terça-feira, 18 de janeiro de 2022

O bagulho tá sinistro, mano!

 

Tráfico veta copinho pra acabar com crackudo vacilão 

Aqui vamos demonstrar como até os traficantes do Rio

repudiam os usuários de crack, apesar de venderem a droga. 

“Salve um crakudo… Rasgue o copo”. As palavras, escritas em um cartaz ao lado da foto de três jovens fumando crack e da imagem de um copo de plástico, fazem parte de uma campanha para tentar dificultar o uso da droga. Como os usuários preferencialmente utilizam copinhos de guaraná natural, a ideia é convencer os fãs da bebida a rasgá-los antes de jogá-los fora. 

Mais inusitado que a campanha é o local em que ela tem sido feita: o cartaz foi encontrado durante uma incursão policial no Morro do Pavão, em Copacabana, na Zona Sul do Rio. Ele estava colado em uma das bocas-de-fumo controladas por traficantes ligados à facção criminosa Comando Vermelho (CV), na principal entrada da favela. 

Abaixo do “slogan da campanha”, um texto expõe motivos para conquistar adeptos: “Pow mano, tá ligado que o bagulho tá ficando sinistro em todas as favelas do Rio de Janeiro, né? Onde você passa tem um menorzinho correndo igual doido com as calças caídas, descalços. Que vergonha. Ou então vê uma mina toda ruim, toda torta, toda magrela. (…)” 

Para finalizar a mensagem, a frase “Pense legal e reflita”. A propaganda para redução do consumo de crack – uma das drogas mais vendidas nos morros e favelas cariocas – pode ser uma confirmação do alerta feito por especialistas: os viciados em crack, conhecidos como “crackudos”, têm uma estimativa de vida menor que os usuários de outras drogas.

Autor do artigo “Crack: o craque do time da morte”, o delegado da Polícia Civil de Sergipe, Archimedes José Melo Marques, ressalta que a mistura química do crack – além da pasta de coca, ácido sulfúrico, querosene e cal virgem – é a responsável por encurtar a vida dos “crackudos”. 

“Tais componentes químicos fazem verdadeira miséria no organismo do dependente do crack, que se torna uma espécie de Zumbi, ou morto-vivo, à espera da sua morte oficial”, destacou o delegado, que está na instituição há 24 anos e atualmente é titular da Delegacia Especial de Apoio aos Grupos Vulneráveis (DEAGV). 

“O conjunto dos elementos químicos citados contribui para uma quase que instantânea ação viciante. Para o dependente da droga, está feito o problema angustiante que é a sua difícil cura física e psicológica. Por isso, a morte dos usuários é estimada, por estudo, em 30% com cinco anos de consumo”, revelou Archimedes Marques. 

O delegado também enfatiza que o tráfico precisa arregimentar cada vez mais adeptos para o uso do produto, justamente porque a cada dia vão se perdendo mais e mais os seus consumidores. “Eles perdem a clientela, fato que não ocorre com os consumidores das outras drogas, e isso causa preocupação aos grandes traficantes, que estão perdendo dinheiro com essa nova moda. Acredito que essa campanha que está ocorrendo nas bocas-de-fumo no Rio de Janeiro, com cartazes pedindo para as pessoas rasgarem os copinhos utilizados para o fumo do crack, seja realmente reflexo dessa “crise”, ou seja, a preocupação dos grandes traficantes com a diminuição dos seus lucros”, opinou. Já o delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Marcus Vinícius Almeida Braga, titular da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD), acredita que a campanha pode ter sido organizada por moradores e comerciantes do Morro do Pavão. 

“Qualquer coisa, qualquer atitude que for influenciar na prevenção do consumo desse crack é muito bem-vinda. Sempre digo que só repressão não adianta. Tem que ter a prevenção. Se comerciantes e moradores já estão se importando com isso, já é uma grande ajuda pra Polícia”, afirmou Marcus Vinícius. 

Mas o cartaz não é a única bandeira na tentativa de desestimular o uso do crack. Um funk batizado como “Cracudo vacilão” tem sido tocado nos bailes realizados nos morros e favelas.

A letra da música diz tudo:

Crakudo Vacilão 

Composição: Mc G3 

Pedra pura
Deixa a gente num mó tédio,
Vendendo a roupa do corpo
E a janela do prédio.
Mas depois...

Triste num canto sozinho,
Lembra que se derramou
A madrugada num copinho.
 

Aí vem o desespero,
Tô com maior cabelão,
Eu vendi a geladeira, a TV e o fogão,
Aí vem o desespero...
Preste muita atenção.
 

Eu vendi a porra toda,
Eu sou um crakudo vacilão
Ih! Ih! Ih! Ih! Ih! Ih! Ih!
Que qué isso?
Se teu bafo mata rato
E o seu cecê mata mosquito.
  

Do Blog Pauta do Dia − Jornalismo Policial


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