quinta-feira, 28 de março de 2024

Envelhecer

 

Envelhecer é o único meio de viver muito tempo. 

A idade madura é aquela na qual ainda se é jovem, porém com muito mais esforço. 

O que mais me atormenta em relação às tolices de minha juventude, não é havê-las cometido... é sim não poder voltar a cometê-las. 

Envelhecer é passar da paixão para a compaixão. 

Muitas pessoas não chegam aos oitenta porque perdem muito tempo tentando ficar nos quarenta. 

Aos vinte anos reina o desejo, aos trinta reina a razão, aos quarenta o juízo... 

Quando se passa dos sessenta, são poucas as coisas que nos parecem absurdas. 

Os jovens pensam que os velhos são bobos; os velhos sabem que os jovens o são... 

Sempre há um menino em todos os homens. 

A cada idade lhe cai bem uma conduta diferente. 

Os jovens andam em grupo, os adultos em pares e os velhos andam sós. 

Feliz é quem foi jovem em sua juventude e feliz é quem foi sábio em sua velhice. 

Todos desejamos chegar à velhice e todos negamos que tenhamos chegado. 

Não entendo isso dos anos: que, todavia, é bom vivê-los, mas não tê-los. 

Albert Camus

quarta-feira, 27 de março de 2024

Vergonhas

 As sete maiores vergonhas da história do Brasil

A pedido da Trip, a antropóloga Lilia Schwarcz e a historiadora Heloisa Starling, autoras do recém-lançado “Brasil: uma biografia’’, fazem uma lista dos episódios mais vergonhosos da história nacional. 

No livro, com acesso a documentação inédita e vasta pesquisa, as autoras traçam um retrato completo do país. Dão conta não somente da “grande história”, mas também do cotidiano, da expressão artística e da cultura, das minorias, dos ciclos econômicos e dos conflitos sociais. E, claro, falam também sobre os momentos tensos, de vergonha. 

São eles: 

1 ► Genocídio da população indígena 

Até os dias de hoje há controvérsia sobre a antiguidade dos povos do Novo Mundo. As estimativas mais tradicionais mencionam 12 mil anos, mas pesquisas recentes arriscam projetar de 30 mil a 35 mil anos. Sabe-se pouco dessa história indígena, e dos inúmeros povos que desapareceram em resultado do que agora chamamos eufemisticamente de “encontro” de sociedades. Um verdadeiro morticínio teve início naquele momento: uma população estimada na casa dos milhões em 1500 foi sendo reduzida aos poucos a cerca de 800 mil, que é a quantidade de índios que habitam o Brasil atualmente. 

2 ► Sistema escravocrata 

O Brasil recebeu 40% do total de africanos que compulsoriamente deixaram seu continente para trabalhar nas colônias agrícolas do continente americano, sob regime de escravidão, num total de cerca de 3,8 milhões imigrantes. Fomos o último país a abolir a escravidão mercantil no Ocidente (só o fazendo em 1888, e depois de muita pressão) e o resultado desse uso contínuo, por quatro séculos, e extensivo por todo o território foi a naturalização do sistema. Escravos eram abertamente leiloados, alugados, penhorados, segurados, torturados e assassinados.  

3 ► Guerra do Paraguai 

O Império brasileiro errou em cheio. Avaliou-se que a contenda internacional opondo, de um lado, Brasil, Uruguai e Argentina, e, de outro, o Paraguai seria breve e indolor. No entanto, a guerra – na época chamada de “açougue do Paraguai” ou de “tríplice infâmia” – durou cinco longos e doloridos anos: de 1865 a 1870. A consequência para o lado paraguaio não foi apenas a deposição de seu dirigente máximo, mas a destruição do próprio Estado nacional. Os números de mortes sofridos pelo país são até hoje controversos e oscilam entre 800 mil e 1,3 milhão habitantes. Quanto às estatísticas brasileiras, a relação de homens enviados varia de 100 a 140 mil.  

4 ► Canudos 

Em 1897, a República abriu guerra contra Canudos: uma comunidade sertaneja originada de um movimento sociorreligioso liderado por Antônio Conselheiro. Canudos incomodou o governo da República e os grandes proprietários de terras, pois era uma nova maneira de viver no sertão. Em 1897, o arraial foi invadido por tropas militares, queimado a querosene e demolido com dinamite. A população foi dizimada. Em Os sertões, publicado em 1902, Euclides da Cunha escreve:  “Canudos não se rendeu. Caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, e todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados”.  

5 ► Polícia política do Governo Vargas 

Em 1933, Getúlio Vargas criou a Delegacia Especial de Segurança Política e Social (Desp). Para comandá-la, Vargas entronizou o capitão do Exército, Filinto Müller. Na condição de chefe de polícia, Müller não vacilou em mandar matar, torturar ou deixar apodrecer nos calabouços do Desp os suspeitos e adversários declarados do regime sem necessidade de comprovar prática efetiva de crime. Pró-nazista, sua delegacia manteve um intercâmbio, reconhecido pelo governo brasileiro, com a Gestapo – a polícia secreta de Hitler – que incluía troca de informações, técnicas e métodos de interrogatório.  

6 ► Centros clandestinos de violação de direitos humanos

A ditadura militar instalou, a partir de 1970, centros clandestinos que serviram para executar os procedimentos de desaparecimento de corpos de opositores mortos sob a guarda do Estado – como a retirada de digitais e de arcadas dentárias, o esquartejamento e a queima de corpos em fogueiras de pneus. No Brasil governado pelos militares, a prática da tortura política e dos desaparecimentos forçados não foi fruto das ações incidentais de personalidades desequilibradas, e nessa constatação reside o escândalo e a dor.  

7 ►Massacre do Carandiru 

Mais conhecida como Carandiru, a Casa de Detenção de São Paulo abrigava mais de 7 mil detentos, em 1992 – a capacidade oficial era de 3.500 pessoas. No dia 2 de outubro, uma briga entre facções rivais de presidiários terminou num massacre: a tropa policial entrou no presídio utilizando armamento pesado e munição letal. 111 presos foram mortos e 110 feridos. O cenário era de horror. Passados 21 anos, somente em 2014, 73 policiais foram condenados – todos podem recorrer em liberdade.  

(revistatrip.uol.com.br)

segunda-feira, 25 de março de 2024

O círculo vicioso do medo

 J.J. Camargo*

Todos estamos assombrados com o rumo que a vida moderna assume, pautada pela arbitrariedade, regida pela violência e estimulada pela impunidade. 

A melhor definição de medo vem de Mark Twain: “Os piores problemas que tive em minha vida nunca ocorreram”. 

Ter medo foi, sem dúvida, a grande lição que a minha geração aprendeu nessas últimas décadas. E na contramão da inteligência que nos encanta, o nosso medo não tem nada de artificial. É real ‒ e sufoca. 

Dando-se o tempo de revisitar o passado, percebemos o quanto vivíamos com mais espontaneidade, e era tão natural que fosse assim, que ninguém valorizava esta liberdade, porque simplesmente não tínhamos ideia da maravilha que era e do quanto o futuro nos reservava de perda. 

Circulávamos por todos os lugares sem nenhuma preocupação se era dia ou noite, porque isso não fazia a menor diferença. Como seres naturalmente gregários, andávamos em bandos pela mais inocente das razões: quanto mais parceiros, mais companhia disponível para brincadeiras, deboche e zoação. 

Hoje, as crianças trocaram as brincadeiras na calçada pela solidão segura e insossa das redes sociais, enquanto os adolescentes, antes de pisar na rua, já são alertados que este é o lugar onde mora o perigo, que o solitário é a vítima preferencial, e que o bando, antes de ser parceria, é um escudo protetor. 

Como consequência, os jovens se divertem menos, enquanto os pais, pressionados pela necessidade intransferível de dar ao filho a liberdade de descobrir-se capaz de enfrentar o mundo, fingem naturalidade enquanto veem TV sem prestar atenção, e depois, constritos de angústia, aguardam que a última luz do quarto das “crianças” se apague para que eles possam dormir aliviados, por mais uma madrugada sem sobressaltos. 

Os pobres pais, antes classificados como exagerados e opressores, hoje são reconhecidos como prudentes e realistas. A tentativa de proteger as crias servindo-se da tecnologia disponível explica a quantidade de pimpolhos carregando, com algum deslumbramento, os seus celulares modernos que têm, em princípio, a função de substituírem os braços longos e os olhos atentos de pais assustados. 

Claro que é bom tê-los ao alcance de um chamado, e por essa vantagem ignora-se que o porte desses objetos de cobiça aumenta a chance de exposição ao assalto e a experiência inesquecível de conviver com a sensação de impotência que provamos quando somos assaltados. 

Sem contar a ansiedade que aperta a garganta dos pais toda vez que uma ligação não é prontamente atendida. 

O noticiário cotidiano com latrocínios, lutas entre facções do tráfico e um festival de balas perdidas banalizou a morte e instituiu o círculo vicioso do medo. Na verdade, todos estamos assombrados com o rumo que a vida moderna assume, pautada pela arbitrariedade, regida pela violência e estimulada pela impunidade. 

Mais temerosa está a minha geração, que provou a leveza de viver sem mordaças, muros altos, cercas elétricas, alarmes, cães de guarda e serviços de vigilância, antes da chegada implacável dessa epidemia, onde até a desconfiança nos sistema nos constrange e desespera, porque pronuncia o mais irresgatável de todos os medos: o de ser feliz. 

۞۞۞۞۞ 

*J.J. Camargo é cirurgião torácico, diretor do Centro de Transplantes da Santa Casa de Porto Alegre e membro titular da Academia Nacional de Medicina. 

(Do caderno Vida, do jornal Zero Hora, 23 de março de 2024)

domingo, 24 de março de 2024

Lealdade Feminina

 

“Se um dia tiver que escolher entre o mundo e o amor...

Lembre-se: Se escolher o mundo, ficará sem o amor,

mas se escolher o amor, com ele conquistará o mundo!” 

Albert Einstein 

Durante a Idade Média, no ano de 1141, na Alemanha, Wolf, o Duque da Bavária estava cercado em seu castelo pelos exércitos de Frederick, Duque da Suábia, e de seu irmão Konrad. 

O cerco vinha de muito tempo, e Wolf sabia que a rendição era inevitável. Mensageiros iam e vinham, levando propostas de acordo, condições e decisões. Derrotados, Wolf e seus aliados estavam dispostos a entregar o castelo ao pior inimigo. Mas as mulheres desses homens não estavam nem um pouco preparadas para a derrota. Enviaram uma mensagem a Konrad, irmão do duque inimigo, pedindo a promessa de salvo-conduto para todas as mulheres das cercanias do castelo e permissão para que elas levassem todos os bens que pudessem carregar. 

A permissão foi concedida e os portões do castelo se abriram. As mulheres foram saindo, levando consigo estranha carga. Não traziam ouro ou joias. Cada uma vinha curvada sob o peso do marido, na esperança de salvá-lo da vingança dos inimigos vitoriosos. 

Dizem que Konrad, bom e piedoso de fato, comoveu-se até às lágrimas diante daquela atitude extraordinária. Apressou-se em garantir a liberdade às mulheres e segurança aos maridos. Convidou a todos para um grande banquete e fez um acordo de paz com o duque da Bavária em termos mais favoráveis que o esperado. 

Desde então o monte onde estava situado o castelo passou a ser chamado de “Lealdade Feminina”. 

As mulheres, desconhecendo a força de que são portadoras, muitas vezes saem a campo para disputar forças com os homens. Desconhecem que, no dia em que quiserem, mudarão o mundo. À mulher cabe uma importante quota de contribuição com a obra de Deus, oferecendo a sua sensibilidade e a sua inteligência em favor da vida, uma vez que cabe a ela o conduzimento dos homens, dando-lhes as primeiras noções de vida. Assim, se estas mulheres resolvessem mudar a sociedade, bastaria tomar as mãos do homem, ainda criança, e fazer dele um homem justo, um homem de bem. Mas para que isso aconteça, é preciso que todos, homens e mulheres tomem consciência da sua missão na face da terra, que está muito além da disputa de forças e de conquistas de bens materiais. 

Um dia, um casal discutia sobre os problemas domésticos. Em determinado momento estavam disputando quem representava o cabeça do casal. Isso era quando ainda existia na legislação brasileira esse papel. Após alguns argumentos, a mulher falou com muita sabedoria: “De fato você é o cabeça perante a lei, mas eu sou o pescoço, e se eu amanhecer com torcicolo você estará com dificuldades, pois perderá totalmente os movimentos.” Todos riram e o assunto ficou encerrado. Todos nós, homens e mulheres, somos filhos de Deus criados para a perfeição. Se temos que disputar alguma posição, que seja a de mais servir ao criador com coragem e disposição. 

(Texto da internet de autor desconhecido)

sexta-feira, 22 de março de 2024

Cauby Peixoto: cantei, cantei.

 Mestre do show business e ídolo popular, 

fez shows até o fim da sua vida.

Cauby Peixoto – foto de 2015

O cantor de Cauby Peixoto era ouvido pelos corredores do hospital onde estava internado em março de 2015 ‒ para exames de rotina, segundo Nancy Lara, fã que se tornou sua fiel empresária. Assim, cantando por prazer, o artista teve a ideia de seu último disco, “A bossa de Cauby Peixoto” (“Vamos gravar bossa nova!”, disse, numa visita do produtor Thiago Marques Luiz). 

‒ Continuo com a voz que Deus me deu, não desafino, estou gravando. Eu acredito na força da natureza e que nasci para levar a vida cantando ‒ afirmou, à época. 

O episódio ilustra a relação apaixonada de Cauby com a música. Relação que começou em 10 de fevereiro de 1931, quando nasceu, em Niterói, numa família de instrumentistas. Seu pai era o violonista Cadete, seu tio era o pianista Nonô. Seu primo (o cantor Ciro Monteiro) e seus irmãos (o pianista Moacyr Peixoto, o trompetista Arakén Peixoto e a cantora Andyara) também construíram carreira na área. 

No colégio de padres salesianos, Cauby cantou no coro. Mas apenas na virada dos anos 1940 para os 1950 ele começaria a tentar a sorte como calouro no rádio e como crooner em boates do Rio. Em 1951, gravou pela primeira vez. No ano seguinte, foi para São Paulo, onde conheceu Di Veras, empresário que impulsionaria sua carreira. 

‒ Meu empresário, Di Veras, inventou mentiras: que minha voz tinha seguro de três milhões, que eu era o recordista de cartas, de fotos. E eu ajudava: fazia o tipo modelo, gostosão ‒ contou.

As cenas das roupas rasgadas pelas fãs também faziam parte do planejamento de Di Veras, que preparava paletós com costuras fracas, fáceis de serem rompidas. Falsos “noivados” também foram criados para fortalecer sua imagem de galã viril. Mas as estratégias de Di Veras não teriam tido o mesmo efeito se Cauby não fosse Cauby ‒ o artista que se definiu em 2001 como “o resultado fantástico da carreira sólida conciliada com a fama”. A frase sintetiza o cantor. Estão ali a vaidade, a certeza da condição de estrela, a afirmação do talento indubitável e o conhecimento do show business. Poucos na música brasileira souberam como Cauby ‒ e nenhum antes dele ‒ ocupar o lugar de ídolo popular. 

A trilha de sucesso começaria com “Blue gardênia”, seu primeiro sucesso, em 1954. Em 1956, ano de “Conceição”, já era o cantor mais popular do Brasil. Na época, Cauby chegou a tentar uma carreira nos Estados Unidos, onde se lançou como Ron Coby. 

Seguiu firme na década de 1960, apesar da chegada da bossa nova e da geração dos festivais. Mas, nos anos 1970, foi perdendo força na mídia, embora continuasse gravando (inclusive repertório de compositores jovens, o que de alguma forma sempre fez ao longo da carreira). Foi nessa década também que começaram a surgir referências na imprensa a seus problemas de audição, que o acompanharam até o fim da vida, sem impedi-lo de cantar. 

A volta de Cauby viria apenas em 1980, impulsionada por “Bastidores” (de Chico Buarque). O disco tinha ainda “Cauby! Cauby!”, faixa-título de Caetano Veloso, “Dona Culpa”, de Jorge Ben, “Oficina”, de Tom Jobim, e “Brigas de amor”, de Roberto e Erasmo Carlos. 

A partir dos anos 1980, com maior ou menor frequência na mídia e nos estúdios, seguiu sendo reverenciado. Ganhou prêmios, uma biografia (“Bastidores”, de Rodrigo Faour), um musical (“Cauby”, no qual foi vivido por Diogo Vilela) e um documentário (“Cauby ‒ Começaria tudo outra vez”, de Nelson Hoineff). No ano passado, o artista iniciou a turnê “120 anos de música”, ao lado de Ângela Maria, que passou pelo Teatro Municipal. 

No filme de Hoineff, de 2015, o cantor falou sobre sua sexualidade, assunto que sempre evitava (“Eu era um garoto quando ia para os morros transar com os veados. Depois, eu comecei a ter namoradas”). 

O cantor morreu em 15 de maio de 2016, aos 85 anos, vítima de uma pneumonia*. Ele estava internado no Hospital Sancta Maggiore, em São Paulo. 

Cauby foi enterrado no cemitério de Congonhas. Antes, seu corpo foi velado ao longo do dia na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Amigos como Ângela Maria estiveram presentes: 

‒ Eu não esperava que ele fosse tão cedo. Perdi não só um amigo, mas um irmão. A música que eu mais gostava de cantar com ele era “Ave Maria do Morro” ‒ disse Ângela. 

Matéria publicada no caderno Cultura de O Globo, em 28.04.2021 

* Há vacinas contra pneumonia, que é recomendada principalmente para idosos com baixa imunidade.

quinta-feira, 21 de março de 2024

A importância do Sargento

 

Dois leões fugiram do Jardim Zoológico. Na fuga, cada um tomou um rumo diferente. Um dos leões foi para as matas e o outro foi para o centro da cidade. Procuraram os leões por todo o lado, mas ninguém os encontrou. Depois de um mês, para surpresa geral, o leão que voltou foi justamente o que fugira para as matas. Voltou magro, faminto, alquebrado. Assim, o leão foi reconduzido a sua jaula. 

Passaram-se oito meses e ninguém mais se lembrou do leão que fugira para o centro da cidade, quando um dia, o bicho foi recapturado. E voltou ao Jardim Zoológico gordo, sadio, vendendo saúde. Mal ficaram juntos de novo, o leão, que fugira para a floresta, perguntou ao colega: 

- Como é que conseguiste ficar na cidade esse tempo todo e ainda voltar com saúde? Eu, que fugi para a mata, tive que voltar, porque quase não encontrava o que comer! 

O outro leão então explicou: 

- Enchi-me de coragem e fui esconder-me num quartel. Cada dia comia um militar e ninguém dava por falta dele. 

- E por que voltaste então para cá? Tinham acabado os militares? 

- Nada disso. Militar é coisa que nunca se acaba. É que eu cometi um erro gravíssimo. Tinha comido o General, dois Coronéis, cinco Majores, três Capitães, dez Tenentes da AMAN, doze Aspirantes, quinze Oficiais QCO, várias OTTs, comi dezenas de militares e ninguém deu por falta deles! Mas, no dia em que eu comi um Sargento... Estraguei tudo! Furou o mapa da força... Deram parte de ausência! Declararam desertor, busca, diligência.... fui descoberto!

quarta-feira, 20 de março de 2024

Faze da tua casa uma festa!

 Neneca Pereira

Faze da tua casa uma festa!
Ouve música, canta, dança, compõe, toca um instrumento.
Faze da tua casa um templo!
Reza, ora, medita, silencia, acalma, pede, agradece.
Faze da tua casa uma escola!
Lê, escreve, pesquisa, desenha, pinta, borda, costura, 
estuda, aprende, ensina.

Fotografa e faz algum curso.
Enfim, faz da tua casa um local criativo de amor.
 

Faze da tua casa uma loja!
Limpa, arruma, organiza, decora, etiqueta, vende, doa.
Faze da tua casa um restaurante!
Cozinha, come, prova, cria receitas, cultiva temperos, planta uma horta.
Faze da tua casa um centro cultural!

Declama poesia, improvisa um monólogo, joga videogame, cartas, xadrez, dados, vê filmes, séries, novelas, desenhos, documentários. Ouve com atenção todas as notícias, as informações sérias que te acrescente como pessoa.

Filtra as notícias falsas.
Enfim, faz da tua casa um local criativo de amor.
 

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Nota 1: O poema costuma ser erroneamente atribuído a Cora Coralina.

Nota 2: O nome da poetisa também aparece como Neneca Parreira.