domingo, 31 de julho de 2022

Histórias de bichará

 Paulo Mendes

Imagem da internet

Quando o inverno mostra sua cara nesses campos e fundões de invernada, quando o minuano assobia na pauta comprida dos alambrados, compondo cantigas de brancas geadas, quando a aragem gelada se esgueira por entre as frinchas dos ranchos e casebres, neste momento, nós, os daqui do Sul, procuramos abrigo. Este, pode ser uma japona, uma campeira, um pala, um poncho ou o velho bichará feito a mão pelas velhas tecelãs do pago. Uma tarde fria agosto, o velho Otaviano bebericava um aperitivo de cachaça com bitter no bolicho, fumando um baio comprido de fumo da Quarta Colônia, quando me atrevi a perguntar: “Seu Otaviano, de todas as coisas que o senhor teve na vida, do que mais o senhor tem saudade?” Surpreso com a pergunta, o velho olhou por uns minutos para a estrada deserta e triste, soltou uma baforada longa e respondeu: “Já tive saudades de amores perdidos, dos meus 18 anos, dos filhos que deixei pelo caminho. Hoje, sinto frio até nos ossos e só tenho saudade do meu velho bichará.” 

Lembro que a menina Antonia, filha mais nova do changueiro Pedro Leco, do Guassupi, teve uma doença rara e não durou muitos dias no hospital. Houve uma comoção na vizinhança, o peão era benquisto por todos, trabalhador, habilidoso na cutelaria, fazia umas facas lindaças a partir de qualquer material que lhe davam, como molas, adagas antigas, pontas de espadas e ferros diversos. Fomos ao enterro, um dos mais tristonhos que já presenciei nesta já minha longa vida. Nunca esqueço do Leco agarrado à filhinha, desesperado, tapado em pranto, quando tirou o bichará do corpo e enrolou o corpo da criança. “Como meu anjinho vai suportar essas friagens solita numa cova na escuridão? Como vou viver sem o brilho de seus olhos me alumiando, se era ela a coisa mais valiosa que tinha?”, perguntava aos gritos. Ah, meus amigos e amigas, são tantas as tristezas que presenciei nesta vida. O Leco realmente não conseguiu mais viver como antes, não tinha forças para trabalhar, passava os dias bebendo e um dia desapareceu da Vila Rica, nunca mais se soube dele e da sua pequena família. 

Quantos gaúchos apeavam no bolicho naquelas invernias, atiravam o pala para trás e diziam: “Que seria de mim sem este galpão de lã”. Eu ria e sonhava com um daqueles abrigos para me esquentar nas noites friorentas. Até que um dia aconteceu um fato que marcou para sempre minha vida com um típico pala campeiro, desses de pura lã de ovelha crioula. Foi assim, seu Lara, o gaiteiro cego, morava conosco e eu costumava levar-lhe à noite, no galpãozinho, um prato de comida um copo de água. Numa delas, agradecido, disse-me: “Quando me for, entregue a gaita para minha neta Amélia. E este bichará é para ti.” 

Hoje, olho para o velho bichará que nunca se entrega, parece até um farroupilha de lança na mão, impávido no alto da coxilha, sem medo da morte, defendendo a terra amada em que nasceu. Ah, bichará de antanho, símbolo de proteção, amizade e tradição. Faço num mate, visto este pala e olho lá para o longe, depois do rio. Penso na minha gente e rezo para que nunca passe necessidades. Que a alma dessa gente sulina possa sempre se aquecer debaixo das tranças quentes de um bichará 

(Da coluna Camperadas, no Correio do Povo, 31 julho de 2022) 

Glossário 

* Bichará: lã grossa que serve para fazer poncho ou cobertor. 

* Pala: poncho leve de brim ou seda com as pontas franjadas. 

* Minuano: vento frio e seco que sopra do sudoeste no inverno, em geral por três dias: minuano-limpo. 

* Frincha: fenda, fisga, greta.

* Bolicho: o mesmo que bodega. Pequeno armazém de secos e molhados. 

* Baio comprido: cigarro de palha, o nome baio provém da semelhança de cor da palha com o pelo do cavalo. 

* Quarta Colônia foi o quarto assentamento de imigrantes italianos no Rio Grande do Sul. Após Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Garibaldi, a região central do estado recebeu 70 famílias de imigrantes vindos da Itália a partir de 1877 para povoar a localidade. Foi o único destino fora da serra gaúcha. 

* Changueiro: pessoa que obtém seu sustento mediante a realização de trabalhos esporádicos. 

* Guassupi: está localizada na Microrregião de Santa Maria no estado do Rio Grande do Sul (RS) 

* Alumiando: o mesmo que: iluminando, reluzindo, acendendo, resplandecendo, brilhando, ilustrando. 

* Coxilha é uma colina localizada em regiões de campos, podendo ter pequena ou grande elevação, em geral coberta de pastagem. 

P.S. “Campereadas”: Crônicas, contos e causos do Sul de Paulo Mendes.


sábado, 30 de julho de 2022

“O Getúlio matou o saci”

 

Pasquale Cipro Neto 

A primeira coisa que faço quando entro num avião da TAM* é procurar o delicioso “Almanaque Brasil de Cultura Popular”, editado por Elifas Andreato e distribuído aos passageiros dessa empresa aérea.

Na semana passada, numa viagem de Brasília a São Paulo, fui golpeado por “Sinceramente, Brasil!”, emocionante texto do próprio Elifas. Diferentemente do que o título talvez sugira a todos os que fomos humilhados pelo torpe ufanismo dos tristes tempos da ditadura, que deixou fantasmas dos quais muitos de nós ainda não nos livramos, não se trata de mero libelo pseudopatriótico.

Elifas não é gente dessa estampa, como diria mestre Paulo Vanzolini. Trata-se do relato maduro e sensível da “primeira notícia do Brasil”, que lhe chegou “a um roçado no extremo norte do Paraná”, onde o menino Elifas vivia com a família, cultivando café.

Ao voltar de mais um dia de trabalho, Elifas e seus companheiros mirins não encontraram a avó Maria, “portuguesa risonha e religiosa”, que sempre os aguardava na varanda para abençoá-los pelo dia trabalhado.

A hora do jantar já tinha passado, quando, rezando, vestida de luto e com um véu preto que lhe cobria o rosto, a avó chegou à cozinha e deu a notícia: “O Getúlio matou-se a si”. “Exultei", escreve Elifas, que entendera “O Getúlio matou o saci”. “Tinha pavor do saci e saber que ele estava morto me alegrava”, explica Elifas.

A forma “matou-se a si”, empregada pela avó portuguesa, encerra um dos interessantes casos de pleonasmo de nosso idioma. Quando se fala em “pleonasmo”, muita gente logo pensa em “subir para cima”, “descer para baixo” ou “entrar para dentro”, casos em que a redundância de termos não confere à frase elegância, clareza ou vigor. Mas o pleonasmo não é necessariamente vicioso. No caso de “matou-se a si”, temos a forma átona “se” (reflexiva) revigorada por sua equivalente tônica, “a si”.

Isso é comum em vários registros linguísticos, orais e escritos. “Pobre te vejo a ti”, escreveu o baiano Gregório de Matos. Na Bahia, por sinal, esse caso é comum também na oralidade, que ainda guarda traços barrocos.

Em “Ela É Carioca”, de Tom e Vinicius, temos outro exemplo: “Ela é meu amor, só me vê a mim, a mim que vivi para encontrar na luz do seu olhar a paz que sonhei...”. A cena se repete: a forma átona “me” é reforçada pela equivalente tônica (“a mim”).

Uma das mais conhecidas frases atribuídas a Sócrates (o filósofo, é claro) em português é simplesmente “Conhece-te a ti mesmo”. Agora, as formas átonas e tônicas correspondentes são “te” e “a ti”.

Essa estrutura é tão comum que gerou até o bem-humorado título de uma obra de auto-ajuda de Agamenon Mendes Pedreira, pseudônimo do pessoal do Casseta & Planeta. O livro se chama “Ajuda-te a Mim Mesmo”. Eis um belo exemplo de como valer-se do conhecimento de uma estrutura linguística para, subvertendo-a, atingir determinados fins.

Um exemplo recente desse tipo de subversão é a genial “Fora de Si”, de Arnaldo Antunes. O texto merece análise detalhada, o que prometo fazer brevemente. É isso. 

(Folha de S.Paulo, 12 de abril de 2001) 

* O dia 5 de maio de 2016 ficará marcado na história da aviação brasileira. Após 39 anos, a TAM deixa de existir a partir de hoje, assim como a chilena LAN. Juntas agora elas são Latam Airlines, ou apenas Latam.

sexta-feira, 29 de julho de 2022

O homem do sapato branco

 Jacinto Figueira Júnior

Nos anos 50, ele fez sucesso no meio musical com sua banda country “Junior e seus Cowboys”, mas só ingressou na TV em 1963, com o programa “Fato em Foco”, transmitido pela TV Cultura e um ano depois com “Câmera Indiscreta”, na mesma emissora. 

Ainda passou pela Rádio Nacional de São Paulo (atual Rádio Globo) nos anos 1960 e 1970. Nessa época gravou a música “O Charreteiro”, que fez sucesso graças ao programa de rádio de Silvio Santos, que a tocava diariamente e que chegou a lhe conceder uma medalha de ouro no quadro “Sobe e Desce”, no qual os ouvintes opinavam se a música deveria continuar a ser tocada (sobe) ou devia ser substituída por outro sucesso (desce). Esse sucesso como cantor o fez até participar de uma telenovela e de uma fotonovela, publicada numa revista para o público feminino nos anos 60. 

No seu próprio programa de rádio na Rádio Nacional (depois Rádio Globo), havia um quadro com dramatizações radiofônicas. 

Mas o que levou a se tornar conhecido nacionalmente e considerado um precursor foi seu programa “O Homem do Sapato Branco”, que criou em 1966 pela TV Globo, que passou para a Televisão e logo foi interrompido devido a problemas com a ditadura militar. Depois retornaria já nos anos 80, passando por Record, SBT e Bandeirantes. 

Costumava entrevistar seus convidados usando um sapato branco, que sempre era focalizado pelas câmeras. A ideia de usar os sapatos brancos surgiu porque era a cor dos sapatos que os médicos e os psiquiatras usavam, e Jacinto pretendia ser uma espécie de “médico” do povo em seus programas. 

Em entrevista a Antonio Abujamra, Jacinto Figueira Júnior falou sobre a ideia que se faz no Brasil, de ter sido o introdutor do estilo “mundo cão” na televisão brasileira. [carece de fontes] Ele trazia para o palco casais com problemas e que chegavam a brigar na frente das câmeras. Dando detalhes de sua vida, falou sobre a sua eleição para deputado e a sua posterior cassação pelo regime militar. Nessa oportunidade, denunciou perseguição do ex- Ministro da Justiça Luís Antônio da Gama e Silva. Na oportunidade, também afirmou que era maçom, ligado à Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo. 

A transmissão de programas policiais de apelo popular foi depois adotado ainda nos anos 80 e continua até hoje, com apresentadores como José Luiz com apresentadores como José Luiz Datena e outros. 

Uma de suas última aparições foi no telejornal “Aqui Agora”, nos anos 90, no SBT. 

Vítima de um derrame em 2001, Jacinto ficou com uma série de sequelas, como problemas de locomoção e de audição. Morreu no hospital de Beneficência Portuguesa, no bairro Paraíso, em São Paulo e foi sepultado no cemitério da Quarta Parada. Estava internado desde o dia 22 de novembro de 2005, devido a problemas pulmonares. 

(Da Wikipédia − A enciclopédia livre)

quinta-feira, 28 de julho de 2022

Astronomês

 Vocabulário: 

Coluna 1

Coluna 2

Coluna 3

Nível culto: 

0.    Planeta

1.    Satélite

  1.  Asteróide

  

0.    Comprimido

1.    Contraído

  1.  Cintilante

 

      0. Especial

1.    Elíptico

  1.  Crítico

Nível Sábio: 

3.    Cometa

4.    Objeto

5.    Corpo

  1.  Meteoro

  

3.    Expansivo

4.    Estacionário

5.    Anular

  1.  Anão

  

3.    Axial

4.    Espiralado

5.    Zenital

  1.  Incandescente

Nível Gênio: 

7.    Quasar

8.    Pulsar

  1.  Buraco negro

 

     7.    Globular

8.   Massivo

  1.  Binário

  

7.     Em colapso

8.     De Nêutrons

9.     No horizonte de eventos

Palavras alternativas:

          Astro

         Núcleo

         Anel

  

         Duplo

         Gigante

         Rotativo

 

          Gravitacional

         Magnético

         Jovem

 

 Indicações de Uso 

Olhar para cima é um dos esportes mais praticados pela humanidade. Às vezes resulta em terríveis tombos ou topadas, mas, na maior parte das vezes, excita a comichão da curiosidade e produz extraordinárias teorias sobre o fim do mundo. 

Atualmente, a prática da Astronomia (nos países civilizados) não apresenta maiores riscos físicos ou morais, embora num passado relativamente próximo tenha sido responsável pela torrefação de sábios descobridores de planetas. A esse tipo de fogueira foi dado então o apropriado nome de “queima de arquivo”. 

Exemplo de Aplicação 

Diálogo no apê de cobertura: 

− Que bom que você veio! A noite está linda! 

− Você garantiu que hoje dava para gente ver o COMETA... 

− O cometa, o planeta, os satélites estacionários... Tudo que gira neste lindo Universo Globular Axial! 

− Também dá para ver a lua? 

− A lua, o sol, os Astros em Colapso e os Asteróides Zenitais... O que você quiser, eu mostro! Até um Buraco Negro! 

− Eu, hein... e cadê a luneta? 

− Está guardada lá dentro... Vamos buscar? 

− Sei não... 

− Vem, bobinha... lá eu te ensino como funciona um Pulsar Espiralado e os Corpos Anulares Expansivos! Vem...

(Do livro “Manual do Cara-de-Pau”, de Carlos Queiroz Telles)

Uma antologia de frases venenosas

 sobre a relação homem/mulher 

(Do livro “O Amor de mau humor”, de Ruy Castro)

Þ Não há amor que resista quando o homem toma champagne no sapato de uma mulher e engasga com uma palmilha do Dr. Scholl. (Phyllis Diller) 

Þ Amar é... ser a primeira a reconhecer o corpo no Instituto Médico Legal. (Ivan Lessa) 

Þ O homem que beija o chão que sua garota pisa provavelmente sabe que o pai dela é o proprietário do terreno. (Laurence J. Peter) 

Þ O homem perde o seu senso de direção depois de quarto drinques; a mulher, depois de quatro beijos. (H.L. Mencken) 

Þ Um beijo pode ser uma vírgula, um ponto de interrogação ou um ponto de exclamação. E é isto o que uma garota precisa aprender de gramática. (Mistinguett) 

Þ Você é a mulher mais linda que já vi – embora isto não conte muito a seu favor. (Groucho Marx) 

Þ Um cavalheiro é um homem que jamais bate numa mulher sem primeiro tirar o chapéu. (Fred Allen) 

Þ Não cruze as pernas no meio da sala. Se você quiser mostrá-la, leve duas ou três pessoas de cada vez para um cantinho discreto. (Leon Eliachar) 

Þ [Quando lhe perguntaram quem era bom de cama]: Meu marceneiro. Só ele é capaz de fazer uma cama para o meu tamanho. (Jô Soares) 

Þ Nunca me casei porque nunca precisei. Tenho três bichinhos em casa que, juntos, perfazem um marido: um cachorro que rosna de manhã, um papagaio que fala palavrões o dia todo e um gato que volta de madrugada para casa. (Maria Corelli) 

Þ Algumas pessoas querem saber qual é o segredo do nosso longo casamento. É simples: jantamos fora duas noites por semana. Um belo jantar à luz de velas, com música suave, perfeita para dançar. Ela vai às terças e eu, às quartas. (Henny Youngman) 

Þ Outro dia minha mulher e eu comemoramos nossas bodas de lata – dez anos comendo enlatados. (Idem) 

Þ É perigoso ter muitas mulheres. Quem tem seis, por exemplo, tem cinco oportunidades de ser passado para trás. (Antonio Maria) 

Þ [Ao ser perguntada por um amante se ele podia confiar nela]: Claro. Centenas já confiaram. (Mae West) 

Þ No primeiro jantar que minha mulher preparou para nós, engasguei com um osso no pudim de chocolate. (Woody Allen) 

Þ Quando um homem leva flores para sua mulher sem uma razão – há uma razão. (Molly Macgee) 

Þ As mulheres se dão para Deus quando o diabo já não quer nada com elas. (Sophie Arnould) 

Þ Um arqueólogo é o melhor marido para uma mulher. Quanto mais ela envelhece, mais ele se interessa por ela. (Aghata Christie) 

Þ Em nossa noite de núpcias, minha mulher parou em pleno ato e me aplaudiu de pé. (Woody Allen) 

Þ Ladrões exigem a bolsa ou a vida. Mulheres exigem ambos. (Samuel Butler) 

Þ As mulheres são umas chatas. A gente leva pra passear, leva pra dançar, leva a um bar, leva ao cinema e, mesmo assim, elas vivem reclamando que nós nunca as levamos a esse tal de orgasmo. (Angeli) 

Þ A coisa mais profunda em certas mulheres é o sono. (Sacha Guitry) 

Þ Conte-me tudo a seu respeito – suas lutas, seus sonhos, seu número de telefone. (Peter Arno) 

Þ Quando o homem se interessa pelo corpo de uma mulher, ela o acusa de só se interessar pelo corpo dela. Mas, quando ele não se interessa pelo corpo dela, ela o acusa de só se interessar pelo corpo de outras mulheres. (P.J. O’Rourke) 

Þ As mulheres abandonadas pelos seus amantes acham um grande reconforto na descoberta súbita dos méritos de seus maridos. (Oscar Wilde) 

Þ O problema de resistir a uma tentação é que você pode não ter uma segunda chance. (Laurence J. Peter) 

Þ A intuição feminina é o resultado de milhões de anos sem pensar. (Rupert Hughes) 

Þ Sabe por que Deus privou as mulheres de senso de humor? Para que elas pudessem amar os homens, em vez de rir deles. (Sra. Pat Campbell) 

Þ A única maneira de enfrentar uma mulher é com o seu chapéu. Pegue-o e fuja. (John Barrymore) 

Þ Quando uma mulher erra, os outros homens acertam o passo atrás dela. (Mae West) 

Þ Um ladrão roubou o cartão de crédito de minha mulher. E quer saber de uma coisa? Está gastando menos que ela! (Henny Youngman) 

Þ O homem de quarenta é que está no ponto: tem mais educação, mais charme, mais postura – e mais dinheiro. (Mae West) 

Þ Custamos a nos casar. Ela se recusava a se casar comigo enquanto eu vivesse bêbado e eu me recusava a me casar com ela quando estava sóbrio. (Henny Youngman) 

Þ Quem tem mulher bonita, que vá enviuvar em Belo Horizonte. Mas nunca deixar uma viúva em Ipanema ou no Leblon. (Antonio Maria) 

Þ Não se preocupe com o que você diz aos homens. São tão vaidosos que nunca acreditam que você está falando a sério quando diz aquelas coisas horríveis a um deles. (Agatha Christie) 

Þ Minha mulher gasta uma fortuna em cremes e óleos para passar pelo corpo inteiro. Quando eu tento agarrá-la, ela escorrega para fora da cama. (Henny Youngman) 

Þ Eu me visto para as mulheres e me dispo para os homens. (Angie Dickinson) 

Þ O salto alto foi inventado por uma mulher que só tinha sido beijada na testa. (Christopher Morley) 

Þ Ser mulher é um negócio dificílimo, já que consiste basicamente em lidar com homens. (Joseph Conrad) 

Þ Nunca odiei um homem o suficiente para lhe devolver os diamantes. (Zsa Zsa Gabor) 

Þ Nunca nos damos conta de como um mês é curto até que começamos a pagar pensão à ex-mulher. (John Barrymore) 

Þ Pensão judicial é um sistema pelo qual duas pessoas cometem um erro e uma delas continua a pagar por ele. (Mark Twain) 

Insultos

 

Aqui vai uma coleção de frases para você usar contra os seus desafetos favoritos. Basta substituir “ele” ou “ela” pelo nome da pessoa que você quer insultar. 

Ela é tão perua que mandou retocar seus raios-x. 

Se você comprá-lo pelo que ele acha que vale e vendê-lo pelo preço de mercado, vai tomar um baita prejuízo. 

Os dez melhores anos da vida dela foram entre os 29 e os trinta. 

Da última vez que fez aniversário, ele mandou aos próprios pais um telefonema de parabéns. 

Quando as cobras e os ratos ficam bêbados, eles veem ele. 

Ela é tão tímida que nunca abre a boca – exceto, naturalmente, quando não tem nada a dizer. 

Não sei por que ele fica ofendido só porque os outros falam enquanto ele está interrompendo. 

Se ele te disser bom-dia, acho bom tu ligares para o homem do tempo e checar. 

Não é que ela tenha um complexo de inferioridade – ela é inferior mesmo. 

Quando ele nos dá um tapinha nas costas é porque está procurando o melhor lugar para espetar a faca. 

Emprestei dinheiro a ele certa vez e nunca mais o vi. E quer saber? Valeu a pena. 

Certa vez, quando era criança, ele fugiu com um circo. Mas a polícia o encontrou e o obrigou a devolver o circo. 

Ele é a maior prova que eu conheço da reencarnação – ninguém poderia ser tão burro em apenas uma vida. 

Acho que ele deve ter um sexto sentido. O que eu duvido é que tenha os outros cinco. 

De que adianta contar para ela uma piada de duplo sentido? Ela não vai entender nenhum dos dois. 

Se ele mordesse seu próprio coração, quebraria os dentes. 

Ele é tão genial que ainda vai inventar o rádio em cores. 

Ela já tingiu tantas vezes o cabelo que até sua caspa é em tecnicolor. 

O pai dele queria um menino; a mãe, uma menina. Ambos devem estar satisfeitos. 

Eu não diria que você é um perfeito idiota. Ninguém é perfeito. 

Não vou pedir para você se portar como um ser humano. Sei que você não faz imitações. 

Quando ele nasceu, deram uma salva de 21 tiros de canhão. Infelizmente, erraram todos. 

E é melhor você se esconder que o lixeiro está chegando!

quarta-feira, 27 de julho de 2022

Porto Alegre é demais

O que um porto-alegrense não pode deixar de fazer na vida.

Fabrício Carpinejar

Porto Alegre tem suas belezas secretas. Não há como morar aqui sem experimentar uma série de prazeres obrigatórios: 

− Atravessar a Praça da Alfândega e assistir a uma das partidas de damas com tampinhas de garrafa de senhores de boina. Entender que a amizade não se aposenta. 

− Tirar uma foto no lambe-lambe e guardá-la dobrada na carteira. 

− Enfrentar o minuano no Cais Embarcadero, cuidando para não engolir o vento enquanto escolhe o restaurante. 

− Comer o cachorro-quente do Rosário de pernas abertas para não sujar a roupa. Comer um xis-salada de pernas abertas e ainda assim sujar a roupa. 

− Excursionar com turma ao Morro do Osso, carregando cacetinho com mortadela para saborear no topo, a 143 metros de altitude. Suspirar ao avistar o Delta do Jacuí e a praia de Ipanema. 

− Meditar sobre a sua existência, após uma fossa amorosa, no mirante do Morro Santa Teresa. Uma maneira de enxergar as dificuldades de cima. 

− Tomar sorvete com frutas no Mercado Público arrumando espaço no estômago depois de um mocotó. 

− Andar de bicicleta de dois na Usina do Gasômetro, sempre pedalando mais do que o outro. 

− Brincar de auto-choque com seus amigos no parque, encurralando-os no canto da nostalgia. 

− Conseguir a loteria de uma vaga para estacionar nas vias próximas da orla de Ipanema nos finais de semana. 

− Ser arrastado à força, com a coleira puxada pelo seu animal de estimação, para que ele brinque no cachorródromo, no Parcão ou na Encol. 

− Dedicar uma tarde no MARGS para conhecer obras de pintores célebres, como Renoir, ou se aventurar nos acervos dos artistas contemporâneos na Fundação Iberê Camargo. 

− De casalzinho, beber espumante no terraço da Casa de Cultura Mario Quintana, sendo um pouquinho passarinho (pois os problemas passarão). 

− Aproveitar as promoções da Feira do Livro e entrar na fila de autógrafos de seu autor predileto. 

− Namorar no pedalinho, esforçando-se para chegar ao meio do açude e, então, descansar ao sol estendendo os braços nos ombros de quem ama. 

− Assar um churrasco em pleno Marinha do Brasil, naquelas churrasqueiras de tijolinhos, com o porta-malas aberto contendo cooler de cerveja. 

− Colocar o colete laranja e passear no barco Cisne Branco para observar as ilhas que integram a cidade (da Pintada, do Pavão, das Flores). 

− Fazer piquenique no Jardim Botânico e ir embora apenas depois da invasão das formigas. 

− Adquirir discos de vinil nas galerias e viadutos do Centro. 

− Tomar um chope cremoso de tarde consigo mesmo na ladeira. E falar que só será unzinho. Porque você merece. 

− Entrar no túnel verde da Rua Gonçalo de Carvalho com a família, em especial no inverno, quando as folhas das tipuanas caem e forram o chão de cor e sombra. 

− Voltar a pé dos estádios (Arena e Beira-Rio) escutando a cobertura da rádio porque não encontra táxi e Uber, e os ônibus estão lotados. 

− Esperar o pôr do sol do Guaíba entre 17h30min e 18h, como uma missa certa em sua vida, e rezar agradecendo a sua saúde com aquela cúpula rosada da catedral do céu. 

− Levar um artesanato de lembrança do Brique da Redenção – ficar no evento até a água da térmica do chimarrão acabar. Para dizer que esteve lá, deve caminhar da Osvaldo Aranha até a João Pessoa. Não pode desistir antes disso. 

− Desfrutar da boemia dos bares e restaurantes da Cidade Baixa, nas ruas General Lima e Silva, José do Patrocínio e João Alfredo, e admirar o tom azulado da madrugada na Capital. 

Todo porto-alegrense é um turista da sua cidade, de tanto que ama, de tanto que vive reestreando a sua paixão. 

******* 

(Do jornal Zero Hora, julho de 2022)

terça-feira, 26 de julho de 2022

As lições do pai

 

Era um filho que não gostava de viver na casa do pai, pela constante irritação da sua parte. 

“Se não vai usá-lo, desliga o ventilador.” 

“A TV está ligada na sala onde não está ninguém. Desligue!” 

“Feche a porta.” 

“Não gaste tanto a água.” 

O filho não gostava que o pai o incomodasse com essas pequenas coisas. Ele teve que tolerar até certo dia em que recebeu um convite para uma entrevista de emprego. 

“Assim que conseguir o emprego, vou sair desta casa e desta cidade. Não vou ouvir mais uma reclamação do meu pai.” 

Foi o que ele pensou… 

Quando saiu para a entrevista, o pai aconselhou: 

“Responda às perguntas que lhe forem feitas sem hesitação. Mesmo que não saiba a resposta, mencione com confiança.” 

O filho chegou ao local da entrevista e percebeu que não havia seguranças na porta. Embora a porta estivesse aberta para fora, provavelmente era um incômodo para as pessoas que passavam ou entravam por aí. 

Ele fechou a porta e entrou no escritório. 

Em ambos os lados do caminho, ele pôde ver lindas flores, mas o jardineiro deixara a chave aberta e a água na mangueira não parava de correr. 

A água transbordava para a rua… 

Ele levantou a mangueira, trocou de lugar e colocou perto de outras plantas que precisavam dela. 

Não havia ninguém na área da recepção, no entanto, havia um anúncio onde dizia que a entrevista seria no primeiro andar. 

Subiu lentamente as escadas. 

A luz ainda estava acesa às 10 da manhã, provavelmente desde a noite anterior… 

Ele lembrou-se do aviso do pai: 

“Por que sai da sala sem apagar a luz?” 

Parecia que eu podia ouvi-lo agora. Mesmo se sentindo incomodado com este pensamento, procurou o interruptor e apagou a luz. 

Em cima, num grande salão, viu mais pessoas sentadas esperando por sua vez. Ele olhou para o número de pessoas e perguntou-se se tinha alguma hipótese de conseguir o emprego. 

Entrou no corredor um pouco nervoso e pisou no tapete de “Bem-vindo”, colocado perto da porta, mas percebeu estar de cabeça para baixo. 

Endireitou então o mesmo tapete. Hábitos são difíceis de esquecer. 

Ele viu que, nas fileiras na frente, havia muitas pessoas amontoadas esperando, enquanto as filas de trás estavam vazias e vários ventiladores estavam ligados em direção a esses bancos. 

Ele ouviu a voz do pai de novo: 

“Por que os ventiladores estão conectados na área onde ninguém está?” 

Desligou os ventiladores que não eram necessários e sentou em uma das cadeiras vazias. Viu muitos homens entrarem na sala de entrevista e saírem imediatamente por outra porta. 

Então, não havia como alguém adivinhar o que estava a perguntar na entrevista. Quando chegou a vez dele, ele parou diante do entrevistador com alguma preocupação. 

O responsável pegou os seus papéis e sem olhar, perguntou: 

− Quando você pode começar a trabalhar? 

Ele pensou: 

“Será uma pergunta capciosa, uma pegadinha que está sendo feita na entrevista ou é sério que estão me oferecendo o trabalho?” 

Ao que o chefe disse: 

− Não fazemos perguntas a ninguém aqui, pois acreditamos que, através delas, não poderemos avaliar as habilidades de alguém. Portanto, o nosso teste é avaliar as atitudes da pessoa. 

Fizemos alguns testes baseados no comportamento dos candidatos e observamos todos através de câmeras. 

Nenhum dos que vieram aqui nada fez para consertar a porta, a mangueira, o tapete de Boas-vindas, desligar os ventiladores ou as luzes que estavam sendo utilizadas inutilmente. 

Você foi o único que fez isso, por isso decidimos selecionar-lo para o trabalho, − disse o chefe. 

Ele sempre se incomodava com a disciplina do seu pai, mas até esse momento ele percebeu que, graças a isso, ele conseguiu o seu primeiro emprego. 

A sua irritação e raiva pelo seu pai desapareceram completamente, decidiu que o levaria para vê-lo em seu trabalho e retornou para casa feliz. 

Tudo o que os nossos pais nos dizem é apenas para nosso bem, desejando um futuro brilhante para nós! 

Para nos tornarmos um ser humano de valor, precisamos aceitar repreensões, correções e orientação, que eliminem os maus hábitos e comportamentos. É isso que os nossos pais fazem quando nos disciplinam. 

O nosso pai é nosso professor quando temos cinco anos; um “vilão” quando temos cerca de vinte anos e um guia a vida inteira. 

As mães podem ir à casa dos filhos quando envelhecer; mas o pai não sabe fazer isso. 

Não adianta machucar os pais quando eles estão vivos e lamentar quando eles forem embora. 

Trate-os sempre bem! 

(Autor desconhecido)

domingo, 24 de julho de 2022

Reflexões Femininas

 (Radical Chic) 

Criação de Miguel Paiva

“Certas dietas são simples. É só cortar açúcar, frituras, massas, molhos, bebidas alcoólicas, pães, biscoitos... e os pulsos.” 

“Que me despreze, me maltrate, me agrida, tudo bem. Mas não falar de mim nem pro analista, é demais!” 

“Dizem que estou ficando amarga, enjoada, ácida, sem graça. Não é verdade. É só colocar limão, adoçante, sexo, gelo, brilhantes e mexer gostoso, que eu fico maravilhosa!” 

“Adoro quando os feirantes, os porteiros e os pedreiros do meu bairro me chamam de gostosa. É a comunidade solidária!” 

“E aí a gente vai sair daqui, vai para um motel, aí vai transar, aí vai querer de novo, aí eu me apaixono, aí você vai dizer que não quer compromisso, aí eu vou achar você um babaca, aí a gente vai brigar, aí eu vou te odiar... Tem certeza de que ainda quer saber o meu nome?” 

“Sexo seguro, pra mim, é transar com o melhor amigo.” 

“Terminei com o Betão. A gente se entendia superlegal, gostava das mesmas coisas, tinha tesão um no outro, se tratava com carinho, detestava o cinema iraniano... mas faltava conflito, entende?” 

“Faço meditação, aeróbica, judô, musculação. Jogo xadrez, videogame, king e batalha-naval. Estudo Antropologia, Física Quântica, Matemática e Arqueologia. Escalo montanhas, faço voo livre, salto de paraquedas. Leio, escrevo, toco piano, pinto e bordo. Ufa!!! O que a gente não faz para compensar a falta de sexo gostoso...” 

“Casamento é loteria. Agora, me responda com sinceridade: Quantas vezes você já ganhou na loteria?”


O Rei Astor

 

Astor, poderoso rei que dominava a Pérsia e vastas planícies do Irã, que era apelidado “O Sereno” mandou chamar os três maiores sábios da Pérsia e entregou a cada um deles dois dinares de prata e disse-lhes: 

- Há neste palácio três salas iguais completamente vazias. Ficará, cada um de vós, encarregado de encher uma das salas, não podendo, entretanto, despender nessa tarefa quantia superior a que acabo de confiar a cada um. 

O problema era realmente difícil. Cada sábio devia encher uma sala vazia, gastando apenas a insignificante quantia de dois dinares. 

Partiram os sábios a fim de cumprir a missão de que haviam sido encarregados pelo caprichoso rei Astor. 

Horas depois regressaram à sala do trono. O monarca, interessado pela solução do enigma, interrogou-os. 

O primeiro, ao ser interrogado, assim falou: 

- Senhor! Gastei dois dinares, mas a sala que coube ficou completamente cheia. A minha solução foi muito prática. Comprei vários sacos de feno e com eles enchi o aposento do chão até o teto. 

- Muito bem! – exclamou o rei Astor, o Sereno. – A vossa solução simples e rápida foi realmente muito bem imaginada. Conheceis, a meu ver, a “parte material da vida” e sob esse aspecto, haveis de encarar todos os problemas que o homem deve enfrentar na face da terra. 

A seguir, o segundo sábio, depois de saudar o rei, disse com certa ênfase: 

- No desempenho da tarefa que me foi cometida, gastei apenas meio dinar. Quero explicar como procedi. Comprei uma vela e acendi-a no meio da sala vazia. Agora, ó Rei, podeis observá-la. Está inteiramente cheia de luz. 

- Bravos! – concordou o monarca. – Descobriste uma solução brilhante para o caso! A luz simboliza a parte espiritual da vida. O vosso espírito acha-se, pelo que me é dado concluir, propenso a encarar todos os problemas da existência do ponto de vista espiritual. 

Chegou, afinal, ao terceiro sábio, a vez de falar. Eis como foi resolvida por ele a singular questão. 

- Pensei, a princípio, ó Rei dos Quatro Cantos do Mundo, em deixar a sala entregue aos meus cuidados exatamente como se achava. Era fácil ver que a aludida sala, embora fechada, não se encontrava vazia. Apresentava-se (é evidente) cheia de ar e de trevas. Não quis, porém, ficar na cômoda indolência enquanto os meus dois colegas agiam com tanta inteligência e habilidade. Resolvi agir também. Tomei, pois, de um punhado de feno da primeira sala, queimei esse feno na vela que se achava na outra, e com a fumaça que se desprendia enchi inteiramente a terceira sala. Será inútil acrescentar que não gastei a menor parcela da quantia que me foi entregue. Como podeis verificar, a sala que me coube está cheia de fumaça. 

- Admirável! – exclamou o rei Astor. – Sois o maior sábio da Pérsia e talvez do mundo. Sabeis unir, com judiciosa habilidade, o material ao espiritual para atingir a perfeição. 

******* 

(Do livro “O Homem Que Calculava”, de Malba Tahan)


Eletrônicos funcionando:

 Aperta e confirma.

(...)

A maior parte dos eletrônicos ultrassofisticados ainda não está à venda aqui e custa uma fortuna. Mas em pelo menos um produto eletrônico o Brasil é o mestre da tecnologia. É uma caixinha pequena, com poucos botões, sem conexão com a internet, auditável e com todos os testes e procedimentos possíveis para garantir a segurança e a inviolabilidade antes, durante e após o uso. 

O nome é urna eletrônica. 

Pode acionar sem medo e com toda a confiança que a coisa tem sido testada e aprovada desde 1989, sem reclamações. Só que, diferentemente da panela que cozinha por conta própria, a urna eletrônica precisa que você faça a sua parte direito para o caldo não entornar de vez. 

Por mais que a tecnologia evolua, tem coisas nessa vida que só a gente pode fazer pela gente. 

Da crônica “Inteligência nada artificial”,

de Claudia Tajes, revista donna, de Zero Hora. 

P.S. Quem duvidar da urna eletrônica, apesar de já ter ganhado várias eleições com os votos que auditados por ela; agora, sabendo que poderá perder, é um mau brasileiro e um mau político.

Escravos do caráter

 J.J. Camargo* 

Um dos grandes trunfos da velhice

é a capacidade de identificar precocemente o caráter das pessoas.

Existe os que fazem, os que não fazem

e os que não querem que os outros façam. 

Seria ótimo se pudéssemos classificar as pessoas por comportamentos e atitudes, porque a partir daí as atitudes seriam previsíveis e as surpresas desagradáveis evitadas, ou prevenidas. E, leves e soltos, festejaríamos o fim das desilusões, que muito mais magoam do que educam. 

Um dos grandes trunfos da velhice é a capacidade de, precocemente, identificar o generoso, o dissimulado e o mau-caráter. Talvez a sabedoria signifique eleger corretamente estes critérios que nos definem como seres únicos, porque, afinal, não somos mais do que isto: escravos do caráter que temos. 

Algumas dessas classificações impressionam pela simplicidade e didática. Senão, vejamos: 

Uma foto, numa galeria de arte, em Minneapolis (EUA) mostrava três macacos. O primeiro deles, em posição de alerta máximo, olhando fixo para a câmera. O segundo com a cabeça apoiado no ombro do primeiro, e o terceiro com a cabeça por trás dos outros dois. E a legenda: “Existem três tipos de pessoas: as que fazem as coisas acontecerem, as que assistem acontecer e as que querem saber o que aconteceu”. 

Ivan Faria Correa, meu primeiro e inesquecível mestre de cirurgia e de vida, recomendava prudência em relação aos amigos, certos ou potenciais: “Existem aquelas pessoas que gostam da gente e nem sabemos o porquê, e não nos preocupamos em descobrir. Essas gostam de qualquer jeito e até quando não merecemos. São joias que temos que preservar a todo o custo, porque sem elas sobra nada. 

Um segundo grupo é formado por uns tipos que não gostam de jeito nenhum, e não nos preocupam porque já aprendemos que não há nada que se possa fazer para conquistá-los. 

E um terceiro grupo é formado pelos que ainda não se decidiram, e sendo assim temos que ficar de olho neles, até que se decidam”. 

Numa loja de souvenir no Quartier Latin, em New Orleans, me encantei com uma placa de madeira com a seguinte legenda: “As pessoas superiores falam de ideias. As pessoas medianas falam de coisas. E as pessoas inferiores falam de outras pessoas”. Ela desceu da parede para me fazer companhia na viagem de volta. 

De tanto viver, e convencido de que a vida sem desafios desencanta, tive a sabedoria de manter distância dos desanimados e recrutei entre os jovens aqueles que acreditavam que não podíamos permitir que as mazelas que nos rodeiam fossem limitantes do tamanho dos nossos sonhos, e que a coragem mais produtiva é aquela que se opõe às circunstâncias que os fracos atribuem ao destino. 

E foi assim que encontrei três tipos de convivas, munidos de motivações contrastantes. Os que fazem, os que não fazem e não se importam que alguém faça, e os que, não fazendo, não suportam que outros façam. Claro que ninguém deve sentir-se obrigado a fazer qualquer coisa que não lhe dê prazer, e então deixemos o segundo grupo em paz. 

Mas se eu soubesse o que fazer com o terceiro grupo, não teria sentido tanta falta dos conselhos do Mestre Ivan. 

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(Do jornal Zero Hora, julho de 2022)

* J.J. Camargo é cirurgião torácico da Santa Casa de Porto Alegre e membro a Academia Nacional de Medicina.