restos e poderá vir cá em cima pedir explicação. 

Agora, se nos colocamos no ângulo de baixo, o melhor negócio é atirar restos para dentro das casas e sair correndo, porque a polícia não vai compreender nunca que estamos querendo colaborar com a limpeza urbana. 

P: A gravata é realmente um toque de elegância? 

R: Tudo é relativo, há sujeitos que usam gravata branca em cima de camisa preta, outros que usam gravata preta em cima de camisa branca, outros que usam gravata colorida em cima de camisa estampada. Como se vê, tudo depende da gravata − e é chato um sujeito ter de depender de uma gravata para parecer elegante. Mesmo porque os gostos são diferentes, tão diferentes que, quando um sujeito pensa que está elegante, aparecem logo dez que o acham cafajeste. 

P: Ser pontual revela a personalidade? 

R: Isso é um fato. Mas nunca ninguém pode saber se uma pessoa é pontual, a não ser que também chegue na hora. E, se chegar, quem pode garantir que o outro também chegará? 

Logo, o mais aconselhável é chegar sempre atrasado; ás vezes coincide do atraso ser igual, e então ambos se acharão fabulosamente pontuais e de muita personalidade. 

P: É imoral o uso do biquíni? 

R: O Conceito de moral varia muito: O namorado acha indecente que a namorada use biquíni, mas não acha que a dos outros use. Por isso mesmo que o biquíni foi inventado: para que seja usado pela mulher dos outros. 

Pensando bem, até que o biquíni tem o seu lado moral: 

Já imaginaram um teatro de revista sem biquíni? 

Como é que os empresários poderiam enfrentar a censura? 

P: É correto um rapaz beijar uma moça antes de pedir a sua mão? 

R: Rapaz que não beija a moça é considerado correto pelo pai da moça, mas é considerado bobo pela própria. 

Antigamente, o rapaz pedia a mão da moça e depois a beijava (a mão); hoje, beija primeiro a moça e depois é que pensa se vale a pena ou não pedir também a sua mão. 

Donde se conclui que os tempos mudaram. Digo, os tempos mudaram as moças. 

P: É falta de cavalheirismo um homem viajar sentado num ônibus enquanto senhoras viajam de pé? 

R: Não, se há a exclusividade de lugar. 

A população feminina cresce de tal maneira que os ônibus andam superlotados. 

Tão superlotados que não há mais lugar nem para o cavalheirismo. 

P: É verdade que o caráter das pessoas se revela no jogo? 

R: Em questão de jogo é sempre mais aconselhável ter mais jogo do que caráter, porque ambos estão arriscados a encontrar um jogo mais forte e um caráter mais violento. 

O Jogo a gente revela quando está ganhando; o caráter quando está perdendo. 

Muita gente de caráter perde tanto no jogo que, inclusive, acaba perdendo o caráter; Algumas vezes chega a recuperar tudo − menos o caráter. 

******* 

Do livro: “O homem ao quadrado”, páginas 273, 274, 275.¨

 P.S. No texto original não há a letra P, de pergunta.

O que é Internetês?

 Saiba mais sobre a linguagem da internet

Abreviações como blz, qnd, vc e td fazem parte da linguagem informal utilizada na internet, conhecida como internetês, que surgiu no meio online para acelerar a comunicação entre usuários, principalmente adolescentes. 

A ideia é facilitar a digitação − por isso encontramos palavras como “naum”, que mesmo possuindo mais letras do que “não”, dispensa o til, mas para muitos, usar gírias da internet é uma forma mais descolada de se expressar e pertencer ao grupo. 

Quanto mais pessoas têm acesso à internet, mais este dialeto moderno se difunde, e as empresas precisam acompanhar essas novidades, tanto para se comunicar melhor com seus públicos, quanto para não caírem em ciladas, como o uso de siglas ofensivas. 

Já falamos, aliás, sobre hashtags e os riscos de usar as que estão em alta, aleatoriamente. Veja mais dicas sobre esse tema aqui. 

Para ajudar a entender o internetês, faremos um glossário abaixo. 

Abç: abraço. 

Abs: abraços. 

Add: adicionar. 

Aff: é como um suspiro por falta de paciência, indicando cansaço, insatisfação ou descontentamento. 

Ag: agora. 

Aki, Aqi: aqui. 

Amg: amigo ou amiga. 

Amr: amor. 

Axo: acho. 

Bbq: babaca. 

Bff: “best friends forever”, traduzindo: melhores amigos(as) pra sempre. 

Bjs: beijos. 

Blz: beleza. 

Brb: “be right back”, “volto já”. 

Brinks: brincadeira. 

Btf: boto fé, linguagem coloquial. Significa “ah, sim”, “claro”, “com certeza”. 

Btw “by the way”, a propósito. 

Cmg: abreviação de comigo. 

Ctg: abreviação de contigo. 

Cool: termo em inglês que significa “legal”. 

Ctz: certeza ou com certeza. 

D: de. 

Dlç: abreviação de delicia. 

DM: “direct message”, as mensagens particulares. 

Dnd: abreviação de “de nada”. 

Dnv: abreviação para “de novo”. 

Eh: é. 

Emoji: é a nova maneira de dizer emoticons, desenhos usados nos programas de mensagens instantâneas. 

Epicwin: em português algo como “vitória épica”. Representa uma grande conquista. 

Fail: termo usado para dizer que uma coisa falhou. 

Fake: termo inglês que significa falso. 

Fikdik: fica a dica. 

Fla: fala. 

Flw: falou 

Fmz: firmeza. 

Ftw (for the win): em português “para a vitória” ou “rumo à vitória”. Indicativa de entusiasmo quanto a um projeto específico. 

Fuckyeah: representa uma felicidade extrema. 

Gnt: abreviação de gente. 

Glr: abreviação de galera. 

Gtfo: “get the fuck out”, um “vá embora” mais mal-educado. 

Gtg: “gotta go”, tenho que ir. 

Haters: em português “odiadores”. Pessoas que usam as redes sociais somente para reclamar ou falar mal dos outros. 

Hj, Oj: hoje. 

Img: imagem. 

Imho (in my humble opinion): em português significa na minha modesta opinião”. 

Jg: jogo 

K: cá. 

Kdê: cadê. 

KKK: risadas. 

KSA: casa. 

Lategram: algo como ‘post atrasado’, usado quando você não posta instantaneamente. 

Lol: “laughing out loud”, que em inglês significa “rindo muito alto”. 

Mds: abreviação de “Meu Deus”. 

Mlr: abreviação de mulher. 

Mntr: mentira. 

Msg: abreviação de mensagem. 

Msm: mesmo. 

Mto: muito. 

N, Naum: não. 

Nd: nada. 

Ndv: abreviação de nada a ver. 

Never: do português “nunca”. 

Ngm: ninguém. 

Nofilter: é só pra dizer que sua foto está sem filtro no instagram. Normalmente é usada para paisagens, pra dizer que aquele lugar é tão bonito que nem precisa de filtro. 

Noob: novo, novato, inexperiente. 

Nsfw: “not safe for work”, não abra no trabalho. 

Nuss: nossa! 

Obg: obrigado (a). 

Ootd: significa outfit of the day, uma versão em inglês de #lookdodia. 

Orly: “oh, really?”, sério? 

P: para. 

Pfv: por favor. 

Plmdds: pelo amor de deus. 

Pq: porque. 

Qdo: quando. 

Qnt: quanto. 

Qqr: qualquer. 

Qrdo (a): querido (a). 

Qro: quero. 

Regram: usada quando você “reposta” a imagem postada no instagram de outra pessoa − uma forma de dar crédito a quem postou antes de você. 

RIP: “Rest in Peace, que em português significa “Descanse em Paz”. 

Rs: risos. 

S: sim. 

S2: formato de coração. 

Sdds: saudades. 

Sdv: segue de volta. 

Slv: só li verdades. 

Sqn: só que não. 

Stfu: “shut the fuck up”, em português seria “cale a boca”, mas mais grosseiro. 

Tbm: também. 

Tbt: é do inglês throwback thursday, que quer dizer algo como ‘quinta da nostalgia’, dia escolhido para postar fotos antigas. 

Tc: abreviação de teclar, conversar por mensagens. 

Tdo: tudo. 

Tgif: é uma sigla para a frase “thank god it’s friday” − em português,“graças a deus é sexta-feira”.

 Tks: thanks ou obrigado. 

Tl: “timeline”, linha do tempo. 

T+: até mais. 

Vc: abreviação de você. 

Vdd: verdade. 

Vlw: valeu. 

Vntd: vontade. 

Vsf: algo do tipo vai se ferrar! 

Wtf: “what the fuck?”, em português seria “que diabos?”. 

Xau: Tchau. 

Xoxo: beijos e abraços. 

Yolo: “you only live once”, você só vive uma vez. 

Zap zap: termo para dizer whatsapp, que é um aplicativo de mensagens instantâneas. 

9da10: novidades. 

(Do Blog DNA Criativo)

domingo, 30 de janeiro de 2022

O homem que não dormia

 Herbert Moses 

(Poema em prosa)

Todas as noites, quando os filhos e a mulher adormeciam, ele beijava-os, dava um jeito nos lençóis, punha calmamente o chapéu na cabeça e saía em ponta de pés. 

Todas as noites, quer chovesse quer houvesse estrelas no céu, repetia-se aquela mesma cena. 

Só voltava ao romper da alvorada, quando os filhos e a mulher ainda dormiam. À luz dos primeiros raios do sol que entravam pela janela, ele vinha em ponta de pés, beijava a família e dava um jeito nos lençóis. 

Não passava uma noite em casa. 

Mas nem a mulher nem os filhos se queixavam. Não tinham uma palavra de censura para aquele esposo e pai que passava as noites na rua. Ele, por seu lado, também não se desculpava de sair todas as noites...

Porque era ele o guarda-noturno da zona.

Acarmô?

 

Numa estradinha, o mineiro, dono de um alambique, com um fusca velho, bate na traseira de uma BMW novinha em folha. 

O dono da BMW sai do carro uma fera, em cima do mineiro, que então diz: 

- Carma, moço, tudo se resorve... 

- Resolve nada, seu babaca, burro irresponsável! 

- Carma... Toma uma cana aqui que é da minha fazenda... E é da boa e o sinhô vai si acarmá... 

O cara toma uma. 

- Acarmô? 

- Acalmei porra nenhuma, seu bunda mole! 

- Então toma mais uma que vai se acarmá e meiorá... 

E assim foi... Depois de uma meia dúzia, o mineiro diz: 

- Meiorô? Acarmô? 

- Sim, agora, meio caneado, tá tudo ficando legal... 

- Intão agora nóis vamu sentá aqui i chamá a puliça pra fazê o tar di bafômetro i vê quem tá errado!

Mais triste que a estrada

 Paulo Mendes

Pintura de Emerson Matos

Via o Leco apequenar-se estrada afora naquela segunda-feira escaldante de um fim de janeiro. Ia ele, a alazona malacara e sua alma campeira e triste, mais triste que aquele caminho avermelhado de fim de tarde. Leco passara no bolicho, dias antes, para se despedir, pagar umas continhas, explicar que não mais o queriam na estância. Até deram prazo de um mês para que arrumasse outra ocupação, porque agora as coisas haviam mudado, os novos donos do estabelecimento iriam se dedicar às lavouras, precisavam de tratoristas, operadores de máquinas, e não mais de um peão de fazenda criado no lombo do cavalo, laçador e pealador* de mão cheia, tropeiro, ginete e domador, um homem que sabia pelo olhar se a vaca era boa parideira ou se o potro era velhaco. Mas que importância tinha isso tudo agora? Seu Turíbio, que muitos conselhos havia repassado ao peão, enchera os olhos d’água e dissera: “Vá, meu filho, nunca há de faltar serviço a um gaúcho que é bom de lida.” 

Então Leco passara ao trote, no primeiro suor, depois, lá na coxilha grande, que ficava cinzenta no fim da tarde, a alazona diminuíra para o tranco, sem vontade de ir. Como seu dono. Eu vira também a égua ainda potranca sendo conduzida pelo buçal “pra ir pegando gosto pelos corredores”, brincava o Leco. Depois ele a domou, isto é, apenas colocou os arreios, um bocal de tentos, e logo o freio. Era um florão aquela égua, doce de boca, de cômodo macio, era como se no lombo dela estivéssemos andando de automóvel. Desempregado, o Leco pagou o que devia no nosso bolicho, vendeu a gaita com que tocara tantas vaneiras*, xotes e chamamés* nas tardes domingueiras e, resoluto, tirou da bota um punhalzinho prateado e colocou sobre o balcão. “Fique com ele, querido amigo, para que se lembre de um campeiro honesto e trabalhador que viveu na Vila Rica, mas que agora se vai embora, porque aqui não tem mais serviço.” 

Quando olhei de novo, não o vi mais. A estrada estava vazia, como vazio ficou o bolicho por longos dias. 

Vinham clientes, mas alma não tinha mais. Não se escutavam acordes de cordeona, não se via mais a alazona atada debaixo dos cinamomos, nem a risada comprida do Leco depois de contar um causo de assombração. E os dias foram passando, a cavalhada deu lugar aos tratores que ficavam estacionados ao lado e na frente do bolicho. Não vi mais tropas cruzando nervosas em direção ao frigorífico, matarias foram sendo derrubadas, os açudes aterrados, as sangas de água pura desapareceram. Restaram imensas lavouras sem fim, que o progresso nos impôs. 

Há uns dois ou três anos voltei à Vila Rica, ao Passo dos Buracos, ao Rincão do Cerrito. Quando dobrei na Esquina Maboni, a uns 300 metros de onde dona Mirica e seu José Mendes ergueram a venda, enxerguei um gaúcho bem pilchado, montado numa égua de pelo lustroso. Foi então que lembrei do meu amigo Leco, o campeiro, que sumiu na polvadeira* para os lados dos castelhanos. Quem fim o mundo deu dele? Será que ainda vive? Pouco provável. Restou a saudade, dele e de todos os gaúchos que a pata de cavalo sustentaram nossas fronteiras, trabalhando de sol a sol ou peleando nas revoluções. Ficou a lembrança de um gaúcho pegando a estrada. Ficou o punhal de prata pendurado na parede. 

******* 

Da coluna Campereada, do Correio do Povo Rural, janeiro de 2022. 

*Pealo: laço usado para prender animal, geralmente cavalgadura, pelas mãos e derrubá-lo, enquanto está correndo. Pealador é o peão de estância que se utiliza dessa técnica. 

*Polvadeira: poeirada. 

* (ou vanera): é um tipo de dança típica do Rio Grande do Sul, com ritmo moderado. Sem sombra de dúvida, a vaneira é o ritmo mais apreciado e mais executado nos bailes gaúchos. 

*Chamamé: é um ritmo folclórico argentino originou-se na província de Corrientes/Argentina. Por isso, não há uma tradução para chamamé. Para os argentinos, chamamé significa “senhora ama-me”. No Brasil, a palavra tem o significado de “chama-me para bailar” ou “aprochegar-se de mim”.


O cronista Paulo Mendes é autor do livro Campereadas, uma obra que retrata a vida do gaúcho típico, que trabalhava em fazendas de gado no interior do Rio Grande do Sul. Obra imperdível para se entender a cultura típica gaúcha.

sábado, 29 de janeiro de 2022

Continho

 

Era uma vez um menino triste, magro e barrigudinho, do sertão de Pernambuco. Na soalheira danada de meio-dia, ele estava sentado na poeira do caminho, imaginando bobagem, quando passou um gordo vigário a cavalo: 

− Você aí, menino, para onde vai essa estrada? 

− Ela não vai não: nós é que vamos nela. 

− Engraçadinho duma figa! Como se chama? 

− Eu não me chamo não, os outros é que me chamam de Zé. 

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Paulo Mendes Campos. Crônica 1. São Paulo: Ática, 2002. pág. 76.

Ao respeitável público

 Rubem Braga 

São Paulo, 1934.

Chegou meu dia. Todo cronista tem seu dia em que, não tendo nada a escrever, fala da falta de assunto. Chegou meu dia. Que bela tarde para não se escrever! 

Esse calor que arrasa tudo; esse Carnaval que está perto, que aí vem no fim da semana; esses jornais lidos e relidos na minha mesa, sem nada interessante; esse cigarro que fumo sem prazer; essas cartas na gaveta onde ninguém me conta nada que possa me fazer mal ou bem; essa perspectiva morna do dia de amanhã; essa lembrança aborrecida do dia de ontem; e outra vez, e sempre, esse calor, esse calor, esse calor… 

Portanto, meu distinto leitor, portanto, minha encantadora leitora, queiram ter a fineza de retirar os olhos dessa coluna. Não leiam mais. Fiquem sabendo que eu secretamente os odeio a todos, que vocês todos são pessoas aborrecidas e irritantes; que eu desejo sinceramente que todos tenham um péssimo Carnaval, uma horrível quaresma, um infelicíssimo ano de 1934, uma vida toda atrapalhada, uma morte estúpida! 

Aproveitem este meu momento de sinceridade e não se iludam com o que eu disser amanhã ou depois, com a minha habitual falta de vergonha. Saibam que o desejo mais sagrado que tenho no peito é mandar vocês todos simplesmente às favas, sem delicadeza nenhuma. 

Porque ousam gostar ou aborrecer o que escrevo? O que têm comigo? Acaso me conhecem, sabem alguma coisa de meus problemas, de minha vida? Então, pelo amor de Deus, desapareçam desta coluna. Este jornal tem dezenas de milhares de leitores; porque é que no meio de tanta gente vocês e só vocês, resolveram ler o que escrevo? O jornal é grande, senhorita, é imenso, cavalheiro, tem crimes, tem esporte, tem política, tem cinema, tem uma infinidade de coisas. Aqui, nesta coluna, eu nunca lhes direi nada, mas nada de nada, que sirva para o que quer que seja. E não direi porque não quero; porque não me interessa; porque vocês não me agradam; porque eu os detesto. 

Portanto, se a senhorita é bastante teimosa, se o cavalheiro é bastante cabeçudo para me ter lido até aqui, pensem um pouco, sejam bem educados e deem o fora. Eu faço votos para que vocês todos amanheçam amanhã atacados de febre amarela ou de tifo exantemático. Se houvesse micróbios que eu pudesse lhes transmitir assim, através do jornal, pelos olhos, fiquem sabendo que hoje eu lhes mandaria as piores doenças: tracoma, por exemplo. 

Mas ainda insistem? Ah, se eu pudesse escrever aqui alguns insultos e adjetivos que tenho no bico da pena! Eu lhes garanto que não são palavras nada amáveis; são dessas que ofendem toda a família. Mas não posso e não devo. Eu tenho de suportar vocês diariamente, sem descanso e sem remédio. Vocês podem virar a página, podem fugir de mim quando entendem. Eu tenho que estar aqui todo dia, exposto a curiosidade estúpida ou à indiferença humilhante de dezenas de milhares de pessoas. 

Fiquem sabendo que eu hoje tinha assunto e os recusei todos. Eu poderia, se quisesse, neste momento, escrever duzentas crônicas engraçadinhas ou tristes, boas ou imbecis, úteis ou inúteis, interessantes ou cacetes. Assunto não falta, porque eu me acostumei a aproveitar qualquer assunto. Mas eu quero hoje precisamente falar claro a vocês todos. Eu quero, pelo menos hoje, dizer o que sinto todo dia: dizer que se eu os aborreço, vocês me aborrecem terrivelmente mais. 

Amanhã eu posso voltar bonzinho, manso, jeitoso; posso falar bem de todo mundo, até do governo, até da polícia. Saibam desde já que eu farei isto porque sou cretino por profissão; mas que com todas as forças da alma eu desejo que vocês todos morram de erisipela ou de peste bubônica. 

Até amanhã. Passem mal. 

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O conde e o passarinho e Morro do Isolamento, Editora Record 2002

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Amor de amigo

Pedro Bial

Amor de amigo é coisa engraçada! 

É diferente de amor de pai, de mãe, de irmão, de namorado... 

Amor de amigo é amor que completa a gente. 

Um amigo não precisa estar com a gente o tempo todo, porque amor de amigo vence a distância. 

Amigo que é amigo mesmo pode até ter outros amigos, porque amor de amigo nunca acaba. Ele se multiplica. 

Tem amigo de tudo quanto é jeito: de infância, da escola, de bairro, de igreja, de faculdade, de internet, amigo de amigo... 

Tem amigo até que a gente nem lembra de onde veio. E cada um deles tem um espaço guardado na memória e no coração. 

Amigo é amigo porque está presente nos momentos mais importantes da vida da gente: o primeiro beijo, a primeira festa, a aprovação no vestibular, um piquenique sábado à tarde, um dia de praia, ou até um almoço de domingo. 

Aos meus amigos, a todos eles, eu desejo que conquistem cada vez mais amigos.

Porque amor de amigo não se cansa de amar. 

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

O Cobrador

 Rubem Fonseca

Na porta da rua uma dentadura grande, embaixo escrito Dr. Carvalho, Dentista. Na sala de espera vazia uma placa, Espere o Doutor, ele está atendendo um cliente. Esperei meia hora, o dente doendo, a porta abriu e surgiu uma mulher acompanhada de um sujeito grande, uns quarenta anos, de jaleco branco. 

Entrei no gabinete, sentei na cadeira, o dentista botou um guardanapo de papel no meu pescoço. Abri a boca e disse que o meu dente de trás estava doendo muito. Ele olhou com um espelhinho e perguntou como é que eu tinha deixado os meus dentes ficarem naquele estado. 

Só rindo. Esses caras são engraçados. 

Vou ter que arrancar, ele disse, o senhor já tem poucos dentes e se não fizer um tratamento rápido vai perder todos os outros, inclusive estes aqui − e deu uma pancada estridente nos meus dentes da frente. 

Uma injeção de anestesia na gengiva. Mostrou o dente na ponta do boticão: A raiz está podre, vê?, disse com pouco caso. 

São quatrocentos cruzeiros. 

Só rindo. Não tem não, meu chapa, eu disse. 

Não tem não o quê? 

Não tem quatrocentos cruzeiros. Fui andando em direção à porta. 

Ele bloqueou a porta com o corpo. É melhor pagar, disse. Era um homem grande, mãos grandes e pulso forte de tanto arrancar os dentes dos fodidos. E meu físico franzino encoraja as pessoas. Odeio dentistas, comerciantes, advogadas, industriais, funcionários, médicos, executivos, essa canalha inteira. Todos eles estão me devendo muito. Abri o blusão, tirei o 38, e perguntei com tanta raiva que uma gota de meu cuspe bateu na cara dele, − que tal enfiar isso no teu cu? Ele ficou branco, recuou. Apontando o revólver para o peito dele comecei a aliviar o meu coração: tirei as gavetas dos armários, joguei tudo no chão, chutei os vidrinhos todos como se fossem balas, eles pipocavam e explodiam na parede. Arrebentar os cuspidores e motores foi mais difícil, cheguei a machucar as mãos e os pés. O dentista me olhava, várias vezes deve ter pensado em pular em cima de mim, eu queria muito que ele fizesse isso para dar um tiro naquela barriga grande cheia de merda. 

Eu não pago mais nada, cansei de pagar!, gritei para ele, agora eu só cobro! 

Dei um tiro no joelho dele. Devia ter matado aquele filho da puta. 

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Parte do livro “O Cobrador”, que abre o livro de mesmo nome do escritor Rubem Fonseca. A obra, apresentada aqui parcialmente, foi publicada originalmente em 1979 e descreve com riqueza de detalhes o cotidiano de um “viciado em violência”.

José Rubem Fonseca (Juiz de Fora, 11 de maio de 1925 − Rio de janeiro, 15 de abril de 2020) foi um contista, romancista, ensaísta e roteirista brasileiro. 

Formado em Direito, exerceu várias atividades antes de dedicar-se inteiramente à Literatura. Em 2003, venceu o Prêmio Camões, o mais prestigiado galardão literário para a Língua Portuguesa.

Rubem Fonseca sofreu um infarto em seu apartamento no bairro Leblon no dia 15 de abril de 2020. Foi socorrido no Hospital Samaritano, mas não resistiu e veio a falecer. 

Maluquices

 

Um paciente vai a um consultório psiquiátrico e diz para o médico:

- Doutor, toda vez que estou na cama, acho que tem alguém embaixo. Aí eu vou embaixo da cama e acho que tem alguém em cima. Pra baixo, pra cima, pra baixo, pra cima. Estou ficando maluco!

- Deixe-me tratar de você durante dois anos. Diz o psiquiatra. - Venha três vezes por semana, e eu o curo deste problema.

- E quanto o senhor cobra? - pergunta o paciente.

- 120 reais por sessão - responde o analista.

- Bem, eu vou pensar no assunto - conclui o sujeito.

Passados seis meses, eles se encontram na rua.

- Por que você não me procurou mais? - pergunta o médico.

- A 120 reais a consulta, três vezes por semana, dois anos, ia ficar caro demais, ai um sujeito num bar me curou por 10 reais.

- Ah é? Como? - pergunta o doutor.

O sujeito responde:

- Por 10 reais ele cortou os pés da cama...

Muitas vezes o problema é sério, mas a solução pode ser muito simples! Há grande diferença entre foco no problema e foco na solução!

Quer obter sucesso? Foque uma solução ao invés de ficar pensando no problema.                                                                                                                                   

Num asilo

- Digam o que entendem por objeto transparente.

Levanta-se um doido:

- É um objeto através do qual se pode ver!

- Muito bem! Dê-me um exemplo de um objeto transparente...

- O buraco da fechadura!

*****

- Doutor, eu ressono tão alto que chego a acordar com o barulho!

- Aconselho-o a dormir noutro quarto.

*****

O que é que tem seis pernas, pelos verdes e antenas?

- Não sei, o que é?

- Também não sei, mas está a subir pelo seu pescoço... 

******

Um louco está pescando numa banheira do manicômio. Outro louco faz a seguinte observação:

- Olhe, a linha não tem isca.

- Claro, seu estúpido! A banheira também não tem peixes. 

******

Toca o telefone no hospício:

“Triiimmmmm!!!!”

- Alô, de onde fala, é do hospício?

- Não, não é não, nós aqui nem temos telefone...

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Um poema de Quintana no caderno de recordações

 Juliana Bublitz em GZH

Marietinha, entre Quintana e Carlos Drummond, na Praça da Alfândega. 

Desde que publiquei um poema inédito de Mario Quintana, sigo recebendo mensagens de fãs do poeta. Divido uma delas contigo. 

Por e-mail, a leitora Vera Lúcia da Silva Moraes me contou que a mãe dela, Marietina Oliveira da Silva, 96 anos, mantém até hoje - com orgulho − uma linda lembrança em sua casa, em Porto Alegre. Liguei para Vera para ouvir o relato, que transcrevo a seguir. 

Aos 16 anos, Marietina − hoje mãe de duas filhas, Vera Lúcia e Ana Maria, e viúva de Rubem Antonio da Silva − trabalhava na saudosa Livraria do Globo e tinha contato com grandes escritores, entre eles, Quintana. 

À época, havia uma prática comum, hoje fora de moda: as pessoas costumavam entregar cadernos aos conhecidos para que deixassem pequenas mensagens. Um dia, quando Quintana passou por Marietina, ela tomou coragem e perguntou: 

− Seu Quintana, o senhor pode escrever um recado para mim? 

O poeta levou o caderninho embora e o devolveu dias depois. Quando Marietina correu os olhos até a página destinada ao mestre − como relata Vera Lúcia −, levou um susto com o que viu. 

− Ele havia escrito um poema para ela. Minha mãe guarda esse álbum com muito cuidado e sempre mostra para as visitas − ressalta Vera. 

Abaixo, transcrevo os versos ternos redigidos à mão, sem ter a certeza se vieram, algum dia, a ser publicados em livro. 

Foram-se abrindo aos poucos as estrelas… 

De margaridas, lindo campo em flor! 

Tão alto o céu!... Pudesse eu ir colhê-las… 

Diria alguma se me tens amor… 

Estrelas altas! Que se importam elas? 

Tão longe estão!... Tão longe deste mundo… 

Trêmulo bando de distantes velas 

Ancoradas no azul do céu profundo… 

Porém meu coração quase parou, 

Já foram voando as esperanças minhas, 

Quando uma, dentre aquelas estrelinhas, 

Deus a guie! Do céu se despencou… 

Com certeza era o amor que tu me tinhas 

Que repentinamente se acabou! 

Mário Quintana 

Aviso: o poema acima de Mario Quintana não é inédito, ele foi publicado na edição de 2005 da obra Poesia Completa, da editora Nova Aguilar, organizado por Tânia Franco Carvalhal. 


terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Quem matou o milionário?

 Leon Eliachar

Quando o detetive John High chegou ao local do crime, olhou rapidamente o quarto desarrumado e chegou a uma conclusão. No centro do quarto, sobre um tapete verde, o corpo do milionário Shmiler estava estendido, com um punhal cravado nas costas. Não havia o menor indício de luta. Apenas o pickup continuava em movimento no fim de um disco que continuava girando. Ao lado da vitrola, sobre o aparelho de televisão, havia um retrato com uma dedicatória: “Para o meu único amor, Wilma”. Não tinha data. Sobre uma cadeira, havia um pedaço de papel e uma caderneta de telefones aberta na letra “L”: Lionel, Lipton, Lamberg, Livingston, Lerner, Lindade, Lawerson, Lawrence. O detetive segurou o caderno com um lenço. examinou os nomes e exclamou: “quem matou o milionário foi Lawrence”. E realmente, dias depois, a polícia prendia Lawrence. Pergunta-se: você sabe por que o detetive John High chegou a esta conclusão tão rápida?

 

 

 

 

 

 

 

Porque viu o dedo do morto apontando, na caderneta de telefones, para o nome de Lawrence.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

A Guerra

 Leon Eliachar*

A humanidade divide o seu tempo em duas partes: guerra e paz. Durante a paz, vive discutindo a guerra e durante a guerra vive implorando a paz. A guerra foi inventada por um sujeito que morreu na guerra. A paz ainda não foi inventada. Há vários tipos de guerra: a guerra fria, a guerra quente, a guerra morna, a guerra requentada e a guerra propriamente dita: dessa ninguém escapa, porque todo mundo é convocado antes mesmo de começar a guerra. Antigamente, a guerra era feita a pé: quando os soldados chegavam no país inimigo a guerra já tinha acabado. Hoje, a guerra é mais ligeira: basta apertar um botão que ela começa e acaba ao mesmo tempo − e quando acaba não se encontra nem o botão. Durante a paz, os homens se preparam para a guerra, construindo tanques, aviões, submarinos, foguetes, táxis e ônibus elétricos. Quem foge da guerra se chama desertor, quem fica se chama herói. O desertor foge da guerra pra não morrer nas mãos do inimigo, mas acaba morrendo nas mãos do amigo: é fuzilado. O fuzilamento é um processo de matar o sujeito que escapa da guerra − ao invés de morrer distraído, morre prevenido. Antes de ir pra guerra, os médicos submetem os soldados a um exame físico completo: quem tiver boa saúde, pode ir e morrer tranquilo. Quando o homem se matricula na guerra, recebe um uniforme: quando entra na guerra, pinta o uniforme todinho pra ninguém ver que ele está de uniforme. Existem guerras famosas: a de 14, porque sobraram catorze; a dos Cem Anos, que quando acabou só tinha velhinho, e a de 39 − que todo mundo pensa que acabou. Antigamente, se fazia a guerra com baioneta calada, mas isso foi no tempo do cinema mudo. Hoje, a baioneta não só fala, mas também canta − como se pode ver nos musicais de Hollywood. Muitos combatentes são considerados malucos porque voltam pra casa com psicose de guerra, mas os psiquiatras não se preocupam a mínima com a psicose de paz − que é muito pior. E, por incrível que pareça, o soldado mais conhecido da guerra é o soldado desconhecido.

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*Do livro “O Homem ao Zero”, de sua autoria.

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 Leon Eliachar


Precisa-se com urgência de um contra-regra que seja a favor. 

Violonista procura oportunidade para acompanhar cantora bonita − depois do espetáculo. 

Contrata-se um diretor com talento bastante para obedecer todas as ordens. 

Procura-se figurinista de alto gabarito para despir vedetes de alto gabarito. 

Precisa-se de uma bilheteira com bastante experiência para na hora de receber o salário já trazer o troco. 

Bailarina que trabalha no fundo de cena deseja oportunidade de dar um passo à frente. 

Precisa-se de cenógrafo avançado, mas não muito, a fim de sair das limitações do palco. 

Empresário com vinte por cento de conversa contrata companhia com oitenta por cento de talento. 

(Livro: O Homem ao Meio, Página 33)

Um clássico de Tom Jobim

 

Análise da música Águas de Março 

De Antônio Carlos Jobim 

Durante a construção de sua casa em Poço Fundo (região serrana do Rio de janeiro), Tom Jobim* quis alterar o projeto, para que o pé direito do piso térreo pudesse ser mais alto. Isso gerou um problema, pois o arquiteto e projetista teve de refazer os cálculos e o projeto. Com isso a obra atrasou e a casa não ficou pronta no mês de fevereiro, antes do início das chuvas de março. Jobim acompanhava, no local, quase todos os dias, o passo a passo da construção, muitas vezes interrompida pelas chuvas de março. Foi nesse cenário do som das águas, dos problemas, da espera, da angústia repetitiva, que Tom, segundo ele próprio, foi anotando em um “papel de pão” (um papel comum que embrulhava pães comprados nas padarias antes dos atuais saquinhos), rabiscando, reescrevendo, procurando sons, ritmo, harmonia e palavras. Nesse manuscrito, é possível perceber os versos escritos, com adendos, substituições, palavras ou frases inteiras desprezadas. 

Segundo o autor, essa é uma obra singela e simples, mas é muito complexa pela variação harmônica para poucas notas, pelo ritmo contínuo da chuva, pela letra que descreve o movimento das águas morro abaixo. A solidão da espera de que a chuva diminua para continuar a obra. A enxurrada que desce morro abaixo, levando pau e pedra. O pouco sol que brilha no vidro molhado, a noite que chega sem a chuva ir embora. A conversa na beira do rio, a pescaria, a espera, em meio imagens das árvores, do toco, do nó da madeira. O canto do pássaro matita-perê, do vento, do tamanho da ribanceira. As vigas da casa, a imagem do vão, a espera da festa da cumeeira (quando se termina o telhado, se festeja com um barril de chope). Tudo pelo projeto da casa, da promessa da vida no coração. 

Os amigos de um tradicional bar carioca foram os primeiros privilegiados a ouvir a música, cantada por Tom Jobim ao violão. 

Em 1974, uma nova versão foi gravada no disco “Elis e Tom”. O dueto entre a “pimentinha”, apelido criado pelo poeta Vinícius de Moraes, e o maestro eternizou a canção. De forma metafórica, “Águas de Março” fala das chuvas do fim do verão como um símbolo de renovação da vida. 

Uma pesquisa feita por um jornal de São Paulo, em 2001, com jornalistas, músicos e artistas de todo o Brasil, elegeu Águas de Março, composta em 1972, como a melhor canção brasileira de todos os tempos. 

*Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, nasceu em 25 de janeiro de 1927, Rio de Janeiro e faleceu em Nova Iorque no dia 8 de dezembro de 1994. Mais conhecido pelo seu nome artístico Tom Jobim, foi um compositor, maestro, pianista, cantor, arranjador e violonista brasileiro. 

Do Blog ArtesArtistas 

Águas de Março 

É pau, é pedra, é o fim do caminho.
É um resto de toco, é um pouco sozinho.
É um caco de vidro, é a vida, é o Sol.
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol.
É peroba do campo, é o nó da madeira,
Caingá, candeia, é o Matita Pereira**.
É madeira de vento, tombo da ribanceira.
É o mistério profundo, é o queira ou não queira.

É o vento ventando, é o fim da ladeira.
É a viga, é o vão, festa da cumeeira.
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira.
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira,
Passarinho na mão, pedra de atiradeira.
É uma ave no céu, é uma ave no chão.
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão.

É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto, o desgosto, é um pouco sozinho.
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto.
É um pingo pingando, é uma conta, é um conto.
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando.
É a luz da manhã, é o tijolo chegando.
É a lenha, é o dia, é o fim da picada.
É a garrafa de cana, estilhaço na estrada.

É o projeto da casa, é o corpo na cama.
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama.
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã.
É um resto de mato, na luz da manhã.
São as águas de março fechando o verão.
É a promessa de vida no teu coração.
 

É uma cobra, é um pau, é João, é José.
É um espinho na mão, é um corte no pé.
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração.

É pau, é pedra, é o fim do caminho.
É um resto de toco, é um pouco sozinho.
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã.
É um belo horizonte, é uma febre terçã.
São as águas de março fechando o verão,
É a promessa de vida no teu coração.
 

**Tom Jobim canta, na gravação com Elis Regina, Matita Pereira, mas o nome do pássaro é Matita Perê.

domingo, 23 de janeiro de 2022

A criatividade dos caminhoneiros

 

* Beijo é igual a ferro elétrico: liga em cima e esquenta embaixo. 

* A velocidade que emociona é a mesma que mata. 

* Por que ficar de braços cruzados se o maior homem morreu de braços abertos? 

* Para que um olho não invejasse o outro, Deus colocou o nariz no meio. 

* É triste a dor do parto, mas eu tenho que partir. 

* Se correr, o radar pega; se parar, o banco toma. 

* Motorista é que nem pneu, quanto mais trabalha, mais liso fica. 

*Devagar, mas tô na frente. 

*Rico Saka. Pobre Sakeia. Político Sakaneia! 

*Mulher bonita e dinheiro, só vejo na mão dos outros. 

*Pobre é igual disco de embreagem: quanto mais trabalha, mais liso fica. 

*Se a mulher foi feita de uma costela, imagine se fosse feita do filé? 

*Filho é igual a peido: você só aguenta o seu. 

*Perigo não é um cavalo na pista, mas sim um burro na direção. 

*Escreveu, não leu? Então é analfabeto! 

*O cachorro só é o melhor amigo do homem porque não conhece o dinheiro. 

*Não sou detetive, mas só ando na pista. 

*O rico pega o carro e sai… O pobre sai e o carro pega! 

*Cada ovo comido é um pinto perdido. 

*Não sou notícia ruim, mas ando muito e depressa. 

*Para dirigir um caminhão e usar sutiã, precisa ter peito. 

*Seja dono de sua boca para não ser escravo de suas palavras! 

*A saudade não tem braços, mas aperta. 

*Seja paciente na estrada para não ser paciente no hospital. 

*Não jogue espinhos na estrada. Na volta, você pode estar a pé. 

*A fortuna faz amigos. A desgraça prova se eles existem de fato. 

*Tudo que você usa já esteve em um caminhão. 

*Casei com Maria, mas viajo com Mercedes. 

*Se não existisse avião e político andasse de caminhão, as estradas teriam melhor conservação. 

*Se já fui pobre, não me lembro e se já fui rico, me roubaram. 

*Mais perigoso que um cavalo na estrada, é um burro no volante. 

*Na subida, paciência, na descida, dá licença! 

*Quem não deve, não precisa pagar.        

*Meu coração por você não bate, capota. 

*Não me siga, posso estar perdido. 

*Pardal que acompanha joão-de-barro, vira ajudante de pedreiro. 

*É Melhor falar de caminhão do que falar da vida dos outros. 

*O Amor é igual à fumaça, sufoca, mas passa. 

*Viajo porque gosto, volto porque te amo. 

*Feliz foi Adão, que não teve sogra nem caminhão. 

*Como é triste sonhar com teu carinho e acordar no Mercedinho... 

*A mãe me chama de cachorro; a filha dela me chama de gato. 

*Buraco e pedágio só dão prejuízo. 

*Caminhoneiro que tem mulher feia, viaja sempre tranquilo. 

*Costurar é para modista! Permaneça na sua faixa! 

*Do Amazonas ao Chuí, só paro pra fazer xixi.