terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Parceria

Paulo César Pinheiro 

Parceria é um casamento, mas que dura…
Porque na parceria não há jura,
Não há promessa de fidelidade.
Se, em plena criação, alguém lhe trai,
Você diz ao parceiro e você vai
E volta a ele quando dá saudade.
 

Porque ele também não magoa,
Pois sempre sai alguma coisa boa
Quando na música se prevarica;
Um samba, uma modinha, uma toada…
Depende muito de cada transada,
Mas, se é bem dada, é uma canção que fica.
 

Parceria é um casamento que não cansa
Porque não contrato nem cobrança.
Ciúme tem… mas isso é passageiro.
Quem é traído muitas vezes reage
Propondo aos dois fazer uma ménage
No instrumento do próprio parceiro.
 

Mas, brincadeira à parte, a parceria
É uma amizade que se faz um dia
E que não rompe por qualquer besteira.
É o desejo ardente da Poesia
Que vai pra cama como a Melodia
Deixando frutos pela vida inteira.
   

 

Carioca (Rio de Janeiro RJ em 28 de Abril de 1949) Paulo César Pinheiro começou a escrever poesia e letra em 1962, aos 13 anos de idade. O primeiro parceiro musical foi João de Aquino, seguido depois por Baden Powell, Edu Lobo, João Nogueira, Tom Jobim, Eduardo Gudin, Theo de Barros, Sivuca, Dori Caymmi, Sueli Costa e Pixinguinha, entre outros. E autor de quase mil e quinhentas composições, metade delas gravadas por intérpretes como Elis Regina, Elizeth Cardoso, MPB-4, Nana Caymmi, João Nogueira, Beth Carvalho, Simone, Nelson Gonçalves, Ivan Lins, Sérgio Mendes e Sarah Vaughn. E campeão de festivais − ganhou o primeiro aos 16 anos, com Lapinha, parceria com Baden Powell defendida por Elis na I Bienal do Samba − e autor de músicas para cinema, teatro e TV. 

A canção Pesadelo foi cantada em 13 dezembro de 1973 no espetáculo “Banquete dos Mendigos”*, para marcar os cinco anos do AI-5. E até hoje é entoada como um hino de esperança e resistência. 

Pesadelo 

Mauricio Gomes / Paulo César Pinheiro 

Quando o muro separa uma ponte une.
Se a vingança encara o remorso pune.
Você vem me agarra, alguém vem me solta.
Você vai na marra, ela um dia volta.
 

E se a força é tua ela um dia é nossa,
Olha o muro, olha a ponte,

Olhe o dia de ontem chegando
Que medo você tem de nós, olha aí...
 

Você corta um verso, eu escrevo outro.
Você me prende vivo, eu escapo morto.
De repente, olha eu de novo,
Perturbando a paz, exigindo troco.
 

Vamos por aí eu e meu cachorro.
Olha um verso, olha o outro,
Olha o velho, olha o moço chegando
Que medo você tem de nós, olha aí…
 

O muro caiu, olha a ponte
Da liberdade guardiã.
O braço do Cristo, horizonte
Abraça o dia de amanhã.
 

Olha aí...
Olha aí...
Olha aí...
 

Quando o muro separa uma ponte une (Olha aí...)
Se a vingança encara o remorso pune (Olha aí...)
Você vem me agarra, alguém vem me solta (Olha aí...)
Você vai na marra, ela um dia volta.
 

*Banquete dos Mendigos foi um show organizado por Jards Macalé com a participação de vários artistas, em comemoração dos 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1973, e lançado como um LP duplo em 1979.

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